Break Of Dead escrita por Write Style


Capítulo 13
(V 2) | Capítulo 6 - Powerless


Notas iniciais do capítulo

Um novo capítulo prontinho.

Apressei-me a completar este pois por semanas vai ser difícil trabalhar no próximo, logo vai demorar um pouco a ser publicado.

Mas não se esqueçam do Break of Dead na mesma ^^



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Mas ela não voltou na manhã seguinte como eu esperava. Apenas um sujeito qualquer que apareceu e depois mandou uma lata que rebolou pelo chão quase até mim, com certeza aquela seria a minha refeição. Feijões, foi o que acabei por perceber ao pegar nela e comi com algum afinco. Estava com alguma fome já que não comera desde que sairá do asilo e dizendo a verdade nem quase nada comi durante o jantar com a família James, com toda a história do apagão, Gage e a peça do gerador principal.

Aquilo que Allison dissera, ou melhor dizendo, deixara por dizer na noite anterior ainda me atormentava e pouco consegui dormir, mesmo com as dores acalmadas com os analgésicos. Vi até o sol nascer no horizonte, por entre as casas que ficavam próximas da cela do lado de fora e até assisti à chegada daqueles que me tinham perseguido nas ruas mais a este de Centreville. Agora conseguia vê-los, cinco homens robustos e dois deles musculados. Um ainda tinha o capacete nas mãos e logo percebi que fora o que disparara sobre Brian; O segundo que notei tinha as mesmas roupas que aquele que me tentara apanhar na bifurcação de ruas, onde perdera o casaco, logo também presumi ser a mesma pessoa que eu pensava ser. Os restantes só os via agora, mas não estava nada preocupado com quem era ou como eram… Só de ver Sebastian pouco depois perto deles deu-me náuseas.

E Allison não apareceu durante toda a manhã… Quando finalmente alguém se mostrou dentro do edifício da esquadra, não era ela, mas Luke novamente. Abriu a porta e ao seu lado apareceu o careca e feio homem, com grandes tatuagens de dragões a cobrirem-lhe o pescoço com barba de dois ou três dias, não mais. Esse sorriu ao olhar para mim.

- É ele Harold? – Perguntou Luke, quando eu e esse tal de Harold trocávamos olhares.

- Oh, se é. Vamos leva-lo, seguimos o protocolo do Sebastian. – Mas eles não estavam sozinhos, traziam consigo mais três homens e por mais que eu me tentasse libertar, os músculos deles todos juntos levaram a melhor e lá estava eu a ser levado sem dó para outra sala, ainda dentro daquela maldita esquadra fria.

Quando deitei olho a onde estava, percebi que devia ser algum tipo de sala de interrogatório, pois tinha apenas uma janela abobadada e sem visão especial para o exterior e uma longa cadeira que de longe, o brilho me fazia parecer ferro ferrugento.

- Faça favor de se sentar senhora… - Comentava Harold, entre risinhos, quando os restantes faziam o trabalho de me colocar sentado naquilo. A blusa rasgada que eu tinha vestida não era suficiente para que deixasse de sentir o maldito metal frio preso na pele, nem mesmo as ligaduras me permitiram sentir menos. – Corda. – Ordenou e alguém lhe trouxe uma em segundos. Ataram-me com as mãos atrás das costas e por trás ainda da cadeira, deixando-me bastante pouco confortável. – Pensavas que me escapavas rapaz? Era? – O pé dele levantou-se e enterrou-se nas minhas virilhas, fazendo pressão. As mulheres não conseguem perceber, mas os homens sim. Foi como um soco nos tomates. Não gritei, mas o desconforto era bastante. Fiquei com suores frios e falta de ar, mas não lhe queria dar o prazer de me ver sofrer.

Segredou algo a um dos sujeitos e ele saiu. Logo após isso a maior parte dos homens também saiu, incluindo Luke.

- As leis do Sebastian são muito claras… Não sei como foste experimentar procurar coisas na nossa zona.

- Eu não sabia dessas porras de regras. Se soubesse não teria ido! – A dor entre pernas estava a passar, mas ainda me deixava com vontade de vomitar.

- O teu amigo Gage devia tê-lo feito. Mas como estás mais à mão, és o primeiro. - Mexia-se de um lado ao outro da sala. – Mesmo assim andaste a brincar comigo na rua, ontem. Eu não gosto de brincadeiras sabes?

- Eu também não gosto de brincar aos tirinhos! – Estava-me a irritar, mas sabia que teria de me acalmar ou as coisas ficariam feias para mim. Eu é que estava preso. Nem soube de onde veio, pois quando dei conta o soco já tinha passado sobre a minha cara e levado a minha cabeça virar-se toda para a direcção oposta. Mas ele não se ficou por ali, depois com a outra mão, deu-me outro na direcção oposta.

- Aprende a calar a boca, ou também te arranco os dentes. Não que precises deles para falar, mas deveria ser uma lição suficiente… - Sorriu-me, quando um homem de cor negra se aproximou, trazendo algo como um chicote enrolado. Desde ali que comecei a respirar fundo e por mais que quisesse que aquilo fosse um sonho, era bem real. – Vamos começar, sinto uma certa tensão por ontem teres andado a fugir de mim. Não gosto quando fogem de mim. – E deu a primeira chicotada, mesmo na barriga da perna.

Um grito saiu instintivamente da minha boca, mas não longo e ele pareceu nada agradado por eu, ao ultimo momento, conseguir contê-lo. Levantou novamente o braço e puxou para baixo quando o chicote me acertou mesmo no peito e quase pareceu que ele escolheu bem o local onde a ligadura não estava presente. Desta vez nem gritei.

- Tira-lhe a camisa, ele tem de pagar mais pela fuga. – Dizia ele à única pessoa que estava presente agora, um colega de cor africana. Ele não me desprendeu os braços de forma a retira-la, em vez disso puxou-a de tal forma que se descoseu e rasgou ao meio, caindo no chão.

E em tronco nu, tive de aguentar mais dez chicotadas. Não sei se foram mais, pois a dor fez-me perder a merda da contagem e quando ele terminou essas mesmas, eu estava um pouco fora de mim, via desfocado, mas ao olhar para o peito conseguia perceber que sangue escorria de muitas das feridas que foram abertas de tal forma ele passou o chicote nos mesmo locais vezes sem conta.

- Leva-o para a cela e manda a Allison tratar dele. – Ainda consegui ouvir a irritante voz do merdoso do Harold, um pouco ao fundo, mas era inconfundível, mesmo que eu mantivesse os olhos fechados. – E rápido! Tenho uma surpresa para ele ainda hoje!

E desta vez o solo da prisão ficou mais frio que nunca quando me lançaram para lá sem nada vestido na parte de cima. Fiz um esforço para me sentar e um cuidado para não encostar a uma parede, ou sentiria na mesma o frio da pedra. Cruzei as mãos entre os joelhos e assim me mantive quieto, de forma a tentar quebrar o sentimento que era a dor, mas ela estava lá sempre, sim, e até a ferida da seta do dia anterior parecia ter acordado.

A rapariga médica apareceu o que me pareceu uma eternidade depois, mas o sol ainda estava alto, por isso não deve ter passado assim tanto tempo. Ajoelhou-se a meu lado e ouvia a sua respiração bem perto quando preparava as coisas. Estava insegura.

- Tu não aprovas isto pois não? – Tentei dizer-lhe, mas ela estava a preparar um algodão e não me deu sinal de ter ouvido. Tive o cuidado de manter a voz baixa, mas mesmo assim, nada.

- Mantém-te quieto, ou ainda dói mais. – Começou por esfregar o peito. Estava frio, ardia com aquilo que ela usava para desinfectar, mas sabia que em pouco tempo compensaria.

- Só preciso que me respondas, eu necessito de saber. – Falava quase sem emoção. Sentia mais que dor, sofrimento. – Tu aprovas o que o Sebastian faz com este grupo?!

- Não. – Foi muito convicta a responder, mas a voz tão baixa que quase custei a perceber.

- Ainda bem… - Consegui ver ao canto do olho que ela não percebeu o meu alívio.

- Ainda bem porquê?

- Ainda bem que existem pessoas com alguma humanidade… Pensava que era o único que realmente pensava e tentava agir como agiria num dia normal, como antes de tudo mudar. – Ela passou com os olhos bastante tempo em mim e eu nela. Allison conseguia tranquilizar-me o espírito, pelo menos era o que estava a aprender naquele preciso momento. Ao menos sem Brian, Marie e os outros, tinha ali alguém que me fazia lembra-los.

- As pessoas mudam sempre alguma coisa, chama-se adaptação… Mas isto não é uma adaptação… - A última frase foi quase sem som, mas ela estava perta e os seus lábios também, eu ouvi. Ficou desnorteada e depois de me tratar pareceu sair dali com a maior rapidez possível.

Talvez ela seja a minha esperança de sair daqui, pensei ao imaginar que Allison talvez conseguisse ele fugir das garras dos Suspiro da Noite. Mas estaria ela do lado deles, ou de alguma forma do meu? Respirei fundo ao perceber que não lhe poderia fazer uma pergunta assim tão rapidamente, ela podia-me denunciar tão rapidamente como eu lhe dizia algo… Tenho de perceber quem é mais profundamente. Mas esperar significava sofrer e tinha de me mentalizar que aquilo que Harold me fizera podia nem ser metade do que ele pretendia, ou que qualquer um dali pretendia.

Oh, mas não existia maneira de me mentalizar… Fui parar à cela naquela noite a sangrar no nariz e com um olho negro de certeza, pelo que a médica me disse quando lá foi tratar de mim e me deu um calmante para dormir descansado. Mas não havia qualquer descanso. Sempre que abria os olhos Harold estava à minha espera para mais um dos seus espectáculos, como ele gostava de os intitular e depois de durante dois dias seguidos de tortura entre pontapés, socos e chicotadas, começou a ter uma legião de fãs que acompanhavam cada nova sessão. Começaram a haver cinco por dia, mais pequenas em sofrimento, mas Allison estava lá para isso e facilmente percebi que por mais que ele me batesse, não me queria morto, não, queria apenas fazer-me sofrer a cada novo dia e por isso era curado.

Duas noites e três dias tinham passado segundo a rapariga de cabelos negros, quando a mesma voltou à noite para me tratar e desta vez trouxera também a refeição pobre que eles me davam. Foi um dos dias onde doeu mais o tratamento. Sentia-me completamente derrotado e sem forças, até para as dores.

- Quanto mais tempo eles vão fazer isto? – Acabei por lhe perguntar, quando terminou aquilo que podia fazer. Existiam feridas que era impossível tratar por completo, devido ao maldito chicote.

- Não… sei… - A incerteza era verdadeira. – Até ficarem satisfeitos…

Tive de me rir, tão negro eu via o meu futuro. É um daqueles momentos em que rimos para não chorar.

- Eu… estou farto sabes?

- Se fosse eu também estaria… mas eu não posso… fazer nada. Desculpa.

- Nem tentar tirar-me daqui? Preferia morrer a fugir que naquela cadeira fria para onde o Harold me leva todos os dias.

- Eu… - Calou-se ao ouvir portas a mexerem-se e alguém a entrar. Harold estava novamente ali.

- Dia de tratamento extra princesa. – Não sabia se ele estaria a falar para mim ou para Allison. Chegou-se até bem perto de mim, sem que eu me apetecesse levantar. Era algo que já fazia e eles transportavam-me sempre pelo braço até à outra sala, mas naquele momento, estava completamente farto. – Não me ouviste? Levanta-te. – A médica esquecera-se de uma das suas tesouras bem perto da minha mão, conseguia sentir o metal frio quando percorria os dedos por ela e o homem careca não tinha noção de nada. Deu-me um pontapé. – Não brinques comigo. És mais que crescidinho para me acompanhares sozinho.

- Deixa-o em paz Harold! – Finalmente via Allison a tentar dar um passo em frente. – Ele é inocente, porque teimam em continuar com estas torturas?

- Teimar?! Cala mas é a boca miúda, se não quiseres que tenhamos uma noite agradável, os dois novamente. – Deu-lhe uma chapada que a levou ao chão. O meu sangue fervia. A tesoura ficou bem firme na mão. – E tu meu cabrão, já te disse levanta-te porra! – E foi quando me apanhou pelo antebraço e começou a levantar. Não perdi mais tempo.

Aquilo foi o que eu consegui de vingança por todos aqueles insultos e chicotadas, das quais eu me estava a fartar. Não medi limites ou consequências, só o queria morto. Acho que nunca desejei tanto que alguém estivesse morto. Mas também não sabia dizer que, se pudesse escolher quem morria, se seria Sebastian ou Harold.

O metal perfurou-lhe bem perto do estômago, uma e depois duas vezes quase no mesmo local, deixando-o sem ar. Mas ele não me largou e caímos dos dois, eu para cima dele. Tentei voltar a colocar a tesoura enterrada nele, mas a mão grossa e grande impediu-me, mas também se esvaiu em sangue ao faze-lo, já que eu deixara as partes cortantes expostas e abertas em V. Guinchou para fazer força e eu gritei para aguentar firme. Entre tudo isso não vi Allison a tentar ajudar-me, mas também não o ajudou a ele e isso deixou-me mais descansado. Ele moveu as mãos para a frente e para trás, com o intuito ou de me tentar perfurar a cara com a tesoura, ou tentar que os meus dedos a deixassem, mas por mais que doessem, eu não a deixaria.

- Filho… da… puta! – Silvava ele, quando comecei a perder espaço entre as mãos ensanguentadas dele e o meu corpo. O homem era quase todo músculos e eu não podia pensar que conseguiria aguentar assim tanto contra ele, nem apanhar novamente parte do seu corpo para o ferir como fizera de surpresa no instante anterior.

Atirou-me para trás e eu caí de costas, mas ainda tinha a tesoura comigo, cheia do seu sangue. Não lhe podia dar tempo para se levantar e aquilo acabou por ser um concurso para ver quem se levantava primeiro. Eu consegui, mas ele também já estava de joelhos. A tesoura ficou apenas a meio centímetro do seu olho direito quando uma estocada tal me fez perdê-la para longe, numa das paredes da cela. Agora vinha para mim com os punhos cerrados. Contra dos três primeiros, consegui colocar os braços à frente e para além de alguma dormência, defendi-me deles, mas o quarto acertou-me em cheio no peito e isso até me deixou falta de ar. Cai por instinto. Não era lá grande lutador e quando conseguia dar luta era por pouco tempo, ainda para mais, contra alguém tão forte como aquele monstro. Sabia que mais nada podia fazer agora e ai foi quando a consciência dos meus actos me vieram finalmente à cabeça. Ele não ficaria contente, oh… nada contente. E eu fiz figura de parvo pois não consegui fazê-lo pagar por nada… aquilo era apenas um cheirinho comparado com o que ele fez comigo três dias.

“Prepara-te para o pior…”, mentalizei-me quando por fim apareceu mais pessoas para acudirem Harold. “Ele não vai gostar.”

Anthony e aquele sujeito de cor negra pegaram nos ombros do careca e levantaram-no, ainda a sangrar da blusa branca e a escorrer pelas calças. “Mas ele vai sobreviver. A Allison não pode recusar ajudá-lo…”

- Seu filho da mãe! – Os dois que o seguravam, mantiveram-no afastado de mim, mas para o bem dele que para o meu. – Quando te meter as mãos em cima, corto-te aos pedacinhos, percebeste?! PERCEBESTE?!

- O que se passa aqui? – Por fim foi Sebastian a aparecer. O seu cabelo loiro e alisado para um lado brilhava até à fraca luz da noite e com o archote que deixavam sempre perto da cela aceso.

- O traidozeco espetou-me com uma das tesouras aqui da senhora médica! – Harold deitou um olhar fulminante a Allison e a única coisa que ela foi capaz de fazer foi baixar a cabeça. – Mata-o já Sebastian! MATA-O… Não. – Sorriu até para mim, a babar-se todo de raiva. - Posso leva-lo de novo para “A Sala”?

- Não me interessa o que fazes aos traidores, já disse que isso é contigo. – O líder dos Suspiro da Noite não mostrava mesmo interesse nenhum em mim. – Se o quiseres levar para “A Sala” é contigo. Mas trata de não fazeres os prisioneiros produzirem este frenesim todo aqui. Para isso é que aquele local tem paredes duplas. – O seu olhar sem piedade nem interesse enjoou-me profundamente, mais um pouco até que Gage ou Harold. Virou costas e mais nada disse.

Quando dei por mim o careca estava novamente a agarrar-me, mas desta vez ataram-me cordas à volta das mãos e Harold fez questão de apertarem até doer. Tinha um passo acelerado e levou-me para fora dali, mas o que me deixou a temer o que vinha a seguir foi ele não ter voltado a tentar bater-me. Isso não me parecia bom e acabei de perceber que a minha tentativa foi mais que falhada, pode custar-me a vida.

- Que essa medicazinha não volte a meter os pés aqui! Acabou-se os cuidados médicos mais cedo desta vez.

Parece que ele me ia tornar num qualquer caso especial para o que ele costumava fazer.

***

Harold também arranjou algo afiado, mas não foi uma tesoura e esterilizou, mas penso que não por uma questão de higiene, foi mais porque ferro quente é mais doloroso. Atou-me completamente braços e pernas e como sempre deixou-se em tronco nu, sentado naquela cadeira dos horrores. Se fosse por mim, acontecesse o que acontecesse, não ouviria grito algum da minha boca. E isso aconteceu da primeira vez que ele enviou a faca directamente na parte da frente da coxa da minha perna direita, onde eu quase gemi da dor que deu, mas consegui o controlo a tempo. Ele pareceu não ficar muito satisfeito e furiosamente retirou aos poucos a lâmina da minha perna para passar para a do lado, quase o mesmo sítio. Ai quase como instinto o meu corpo deu um ressalto mínimo, mas ainda assim não lhe gritei nem implorei por nada. Limitei-me a fechar os olhos… a pensar nos meus amigos… em Emily.

- Não te faças de forte, hoje hás-de gritar para mim. – Prometeu-me ele, com um olhar doentio que eu assisti assim que eu voltei a abrir os olhos. – Sabes que fiquei a par dos últimos acontecimentos. – Estava a limpar a faca do meu sangue, com um pano. As minhas pernas latejavam. – O Sebastian não se vai ficar por aqui. Tu és só uma pequena caganita naquele asilo e por isso este castigo não vai resolver nada. Vamos descer amanhã e punir também todos os teus amigos de lá.

Olhei-o fixamente, furioso com ele. Como era ele capaz de me dizer aquilo tão ironicamente e como se fosse a merda mais natural de sempre?!

- Tu não lhes vais fazer nada. Têm-me a mim, não era isso que queriam? Fui eu que os fiz invadir o vosso espaço, sou eu que tenho de pagar!

- Eu tou-me assim só pouco a cagar para aquilo que tu achas. Vou matar primeiro aqueles que seguiam contigo naquela loja, se isso te fizer mais feliz… Se é que o rapazinho não está já morto, mesmo que eu tenha falhado um pouco o tiro. 

- Tu és uma besta já te disseram? – Disparei eu, sem paciência. Tentei contorcer-me na cadeira, mas nada ajudava a mexer-me. Estava completamente pegado a ela e não podia esmagar a cabeça daquele maldito diabo!

- Nem tu sabes como… Anthony, Lewis tragam o presente aqui para o nosso amiguinho! – Gritou ele para as paredes, mas eu sabia que eles deviam estar perto o suficiente para o ouvirem. – Aqui tens os teus novos e últimos amigos.

Os homens entraram e com eles, presos por correntes, dois mordedores com bocas repletas de restos de sangue e tripas. Um deles não tinha um braço e em vez dele possuía um buraco de pus branco, enquanto no outro aquilo que o pode deixar mais identificável era o olho cego do lado direito e os dois dentes da frente grandes como muitas pessoas tem, mas como zombie faziam-no perder parte do lábio inferior de tanto roçar.

- Não sou assim tão mauzinho. – Começou a desatar-me, os dois pés e uma das mãos, a esquerda. A alguns metros de mim, largou a faca com que me estava a torturar no chão. – Eu tinha muito mais para escumalha como tu, mas o Sebastian deu-me ordens claras para resolver isto o quanto antes… Podem largá-los. Boa estadia Bruce! – Disse-me quando estava próximo da porta, fazendo-me continência como um idiota sem cabeça e após as correntes se largarem das mãos dos outros dois, o zombies fixaram-se em mim e aquela porta fechou-se.

Estava ela a fechar-se, já eu estendia o corpo em direcção da faca, o máximo que conseguia enquanto o meu outro braço estava preso pela mão à cadeira. A arma ainda estava longe demais.

- Foda-se, puta que o pariu! – Usei toda a minha flexibilidade, mas mesmo assim a mão ficava a poucos centímetros de ser possível ser agarrada e a amarra da mão presa estava a fazer tanta pressão que eu temi que a circulação do sangue para-se por lá. E os monstros estavam cada vez mais próximos e aquele do olho cego devia estar tão sedento que até se mandou ao chão e começou a rastejar enquanto rosnava com aquele som grave do fundo da garganta, tão pouco humano que por vezes nos fazia esquecer que foram como nós.

Tive de arranjar outra forma e por isso rapidamente recolhi o braço e estiquei ambas as pernas, gritando apenas para ganhar alento, mas também para conseguir escapar com vida. Foi algo que nunca pensei, mas que agora me veio à cabeça… que a pior morte para mim seria ser comido vivo por aquelas coisas. Não podia deixar, não podia e mesmo assim estavam a meio metro de mim.

O pé alcançou-a e assim que a bota se colocou em cima dela empurrei para mim até que ficou ao alcance. Peguei nela e tive de pensar na prioridade. Um dos zombies já estava mesmo quase em cima de mim e o outro a rastejar mais atrás, logo empunhei a faca e perfurei a cabeça do primeiro mesmo no centro quando os dentes do mesmo estavam já a pouco tempo da minha pele. Assim que ele caiu para trás, sabia que teria tempo para me desatar. Comecei a friccionar a lâmina para a frente e para trás na presilha com o intuito de a cortar antes que o outro chegasse. Faltava um pouco de tecido e um pouco para ser mordido também por isso fiz força e força. Acabou por se desatar, mas ele pegou-me no pé e começou a tentar morder a bota. A minha sorte foi ela ser um pouco dura e ele não ter tido tempo de dar uma dentada muito profunda antes de eu lhe acertar no coro cabeludo. Afastei-me dos corpos a bufar por ar com o coração a mil. Estava completamente desgastado e por isso fui ter ao chão com facilidade, sentando-me a um canto a contemplar a sala.

Só voltei a ver humanos muito tempo depois, talvez horas. Anthony não vinha muito contente e a sua expressão ficou ainda mais esquisita quando o olhei nos olhos, vivo. Ele foi-se embora e quando voltou não era o “torturador” careca que vinha com ele, mas sim o líder dos Suspiro da Noite. Também ele pareceu surpreso.

- Muito bem Bruce, meu caro. Dois zombies com um membro amarrado. Acho que afinal nem necessitas de morrer, dará como bom espectáculo para o resto de nós. “Bruce, o imortal”, deves estar orgulhoso. – Nem lhe voltei resposta. Ele veio mais perto e agachou-se à minha frente, olhando-me directamente, mesmo que eu evitasse faze-lo. – O Harold já deve ter andando por aqui a espalhar o que vai acontecer ao asilo e aos que lá estão. Estes bairros estão a ficar atafulhados de andantes e com o tempo, talvez seja difícil manter tudo o que temos. O edifício onde vocês estão é muito mais confortável e seguro, temos de ficar com eles e eu nunca devia ter permitido que o Gage e os seus colegas lá vivessem durante tanto tempo. Tenho pena que tenhas sido apanhado no meio disto, mas é assim que as coisas são de momento.

- Uma pessoa não tem de matar todos os que os rodeiam como se fossem ameaça. A ameaça aqui és tu e o teu grupo, não o meu. Só tenho de te dizer uma coisa: Eu vou MATAR-TE… custe o que custar, a TI e àquele teu amigo CARECA do caralho. Não te desejo nada mais que a morte! – Todas as palavras foram proferidas de forma pausada para que Sebastian se desse conta de cada uma delas pormenorizadamente. Mas não o consegui demover com elas.

- Às vezes eu gostava mesmo muito de ser como tu e notei isso agora. – Levantou-se quando talvez se lembrou que eu tinha a faca bem perto das minhas mãos. – Humanidade… onde terá sido que eu a perdi? Quando matei a primeira ameaça? Quando matei o primeiro andante? Não sei. Mas sei perfeitamente como o mundo agora funciona Bruce e tu também deverias saber. Eu conto-te: Tu podes esconder-te, tu podes arranjar um grupo e até sentires-te são e salvo mental e fisicamente por um bocado. Mas nunca te esqueças de uma coisa… mesmo que vás à luta, no fim, a morte ganha sempre.  Esse é o terceiro e ultimo Suspiro da Noite.

Ele deixou-me pouco depois sem mais uma palavra de qualquer uma das partes. Senti-me um inútil que por pouco escapou com vida daquela situação e não sei mesmo quantas mais vezes o vou ser capaz de fazer. Impotente acho que é a resposta correcta para aquilo que eu me sinto em toda esta situação. As palavras de Sebastian aterraram como uma verdade dura e sem sombras de dúvidas verídica: A morte ganha sempre.

Sejamos zombies ou apenas pessoas que sobrevivem até ao fim, acabamos por morrer e isso é tudo o que nos espera decerto daqui para a frente. O resto são imprevistos e mais um dia, mais dois dias, até que finalmente ela ganha, para sempre e não falo “sempre literalmente”, pois agora até ela continua a caminhar para nos atormentar.

Tenho medo como nunca tive e sinto um vazio tão grande como nunca senti. Os lábios de Emily… Richmond… os meus pais… os meus amigos… a minha família… os alunos de condução, o resto dos instrutores, os vizinhos, as lojas, as casas, os dias de pesca, os dias de picnic, uma cama, uma televisão, um computador, um livro… um tudo, tudo e tudo. Falta-me tudo pois perdi tudo quando entrei nesta sala.

E ele nem sequer levou a faca. Ela permanecia ali, suja de sangue, agora não era o meu, era o dos zombies, mas mais cedo ou mais tarde aquele que corria nas minhas veias, também sairia e eu morreria finalmente. “A morte ganha sempre…”, Para quê resistir se temos a hipótese de deixar de sofrer tudo isto. “Agora compreendo Claire… a morte ganha sempre”, Se eu pegar nela e a colocar no meio da testa, acabou-se, finalmente. “Brian e os restantes vão compreender… a morte ganha sempre…”, Peguei nela e fiquei com a mesma a balouçar na mão. “Vou ter com Emily… finalmente… e todos os que eu conheço estarão também lá… porque a morte…” , Elevei a mão e coloquei-a em posição. “ganha…”, Estava no momento. “Estou a chegar amor…”

A porta ranguei e abriu-se.


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