Meu pai me levou para o aeroporto, e eu não precisava ler mentes para saber que ele se julgava culpado por eu estar voltando para casa. Durante todo o percurso, Frederick Chase permaneceu calado e me olhava de relance uma vez ou outra. 

Quase me senti aliviada ao chegar no aeroporto. Meu pai me ajudou a levar as bagagens para um carrinho e depois me deu um beijo de despedida.

- Venha me visitar assim que você puder, filha. - pediu.

- Assim que as férias chegarem. - prometi. - Me ligue de vez em quando, pai.

- Claro.

Dei um abraço forte nele e segui até a sala de embarque. Quase fiquei surpresa quando descobri que meu vôo sairia em dez minutos.

Quase.

É que eu tenho costume de me atrasar para vôos. Longa história.

Olhei para o aeroporto de Nova York pela última vez. Não, não é a última vez, Annabeth. Você volta nas férias.

Me lembrei da festa de despedida que meus amigos armaram ontem. Thalia chorou, Rachel chorou e até Nico ficou emocionado - mas acho que ele não chorou porque estava com a namorada. Percy me prometeu que mandaria sms todos os dias para contar como iam as coisas, mas a Thalia fez ele "desjurar", porque quem desempenha esse papel é a melhor amiga.

- Quem disse que você é a melhor amiga dela? - ele perguntou.

- Eu estou dizendo, Cabeça de Alga. - ela respondeu.

Suspirei pesadamente. Como eu sentiria falta daqueles dois brigando feito cão e gato.

"Última chamada para o vôo 347 - Nova York."

Dei mais um passo em direção á porta que levaria até o avião quando senti uma mão me puxar.

- Não podia deixar você ir embora sem isso.

Percy me beijou.

E, posso lhes dizer, foi muito melhor do que na primeira vez, quando tínhamos três anos. Ou na segunda, quando ele estava bêbado.

Porque agora Perseus tinha plena consiência - ou pelo menos eu achava que ele tinha - do que estava fazendo. E isso só me deixava mais feliz.

- Não ia deixar você ir embora sem me despedir. - Percy sorriu e colou as nossas testas. - Eu te amo, Annabeth Chase. Muito mais do que você imagina.

- Eu também te amo, Cabeça de Alga. - baguncei seus cabelos negros e ele riu. - Não vai me pedir pra ficar?

Percy negou com a cabeça.

- Você tem que fazer o que acha certo.

Assenti.

E o que é certo nem sempre é o que nós queremos.

Parte de mim queria ficar, concluir meus estudos em Nova York, morar com meu pai e deixar as coisas como elas estão.

Mas a outra parte - que não tinha sido atingida pelo beijo - me dizia que eu tinha que voltar para a Califórnia. Ajudar minha mãe a superar o término do relacionamento, voltar para a vida que eu construí durante esses dez anos que passei longe de Nova York.

Eu precisava voltar. Não podia ficar mais nessa cidade.

Dei um último selinho em Percy e me afastei. 

- Até mais, Cabeça de Alga.

- Até, Sabidinha.

Sem olhar para trás nem uma única vez - com medo do que eu poderia fazer caso isso acontecesse -, eu entrei no avião.

Mas não era o fim.

Não ainda.