Já eram sete hora da noite. Eu tentava dar um jeito em meu cabelo enfrente ao espelho do banheiro.

 Esta noite eu iria tentar me divertir. Nunca havia ido numa... Como se chama mesmo? Ah, balada, ou algo assim. Às vezes passava de carro com meus pais, e via o que pareciam clube, facheado por fora, e escuros, mas podia-se ouvir a música alta do lado de fora.

 Você deve estar pensando: Hermione Granger, e a sua vida bruxa? Onde estão as diversões do mundo mágico?

Eu já havia planejado isso. Um show das Equisitonas se aproximava no sábado. Combinei de ir com a Gina, que não via já há algum tempo. Mas por enquanto, um lugar cheio de jovens inconsequentes dançando feito bestas era o que eu precisava. E quem sabe eu talvez gostasse.

 Acabei conseguindo dar um jeito eu meu cabelo, fazendo um pequeno coque desarrumado. Olhei no relógio e já eram sete e quinze. As portas fechavam às sete e meia.

 Peguei minha bolsa, e desci pelo elevador, logo me vendo no saguão do hotel, onde meus sapatos de salto faziam sonoros clecs no chão. Avistei o táxi pelas portas de vidro. Logo comecei a ouvir a música alta, enquanto o táxi se aproximava de um prédio escuro, apenas com algumas letras em neon, dizendo vive La vie.

 Paguei o taxista, saltei do carro, e entrei pela entrada escura do prédio, guardada do lado de fora por um segurança.

Muito bem. Vamos começar.

Olhei em volta. Senti um cheiro forte de gelo seco, flutuando pelo chão, esfumaçando as luzes. As milhares de luzes.

 Uma música eletrônica soava muito alta na boate. Não estava tão cheio, mas era preciso se encolher por entre as pessoas se tentasse ir a algum lugar. Muitas pessoas dançavam, a maioria meninas, tentando impressionar os garotos. Em alguns cantos, por vezes, eu via casais se beijando como se estivessem em uma luta livre vertical. Céus, como os trouxas aguentavam isso?

 -Mas já que eu estou aqui... – Disse para mim mesma. Um garçom passou, segurando uma bandeja com drinques que brilhavam no escuro, em azul e verde neon. Peguei dois e os virei em minha garganta, experimentando. –Hm... Prefiro uísque de fogo...

 -Falando sozinha? – Uma voz rouca atrás de mim sussurrou em meu ouvido, me dando um susto. Me virei. Um garoto mais alto que eu, moreno de olhos azuis me encarava, sorrindo. Definitivamente, ele era muito bonito. Eu não havia pensado em imitar nenhum daqueles casais essa noite, mas... quem sabe não é? –Qual é o seu nome, linda?

 -Hm... Hermione. – Respondi tímida.

 -Eu sou Tony. - Outro garçom passou, e ele pegou mais dois drinques, entregando um à mim. Perguntei-me quanto eu iria beber essa noite. – Então, quer aproveitar a festa comigo?

Eu fiz que sim, e ele pegou a minha mão, me levando para um dos cantos da boate.

 ***

POV Draco

 Eram altas horas da noite e eu não conseguia dormir. Tentei ligar a televisão, mas só passavam programas idiotas de reality show dos trouxas. Não consegui assistir por mais de cinco minutos, era insuportável.

 Afastei as cortinas da janela e olhei as ruas de Londres. O sol já começava a nascer no horizonte.

 Mais uma noite em claro.

Desde que houveram motivos para eu ir para aquele maldito hotel, o que não me faltaram eram noites em claro.  Ironicamente, a única em que eu consegui dormir fora a que eu, chutado da cama, dormi no carpete.

 Droga, eu tinha que superar aquilo. Já faziam semanas.

 Uma visão na rua me tirou de meus pensamentos. Um taxi acabara de parar, e descendo para a calçada, uma garota tropeçou e caiu de quatro no chão, bêbada provavelmente.

 Dane-se, pensei. Mas assim que a garota virou o rosto para cima, eu pude ver quem era.

 -Granger?

 Ela agora dava risada, achando graça do céu. Eu tinha que fazer alguma coisa. Ninguém era desalmado a ponto de deixar uma pessoa nesse estado no meio da rua. Ou era? Minutos atrás, eu não dava à mínima.

 Saí correndo de meu apartamento, e peguei o elevador, que pareceu demorar séculos para descer. Assim que cheguei do lado de fora eu a vi, ainda de quatro no chão, mas com cara de quem parecia prestes a vomitar. Corri até ela assim que um mendigo apareceu, se aproximando enquanto  olhava ansiosamente para a sua bolsa.  

 -Granger - Me ajoelhei à sua frente. Ela me olhou, e começou a rir novamente. Tentei erguê-la com os braços, enquanto ela acenava para um pombo, completamente bêbada. – Você consegue se levantar?

 -Não. Eu estou cansada. Tony disse que ia voltar... Aí ele me pôs dentro do carro amarelo, depois de mexer na minha bolsa... – Ela começou a explicar, achando que eu entendia.

 -Tony? Quem é Tony? – Perguntei. Peguei a sua bolsa, e vi que estava vazia. Esse Tony provavelmente havia roubado todo seu dinheiro.

 -Ah, é um garoto... Ele é tão legal... Você devia conhecê-lo. Sabe, ele é moreno, diferente de você. E olhos azuis. Aí ele me ofereceu uma coisa...

 -Que coisa?

 -Um drink. Tinha gosto amargo. – Eu a levantei nos braços e comecei a carregá-la de volta ao hotel. – Yupi! Eu estou voando Draco?

 -Hã... Sim, claro. – Respondi.

 O que eu havia entendido era que algum cara havia dado alguma droga à Hermione, e roubado todo seu dinheiro. E esse canalha se chamava Tony. Apesar de me sentir estranho com isso, fiquei com raiva desse cara, por Hermione.

 -Quanto dinheiro você tinha na bolsa?

 -Hm... – Ela começou a contar nos dedos. – Umas 50 libras.

 Pelo menos não era tanto, pensei.  Logo havíamos chegado ao nosso andar. Peguei o cartão-chave em sua bolsa, e entrei no quarto.

 -Aaaaah, a festa acabou? Me leve de volta, eu quero ir pra festa! – Ela começou a espernear nos meus braços, e eu a coloquei na cama.

 -Hã... A festa é aqui. – Tentei convencê-la.

 -Aqui? Mas... Cadê os garotos? – Ela olhou em volta pelo quarto, esperando que algum deles estivesse se escondendo, e então se virou para mim, e apontou: - Espera, você é um garoto!

 -Bem observado.

 -Você é tipo o Tony?

 -Não, não sou o Tony.

 -Bem que podia ser. Sabe, tipo o Tony. Você podia me beijar, sabe? Você não é feio...

 -Você está tão chapada assim? – Perguntei cético.

 -Me dá um beijo. – Ela pediu, de olhos fechados. Vendo que eu não dei atenção, ela abriu os olhos, e insistiu: - Vamos! Eu quero um beijo!

 Ela ficou esperando. Eu suspirei derrotado, e lhe dei um pequeno beijo na testa.

 -Está bom assim?

 -Não foi como o do Tony. Foi melhor. - Ela bocejou, e então se enroscou nos cobertores. – Eu estou cansada de festa, vou dormir.

 Me levantei para voltar ao meu quarto, mas então ela me segurou pela mão.

 -Não, fica. Por favor.

Vai ser uma longa noite, pensei. Me sentei ao seu lado da cama, a tempo de ouvir ela sussurrar:

 -Obrigada.