Eu já sabia que trazer o Nico e a Rachel não ia prestar. Eu também já sabia que a Rachel era interessada em mim, não no Nico, e apenas usava meu primo para tentar me fazer ciúmes. Era estranho. Quer dizer, eles estavam juntos havia quase um ano. Não foi tempo suficiente para ela reparar que não estava funcionando?

Esperei Annabeth e Thalia subirem antes de começar a discutir.

- Certo. O que aconteceu?

Rachel me olhou com uma raiva que eu, sinceramente, não sabia que ela era capaz de ter.

- Por que você a convidou, Jackson?

Ciúmes?

Olhei para Nico, e observei a fúria dele aumentar, a ponto de contorcer sua cara numa careta. Ele parecia estar se segurando para não voar no meu pescoço.

- Annabeth? – perguntei, mesmo já sabendo a resposta. Ela não disse nada. – Annie é minha amiga. Nós, eu Annie e Thals, sempre vinhamos aqui quando éramos pequenos. Antes mesmo de você aparecer, Rachel.

- Qual é, Percy! – ela deu um passo a frente, de modo a ficar entre Nico e eu. – Ela sumiu do mapa há dez anos. Te deixou e deixou Thalia também. Durante todo esse tempo, Ann... Ah, Ann-alguma-coisa-lá não deu uma notícia. Não ligou, não mandou mensagens. Agora ela, do nada, vem morar em Nova York, se reaproxima de vocês e fica tudo bem? É assim?

Fiquei com vontade de responder é, é assim, mas sabia que só isso não bastava para saciar Rachel. Nunca bastou. Tudo o que ela havia dito era a mais pura verdade. Tudo bem que Annabeth tinha seis anos quando passou as férias de verão conosco pela última vez, mas depois, quando ela já era adolescente, poderia ter nos procurado. Ligado, mandado uma mensagem de texto, um e-mail, adicionado no Facebook... Tanto faz.

Poderia ter dado notícias.

Frederick, pai de Annie, trabalha na Olympus com meu pai e tios. Ele tem contato com toda a minha família.

Mas Annabeth nunca veio atrás. Nem pediu notícias nossas, nem deu nenhuma sua.

E, do nada, ela volta para Nova York como se tivesse passado apenas seis meses desde que viera pela última vez.

- Você está certa. – falei, sentindo as palavras me corroerem por dentro. – Annabeth sumiu, não deu notícias e nem veio atrás de nós. Agora simplesmente volta como se nada tivesse acontecido...

- Pense bem, Perseus. – Rachel pegou a mala do chão e entrou na casa.

Me virei para Nico.

- Você disse isso porque é a verdade, ou disse porque está com raiva por ter sido substituído? – ele se sentou na cadeira de praia armada na varanda da casa.

Franzi a testa.

- Como assim substituído? – perguntei, me sentando no chão ao seu lado.

- Todos sabemos que você e Annabeth eram apaixonados quando pequenos, certo? – ele perguntou, e eu dei de ombros. – Certo. Será que essa raiva toda da Annabeth não veio porque você sabe que ela arranjou novos amigos e, possivelmente, um novo namorado para substituir você e Thalia?

Não respondi nada. Eu sabia que não estava bravo por isso – na verdade, nem havia pensado na possibilidade de Annabeth ter namorado quando ainda morava na Califórnia.

- Lembre-se, Percy: ela tinha seis anos quando pisou aqui pela última vez. Nem se lembrava direito do rosto de vocês. E, nessa época, quem tem total autoridade sobre a criança é sua mãe. Será que a mãe de Annabeth...

- Athena. – falei, quando percebi que ele estava tentando se lembrar do nome.

- Isso, Athena. Será que Athena não proibiu ela de procurar por vocês?

Dei de ombros. No fundo, sabia que Athena jamais faria uma coisa dessas. E também sabia que Annabeth jamais aceitaria uma regra estúpida como essa. Se ela não nos procurou, então foi porque não  queria isso.

- Duvido. – falou Luke.

Como pude esquecer que meu melhor amigo estava bem atrás de nós, e que ouviu toda a discussão?

Me dei um tapa mentalmente por ser tão burro.

- Annabeth não parece ser o tipo de pessoa que obedece a regras desse gênero. – ele falou.

- Ela não é. – respondi.

Agora Nico deu de ombros.

- Você que sabe, Percy.

Olhei para Luke e nós três seguimos até o quarto onde ficaríamos.