Segunda, 11 de dezembro

Aula de Álgebra da Megan, Twinbrook High School

O almoço foi um caos.

Certo, vamos do princípio. Quando saímos da sala do Sr Williams, Megan agarrou o meu braço e me levou até o refeitório (vou ter que acrescentar que isso foi um ato muito impressionante, considerando que os corredores estavam cheios e ela estava lendo “Sonhos de Uma Noite de Verão” concentradamente).

O refeitório da Twinbrook High School consiste em dez mesas redondas, cada um com a sua panelinha. Megan e seus amigos se sentam junto aos não-rotulados (aqueles que passam seus anos no ensino médio tentando passar despercebidos).

Eu costumava sentar na “Mesa da Alynne”, junto com Lori e meus outros amigos/capachos.

Mas agora eu sou Lynn. E eu sento na mesa dos não-rotulados.

Eu e Megan entramos na fila e encontramos Luke, Emily e Jason.

“Hola” disse Emily pegando uma maçã “Eu odeio tanto Espanhol. O que vai contribuir nas nossas vidas futuras?”

“Bom, vocês vai poder irritar o dobro de pessoas sabendo duas línguas” respondeu Jason sorrindo.

“Cala a boca, Jason” disse Emily fechando a cara.

“Emily, o que é que você está fazendo aqui?” eu disse “Você não deveria estar na sétima série?”

Emily deu um sorrisinho.

“Deveria” disse “Mas não estou. A tinta de cabelo não afetou o meu cérebro, se entende o que eu quero dizer”.

Nós pegamos nossos almoços (eu peguei uma pizza, fritas, uma coca e uma maçã) e fomos nos sentar.

Passamos pela mesa dos que eu deduzi serem os populares (todos usavam aquela jaqueta ridícula que dão para os atletas e para as líderes de torcida). Um deles colocou o pé para Jason, que vinha por último, tropeçar – e de repente, hambúrguer voou pra todo lado.

Jason levantou e ignorou as risadas, mas Luke e Emily voaram pra cima dos populares.

“Seus covardes!” falou Luke “Se têm algo contra ele, diga logo”.

“É inveja” disse Emily debochadamente “Porque eles sabem que Jason é muito melhor do que eles”.

Um dos garotos levantou. Era alto e forte, mas Luke também era, então se houvesse uma luta, seria justa.

“Esse é o Adam Hudson” sussurrou Megan para mim “É tipo, o rei da escola. Todo mundo tem medo dele. Quer dizer, quase todo mundo” ela apontou com a cabeça para Luke e Emily.

“Melhor no quê?” falou o cara, Adam Hudson “Em mediocridade?”

“Uau, estou surpresa que saiba o que 'mediocridade' quer dizer, Hudson” zombou Emily.

“Talvez não saiba” comentou Luke “Talvez só tenha lido em algum lugar e achado uma palavra legal”.

“Então ele sabe mesmo ler?” disse Jason finalmente “Achei que era lenda urbana”.

Hudson voou pra cima dos três. Jason jogou Emily pra junto de mim e Megan e a briga começou.

Não vou entrar em detalhes, porque nem eu lembro direito do que aconteceu.Eu lembro e outros dois atletas levantarem e ajudarem o Hudson e de todas as pessoas do refeitório fazerem um círculo em volta deles para ver a briga. Também lembro de eu e Megan termos de segurar Emily com toda a força para ela não se meter na briga.

Luke e Jason socaram e foram socados diversas vezes, até um professor chegar e pará-los. Eu o reconheci como o professor de História da Megan, Sr James.

“O que é que está acontecendo aqui?” gritou ele, pondo-se no meio dos cinco.

“O Hudson me provocou” respondeu Jason “Ele começou a briga!”.

“Não quero saber!” gritou o Sr James. Porque perguntou então? “Vocês cinco me acompanhem pra sala da diretora. E vocês” ele olhou para os alunos desapontados pela briga ter acabado “voltem a fazer o que estavam fazendo!”.

Eu e Megan arrastamos Emily de volta para a mesa, mas ela ficou murmurando coisas, furiosa.

Megan parecia não estar abalada, como se aquilo fosse normal. Ela abriu “Sonhos de uma Noite de Verão” e começou a ler (ou tentar ler).

Quando eu finalmente perguntei a ela o que tinha acabado de acontecer, ela disse, sem tirar os olhos do livro:

“Os valentões zoam muito do Jason, por causa da condição social dele” eu franzi a testa para Megan, que fechou o livro e explicou “Assim: o fato dele não ter pai, quase não ver a mãe de tanto que ela trabalha, ter que cuidar de três irmãs e ser muito pobre, faz com que os valentões o considerem uma pessoa inferior a eles.

“E isso é muito idiota” comentou Emily “Porque eu estou na mesma situação que ele e eles não fazem nada comigo, só porque sou uma garotinha de treze anos”.

Eu não pude dizer que era algo horrível, ou desumano, porque há alguns dias atrás eu também era assim. Seria muito falso se eu dissesse que sentia pena, ou os compreendia. Eu não sinto pena, e não sou compreensível.

“Isso é horrível” eu disse.

Mas talvez Lynn Hayes seja.