No dia seguinte o sentimento de culpa ainda estava presente, mas com pouca intensidade. O que me fazia feliz era Héstia aqui, afinal Apolo tinha sumido e me deixado de bandeja para Zeus.

Depois do desjejum com a companhia da minha irmã, tive que voltar ao meu posto de conselheira. Entrei no salão por uma porta atrás do trono de Zeus e continuei fitando o chão. Sentei em meu posto, olhei para frente e fiquei surpresa. Zeus não estava lá; o salão estava vazio. Levantei e fiquei no meio do salão olhando ao redor. Nenhum sinal dele. Mas onde ele foi parar?, pensei. Como eu não estava com vontade de encontrar Zeus tão cedo, saí do salão e fui direto para o meu lugar favorito, o observatório. Sentei no banco e fiquei admirando a Terra com aquela mistura de cores, aproveitando o silêncio. Estava torcendo para que Zeus não aparecesse tão cedo. Fechei os olhos, virei a minha cabeça para o céu e sorri. De repente senti um arrepio na nuca e soube que tinha algum deus se aproximando.

— Relaxando antes do serviço?

Abri os olhos depois de ouvir aquela voz. Quando o olhei, abri um sorriso enorme e fui abraça-lo.

— Apolo!

— Pelo visto sentiu a minha falta.

Fingi estar zangada.

— Você sumiu e também não me avisou aonde iria, como quer que eu fique? – Cruzei os braços.

Ele começou a rir e me puxou para um abraço apertado.

— É bom estar de volta.

— Não vai me contar onde esteve?

— Segredo de Estado.

Revirei os olhos e voltei a sentar no banco. Apolo sentou ao meu lado.

— Conte-me, o que houve de interessante enquanto eu estava fora?

Senti um frio na barriga. De interessante? Eu te traí por enquanto que estava fora, pensei.

— O de sempre, mas com uma pitada de aconchego.

Ele me olhou com uma interrogação enorme no rosto.

— Héstia está aqui.

— Família reunida. Mas o que a traz aqui?

— Ela veio a pedido de Zeus. Uma distração para mim.

— Entendo.

Ele ficou um pouco estranho depois do que eu falei. Penso que se ele já ficou assim só por causa que Zeus trouxe Héstia, imagine quando ele souber que foi Zeus que dançou comigo e que ele me beijou... Ficará magoado. Vi um vulto perto das árvores quando olhei Apolo e virei para trás. Héstia estava encostada na árvore, com os braços cruzados e sorrindo para nós.

— Os pombinhos já estão matando a saudade, pelo que vejo. – Ela chegou mais perto e ficou em nossa frente.

— Olá, Héstia.

— Apolo.

— Há quanto tempo está ali? – perguntei.

Ela deu de ombros.

— Alguns minutos. Tenho um recado para te dar, Alexis.

— Diga.

— Eu estava conversando agora a pouco com Zeus e ele quer falar com você.

— Você falou com Zeus? Pensei que ele tinha saído do Olimpo.

— Na realidade ele saiu, mas voltou logo e quer sua presença no palácio.

— Tudo bem.

Olhei para Apolo e ele continuava disperso, então dei um beijo em sua bochecha, depois abracei Héstia e segui para o palácio. Encontrei Zeus na entrada com a mesma expressão fechada e de superioridade de sempre.

— Estava me procurando?

— Sim.

Ficamos ali, os dois se olhando em um silêncio constrangedor. Por que ele não falava o que quer comigo?

— E então?

— Devo uma resposta a você a respeito do Olimpo.

— E qual é?

Ele olhou para o chão, andou um pouco e depois olhou pra mim.

— Pode sair se quiser, o Olimpo está com as portas abertas.

Meu rosto se iluminou depois daquela declaração. Abri um sorriso. Agora posso sair para qualquer lugar sem ninguém para me interferir.

— Ótima notícia.

— Creio que sim, mas terá que ter cuidado. Ainda está sendo caçada.

— Sei me cuidar. – Virei às costas e fui embora.

Encontrei Apolo e Héstia conversando. Parei em frente a eles e sorri.

— E então, como foi à conversa? – Héstia quis saber.

— Não foi nada demais. Era só para me comunicar que posso sair do Olimpo.

— Que boa notícia! Irá voltar para o seu palácio?

— Sim. Quero voltar ao meu antigo lar.

— Será bom para você.

— E para você também, afinal virá comigo.

Ela começou a rir.

— Não posso, terei que voltar para o meu lar.

— Mais já?

— Sim. Tenho assuntos pendentes para resolver.

— Tudo bem, então.

Olhei para Apolo e o seu silêncio estava me deixando incomodada. O que será que está acontecendo?

— Apolo, está quieto demais.

Ele me olhou e vi nos seus olhos que estava preocupado.

— Tenho que ir.

Ele levantou e saiu andando pelo gramado. Ele estava muito estranho. Olhei para Héstia e a fuzilei com os olhos.

— O que vocês conversaram?

— Nada de importante.

— E por que ele está tão estranho? Aposto que falou algo para ele.

— Falei, mas era só para diminuir a preocupação que está o consumindo.

— Preocupação?

— Não me pergunte, eu não sei do que se trata.

O que está perturbando os pensamentos de Apolo?