Break Of Dead escrita por Write Style


Capítulo 12
(V 2) | Capítulo 5 - The Harsh Truth


Notas iniciais do capítulo

Ora aqui est ele ^^

Espero que continuem a apoiar a minha histria ^^



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Não eram 10 tanques e muito menos 15. Eu conseguia contar daquela perspectiva pelo menos uma linha de 20 clones do mesmo veículo, arrumados lado a lado como que a formarem um paredão. Nem queria pensar no que poderia estar do outro lado.

Os dois homens continuavam a empurrar-me em direcção àquela muralha sem pronunciarem uma palavra. Nada podia fazer se não quisesse arriscar ficar com uma seta ou uma bala encravada no meio da nuca. Fossem quem fossem, não me pareciam para brincadeiras e se estivessem de alguma maneira ligados aos que me perseguiram ruas atrás, teria realmente problemas. E era isso que aumentava o medo em mim. Sempre fui uma pessoa de aguentar bem as coisas, mas não estava a gostar da forma como tudo estava a avançar, em desvantagem para mim. Rodeado pelos meus amigos, talvez me sentisse algo seguro, mas ali no meio do mato, com dois sujeitos sujos a apontar-me armas e a levar-me para um sítio desconhecido ia para além dos limites do meu aceitável. Mas não me estou a passar, é só… receio.

- Á quanto tempo saiu o Harold? – Foi a primeira coisa que eu ouvi do que segurava a besta. Tinha um sotaque do interior, rural, cabelo pastoso de cor acastanhada e olhos finos, baixos e semicerrados.

- Duas horas, acho eu. – Respondeu aquele da caçadeira, cabelo grisalho e uma barba até ao pescoço.

- Mesmo assim parece que teve sorte… Não te preocupes colega, estás em boas mãos. Vamos só apresentar-te ao nosso patrão. Ele vai gostar de saber que tem visitas. – Dizia o da besta para mim, enquanto me puxava para uma abertura entre dois enormes tanques e passava-mos finalmente para o outro lado. Não me pronunciei quanto ao que ele me disse, pois pouco sabia o que estava a acontecer. Por mais que tentasse forçar a minha fuga, eles eram dois e ambos com armas. Eu podia ter uma, mas isso naquele momento pouco parecia importar.

Tudo aquilo que eu esperei ver do outro lado não ocorreu. Após o cordão de veículos militares o que se estendia para a frente era mais um dos bairros de Centreville, com as suas moradias unifamiliares, arbustos decorativos, agora parcialmente envelhecidos, ruas sujas mas nem um único zombie. De entre as muitas esquinas, eles levaram-me para a que ficava mais perto da nossa posição, mas fosse para qualquer uma que olhasse, os carros que anteriormente deveriam estar abandonados ao acaso como em tantas outras ruas, estavam agora alinhados em cada intercepção de forma a bloquear a passagem.

Durante a minha passagem por ali, só vi pelo canto do olho mais duas pessoas a olharem-me, que certamente se tratavam de guardas a patrulhar ou merda assim. Não fomos muito mais longe, pois pouco depois levaram-me ao chão com um empurro. Vi finalmente que deveria parecer bastante inundo. Faltava-me a manga direita e esse próprio braço estava balhado em alguma lama, assim como outras partes da minha roupa de tal forma que me senti desconfortável por a roupa se colar ao meu tronco.

Não vi bem de onde ele veio, talvez duma casa ali à frente, mas alguém caminhava até mim, sozinho. Aloirado, entradas até metade da nuca e um olhar vazio, mas com um sorriso, tal como eu vira Gage fazer da primeira vez que o vimos naquele gabinete que dizia ser seu no momento. Trazia algo como um palito na boca com lábios carnudos e parecia moreno pelo sol, mas se calhar era a sua cor natural e isso dava-lhe um ar estranho. Vi uma arma presa a um coldre na cintura.

- E quem é este? – Disse, numa voz áspera como pedra a raspar em pedra, só que de alguma maneira irónica.

- Encontramo-lo nas redondezas. Não sabemos se faz parte da patrulha ao cargo do Harold ou não. – Comentou o da besta, deixando parte dela bater no chão para repousar.

- Se foi, vieste para o lado errado. – Disse-me directamente.

- Não era a minha intensão vir aqui ter. Tive que fugir de uma balas para conseguir sobreviver e isso levou-me aqui. – Decidi ser sincero. Não tínhamos feito nada, só procurado por coisas para sobreviver e se eles estavam conectados ao homem do capacete, era uma boa oportunidade para se esclarecer as coisas.

- Pois, isso também pode ser explicadinho… Importavas-te de me acompanhar até casa? – Apontou para a moradia atrás de si. – Sempre estamos melhor instalados.

- Tenho opção? – Só quando o disse é que viu como estava a entrar com o pé errado. Não sabia nada sobre aqueles sujeitos e podia estar a colocar-me em maus lençóis. Mas ele sorriu, como eu não gostava de ver.

- Diria que não. Já viste o teu estado? Devias estar agradecido amigo, estamos a fazer-te um grande favor ao tirar-te dali. As ruas não são tão limpas e bonitas como antes, sabes? – Os seus colegas nem me mexeram atrás de mim. Tive de me levantar e ir com o maldito para aquela casa, estivesse a ir para a boca do lobo ou não. Ao menos ele teria de me dar algum tipo de explicação.

A porta estava aberta e ele permaneceu no hall até que eu entrasse, apontando para a divisão entre a qual ele estava parado. O chão estava sujo, mas não tanto como o daquela casa abandonada em Dale City. Eles tinham limpado algumas coisas e de certo que viveriam por ali.

Fomos até perto de uma mesa numa sala apenas iluminada pela luz do exterior a entrar da janela escancarada. Os dois sujeitos mantinham-se por perto, mesmo que não sentados. Eu sentia-os na sala, atrás de mim.

- Ora bem, por onde começamos… - Dizia o homem que me parecia o líder daqueles todos. – Nomes talvez? Eles ainda têm algum significado, não?

- Bruce. – Nem tentei coisas. Mais valia colaborar.

- Muito bem, Bruce, o meu nome é Sebastian Collins. Bem, pensava ter apanhado o meu amigo Gage, mas pelos vistos apareceste-me tu. – Ele sabia sobre Gage?!

- Conheces o Gage?

- Se conheço… Espera ai… Tu deves ser aquele novo membro… Oh pois, foda-se, claro! Então pertences ao último grupo que chegou ao asilo.

Aquilo deixou-me sem expressão. Então ele conhecia de onde eu vinha e até sabia que eramos convidados do asilo à pouco tempo. Mas quem raio são estas pessoas?!

- Como podes saber tu isso?

- Como não o negaste já percebi que acertei em cheinho. – A sua cara era um enigma, frio, mas ao mesmo tempo os músculos da boca não pareciam conseguir fazer mais nada que sorrir. – Ora, então conta-me afinal o que o Gage anda a fazer… - Estava a ponto de lhe dizer que ele primeiro me teria de dizer sobre outras coisas, mas ele parou-me com um gesto. – Primeiro respondes e depois eu dou-te as tuas respostas, podemos fazer assim? – Eu acenei, sem hipóteses.

- O Gage já não lidera o asilo. Prendemo-lo para sua própria segurança.

- Ohohoh, olha que boa ideia. Dou os meus parabéns a quem teve essa puta de ideia. Nunca gostei dele sabes? – Depois ficou pensativo. – Nesse caso, temos um problema. Quem lidera agora?

Eu não sabia. Seria eu? Seria Marcus? Elizabeth? Stan?

- Ainda não decidimos nada, foi recente.

- Nesse caso, vamos lá ao que interessa, né? – Colocou ambas as mãos encima da mesa, cruzadas. – O que fazes tão longe de casa?

- Ficamos sem suprimentos. Organizamos uma viagem até umas lojas para buscar alguma comida. Até que um homem de capacete decidiu disparar contra nós e acabei por ter de o despistar. – O de cabelo grisalho soltou um pequeno grunhido de riso.

- Até admira como conseguiste despistar o fudido do Harold…

- Quer dizer que foi um dos vossos que nos atacou?! – Perguntei, sem mais rodeios. – O que fizemos nós?

- Isso não é muito complicado de explicar, caro Bruce. – Voltei a concentrar-me em Sebastian. – Acho que o Gage não vos explicou muito bem os “Três Suspiros da Noite”. – Aquilo não me dizia nada mesmo.

- Três Suspiros da Noite? – Repeti, mas fez tanto sentido como antes.

- Sim, precisamente. Acho que devo explicar tudo quase do inicio certo? Às vezes esqueço-me como as pessoas novas ainda podem não saber caca nenhuma. Ora bem… - Levantou os braços no ar, como a mostrar-se e até se levantou ligeiramente da cadeira. – Nós somos o Suspiro da Noite. – Depois de ver que eu não estava a ver lá muito bem o que aquilo era, ficou um pouco desiludido, eu via. – Ah, vá caralho, dá-me algum mérito pelo nome do meu grupo…

- Tu deste um nome ao teu grupo? – Só o perguntei porque aquilo quase me parecia uma história daqueles livros de romance.

- Sim, que merda é que têm? Gosto que ao menos me conheçam por mais que Sebastian. – Como não lhe respondeu, suspirou e continuou. – Como eu estava a tentar dizer Senhor-não-gosto-de-nomes, Suspiro da Noite é a minha comunidade, onde estas duas libelinhas entram também. – Sabia que se referia aos dois sujeitos que me encontraram lá fora. – Nós temos por aqui um grande perímetro sabes? Um paredão de tanques a sul, um paredão de tanques a norte e algumas barreiras militares a este e oeste. Os militares vieram para aqui, mijar de certeza e depois morreram e deixaram cá a merda toda p´ra nós. E com quase 50 pessoas para aqui a viver, tornasse difícil viver sem limites, sabes? E é ai que entram os Três Suspiros da Noite. – Ele falava de tudo aquilo como um miúdo fala do seu brinquedo favorito. Teria perdido os miolos? Não iria dizer tal coisa, não me fizesse ele também perder os meus. – E o primeiro deles diz: “Centreville está sobre o domínio dos Suspiro da Noite. Tudo feito dentro dele tem de ser consentido por nós.” Entendes?

- Como assim Centreville é vossa? O mundo virou-se de pernas para o ar! Para que tentar ter domínio sobre terras quando podemos partilhar? Nós não nos metemos no vosso caminho quando o vosso “amigo” Harold ou lá o que é se atravessou no nosso caminho e disparou sobre um adolescente.

- Pois, mas eu não tenho intensão de fazer partilhas colega. Nós chegamos aqui, plantamos o nosso acampamento nestes bairros e reclamamos o que existir por aqui para nós. – Ele já não parecia muito para brincadeiras, até se levantou da cadeira. Eles podiam ter-me retirado a Desert Eagle, mas se tivesse de ser, teria de tentar usar os punhos contra ele. – E se tu estavas lá com aqueles que saíram à procura da minha comida, tu és um dos culpados. Eu avisei o Gage sobre tudo isso quando á meses atrás lhe dei uma porrada de comida para ele se abastecer e desaparecer das minhas ruas.

Agora estava explicado! Gage tinha conseguido toda aquela comida deles, com a condição de permanecer no asilo e por isso é que eles não saiam de lá desde sempre! Merda, até me sinto parvo ao perceber tudo agora. Os treinos dele… seriam para nos preparar contra este grupo? Saberia ele que estaríamos em perigo assim que saíssemos à procura de mais comida assim que aquela disponível do edifício chegasse ao fim? Teremos cometido um erro ao jugá-lo no quarto andar e tê-lo preso lá? Foda-se…

- Como dizes saber, eu era novo lá e mais ninguém parecia saber que essas regras existiam. Acredita que se soubesse, nada disto teria acontecido. – Tentei ser racional e conseguir que ele entendesse. Talvez nos conseguíssemos safar desta.

- Bem, isso é problema vosso, não tenho culpa alguma que o filho da puta do “Gago” se tenha esquecido de vos dizer. E isso vai de encontro com a nossa segunda regra de controlo. “Punimos quem não cumpre as nossas regras”.

Engoli em seco e levantei-me da mesa. Sebastian acompanhou com um igual movimento e aquele riso só com os lábios. Já não estava a gostar da conversa, dizendo verdade desde o início que aquilo me soou mal como tudo e agora fora a gota de água. Eles não pareciam brincar, dava para ver nas suas caras.

- Calma lá Bruce, não vale a pena fugires, pois escolheste mal o caminho de volta a casa. Estás sobre os meus domínios, agora mais que nunca. E acredita que eu não posso mesmo deixar passar isto em branco, ou os meus vão achar-me um fraco líder. Há que manter o nível. – Os dois atrás de mim começaram a aproximar-se, para me apanhar novamente decerto.

A adrenalina voltou ao meu corpo de tal maneira que até já estava a tremer ligeiramente. O que queriam eles de mim?! Não queria pensar, nem experimentar, tenho de sair daqui e voltar para a rua, descer a sul e voltar para o asilo. Fugir de Centreville é tudo o que eu quero agora, mais que nunca, esteja ele a brincar comigo ou não.

Não pensei nas consequências, pois aquilo que me percorria a mente acelerada era a sobrevivência. Logo não tive qualquer ressentimento ao ponto de quando os dois sujeitos atrás de mim me estavam quase a agarrar, eu me tenha virado levemente e dar um pontapé no “coiso” daquele que tinha a besta e um soco no surpreso de cabelo grisalho. Isso deu-me espaço de manobra, poderia conseguir escapar e por isso é que fui logo disparado a caminho do hall de entrada, ali a poucos metros. Sebastian deve ter sacado da arma que pendia no coldre, pois ouvi um disparo que me passou mesmo ao lado e foi ter à parede, fazendo um ricochete que até retirou parte da tinta.

- Apanhem-no! - Gritou ele, quando eu já estava na porta e a abri com alguma dificuldade. Os dois capangas já estavam de novo em pé por essa altura, mas eu também não me fiquei atrás. Entre mais três tiros, corria pela rua onde eles me tinham levado.

Só tenho de seguir por onde me trouxeram, era o único pensamento que poderia estimular a minha continuação. Estava ali recentemente e orientei-me logo. Alguns metros para a frente, talvez um quilómetro ou assim, estaria novamente perante o paredão de tanques e logo a seguir naquela meia-floresta. Para sul conseguiria misturar-me nos prédios e perde-los de vista, despista-los e conseguir chegar ao asilo talvez ainda antes de a noite cair, quem sabe. Depois dizia tudo isto aos outros e part….

Algo penetrou nas minhas costas fazendo-me chiar por instinto. A dor foi tanta naquele primeiro segundo que primeiro cambaleie, mas acabei por perder o controlo do corpo e cai estendido no alcatrão. A mão esquerda ficou-me a doer com a queda e devo ter ficado com o peito meio esfolado, mas mesmo assim voltei a levantar-me para tentar continuar. Eles não me iam parar, não iam… Mas a dor era intensa e penetrante e voltou a atacar em força, deitando-me novamente ao solo. Por essa altura permaneci assim, sem conseguir voltar a ficar em pé. De certo que era uma seta, ainda sentia algo pegado às costas e uma bala não me parecia ser. Quero lá saber, dói que se fode!

O homem de cabelo grisalho chegou finalmente perto de mim e senti a bota dura a enterrar-se perto do estômago, uma e outra vez.

- Maldito filho da puta! – Continuava a dar-me pontapés, onde eles pareciam doer mais. – Pensas que escapas, é?!

- Deixa-o em paz Luke. Sabes que o patrão quere-o na mesma vivo. – Ouvi o outro dizer, quando Luke parou finalmente.

- Pensava que tu é que tinhas levado nos colhões e não eu, Anthony! O gajo necessita de uma lição… aqui… - Deu-me um novo pontapé, agora mesmo na barriga da perna. - … mesmo! – O seguinte foi ter mesmo à nuca. Fiquei zonzo.

- Pára já! – Agora era Sebastian, de algum lugar atrás de mim. – Levem-no para a esquadra.

Senti os braços deles a apanhar o meu corpo dorido. Fechei os olhos e esperei que eles fizessem o trabalho todo, não mexeria nem um músculo, mesmo que já poucos deles conseguisse mexer voluntariamente.

***

Arrastaram-me para não muito longe de onde me atingiram. Ainda conseguir ver a placa da esquadra antes de lá entrar e depois só vi um monte de celas, até que uma acabou por ser o local para onde me lançaram. Tinham tirado a seta espetada e doera como o caralho e até sentia ainda as costas dormentes e a expelir sangue. Pensei que me deixariam ali para morrer, mas apareceu mais alguém quando Luke e Anthony ainda me vigiavam do lado de fora das grades. Estava tudo muito mais escurecido, mas ainda consegui denotar cabelos longos atados num rabo-de-cavalo. Uma mulher, com uma mala a tiracolo foi permitida de entrar.

- O que raio aconteceu? – Não me disse nada directamente, mas com as mãos sentou-me no chão e foi para as minhas costas, acabando por me tirar a camisa toda rasgada e cheia de lama. Em tronco nu, sentia ainda frio, mas um certo quente vindo da ferida aberta. – Isto foi uma seta Anthony?

- O chefe não o queria deixar fugir. – Respondeu ele lá de fora ainda, segurando a porta de ferro. Não parecia querer arrecadar com culpas.

- Tenho de tratar isto ou ainda infecta. – Comentou ela e ouvi a mala a ser remexida. – Não lhe acertou em nenhum local vital, foi a sorte…

- Não acertou porque não era esse o meu propósito. – Retorquiu Anthony, querendo decerto não manchar a sua imagem.

Ela deve ter aplicado alguma pomada ou algo do género, pois a dor foi-se acalmando, até um estado que só picava como os diabos. Envolveu-me o tronco de um lado ao outro, das costas onde a ferida estava, até ao peito. Estava colocada apertada, mas era melhor que suportar toda a dor como á minutos. Ela voltou para a minha frente e agachou-se, com uma embalagem de comprimidos na mão. Foi quando lhe olhei o rosto, limpo e bonito, não com mais de 25 anos, cabelo castanho-escuro liso e uns olhos que mesmo com a pouca iluminação, dava para ver que eram verdes. Retirou uma das capsulas de lá de dentro e ofereceu-ma com a mão.

- Toma, é um analgésico para as dores. – Fiquei relutante. Se não podia confiar neles, como podia confiar nela? Ela deve ter reparado na hesitação. – Não é nada de outro mundo, só quero que tenhas menos dores. – Podia ver nos seus olhos, sei lá… Ela não me parecia malévola nem tinha um sorriso como o de Sebastian, aquele era honesto. Retirei a capsula da mão dela e enfiei-a na boca, engolindo-a logo de seguida. – Eu volto para ver como estás. – Levantou-se, olhou uma última vez para mim e depois saiu pela porta da cela aberta e cheia de grades, no momento em que o homem da besta a chegou com o trinco e tudo.

Estava farto do mundo real e por isso pouco depois, tudo o que aconteceu naquele dia acabou por se desvanecer quando entrei em sono profundo. Acordei desorientado e ainda com algumas dores, mas o medicamento parece ter feito efeito. Levantei-me com alguma dificuldade e tentei espreitar pela janela pequena que ali havia de forma a perceber quanto tempo poderia ter estado a dormir. O sol já se tinha posto, logo apostava que dormira toda aquela maldita tarde. Marcus e os restantes devem estar montes de preocupados comigo e eu aqui sem poder dizer nada. Vão pensar que morri, fui mordido e acabei um zombie ou fui capturado… E este último acabou mesmo por aconteceu…

Ela cumpriu o que dissera e voltou pouco depois de eu acordar. Ainda estava do lado de fora da cela quando a vi, mas o seu rosto só se tornou visível quando estava mesmo a metros de mim. Não me levantei para a receber, estava demasiado estafado e dorido para o fazer e ela não se mostrou incomodada com isso. Luke mantinha-se por perto e mesmo no escuro com a luz do luar, a sombra dele projectava-se na parede que ficava para lá da cela.

Começou-me a tirar novamente a camisa, mas desta vez com a minha ajuda. Pegou no estojo de antes e retirou as ligaduras para ver como estava. Estava agora a limpar novamente a ferida com algo frio e gorduroso.

- Obrigado pela ajuda. – Foi tudo o que consegui dizer a princípio.

- Estou cá para isso. – Respondeu ela. Como vi que não passava disso, voltei a falar.

- Posso saber quem és?

- Allison, Allison Grace. – Deixei de ver a sombra de Luke.

- Trabalhas para eles? – Ela sabia perfeitamente a quem me referia.

- Sim… Acolheram-me á mês e meio sabes… - Conseguia sentir a incerteza nela. – O meu antigo grupo desfez-se depois de um ataque de uma manada enorme. Fui a única que sobrevivi e foi numa caçada que Anthony me encontrou, a norte daqui. Trouxe-me até ao Sebastian e os outros… Como tenho um curso de primeiros-socorros decidiram acolher-me.

- Porque querem eles manter-me aqui? Eu só quero voltar e fugir com os meus. Se Centreville é dele eu vou-me embora. – Estava a ser sincero, não me interessava lutar com gente que parecia ter tanto. Nem com uns sem-abrigo me meteria se eles tivessem um local onde estivessem acolhidos.

- Tu não és o primeiro… e não serás o último… - Sentia a mágoa nos sussurros dela. Não falava alto pois Luke podia aparecer a qualquer momento, eu também sabia. Baixei igualmente o tom.

- Ele prendeu mais?

- Ele é um homem caprichoso… - Suspirou. – Á cinco dias chegou uma família de três pessoas, marido, cunhado e sogro. Eles estavam estabelecidos a quatro quilómetros daqui e os capangas do Sebastian encontraram-nos. Trouxeram-nos aqui e decerto que lhe deram a mesma conversa que te deu a ti. – Levantou-se e arrumou as coisas. Só então percebi que até já tinha ligadura novamente enrolada ao peito. Estava pronta para ir embora depois de me dar um novo analgésico. – Eu volto amanhã.

- Espera! – Falei um pouco mais alto, mas Luke não estava ainda ali. Tinha tempo.

- O que fez ele com os homens?

Prolongou-se um longo silêncio. Allison olhou-me com tal tristeza, que o meu coração quase parou.

- Eu volto amanhã… - Virou-me as costas e quase fugiu. O homem grisalho voltou e fechou a cela com um longo e sonorento toque de metal.

Engoli o medicamento em seco.


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