Break Of Dead escrita por Write Style


Capítulo 10
(V 2) | Capítulo 3 - Leadership Decisions


Notas iniciais do capítulo

Aqui vos deixo mais um capítulo.
Espero que gostem ^^



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E o sol nasceu. Para mim passou uma eternidade no quarto andar e mesmo quando já estava a cruzar os corredores do terceiro, a luz do sol cruzava as colunas da própria estrutura do asilo. Parece que naquele dia as nuvens estavam menos densas. Isso talvez ajudou a que nos orientássemos depois da quebra de energia naquela noite.

Voltei a encontrar Brian, Marcus e os restantes depois de eles terem percebido a minha partida sem avisar. Tive de lhes contar sobre o que se passava afinal naquele estúpido quarto andar, ainda com as palavras a saírem um pouco amargas devido ao que Gage tinha dito. Ficamos pelo pátio I enquanto eu continuava a explicar as mortes lá de cima, até que finalmente Elizabeth, Chris e os restantes homens que agora eram mais que sombras e guardas do líder do asilo.

- E então? – Foi tudo o que disse. Daria para entender, não me apetecia nada grandes conversas. Sentia-me bastante enjoado ainda.

- Deixámo-lo lá em cima. Encostamos bastantes coisas à porta, ele não vai conseguir sair às boas. – Respondeu-me a rapariga, um sorriso sem graça. Cruzou as pernas e encostou-se à parede. – E é isto que fazemos ao Gage? Depois daquilo que descobrimos dele?

- Queres fazer mais alguma coisa, mexes o cu até lá a cima novamente e fazes o que bem entenderes. – Respondi-lhe. O que queria ela que eu dissesse? Poupei-lhe a vida porque não sou nenhum monstro. Se ela o fosse, que fizesse. Não me voltou resposta.

- Eu sabia que este asilo era uma merda. Quem nos diz que não existem ai mais segredinhos da porra que nos vão acabar por sair mal? – Dennis voltava a dar o seu ponto de vista, mas Marcus interpôs-se.

- Ok, não é tudo aquilo que pensava-mos, mas ainda somos muitos. Podemos continuar a conseguir suster este local seguro. Pelo menos até perceber se devemos partir ou não. Primeiro que tudo devíamos tentar falar com todos os outros e coloca-los a par antes que pensem coisas desnecessárias.

- Eu posso tratar disso. – Stan colocou-se à frente, para que todos o olhassem enquanto esfregava a barba grisalha. – Com a ajuda do Jordan e da Lucy reunimos todos… aqui no pátio?

- Parece-me bem. – Respondi, até que me lembrei do assunto principal a resolver. – Enquanto isso temos de ver o que se passa realmente com os geradores.

- Nós tentamos procurar por eles á pouco, de noite, mas depois de não encontrarmos o Gage, nem no gabinete dele, decidimos vir para aqui. Alguém sabe onde fica? – Alguém respondeu a Marcus.

- Eu sei. – Kyle continuou. – Existem alguns no andar 0 e um no 1º. Uma vez tive de ajudar o Gage a tratar da manutenção de um, consigo lá voltar.

- Então vamos lá. – Comecei a andar e o rapaz não demorou muito a seguir-me. Posso ter entrado no edifício primeiro mas logo a seguir, Kyle caminhou à minha frente.

E sim, os geradores ficavam nas zonas mais remotas do asilo, perto dos armazéns e das cozinhas e pessoalmente posso dizer que sozinho não chegava lá às boas. A porta era de metal e estava bem protegida, como se estivesse encerrada, mas foi só necessário um empurrão meu e de Dennis, a porta perra cedeu e abriu. Era uma sala pequena, compacta e apenas com uma luminosidade fraca do dia lá fora, a entrar por uma coisa parecida com uma vidraça em mosaico. Mesmo assim ali estava, uma grande… caixa? Uma máquina amarela e cheia de pó, com mais de 5 metros de largura e meio metro de altura, vários botões e manípulos. Deixei Kyle aproximar-se mais e inspeccionar, já que ele tinha revelado ter lidado com aquela coisa mais vezes. Depois de abrir algo como um depósito, suspirou.

- Como eu pensava, é a gasolina. Vim aqui primeiro pois este é o gerador principal. Parece que tem algum tipo de fuga e também pouco combustível. Sem ele, nenhum dos outros funcionará, nem mesmo atestados até acima.

- E o que precisa ele? – Esperava que fosse algo simples. Uma limpeza, um arranjo com uma chave de fendas, mas poderia ser assim tão fácil?

- Talvez uma nova peça. Eu posso tentar arranja-la, mas necessito tanto de ferramentas como da peça e até de gasolina. – Claro que não seria assim tão rápido, não é?

- E será que existe algo disso aqui pelo asilo? – Perguntou Marcus, quando se agachou perto do rapaz.

- Nep, não me parece. 

- A gasolina é o menos, basta passar por uns tantos carros e retirar. Agora essa tal peça… – Dennis dava a sua opinião na forma brusca de sempre. – Podemos ´tar todos fodidos só por causa dela. Como raio vamos encontrar uma merda dessas se não sabemos onde procurar?

- Talvez teremos de tentar a sorte. – Elizabeth ouvia-se lá longe, perto da porta. Não me virei, apenas escutei ao olhar para o estúpido do gerador. – Uma loja de electrodomésticos, uma oficina, deve haver comércio desse perto daqui.

- E também estamos a ficar sem comida, as reservas estão a ficar novamente no zero. – Andrew, um dos mais velhos, com não mais de 35 anos, que estava na “guarda” de Gage dizia, mas rapidamente percebeu que a palavra “novamente” não nos soava familiar. – Desde que o Gage tomou o lugar de nos liderar, só tivemos de sair uma vez lá fora para nos abastecermos estes meses todos. Ele saiu com mais três e voltou com dois carros cheios. Sem contar com a comida que já aqui existia nos armazéns, não era muita, mas nós considerávamo-la uma reserva.

- Sim, acho que a ultima vez que se fez a contagem, á dois dias, a reserva estava a chegar a zero. Se sairmos é uma busca por várias coisas. – Comentou Kyle, o cabelo em madeixas grandes até ao pescoço estavam a cruzar o seu rosto, por isso deu um movimento à cabeça e ficou novamente livre.

- Esperem lá! – Ouvi a jovem “badass” a ficar mais perto de mim. – Como é que o Gage encontrou tanta comida assim, onde é isso possível, talvez lá pudéssemos voltar. – Aquilo a mim soou-me mais uma preocupação de como ele as conseguiu e não a forma de voltar a conseguir mais. Aquilo até me deu uma ideia.

- Não temos tempo para mais investigações agora Elizabeth. Mas esse sujeitos que foram com ele podem ajudar-nos a encontrar locais fortes para uma busca de mantimentos e claro da peça. Quem são?

- Oh, ai está o problema Bruce. Dois partiram por livre vontade algum tempo antes de vocês virem. O outro… era o Kevin. – Falou Kyle. Lá se foi a minha esperança, não é?

- Merda… – Reflecti, teria de ser eu a ter todas as ideias boas? Ninguém falou e por isso lá tive de ser eu a abrir novamente a boca. – Mas se estamos a ficar sem nada, temos de dar prioridade à comida. No caminho procuramos pela peça.

- E quem pensas tu mandar? – Elizabeth cruzou os braços, ainda furiosa por a ter calado á minutos.

- Temos de ver isso. Entretanto já devem estar todos reunidos no pátio, temos de os deixar a par de tudo. Depois arranjamos um grupo pequeno para fazer a busca.

***

Ao menos consegui que Elizabeth contasse alguns pormenores do que aconteceu no quarto andar, coisas que não deixassem as pessoas aterrorizadas também, claro. Por isso é que o maior foi discursado por mim apenas, com palavras mais calmas e tal. Tinha um pouco de receio que a forma brusca de ser dela pudesse colocar as coisas piores do que já estavam. Uma coisa era certa, se não a deixaria a ela, a ultima pessoa que eu queria que estivesse no meu lugar seria o Dennis. O gajo não tem mesmo cuidado nas palavras.

Gage, asilo, geradores, gasolina, peça, busca, grupo… Foram algumas das palavras que usei para os deixar a par de tudo. E quando terminei, ninguém falou, como eu já esperava. Não quis saber mais deles, muitos não me diziam mais que um olá ou um adeus todos os dias. Só me reuni com quem tinha um a relação maior ou a quem estava a tentar estabelecer uma relação melhor, ou simplesmente quem ficava para me ouvir.

De entre Stan, Lucy, Marie, Jordan, Brian, Marcus, Elizabeth, Chris, Dennis, Kyle e Andrew tinha de escolher poucos para seguir e tentar procurar lá fora por aquilo que necessitávamos no asilo. Talvez fosse boa ideia não ir mais de quatro.

- Talvez irem quatro seja o ideal. Muita gente pode dificultar. – Todos concordaram. – Marcus? – O bombeiro era uma boa opção. Gostava sempre de contar com aqueles músculos e o machado. Ele consentiu. – Elizabeth? – A única rapariga que eu queria levar. Não que as outras fossem mais indefesas, só porque aquela fazia-me falta, devido à sua experiência com os zombies. Demorou, mas com um aceno, ela aceito.

Foi mais difícil escolher o terceiro. Confiava em todos, claro que mais nos do meu grupo que chegou ao asilo, mas também um pouco nos James e na Lucy. Sabia pouco sobre Kyle e Andrew e não queria deixar em risco Brian e Marie; Não tinha coragem de separar Jordan de Lucy ou ambos de Stan. Só restava Dennis e eu acreditava na força dele, mas não me apetecia mais merdas de maus humores. Já era suficiente o meu.

- Kyle? – Ele pareceu ficar surpreendido por o ter escolhido, mas acenou logo em confirmação. – E eu ofereço-me para ir também. Os restantes, mantenham o asilo. Deve ser seguro por agora.

- Com que então não queres a minha ajuda, hã? Ok. – Sabia perfeitamente que Dennis não se importava de ficar ali parado, mas também sabia que lhe estava a ferir o orgulho ao não aceitar a sua ajuda.

- Não é nada pessoal. Apenas tive de escolher. Sei que vais aguentar bem isto aqui durante a nossa ausência. – Pude ver que Brian queria mesmo ir. Estava chateado.

- Podes crer que vou! – Ao menos estava a sorrir. – Agora vejam lá se voltam inteiros.

Fui rápido a ir buscar o facalhão de lâmina negra, coloca-lo no cinto, ver se a Desert Eagle estava carregada e coloca-la no coldre. Procurei por uma mala na recepção e estava lá uma perfeita para carregar às costas. Levei mais algumas para dar aos outros, de maneira a carregarmos melhor tudo o que consigamos com aquela viagem. Vi que todos traziam coisas para se defenderem dos zombies, algumas mais visíveis que outras: Elizabeth a espingarda às costas, Marcus o machado na mão, Kyle com uma daquelas snipers todas modernas em ambas as mãos. Estávamos prontos para abrir o portão, quando ouvi alguém a correr atrás de nós.

Agora dava bem uns 19 anos a Brian, mesmo que ele apenas tivesse 17. O cabelo estava um pouco maior e escorrido de negro, parecido ao de Kyle, tinha deixado a barba crescer um pouco, o que lhe acrescentava anos, mas ainda tinha aquele olhar adolescente que eu estava habituado. Marie vinha com ele atrás, também cansada. Ela era rapariga e talvez por isso não lhe visse grande diferença para além do cabelo comprido apanhado num rabo de cavalo.

- Ei. – Parou de correr à minha frente. Reparei que tinha o taco de basebol na mão direita. – Por favor Bruce, eu quero ajudar. Deixa-me ir convosco.

- Brian, eu já fiz a minha escolha. Não podemos ir muitos se queremos fazer algo mais ousado e o asilo continua a necessitar de pessoas aqui.

- Que o Dennis e os outros tratem disto aqui! Eu quero por uma vez ajudar em algo importante. Já sei disparar e muitas outras vezes tive de derrubar uns zombies com o bastão antes e após termos chegado a Dale City.

- Bruce. – Ouvi Marcus a falar e olhei para ele. – O rapaz já mostrou saber cuidar dele. Dá-lhe uma oportunidade. Talvez seja útil um quinto elemento. – Ele tinha razão, Brian não era mais uma criança, não podia tratar nenhum deles como uma agora. Suspirei.

- Ok… mas comporta-te.

- Ps, por favor Bruce. – Sorriu-me e tive de retribuir. Ele virou-se para Marie que pareceu vir-se despedir mais de perto.

- Voltem depressa, ok?

- Não prometo, mas vou lembrar-me disso. – Ela acenou-me e depois virou-se exclusivamente para o rapaz de cabelos negros. – Vê se não fazes coisas parvas.

- Eu nunca faço coisas parvas. – Comentou ele irónico e recebeu um beijo tímido na bochecha. Depois ela acenou aos restantes e começou a voltar para cima. Brian ficou ali sem se mexer.

- Vamos lá. A tua admiradora espera por ti depois. – Comentou Kyle ao dar-lhe uma palmada no ombro e o rapaz sorriu, tentando recompor-se.

Marcus e Elizabeth começaram a abrir os portões de ferro naquela altura. Tive de me rir um pouco para comigo devido ao que parecia começar a passar entre aqueles dois adolescentes. Mas não sei porque, quando os portões abriram completamente e começaram a aparecer alguns comedores, mudei de expressão quase sem perceber.

“Emily…”

***

Descemos a rua do asilo e finalmente devido a Kyle, fiquei a perceber que a cidade mais perto de onde estávamos era relativamente perto, pois a dois ou três minutos a pé por ali e alcançávamos quase o centro de Centreville.

Aquela estrada estava excessivamente infestada de zombies a cada canto, de tal forma que achei melhor guardarmos as armas de fogo e prosseguir apenas usando os utensílios para diminuir o barulho da nossa presença. A ferramenta de canalizador de Elizabeth deferiu dois golpes certeiros com uma força bruta na nuca de comedores, sendo ela a primeira a actuar. Depois Brian quis mostrar-se forte ao usar o taco para dar uma pancada que até o abanou todo, mas pelo menos o zombie foi ao chão. Também o meu facalhão se encheu de sangue podre assim que dobramos a esquina para oeste, num aglomerado deles que ao nos verem, deixaram para trás um pedaço de carne que pelo aspecto estava bem fresca. Não nos podíamos lamentar caso fosse algum desafortunado no local errado, ou então os próximos seriamos nós.

Devo dizer que o tempo de treino no asilo até nos ajudou. Mesmo que muitas vezes a prática não fosse com zombies verdadeiros e apenas para o ar, penso que preparou-nos com alguma força extra para agora conseguirmos juntos passar por um grupo de mais de quatro mortos juntos. Considero isso um feito, para comparar comigo á algum tempo atrás, em dificuldades para matar apenas um. Seria por me ser muito mais fácil encarar que teria de matar para sobreviver? Não sei dizer. Mas que o era, era.

Kyle já nos guiava á um bocado para uma rua larga onde eu matei mais um comedor apenas com a lâmina do facalhão incrustado naquela cabeça pelada até que fez “crac” e ao mesmo tempo que ele chegava ao chão o pequeno grupo tinha avançado meio metro ou até metro e meio.

- Estas ruas são boas para começar. – Comentou o nosso guia, olhando para mim e apontando para algumas lojas de vidros partidos mais lá à frente.

- Sim, vamos tentar. Vejam se não existe nenhum zombie que possa aparecer de surpresa. – Ao mesmo tempo podia ouvir os ruídos sonoros da maior parte dos mortos da zona, que nos estavam a ver de certeza. Não seriam problema desde que não se aproximassem demasiado.

- Consigo ver uma entrada pela vidraça principal. Posso ir conferir se é de confiança. – Elizabeth falava sobre uma mercearia de nome “Bake´nd Place” do lado esquerdo da rua. A maior parte do vidro tinha sido partido e estava agora espalhado quase até ao centro da estrada. Confirmei e ela avançou uma coisa de 5 metros para entrar, com a sua arma branca na mão.

Um morto-vivo apareceu de uma ruela ao nosso lado, mas antes que eu pudesse avançar, ou mesmo qualquer dos outros, Brian colocou-se à frente.

- Deixem este comigo. – Afirmou, orgulhoso com o seu taco na mão.

- Confiança a mais também não é bom rapaz. – Disse Marcus. Pude ver por momentos que ele estava atento aos movimentos do adolescente e do monstro. Estava tal como eu, queria acreditar que Brian seria capaz, mas existia sempre a outra face da moeda, as coisas podiam correr mal. Ele pareceu tomar balanço, lançou a arma para trás e ainda com alguma lentidão, voltou para a frente, quando rachou parte da testa da zombie velha e desdentada. Mesmo que ela tenha perdido o equilíbrio, não parou de ir contra ele. Tentei permitir que ele tivesse mais um tempo de oportunidade. Sem demoras, desta vez virou-o para o lado direito e fê-lo voar na horizontal em direcção à cana do olho esquerdo dela, quebrando mais uma parte do olho. Quando finalmente ela foi ao chão, ele continuou a bater-lhe até que os sussurros de “fome” terminaram.

- O taco dá jeito para os afastar, mas se quiseres matá-los depressa, terás de arranjar algo afiado. – Aconselhou Kyle.

- Bem, talvez vá dar jeito ter algo afiado, mas mesmo assim prefiro vir com o taco na mesma também.

- Tenho uma ideia… Quando voltarmos ao asilo posso arranjar algo do tipo lâmina e tentar incrustá-la no próprio bastão.

- Até que não é má ideia! Fica combinado. – Abstrai-me deles quando vi o vulto de Elizabeth a voltar.

- Livre.

Deixei lá fora Marcus e Brian quando os restantes me acompanharam para o interior da loja. Mandi Elizabeth ir na minha frente, de maneira a ajudar-me a perceber onde ela tinha visto que o caminho estava livre e onde podia não estar.

- Até ali à máquina de gelados não existe nada. A loja tem mais uns 5 metros depois disso. Vi algo como uma porta das traseiras. Casa de banho ou escritório, quem sabe. – Comentou ela, encostando-se à bancada.

- Ok, primeiro vemos se à comida aqui perto, antes de avançar mais para dentro. Kyle tu sabes como a peça do gerador é. Ela pode existir por pura sorte aqui. Tenta procurar. – Ele acenou, enquanto eu já me baixava para investigar umas caixas arrumadas por baixo de uma mesa. Estava um pouco com falta de luminosidade, mas nada que me impedisse de ver que na primeira, só lá estava papelada. A segunda depois de uma mexedela, revelou-me quatro packs de pilhas que certamente daria em lanternas e coisas do género. – Pilhas. – Disse, apenas para que eles soubessem o que encontrei. Puxei da mochila atrás das costas e lancei-as para lá.

- Dois pacotes de batatas. – Ouvi Kyle dizer.

- Uma garrafa de água e uma lata de algo como atum ou merda que se pareça. – Disse Elizabeth quase ao meu lado, depois de revistar uma das prateleiras por detrás do balcão em que estávamos a vasculhar. Pela primeira vez deitei-lhe um olhar mais pormenorizado e vi que a maior parte delas estavam desorganizadas ou com latas abertas. Não deveríamos ter sido as primeiras pessoas a procurar coisas por ali, mas pelo menos tinha sobrado algo.

- É pouca coisa até agora, mas melhor que nada. Se as próximas lojas tiverem também pelo menos o mesmo que esta, talvez consigamos aguentar mais um pouco no asilo, até voltar a procurar noutra área. – Olhei e vi que Elizabeth metia mais um saco de amendoins na sua mala e Kyle dois recipientes com milho doce.

- Parece que é tudo por aqui. – Comentou o rapaz. – Vemos mais para ali? – Apontou para lá daquela máquina de gelados partida e empoeirada.

- Com cuidado, sim. – Avancei com ambos ao meu lado. Depois da máquina a loja fazia uma esquina para a direita o que nos impedia de contemplar tudo o que nos podia esperar para além daquele limite inicial. Coloquei o facalhão bem assente na mão e controlei a respiração para que nada interferisse caso necessitasse de o usar com precisão. Como que num impulso percorremos mais meio metro em tensão, mas após dobrar aquele obstáculo visual, nada nos esperava para a direita. E mesmo antes de conseguir pedir para que verificássemos a direcção oposta, ouvi um rugido quase nada humano e ao virar-me, percebi que o zumbi de um homem sem maxilar e roupa de atendedor de loja manchada de sangue vinha na nossa direcção com as mãos estendidas.

Elizabeth fez o primeiro movimento ao avançar para ele e dar-lhe uma primeira estocada na nuca. Mas isso não o parou e acabou por agarrar a blusa dela. Num movimento para se libertar, ela puxou-o com força contra a parede e até me pareceu ouvir ossos a partir. Enquanto a rapariga se mantinha a empurrar a cabeça dele contra a murro em esguichos de sangue, eu enfiei bem fundo a lâmina da minha arma, deixando-o logo inanimado. Elizabeth viu-se livre dele, mas não do sangue vermelho vivo espirrado nas roupas e até na pele da cara. Acenou-me em agradecimento, quando voltou a apanhar a sua ferramenta de canalizador. Agora sim podíamos ver para além dos corredores separados por pequenos armários expositores.

- Atenção ao chão. Por vezes eles perdem as pernas. – Gracejei, quando me dirigi para a primeira fila de armários.

Não encontramos por ali nada mais que para além do já obtido, duas latas de ananás, frutas pobres que não levaríamos e alguns chocolates ainda em sacos de venda. Kyle estava só a observar as ultimas coisas à procura da maldita peça quando Elizabeth se meteu entre a minha concentração em organizar as coisas na mochila.

- Bom trabalho. – Era estranho ver o seu sorriso. Não era alegre e sempre o achei um pouco medonho, como se quando o fizesse, não sentisse realmente a verdadeira alegria, mas sim ironia ou algo parecido.

- Como assim?

- Teres-te finalmente imposto Bruce. Teres explicado as coisas às pessoas lá no asilo e assumido a responsabilidade de ir procurar comida… Eu teria morto aquele sacana do Gage assim que ele abrisse a puta da boca, mas tu poupaste-o e deste-lhe algo pior que a morte, o desprezo. Acho que ele ficará bem naquele andarzinho que tanto gosta.

- Eu não lhe poupei a vida para lhe dar uma segunda oportunidade ou um fim melhor, Elizabeth. Eu simplesmente não sou um mostro ao ponto de fazer algo parecido ao que ele fez.

- Bem, não te posso contrariar nessa agora. Se calhar se encontrasse o asilo antes de vos encontrar e estivesse nesta situação, já estaria a milhas daqui e os que vivem no asilo a enterrar o seu belo líder. Mas vocês, fazem-me recuar quanto a actuar de tal maneira. Tu Bruce, tu, o Brian, a Marie, o Marcus, até o estúpido do Dennis, assim como o Chris trazem a humanidade que às vezes necessito. Mas nunca te esqueças, as coisas mudam e nunca sabemos quando. Mais tarde ou mais cedo terás de ser como ele…

- Espero então que morra antes que isso me aconteça. – Entretanto ele voltava para perto de nós. Ficou por ali aquela conversa.

- Nada. Talvez na próxima.

- Espero que sim. Vamos fazer figas para que essa porcaria de peça apareça nesta vizinhança. – E dirigimo-nos para o exterior de maneira a juntarmo-nos a Marcus e Brian.

E foi então que comecei a ouvir múltiplos disparos lá fora. Não tive tempo de olhar para os dois que me acompanhavam de maneira a perceber as suas expressões e só me interessei em, com algum cuidado chegar novamente à vidraça partida da montra.

- Brian! Marcus! – Gritei e continuei a ouvir os disparos vindos do nada. Não conseguia ver de onde, ou ainda levada com um deles nos cornos. O adolescente e o bombeiro estavam sentados atrás de um jipe preto, resguardados do tiroteio. Viram-nos e decidiram arriscar e correr para a loja.

Estavam já a meio metro de nos alcançar sem problemas, até que se deu uma pequena explosão no ombro destro de Brian. Quase que o vi em câmara lenta a cair para a frente, com uma cara de agonia.

- BRIAN!   


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