Sexta-feira, 15 de dezembro

Quarto da Megan, 21:00 da noite

Não escrevi nos últimos quatro dias porque não tinha nada interessante para falar. Só as mesmas coisas: fomos para a escola, teve uma briga na aula do almoço e Luke e Jason negociaram com o diretor para limparem a escola à noite em troca de poderem ir ao Baile de Natal, ou Inverno, tanto faz.

Hoje, eu, Megan e Emily fomos comprar vestidos para o Baile, que é amanhã. Se eu senti o impulso de roubar? Você não faz ideia.

Fomos em uma ala de roupas de grife do shopping perto da casa de Megan. Emily e Megan vêm juntando dinheiro para isso desde o começo do ano. Bom, pelo menos Megan têm. Emily tem que dar todo o dinheiro que consegue para ajudar a pagar as contas.

"Nós precisamos mesmo comprar um vestido?" perguntou Emily "Quer dizer, alô? Só vamos usar ele uma vez na vida".

"Esse vai ser o nosso primeiro baile" respondeu Megan "Vai ser um ótimo souvenier" Megan seguiu em frente, saltitando. Me inclinei para Emily e sussurrei em seu ouvido:

"Depois você pode vender o vestido pelo dobro do preço como semi-usado" ela fez uma expressão pensativa e dá de ombros.

"Talvez não seja tão ruim assim" disse.

Visitamos milhões de lojas até acharmos os vestidos perfeitos. Megan pegou um compridinho rosa claro com lantejoulas na barra e sandálias de noite prata. Emily achou um preto com roxo até os joelhos e sapatilhas com detalhe de caveira. E eu, com o dinheiro que eu contei a Emily ser tudo que meus pais adotivos haviam me deixado, comprei um tomara-que-caia verde-água com a saia rodada e sapatos de salto baixos dourados. Algo muito longe do que Alynne Peterson vestiria.

Resolvemos matar tempo em uma loja da Tiffany's da ala. Megan achou um brinco e colar de pérolas que combinavam com o vestido, mas então viu o preço. O conjunto custava 578 doláres.

Emily também viu brincos de caveira que pareciam com o de sua sapatilha, mas custavam 320 doláres.

Elas saíram da loja desapontadas. Louise, a mulher que nos atendia, também ficou desapontada.

Fiquei por ali. Uma mulher vestindo uma combinação absurda de aneis, brincos, colares e pulseiras, e ainda uma chiuaua na bolsa (você não faz ideia de como eu acho isso ridículo) entrou na loja e a mulher que estava nos atendendo antes foi correndo em sua direção, deixando as joias que havia mostrado a Emily e Megan em cima do balcão.

Foi rápido e instintivo. Fingi que observava as joias e as levei para perto de um espelho. Pelo canto do olho, procurava as câmeras e os pontos cegos. As vendedoras estavam ocupadas, mostrando joias para mulheres com dinheiro. Foi fácil também. Sempre foi.

Tirei a etiqueta das joias com força. Sabia que continham um chip e que podiam rastrear quem roubá-las¹. Depois de arrancar tantas etiquetas ao longo dos anos, era como respirar.

Não olhei em volta por um mísero segundo. Me faria parecer suspeita. Por fim, meti as joias no bolso do casaco e saí, sem olhar para trás.

Megan e Emily me esperavam perto da praça de alimentação.

"Onde você estava?" Megan estava furiosa. Achou que eu tinha fugido.

"Terminando uma transação complicada" tirei do bolso as joias. A expressão de raiva no rosto de megan foi substituida por uma mescla de compaixão, perdão e alegria.

Entreguei o conjunto a Megan e os brincos a Emily.

"Usem muito isso" eu disse "Não paguei 898 doláres para vocês usarem isso só uma vez na vida".

Elas sorriram. Comemos cheeseburguers no Mc Donald's enquanto conversamos sobre Baile. Depois, viemos para cá, fazer uma festa do pijama tipicamente adolescente. Emily está estourando pipoca na cozinha e Megan está na sala de TV escolhendo um filme.

Tive algumas festas do pijama em Chicago. Com Lori e as gêmeas Harrison, que eram minhas espiãs das líderes de torcida. Odiava as lideres de torcida, desde que não me expulsaram do grupo na oitava série, porque eu era muito maldosa com as outras. Desde quando é minha culpa se a Tiffany Marshall era muito gorda para dar mortais?

Minhas festas com Lori e as Harrison eram sempre as mesmas. Brincávamos de combinar roupas e fingir que éramos modelos. Assistiamos filmes de terror sem ficar com uma pitada de medo. Pregávamos pegadinhas em Natasha. Uma vez, na oitava série, fizemos ela mijar na cama. Meu pai tirou meu cartão de crédito. Não fez diferença, porque eu estava começando a aprender a arte de roubar.

"Ei!" Megan acaba de gritar da sala ao lado. Ouvimos um 'psiu!' de seu pai do escritório, que Megan ignora "Que tal uma sessão da primeira temporada de 'The Walking Dead'?"

"Tô dentro!" gritou Emily da cozinha. O microondas fez um bip baixinho, indicando que a pipoca está pronta.

"Lynn?" pergunta Megan "E você?"

"Está brincando?" digo, sorrindo "TWD, aqui vamos nós!"

Talvez - só talvez - eu me acostume com Lynn Hayes.