P.O.V Elva

Quando me voltava para sair do poiso algo me deteve. Senti dor. Dor de alguém que de alguma forma me afetava mais do que o normal. O instinto fez-me voltar as costas à saída e regressar para junto dos ovos. À medida que me aproximava a dor ia ficando mais intensa. Olhei os ovos, um a um, e notei que o ovo roxo estava partido e o dragão desaparecido.

Voltei-me para Fírnen, mas este dormia profundamente, com o peito a oscilar calmamente e libertando pequenas lufadas de fumo.

Ajoelhei-me e comecei a procurar pelo meu tesouro desaparecido. Sim, chamei-lhe Meu Tesouro, porque provavelmente ele chocou para mim quando me precipitava para a saída. Uma onda de preocupação tomou conta de mim quando comecei a ouvir baixos rugidos vindos de um canto do poiso. Lá, todo encolhido e assustado estava o meu tesouro. Ao olhar para mim aproximou a sua pequena cabeça e tocou a minha mão.

Agra quem sentia uma enorme dor era eu. O meu braço sentia choques devido ao contacto simultâneo com uma sensação de frio e calor: Gelo e fogo, que me percorria as veias. Como é que uma criatura tão pequena pode ter tanto poder?

Aos poucos o calor regressou aos meus membros e a dor desapareceu, dando lugar a uma comichão na minha palma da mão agora marcada pela marca prateada. Tanto a minha dor desapareceu como a da cria que jazia a minha frente, que assim que me viu deixou de sentir aquela dor, provavelmente causada pela solidão e saltou-me para os braços. Comecei a notar uma presença estranha na minha mente. Vários sentimentos: Confusão, alegria, fome; Tilintaram levemente na minha cabeça. Olhei curiosa o dragão à minha frente e agarrei-o nos meus braços.

“Estás com fome pequenino? Vamos arranjar-te comida”

Saindo do poiso, dirigi-me aos jardins do imenso castelo da rainha dos elfos. A magnificência das construções élficas nunca vai para de me surpreender. Caminhei calmamente até à entrada principal do castelo. Segui direta para a cozinha e pedi a um dos cozinheiros alguns pedaços de carne e uma tigela de leite. Quando saí novamente para os jardins avistei Nasuada, também ela alimentando o seu dragão.

Aproximei-me um pouco mais da cabisbaixa rainha e sentei-me. Provavelmente absorvida pelo pensamento Nasuada não se tinha apercebido da minha chegada e por isso sobressaltou-se quando a chamei suavemente.

“Ai! Elva assustaste-me! Espera lá? Um dragão? Parabéns Cavaleira!”

Por muito que tentasse esconder Nasuada era incapaz de me enganar. Ela estava feliz por mim? Sim estava. Grata por ter sido escolhida para cavaleira? Também. Mas algo a corroía e eu sabia exatamente o quê.

“Eles não estão juntos.”

“O quê? Qu…”

“Tu sabes quem. Murtagh e a desconhecida. Não estão juntos, eu vejo como vocês se olham, só um cego não veria”

“ Eu simplesmente não o entendo. Ajuda-me, faz com que me apaixone, DEIXA-ME sozinha ANOS A FIO, e regressa com uma MULHER?? Eu amei-o todos estes anos… Imaginei o seu regresso milhões de vezes em sonhos e pensamentos, mas nunca pensei que seria assim…”

“Não tires conclusões precipitadas, o amor encontra sempre forma de vencer. Aconteça o que acontecer, se forem destinados a ficar juntos, ficarão.”

E com isto levantei-me e regressei com o meu Tesouro ao poiso de dragões.

P.O.V Murtagh

Linda. Magnifica. Sobrenatural. Depois de quatro anos Nasuada arranjou maneira de ficar ainda mais perfeita. Magoou-me que se tenha ausentado do poiso sem me dizer nada, mas na verdade o bruto e indelicado fui eu. Reparei que ela tinha um dragão nos braços, ela é cavaleira, e eu não podia estar mais feliz por isso. Eu não aguentaria viver sem o meu amor.

Caso se estejam a perguntar onde estou, bem, eu sai da sala de reuniões assim que apresentei a convidada. Tenho de me desculpar a Nasuada e não tenho quaisquer informações adicionais para ajudar o meu irmão. Já percorri o castelo inteiro à sua procura e não há maneira de a encontrar. Espera, é isso, os jardins!

Corri para os jardins principais até que, depois de muito correr, a avistei. Ao lado dela estava Elva que se levantou e saiu em direção a um qualquer destino.

Aproximei-me calmamente, pé ante pé, até estar a alguns centímetros de distância. Aproximei-me por detrás dela e aproximei os meus lábios dos seus ouvidos, sussurrando:

“Desculpe a minha falta de educação há pouco, rainha.”

Ela sobressaltou-se e num movimento rápido levantou-se do banco e encarou-me com um olhar surpreso e magoado. De repente a sua cara perdeu expressão e ela respondeu rispidamente:

“Não sei a razão de se desculpar.”

Virou-se para sair com o dragão a dormir nos seus braços. Eu sabia que merecia aquela resposta mas o meu corpo não conseguia aguentar vê-la assim. Eu tinha de saber, ter a certeza. Num movimento agarrei o seu braço livre, virando-a de volta para mim e beijei-a intensamente…