Sweet Cherry escrita por Kamiille


Capítulo 25
Capítulo 25 - Poema.


Notas iniciais do capítulo

Um capitulo bem suave, em contraste com o próximo... x.x
*Leiam as notas finais!*



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Essa sensação era pior. Não era boa, nem ruim. Era vazia. Não sabia direito o que sentir. Porque não tinha mais á quem se sentir.

Era como uma sala vazia. Sem móveis, sem piso, sem iluminação. Paredes brancas sem cor. E lá, no centro dela, perdida e abandona. Eu.

Nunca imaginei que iria sentir isso novamente. Era como quando mamãe morreu. Sentir-se totalmente sozinha no mundo enquanto há milhares em sua volta. Estranho? Só complicado. Por que a solidão sentida, não é a falta de pessoas. Mas a falta daquelas pessoas com que você possa passar horas conversando e mesmo assim ainda sobrará assunto, com quem você pode confiar cegamente, aquela que você abraça forte com vontade e ela retribui. É essa falta. É essa solidão. A solidão de ver todos, mas não ter ninguém de verdade. Conversar com muitos, mas não poder desabafar com ninguém. Encontrar muitos olhares, mas não poder se aprofundar em nenhum. Gostar de todos, sem amar mais ninguém. 

Entende o que é dançar sem coreografia? Falar sem ouvir sua voz? É como sentar no sofá, olhar para tv, mas não assisti-la. Afinal, sua mente está longe. É estar ouvindo uma música e, com muito esforço, quando você conseguir se concentrar na letra, ela só irá fazer sentido com a imagem dele na sua cabeça.

-Senhorita Kamile!

-Hã? Oi?

-Leia! O poema do livro!

Foi só então que percebi que estava na sala de aula. Lys, que se tornará minha dupla de carteira apontou para o livro.

“Confesso que me dá uma saudade irracional de você. E tenho vontade de voltar atrás, de ligar, te achar, de te dizer mil coisas, e cair em suas mãos, te dar aquele abraço sem noção e aquele beijo que me deixa sem fôlego, sem me importar com nada, simplesmente entregar-te meu coração novamente. Aliás, ele nunca deixou de ser seu. Mas não, renuncio, me controlo e digo para mim mesmo que não é assim, que não pode ser, que você se foi, e não volta.”

-Caio Fernando de Abreu*

Li eu, em voz alta para toda a sala. Metade deles não lembrava nem o meu nome, mas eu tinha acabado de expor minha dor através daquele poema. Sorte que eles não sabiam disso.

-Muito bem senhorita Kamile. Já que estava tão concentrada na aula, me explique o que Fernando de Abreu quer dizer com isso. –O professor de português, Jess, era um jovem com seus 20 e poucos anos. Apesar de ser novo era um dos nossos professores mais rigoroso. Ele era bonitinho ao ponto de ter uma meia dúzia de alunas caídas de paixão por ele. Porém, a aliança no dedo anunciava que era noivo e estaria casado em poucos dias.

Um dia, por acaso, esqueci a mochila na sala (e tive que aguentar a zoação de Castiel, claro: “Só na esquece a cabeça porque tá grudada no pescoço...” e muito mais... Agora, até isso fazia uma falta tremenda), quando voltei para buscar, Jess estava falando no celular e pelo pouco que entendi sua noiva morava em outra cidade. Uma cidade que ficava no Oriente, do outro lado do mundo. Deviam ter se conhecido pela internet ou por acaso. Não dá pra entrar muito na intimidade de professores para se saber ao certo da vida deles.

-Estou esperando Kamile! –Eu andava muito distraída esses dias.

Respirei fundo. Mas não precisei me preocupar. Eu realmente não chorava mais há um bom tempo.

-Ele está falando sobre um amor perdido. Algo que ao mesmo tempo que ele quer correr atrás e procurar, não pode.

-E por que ele não pode? –Jess andava pela sala olhando para chão e parecendo analisar cada palavra minha.

-Talvez por orgulho. Ou por que ele sabe que aquilo tudo é passado. Não pode voltar e sim ser ainda mais esquecido. Ele sabe que agora é futuro, mas saber disso não torna as coisas mais fáceis. A vontade dele é uma, a realidade é outra. –Quase acrescentei um “eu o entendo”, mas a sala todo estava quieta. Até os sussurros no fundão estavam em silêncio, os dorminhocos acordados e os fones de ouvido abaixados. Droga...

Jess parou e me encarou.

-Então, posso eu deduzir que o amor não é verdadeiro. Afinal, se fosse de verdade, ele passaria por cima de qualquer orgulho, barreira, distância... –A voz dele falhou um pouco nessa hora. - ...E passado. Certo?

Vi Lys assentir do meu lado.

-Depende. –Respondi.

-Então me explique! –Ele pareceu zangado de repente. Mas isso é normal, ao contrario, nunca parece que ele está feliz.

-Depende. –Repeti. –De cada história. De cada caso. Não posso generalizar dessa maneira. O orgulho só se forma da dor, da mágoa. E se essa for grande demais? Ainda tem o tempo. Ele não fala se isso é um amor antigo ou atual. Ainda mais, ele não explica o motivo próprio para não procura-la. Quem sabe a mulher já está casada, com filhos e uma família? Enfim. Uma coisa é certa. O poema não conta o final da história. Não fala sobre a dor que ele sente por não procura-la, fala somente do desejo de fazer. Posso realmente fazer mil interpretações e hipóteses sobre esse pequeno texto, mas em uma coisa eu acredito. No tempo.

Jess pensou brevemente.

-Quanto tempo? –Porra! Não sou conselheira amorosa! Na verdade, aceito uma.

-Me responda você. Quanto tempo você suporta? Essa é a resposta. –Sabe aquela horrível sensação que todos os olhares estão sobre você? Então.

Então Jess ficou lá quieto por uns 15 minutos. A sala tacando fogo na escola, se matando, guerra de bolinha de papel... E ele lá meditando. Só quando tocou o sino ele deu um sinal de vida.

-Lição de casa: uma redação sobre o assunto abordado em sala. –Ele praticamente murmurou e saiu.

A sala (manada de selvagens) saiu para o recreio normalmente, me ignorando como sempre. Menos, claro, Lys, Rosa e Íris.

-Que incorporação de autora romântica foi essa? –Rosa perguntou com o celular na mão, sempre pronta para responder outra mensagem de Leigh.

-Eu até chorei. –Íris limpou os olhos com a manga da blusa e fungou.

-Parem com isso. Que drama! –Reclamei.

Lys nos acompanhou em silêncio enquanto saiamos da sala.

Ah é, esqueci de descrever minha semana. Hoje é sexta-feira, mas a dor vem desde semana passada, de quando ele se foi. Não faço a mínima ideia de onde ele se enfiou. E, no fundo, sinto que não o verei mais. Nunca mais. Isso me desmorona. Me pergunto por que as pessoas que mais amo são tiradas de mim? Estou vendo a hora que Lys vai embora também.

Fomos andando e conversando até o pátio. Mas tudo aquilo era perturbadoramente vazio. E ao mesmo tempo, parecia que a qualquer hora que eu virasse o rosto, ele iria estar lá, de pé encostado na parede. Mesmo com o cabelo preto, mesmo pegando a escola toda e não falando com ninguém, antes ele estava lá. Eu sabia que estava. Era diferente. E menos dolorido.

Lys me abraçou por trás e sussurrou no meu ouvido:

-Você me ama?

Me arrepiei.

-Sim. –A reposta saiu meio automática e sem certeza absoluta.

-Obrigado. –Ele respondeu com um beijo. –Por corresponder meus sentimentos.

Continuamos em silêncio enquanto Rosa lançava Íris em cima de Armin com um empurrão ao nosso lado.

Bem, amanhã seria uma esperada visita no apartamento de Lys. O que eu nunca esqueceria. Nunca mais. 


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Notas finais do capítulo

Cá estou eu de novo -3
Bom, alguma de vocês repararam que no gênero tem "Yaoi"? Pouco tempo, me pediram hentai... Vocês aprovam? Um capitulo Yaoi iria ter de toda maneira, mas lemon? (...) De toda maneira, me digam se vocês aprovam o hentai normal ou o lemon, por favor X3
E a outra foi só uma ideia ainda... Uma leitora pediu vaga para uma personagem, e até há. Então eu pensei (quem tiver interessada, claro) mandar uma personagem (garota) pra mim. Com nome, aparência, personalidade... Enfim... No final, eu escolheria qual se encaixa mais com o "papel" XD' Vocês mandariam? (não mandem ainda, não tenho certeza de qualquer forma) Espero suas opiniões nos reviews ^^
2bj