Percy, quarto do hotel.

Acordei com uma dor de cabeça infernal. Olhei para os lados e vi onde eu estava. Fui levantar para pegar algum remédio e vi que havia um peso em cima de mim. Olhei e encontrei Annabeth dormindo com a cabeça no meu peito, o rosto sereno e os cachos espalhados.

Oh-oh.

O que hades aconteceu ontem? E será que eu bebi tanto assim a ponto de não lembrar como Annabeth veio parar no meu quarto?

Fiquei mexendo nos cachos dela durante algum tempo, até que ela começou a acordar. Abriu os olhos e olhou para os lados sem mexer a cabeça, depois seus olhos se pousaram em mim. Susto. Foi a primeira coisa que vi. Depois sua expressão se aliviou.

– Bom dia – Digo sorrindo.

– Bom dia. Está melhor? – Ela pergunta sonolenta.

– Hum... não. Estou com uma dor de cabeça enorme.

– Imaginei – Ela disse enquanto levantava e pegava um comprimido e água no criado mudo. Não pude deixar de notar que ela estava vestida.

Me alcançou e eu engoli com a ajuda da água, coloquei no criado mudo de novo e me virei pra ela.

Eu estava vestido também. Então o que estávamos fazendo?

– Annie? – Chamei e ela me olhou – Ontem, nós... não?

Ela franziu as sobrancelhas e depois corou.

– Ah... não. Eu ouvi você no corredor e vim te ajudar, mas você pediu pra eu dormir contigo – Ela disse vermelha.

– Atá – digo suspirando aliviado – Eu vou tomar banho.

– Ok, eu vou para o meu quarto. Te vejo no café – Ela diz e sai do quarto.

Foi aí que comecei a lembrar: O término com a Mel, o porre e... ah meus deuses, o que foi aquilo no corredor? Não podia ver, mas tenho certeza que estava vermelho como um tomate.

Fui até o banheiro e fiz todo o ritual de sempre, peguei uma roupa qualquer e vesti. Depois disso desci para o saguão do hotel, onde todos estavam me esperando, só faltava Annabeth.

Mellanie me olhou culpada.

– Bom dia. Vamos tomar café aonde? – Pergunto.

Todos me olham assustados.

– Querido, estamos indo almoçar – Atena diz com a voz doce.

– Almoçar? Já? Que hora é? – Pergunto assustado.

– Hum... 13h23 – Ela disse olhando para o relógio.

– Nossa, eu dormi tanto assim? – Murmurei baixinho.

– Gente, vamos tomar café aonde? – Annie pergunta quando chega.

Cara, pareceu cena de filme: No instante em que ela perguntou isso todos me olharam. Alguns maliciosos, como Luke, Nico, Thalia, meu pai e Mel, e Atena foi a única surpresa.

– Que foi? – Pergunto – Não transei com ela, não. Ela só me ajudou porque eu estava bêbado. Não me olhem assim.

Annie me olhou.

– Aliás, obrigado por ontem – Digo.

– Não foi nada. É até engraçado ver você bêbado – Ela diz com um sorrisinho.

Levanto as sobrancelhas.

– O que eu fiz? – Pergunto e ela cora instantaneamente.

– Vamos almoçar, então? – Ela pergunta mudando de assunto e eu soube que ela lembrou da cena na porta. Você é um idiota, Perseu. Pelo menos eu não admiti algo como eu amá-la.

Meu pai me deu um último sorriso malicioso e foi na recepção fazer sei lá o que.

Fui até a Annie.

– Posso falar com você? – Pergunto e ela assente.

A levo para um canto e me viro para olhá-la.

– Desculpe, pela... hum, cena na porta... ontem – Digo corando.

Ela ri.

– Deuses, nunca vi você corar tanto assim – Ela diz sorrindo – Você estava carente e bêbado. Péssima combinação.

– Eu não estava carente. Não estou, o que é estranho. Os casais após o término se sentem carentes?

– Alguns, mas como você não sabe disso?

Levanto as sobrancelhas.

– Você acha que eu sou um galinha, não é? – Pergunto rolando os olhos – Mel foi minha primeira namorada, minha primeira vez foi com Héstia em uma festa que eu estava bêbado. Depois de Héstia foi só uma mortal, e Afrodite tentou me estuprar, mas não conseguiu porque Ares interrompeu. Aquela noite foi tensa – Digo estremecendo e ela ri.

– Sério? Ela tentou te estuprar? – Annie pergunta rindo.

– Mais ou menos – Digo sorrindo também – Ela deu uma festa no Olimpo e me deixou meio bêbado, ai quando estávamos quase lá Ares bateu na porta e eu voltei ao meu corpo. Quer diz, Ares é o amante dela, Hefesto é marido, sem contar os mortais. Eu iria ser o que? Passa tempo? Nunca. Mas ela diz que quer um filho com os meus olhos verdes, ou seja, ela não vai desistir. Tenho mais medo dela do que de Zeus.

Annie ri e ficamos ali conversando sobre as merdas de Afrodite até que meu pai (daqui a alguns dias, nosso) nos chama.

– Olhem, nós podemos sair e comer fora, ou podemos comer aqui no restaurante do hotel. Qual vão querer? – Ele pergunta.

– Aqui tem restaurante? – Pergunto.

– Eu também não sabia. Mas qual vai ser?

Alguns murmúrios.

– Aqui no restaurante – Eu digo – Não estou afim de sair.

– Restaurante – Thalia e Nico dizem.

– Restaurante – Diz Luke dando de ombros.

– Restaurante – Diz Atena.

– Restaurante – Dizem Mel e Annie.

– Ok, vamos para o restaurante – Ele diz e se vira para umas portas grandes que tinham ali e que eu nunca tinha visto.

Depois que todos nos sentamos – Meu pai, Atena, eu e Annie de um lado e Thalia, Nico, Luke e Mellanie de outro – fizemos os pedidos e começamos a conversar.

– Héstia não é uma deusa donzela? – Annie me perguntou.

Meu pai me olhou e começou a rir, ele lembrava daquilo.

– Bem, era. Mas depois da Guerra de Titãs ela e Hermes começaram a namorar, ou ter um caso, eu não sei. Mas todo mundo sabia. Ai em uma festa ela estava furiosa com Hermes, porque ele não dava atenção pra ela e só para George e Martha, e então ela bebeu para caralho. Eu também não estava bem por um motivo aí – Digo desviando os olhos – E foi assim que acabamos na mesma cama. Ninguém acreditou que eu estava bêbado. Quando nos encontraram no quarto do templo dela chamaram todos os deuses. Eu acordei com meu pai rindo, Hermes gritando comigo, Afrodite com uma careta indignada, Atena me olhava maliciosa, Zeus parecia que iria me fulminar, Ares estava rindo também, junto com Apolo, Ártemis queria me matar e coisas do tipo. Conhece os Olimpianos.

No final Annabeth e todos na mesa – que nem percebi que estavam me olhando – estavam rindo histericamente.

– E Afrodite? Como você explica o seu quase encontro com a morte, vulgo Ares aquele dia? – Meu pai perguntou.

– Ela me enfeitiçou! – Eu digo indignado – Se eu dormisse com ela Ares acharia um jeito de me matar. Eu não sou tão louco assim, ok?

– Claro, claro – Meu pai disse.

– E os gritos de Atena, hum? – Pergunto e me viro pra Annabeth – Tem noites que não consigo dormir no quarto, cara. O quarto de meu pai é ao lado do meu, e as paredes são grossas, mas mesmo assim eu consigo ouvir t-u-d-o. É nojento! Tenho que ir dormir na biblioteca – Falo indignado e recebo um tapa de Atena.

– Você não tem o que reclamar, Perseu. Eu também ouço os gritos de Mellanie no meu chalé – Thalia diz e eu coro.

– Isso quando você e o Nico não ficam trancados no seu durante um dia inteiro, não é? – Falo a ela e me viro para Annabeth – Qual era o record mesmo? 22 horas?

– É – Annie diz rindo – Quando vocês brigam e se trancam no chalé Percy, eu e Mellanie nos revezamos para contar as horas – Ela explicou para o olhar intrigado de Thalia.

Meu pai assoviou.

– Ela aguenta 22 horas? – Ele pergunta para Nico e recebe um tapa de Atena.

– Deuses, você está apanhando demais, pai. Eu não deixava assim – Digo inocentemente e Atena me olha.

– Mas eu não deixo, não é querida? – Ele diz e ela cora.

E o almoço passou assim – com várias risadas, sorrisos maliciosos, os mortais das mesas nos olhando torto quando ríamos alto demais, conversas com Annabeth e por incrível que pareça, nenhuma briga. Estávamos bem, e isso era bom.

Depois do almoço minha dor de cabeça havia passado completamente e decidimos que iríamos sair hoje a noite. Nico havia perguntado como as baladas de Atenas eram, e como poucas pessoas sabiam resolvemos ir.

Annabeth passou a tarde toda comigo no meu quarto, conversando. Tinha alguns momentos em que ela somente me olhava de um jeito estranho, como se quisesse ler minha mente.

Eu estava amando ter a companhia dela. Ela era tão perfeita.

Fui tirado de meus devaneios por Annabeth que me olhava daquele jeito de novo.

– Annie? – Chamei – Você está fazendo aquilo de novo.

Ela pareceu despertar.

– Desculpe – Ela respondeu corada e suspirou – Percy, porque você e Mellanie começaram a namorar?

Congelei. Não queria tocar nesse assunto, mas quando vi estava falando.

– Bem, eu amo uma garota, sabe? Nem lembro desde quando. Mas quando Mel soube disso ela me prometeu que me faria feliz e me faria esquecê-la, e pareceu certo nós namorarmos, sabe? Mas era mais carnal.

– E porque terminaram, então?

– Ela disse que não queria se apaixonar por mim, mas que iria me fazer ser feliz. Não entendi isso direito, mas foi o que ela disse. E como eu sei como é se apaixonar por alguém e não poder tê-lo, eu não disse nada – Disse dando de ombros.

– E... – Ela engoliu – quem é essa garota?

Sorrio tristemente.

– Não posso contar, sinto muito.

– Mas... Mellanie sabe? – Ela perguntou e eu assenti – Você a conhece a menos de um mês e já contou a ela. Te conheço desde os doze anos. Como nunca me disse?

– Sinto muito, Annie. Mas eu não vou te contar. Pelo menos não agora – Eu digo e sento no chão, apoiando as costas no sofá – Vamos jogar vídeo game? – Pergunto.

Annie parecia furiosa, mas amanciou o olhar e sentou ao meu lado.

– Você vai perder feio – Ela disse sorrindo maliciosa.

Retribui o sorriso.

– Veremos.