Break Of Dead escrita por Write Style


Capítulo 9
(V 2) | Capítulo 2 - Take the Chance


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo e fresco para vocês
Espero que gostem e deixem um review com a vossa opinião ;)



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- Au, merda, isso é o meu pé! – Queixava-se Dennis atrás de mim e mesmo que eu já conseguisse ver minimamente bem no escuro do corredor, não conseguia distinguir a sombra que o pisara e que estava agora a meu lado, só pela voz.

- Ups, desculpa lá… - Desculpou-se Chris, quando ouvi corpo com corpo a bater. – Ei, quem é que parou ai à frente?

- Podem estar calados? – Perguntou Elizabeth, no meio do nada. Conseguia perceber que estaria a alguns metros à frente de mim. A única pessoa que tinha a certeza absoluta de estar à minha esquerda era Marie.

- A energia parece ter faltado no andar todo. – Criticava o velho Stan, quando vi uma sombra mais pequena a olhar para fora, com a ajuda da luz da lua.

- Não me parece que seja só aqui. O asilo está completamente às escuras. – Comentava Brian.

- Esta porra de asilo nunca me inspirou muita confiança…

- Pela primeira vez estou de acordo com a gajinha ai. – Ouvi Dennis dizer do lado oposto da “namorada” de Chris.

- E que tal se todos fechasse as matracas e procurasse-mos o raio do Gage? Um líder deve saber como resolver isto não?

- A Elizabeth tem razão. Podemos ir às apalpadelas, mas temos de chegar à secretaria. Entretanto quem tem para ai armas, deixem-nas preparadas, pelo sim pelo não. – Ordenou Marcus e eu ouvir alguns deles a remexerem as roupas. Tinha deixado o facalhão no quarto, mas a minha Desert Eagle estava presa num coldre perto da virilha direita.

O grupo mexeu-se aos poucos pelos corredores do andar, procurando as escadas mais perto para descer. Optamos pela escadaria este, que estava mais perto do quarto da família de Jordan. E assim com algumas dificuldades e passando por mais algumas pessoas ali refugiadas, que se limitavam a ficar perto das suas portas, sem procurarem a causa, nós os dez, vindos do jantar mal acabado fomos até ao primeiro andar em completa escuridão.

Senti o braço de alguém a envolver-se no meu e a empurrar-me para o lado da parede, até que eu me encostasse completamente a ela. Ouvi um leve “shiu” feminino e aos poucos as vozes do resto deles se afastaram. Antes mesmo de questionar a pessoa que fizera aquilo, pronto para o mínimo perigo, Elizabeth falou comigo, mas conseguia perceber que não estava sozinha.

- Esta é a oportunidade perfeita. – Falou.

- Que oportunidade perfeita? – Suspirei, pronto para qualquer teoria da conspiração. De certo que estava a falar…

- …Do quarto andar. A luz sempre foi nossa inimiga. Deve ser algum problema nos geradores. Não existirá nova oportunidade de perceber se se passa algo lá encima.

- Mas as portas não estão fechadas Liza? – Chris estava mesmo ali ao lado, não muito animado e mais para o obrigado.

- Eu nunca disse que seriam pelas portas. Bruce, tu és uns dos melhores trepadores que eu conheço por aqui e o Chris aprendeu algumas coisas comigo. Temos de usar a janela do terceiro andar, aquela que vai dar a uma varanda larga que atravessa o lado este do pátio II. Nela temos apenas um muro de dois metros a impedir de alcançar as janelas do quarto andar.

- Meu deus mulher, vamos lá acabar com esse desejo. – Comentou Chris, colocando-se do seu lado. Eu poderia ter sido mais racional, mas a curiosidade mata mesmo.

- Que este assunto fique encerrado hoje… - Disse.

Parecíamos sombras ocultas a vaguear pelos corredores desertos e com isso comecei a achar que Elizabeth já planeara os caminhos com menos movimento. A única família que se abrigara naquele mesmo corredor tinha partido em busca de outros parentes à menos de coisa de meia semana e por isso podiam muito bem passar por ali num dia de sol brilhante, que teriam poucas probabilidades se serem descobertos. O asilo é grande demais e nós pouco.

- Existe um acesso para a escadaria de serviço ali, no gabinete dos funcionários. É por lá que temos de ir para alcançar a varanda. – Comentava ela.

- Começo a achar que cortaste a energia para isto.

- Não sejas estúpido Bruce, eu estava a planear sim arranjar maneira de ir lá hoje, mas com o jantar atrapalhava muita coisa e resolvi deixar para depois. Acho que o apagão acelerou o processo.

- Deus está desejoso que encontremos o mistério da Liza e do Quarto Andar. – Gracejou Chris e dava para ver que nem ele achava muita graça áquilo. Mas como era comum, algo irónico ou brincalhão estava presente no modo de viver dele.

- Para a próxima ficas na caminha às oito que é para não me fuderes os miolos! – Criticou ela, quando ao mesmo tempo empurrava a porta com uma força maior que a necessária. Ela escancarou-se, mas mesmo assim o barulho não era suficiente para alertar pessoas que nem por ali deviam estar.

- Como queira chefe. – A rapariga saiu da frente e deixou passar-nos. Primeiro passou Chris mesmo ao lado dela com as mãos no ar. – Desde que esteja já para me aquecer os pés… - E depois a meio da trajectória levou um sopapo. Eu nem comentei, acho que estou demasiado entusiasmado em perceber se existe algo a temer por aqui.

Perto da mesinha abandonada onde antes era a sala de repouso dos que por ali trabalhavam, estávamos nós a abrir a persiana e depois a janela, recebendo o ar fresco da noite e sendo envolvidos em mais alguma luz da lua. Mesmo assim estava um escuro iluminado lá fora, o que até seria bom para não tropeçar em nada. Mas ao mesmo tempo queria dizer que teríamos mais hipóteses de ser vistos por pessoas que não tinham mais nada que fazer que o olhar em redor e esperar que a luz voltasse. Ficamos muitos mais alertas a estímulos exteriores quando não temos mais nada com que nos ocuparmos, não é?

- Eu vou primeiro, depois vais tu Bruce e por fim tu Chris. – Disse ela, mas nem aceitou outra ideia, pois já colocava os pés do lado de fora da umbreira e se levantava, com um salto, foi fácil para a “badass” chegar até à borda da varanda que ficava mesmo do lado esquerdo, a dar acesso a outra sala fechada. Depois chegou a minha vez.

Sabia que o conseguiria. Tinha subido a árvore em Dale City, os prédios com Elizabeth e confiava que aquilo seria mais uma prova superada. Desde pequeno que o equilíbrio esteve comigo. E por isso também me levantei na umbreira, recebendo a fria brisa do fim do Inverno. Esqueci-me é que quando era mais novo, sentia-me melhor psicologicamente.

- Cuidado… - Sussurrou-me alguém a ouvido. Eu sabia quem era. Olhei para trás mas só vi o loiro a olhar para mim confuso. – Ainda é alto…

- Eu sei que é alto. – Acabei por confessar em voz alta, só para ver se isso acalmava Emily.

- Bruce? O que foi? – Chris aproximou-se. Mas eu estava preparado para saltar já.

- Nada, desculpem. – E lancei-me, agarrei com força a forma do murro da varanda e vinquei as botas quando me senti suspenso. Com uma ajudinha ligeira da Elizabeth, subi.

“Can I touch you?” – Agora a voz estava muito mais calma e cheia de melodia. Merda, mas que merda… Será? – “I can´t believe that you are real”… - Só pode, a Emily está a cantar a nossa música, a música do nosso primeiro encontro… a música do baile. Never Thought That I Could Love.

A melodia persistiu e enquanto olhava e via que Elizabeth estava a tentar levantar Chris, como que em câmara lenta e lá estava ela, quase no meio do pátio gélido. Desviei o olhar. Ela não é real, ela não é real. São as saudades.

“How did I ever find you?” – Continuou ela. – “You are the dream that saved my life…”

- You are the reason I survived… - A minha boca como que explodiu e eu não conti aquela parte da música. Ela desapareceu e tudo pareceu voltar ao normal. Quando dei por mim estava bastante próximo do fim da varanda.

- Bruce agora a sério meu, estás mesmo bem? Estás mais pálido que a neve e a balbuciar uma música qualquer. – Chris estava mesmo ao meu lado e Elizabeth à minha frente. Deveria continuar a mentir ou dizer o que era. Talvez passasse se mais alguém ouvisse o que eu tinha comigo.

- Perdeste alguém não foi? – Ela foi directa e acho que não foi necessário mais nada que um aceno para que ficasse esclarecido. – Não endoideças, por favor. – Elizabeth tinha uma certa compreensão e nostalgia nas palavras, mas virou-se e já não lhe via a cara para conferir sentimentos. – O que importa agora é descobrirmos se estamos seguros para sobreviver. Estás connosco?

- De momento estou. Vamos lá. – Decidi deixar aquilo por ali. Não podia deixar estas coisas tomarem conta de mim. Tenho de resistir e esquecer um pouco.

Subir pela cabine que suportava uma mangueira de emergência para fogos e estar num dos pontos mais altos do asilo fez-me ficar mais ausente de tais pensamentos, mesmo que para o estar a dizer, queira dizer que ainda estão lá, mas comparado com outras coisas, um pouco mais submersos.

A janela do quarto andar não estava aberta, mas ela conseguiu encontrar um espaço onde ela era mais sobre comprida e com várias tacadas com os pés, o plástico amolgou e a fechadura abriu. Foi um momento tenso, pelo menos para mim, quando finalmente coloquei os pés naquele chão, idêntico ao dos andares de baixo devo dizer e com a pouca luz, até a estrutura parecia igual. Pessoalmente não sabia por onde seguir.

- Direita ou esquerda? – Perguntei, ambos os lados estavam escuros como breu.

- É um lado qualquer. O asilo é quadrado, vamos sempre dar aqui assim que dermos a volta completa. – E assim Elizabeth escolheu a direita. E acho que até deu resultar escolher aquela direcção. O corredor sem portas e no fim, depois de vários metros a andar com uma porta percorrer uma parede à outra dizia que aquele andar era completamente diferente dos outros.

A índica puxou pelo trinco e ele abriu sem problemas, para além do enorme barulho de ferro a ranger que fez. Mais de perto deu para perceber que tinha um sistema qualquer preso à fechadura.

- Sistema automático de fecho. Trabalha a electricidade. – O loiro analisava a situação.

- Com os geradores em baixo não nos impede de seguir. – Comentei. – Estariam a fechar decentemente antes da luz se ir?

- E se isto estava a funcionar, estaria a fechar algo ali? – Continuou Chris, olhando para o fundo negro mais à frente quando a namorada abriu completamente o caminho.

- Nunca estivemos mais perto de saber. Tirem as armas. – Ordenou ela e quando avançamos, nenhum dispensou ter a arma de fogo em mãos.

O eco ali era muito mais desconfortante ao ponto de eu muitas das vezes conseguir ver sombras imaginárias em cantos onde a luz da lua mal chegava e ouvir passos atrás de nós, que não passavam dos nossos próprios. O odor também não era bom. Não podia dizer que cheirava a morte, não, mas a merda… já não tenho tanta a certeza. Havia algum sangue depois de percorremos sempre a direito por ali. Seria aquilo algum tipo de quarentena e viemos nós colocarmo-nos na boca dos lobos.

- Liza, nós já sabemos como aqui chegar. Não podíamos vir aqui noutra altura? Talvez quando houvesse alguma luz.

- Nada a fazer Chris, já cá estamos. Vê se aguentas os tomates no sítio.

- Eu não estou com medo, já estivemos em locais piores. É só porque isto seria tudo muito mais fácil com luminosidade. Como amanhã de manhã.

- Daqui a pouco amanhece. São só mais umas horas… - Foi tudo o que ela lhe respondeu e ele, claro suspirou e seguiu.

- Que merda é esta? – Disse-lhes, quando ao olhar para o lado esquerdo do corredor, apareceu a primeira coisa que poderia chamar cela. A porta estava fechada e era de metal, muito diferente das normais nos andares de baixo.

- O verdadeiro asilo. – Comentou a rapariga e eu senti que a arma dela estava mais pegada à mão que nunca. – Lá em baixo são só os andares dos mais velhos e “normais”. Aqui fica o andar dos maníacos, psicopatas e pessoas assim.

- Ora bem, tenho de confessar que já me habituei bem a lidar com os zombies, mas malucos não. Não podíamos só levar em consideração que este local está selado e tal e que aquilo que já foi fica no passado?

- Ou podíamos enviar uma bala para a tua cabeça a ver se a boca fala menos Chris. – Elizabeth foi até à porta e tentou empurra-la. – Como eu pensava a falta de electricidade também deu cabo da tranca automática das portas. Bruce ajuda aqui. Christopher, vê se atinas e nos cobres se acontecer algo.

- É sempre tudo como tu queres… - Aborrecido, colocou-se em linha recta com a porta e apontou a arma ao mesmo tempo que eu a fui ajudar a empurrar aquele pedaço de metal. Não era pesada, mas parecia ser mesmo assim um pouco custoso abri-la. Com algum esforço, lá cedeu à nossa gravidade e escancarou-se. O cheiro voltou, mais intensificado. Agora era mesmo morte.

Dez corpos, empilhados e podres, tão decompostos que nem consegui identificar ambos os sexos presentes, se é que estavam presentes os dois. A cela era ampla e parecia almofadada nas paredes, tal como os asilos dos filmes, mas aquele era macabro demais. Até me senti estranho por nem querer vomitar. Quem estava pior era Chris, mas para além de lamúrias, não sentiu ânsias.

- Que porra, o Gage anda a matar pessoas e a coloca-las aqui? – Perguntou o loiro para o ar, quando decidimos afastarmo-nos um pouco. Quer dizer, eu e ele, Elizabeth entrou.

- Eu apostava que sim…

- Não vamos tirar conclusões precipitadas Elizabeth. Estas pessoas podiam estar mortas já quando ele tomou controlo, ou até terem-se transformado, mortos e colocados aqui. – Comentei.

- Eu tirava. Não tem ar de zombies e tem tiros no meio dos olhos. Foram pessoas mortas. – Ela regressou de lá de dentro. Só naquele momento reparei que trouxera consigo a caçadeira. Onde a foi buscar, melhor, onde a escondeu, não sei.

- Então teremos de ter uma conversa com o Gage não acham? – Chris mantinha o dedo bem perto do gatilho da arma, eu podia ver.

- Eu explorava mais alguma coisa. Depois seguíamos até ao Gage e perguntaríamos o que merda é esta. Esperemos que seja só isto, a sério e olha que ele já tá fodido, ele não tinha nada que nos esconder isto. – Elizabeth avançou e nós fomos atrás dela. Mas pouco depois paramos. Gage estava mesmo à nossa frente e as sombras que o seguiam demonstravam que não estava sozinho.

- Eu sabia que viriam. Quase apostava que iriam aproveitar a escuridão assim que ela aconteceu e por isso vim logo para aqui. Não me enganei.

- Mas que porra é esta Gage? Porque tens esta merda toda escondida das pessoas?! – Eu e Chris agarramos-lhe cada um num braço para que não avançasse mais. – Pensava que as pessoas tinham partido!

- E partiram… aquelas que quiseram. – Levantou ligeiramente o braço. Deu para ver o metal brilhante do cano da sua pistola. – Depois muitos dos que ficaram estavam psicologicamente tão debilitados quem nem sabiam às quantas andavam, ou então eram perigosos demais para nos mantermos juntos e estáveis. Tínhamos medicamentos, um stock pequeno, mas é a lei do mais forte. Temos de sobreviver e começaram a aparecer pessoas. Senti que tinha a responsabilidade de os defender.

- Todos têm o direito de viver, porco de merda! – Elizabeth deu um puxão maior e acabou por conseguir dirigir a bota esquerda até à virilha dele, deixando-o por momentos encolhido. Os restantes avançaram, mas Gage impediu-os. Reparei na sombra de Kevin.

- Não… parem… - Acabou por se levantar mostrando um pouco um rosto de agonia. Aquela atitude dela foi um pouco contra aquilo que me dera a entender em Dale City. Não foi ela que me lançou o desafio para ver se seriamos fortes o suficiente para sobreviver. Porque se preocuparia agora com aquilo? Quer dizer, continua sem estar certo, mas… será que despertou nela algo antigo? – Eu sei que tem Elizabeth, certo? Mas isso era antes, antes dos comedores andarem a comer a nossa carne. Temos de evoluir, como eu disse a lei do mais forte. Eu mesmo o fiz, não pedi para mais ninguém fazer por mim. Todas as mortes deste asilo passaram pelas minhas mãos e sinto o peso de todas elas. Mas ao mesmo tempo, sinto o alívio de conseguir proteger o resto dos que por aqui estão. É por isso que os poupo deste andar, para que não se sintam mal…

- Será por isso, ou para que não o culpem de nada? – Acabei por dizer e ele olhou-me com um ar sério. O mesmo olhar solitário, mas agora dizia-me muito mais que antes.

- Ambas as coisas. O que eu fiz não foi bonito Bruce, mas foi o necessário…

- Deixa-me perguntar-te uma coisa Gage. Dizes que os que quiseram partir partiram, mas será de este asilo não tinha também idosos, a necessitar de cuidados? E eles? Também se foram embora? – Houve um momento de silêncio.

- Eles não conseguiriam sobreviver neste mundo, Bruce. Não consegues compreender? Eu tirei-lhes a miséria. – Aquela tristeza parva estava-me a dar náuseas.

- EU é que tirei a miséria da Claire quando ela estava a ponto de se transformar. Isso é que é miséria, virar um deles. Ou será que só tu tens a vontade de continuar a viver? – Larguei Elizabeth, mas ela não se mexeu.

- Posso contar-vos uma coisa. Eu passei muito mais daquilo que podes imaginar. Mas a merda do mundo ficou assim e não existe nada a fazer se não tentares sobreviver com os mais fortes, como nós todos aqui, os capazes de evoluir e continuar a viver. Antes de chegar ao asilo eu tinha uma família. Uma mulher sabes? – “Emily”, foi apenas isso que me veio à cabeça. – Mas ela não conseguia sobreviver aqui, não, é demais para ela, eu sabia… eu sabia quando lhe dei um tiro. Foi o melhor para ela, eu amava-a, mas ela não seria forte e a morte dela comigo seria muito pior. Ao menos assim está em paz.

Raiva? Não… acho que não senti raiva. Foi algo mais assustador, corroeu aquilo que eu tinha aguentado até ali.

Só me lembro de lançar a ele e deita-lo ao chão, fazendo a sua pistola voar para longe. Puxei o punho e foi completamente direito ao olho esquerdo dele.

- SACANA DE MERDA! FILHO DA PUTA! CABRÃO! – Não contive os braços, mas depois de lhe dar mais uns três valentes socos na cara, senti o joelho dele a tocar-me nos tomates e com a dor, senti que alguém ao seu auxílio me puxou para cima e me deu um murro no estômago. Era Kevin, viu-o quando me lançou direito à parede. Antes que me agarrasse completamente o pescoço, um tiro atravessou do lado esquerdo para o direito, de orelha a orelha e ele tombou. Chris estava em dificuldades e já à porrada com os restantes e depois de me ajudar, Elizabeth juntou-se à festa. Gage tinha-se levantado mas eu voltei para perto dele e dei-lhe com o punho na nuca.

Ele virou-se e retaliou. A primeira vez consegui desviar-me, mas à segunda a mão dele foi directa à minha cara. E mesmo atordoado mandei-o ao chão. A adrenalina corria-me pelo corpo à medida que as minhas mãos se fechavam e iam de forma sincronizada uma e outra vez à cara dele. Perdi a noção de tudo a meu redor, só me interessava esmurrar a cara daquele filho da mãe.

- Como… é… possível… egoísta! – A cada palavra um murro. Reparei que o olho esquerdo já estava escuro da porrada e em ambos lagrimas. - …Assassino… psicopata! Matar velhos… e pessoas indefesas!

- E… não o somos todos agora? Ou tenho vivido mais do que tu neste mundo? – Aquilo valeu-lhe um último murro na boca, talvez dentes partidos não sei, ele não a abriu logo depois. Mesmo com toda a raiva dele, acabei por me levantar, com os punhos ensanguentados. Nem Elizabeth nem Chris me impediram de o fazer, como eu pensava, mas ainda bem.

- Seres perseguido por zombies não faz de ti um monstro completo! Pessoas inocentes, vai-te foder… - Virei-lhe as costas. As restantes pessoas, menos Kevin que morrera ao tentar asfixiar-me, estavam paradas.

- Ao menos eu consegui ver a minha mulher uma última vez! É isso que te atormenta não é? Consegui saber o que procuravas quando fugiste da tua terra natal, a partir dos teus amigos adolescentes. – Voltei a olhar para trás. Gage estava ferido, mas de sorriso no rosto e já sentado. Quando dei por mim tinha apanhado uma arma do chão, apontando-a a ele, mesmo perto daquele sorriso de merda. – Quem é o monstro agora Bruce? Eu indefeso no chão, ou tu que me queres matar só porque não sou aquilo que esperavas? Vá, vai em frente! Acaba já com o problema, mas espero que depois não te queixes que te tornaste naquilo que eu sou e fazer aquilo que eu fiz. – Passaram-se segundos e eu não me mexi. Talvez o gatilho tenha ficado milímetros mais apertado. – Logo vi, o que tu não tens é coragem para fazer o que é preciso!

E naquele momento fiz o que estava certo.

Deu a volta à pistola e bati-lhe com o cano da mesma na nuca, o que o deixou tão atordoado que caiu novamente ao chão. Voltei-me e respirei fundo, muito fundo.

- Eu nunca serei como tu… E estarás cá para o comprovar, cretino. – Cuspi um pouco de saliva ou sangue, nem sabia. Só tinha levado alguns socos, mas mesmo assim sentia uma pontada de dor. – Prendam-no, mas aqui, ver se ele gosta do que fez. Veremos o que fazermos com ele mais tarde. – Quase que foi uma ordem, mas ninguém a rejeitou.

- Obrigado Bruce. – Ouvi um dos “guardas” dizer. Reconheci a voz e depois o rosto como Kyle, um jovem com pouco mais de 20 e poucos anos, muito amigo de Kevin. – O que ele fez não está certo e nós só o soubemos agora, mas ele era o líder e tínhamos de seguir o que ele dizia certo?

- Certo. Peço desculpa pelo vosso amigo Kevin. – “… Que me tentou matar…”, pensei e comecei a afastar-me de todos eles. Estava farto do quarto andar, de Gage e dos seus homicídios. Seria aquilo o início da paz? Que se foda essa ideia, sempre que penso que estou seguro, algo acontece que contraria as probabilidades e por isso devo o que? Pensar que não estamos em paz? Nem sequer vou comentar.

Posso sentir que começo a ficar maluco, mas continuo a não ser um assassino, isso não. Ou será que depois do que vivi nestes dois meses e tal, me tornei uma pessoa tão alterada assim? Por agora não o matei, mesmo que me apetecesse, mas só de pensar na hipótese de o fazer… não será isso o quanto baste para mostrar que não sou a mesma pessoa?


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