Huntbastian escrita por Tati Machado


Capítulo 6
Capítulo 6




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"Bas?"

Quando abro os olhos, vejo enormes olhos azuis me olhando a apenas alguns centímetros do meu rosto. Pisco algumas vezes até me lembrar do que aconteceu ontem. Eu tiro meus braços de volta dele e me sento na cama, esfregando meus olhos antes de me virar para ele e ver que ele ainda está imóvel e me observando.

"Você tá bem?"

"Eu estou muito enjoado... Você tem algum remédio ou alguma coisa do tipo?"

Eu me levanto e praticamente me arrasto até meu armário para pegar meu estoque de remédios para ressaca. Quando me viro, vejo Hunter com o olhar fixado na parede.

"Não me diga que você é o tipo de pessoa que quando fica bêbada se transforma em um sociopata?"

Ele balança a cabeça negativamente sem tirar olhos da parede.

"Eu acho que vou vomi-"

Antes que ele possa terminar de falar, ele vira a cabeça para fora da cama e fecho os olhos enquanto escuto o som do vômito.

"Você sabe que o chão é de carpete, né?"

Abro os olhos e vejo Hunter ainda recuperando o ar, enquanto volta a se deitar na cama.

"Desculpa."

"Não, deixa pra lá... Eu limpo depois."

Pego um copo d'agua no mini bar(cada quarto da Dalton tem uma) e me aproximo dele, sentando na beirada de sua cama e entregando o remédio para ele.

Enquanto Hunter toma o remédio, pego meu celular e mando uma mensagem para Jeff pedindo para ele me trazer uns panos para que eu possa limpar o quarto. Reviro os olhos quando vejo sua resposta:

*Nossa, você é tão bom assim?*

Após alguns minutos Jeff aparece no quarto mas ele nem passa da porta alegando ter um "estômago fácil para vomitar".

"Que estranho... Como você paga boquete todo dia para o Nick eu pensei que seus reflexos estariam controlados."

Hunter tenta dar uma gargalhada mas apenas solta um gemido estranho.

"Hm... Boa sorte com ele."

Jeff me entrega as toalhas e sai do quarto. Fecho a porta e sigo em direção ao chão sujo do lado da cama do Hunter.

"Da próxima vez tente correr para o banheiro."

Digo, parecendo mais rude que gostaria. Olho para ele e seus olhos parecem realmente arrependidos, como se fosse culpa dele ele não ter conseguido segurar o vômito.

"Desculpe por isso, Hunt. Eu não ligo em ajudar um amigo... Sem contar que você vai ter que fazer isso pra mim mais cedo ou mais tarde!"

Ele dá um sorrisinho e fecha os olhos.

Eu termino de limpar o chão e jogo os panos fora porque eu não quero ficar em contato mais que o necessário com vômito. Depois deito na minha cama e fico observando o Hunter por alguns momentos antes de voltar a dormir.

:::::::::::::::::::::::::

Escuto um barulho de chuveiro e instintivamente me levanto procurando por Hunter.

"Hunt?"

Hunter coloca a cabeça para fora do banheiro, claramente se sentindo melhor, e lança um sorriso para mim.

"Eu estou aqui.. Vou tomar um banho."

Eu não posso conter a pontada de vergonha por causa do meu desespero por não ter visto ele no quarto.

"Ah, sim.. Tudo bem."

Quando Hunter volta para o banheiro e fecha a porta, eu olho para o relógio e vejo que já são dez horas. Querendo terminar com a onda de calor(causada pela vergonha) que sinto no meu rosto, me jogo na cama enfiando a cara no travesseiro. Após uns minutos, escuto alguém abrir a porta mas nem me dou ao trabalho de levantar o rosto.

"Jeff, eu não estou com paciência para suas piadas sem graça agora."

Quando não escuto nenhuma resposta, eu me levanto e olho para a porta vendo um homem de mais ou menos 50 anos(mas mesmo assim em forma), cabelos grisalhos e olhos negros. Me sento na cama, fitando o tal homem que agora está fechando a porta do quarto.

"Quem é você?"- O homem me pergunta sério, cruzando os braços.

"Meu nome é Sebastian Smythe. E você?"

"Pode me chamar de Sr. Clarington."

MERDA.

"O senhor é o pai do Hunter?"

Ele revira os olhos e suspira como se ser o pai do Hunter fosse algo negativo.

"Sabe aonde ele está?"

"Ele está tomando banho."

Ele atravessa o quarto e vai até o banheiro, onde dá um murro na porta.

"Hunter! Saia agora!"

De repente escutamos o chuveiro sendo desligado e após alguns segundos, Hunter sai do banheiro com uma toalha na cintura e com seu olhar totalmente sem brilho. Sem o brilho que eu nunca havia visto seus olhos sem..

"Pensei que chegaria só amanhã, Sr.Clarington."

Ele chama o próprio pai de senhor?

"Acontece que marcaram uma reunião para amanhã e eu só pude vir hoje. Mas porque você está reclamando? Você tem sorte de eu querer te ver, em primeiro lugar."

Hunter abaixa a cabeça e mal posso acreditar no que estou presenciando. Esse cara está mesmo falando com o Hunter assim?

"Não, Sr.Clarington. Eu não estou reclamando.. Eu só-"

"Não me importa. Se vista e me mostre a escola. Estarei te esperando lá fora."

Hunter concorda e assim que seu pai sai do quarto, ele se senta na cama dele colocando a cabeça entre as mãos.

"Ele é um amor, não é?"

Me sento ao lado dele coloco uma de minhas mãos sobre o ombro dele.

"Se você quiser, eu vou com você."

"É melhor não.. Vai que ele pensa que nós temos alguma coisa? Aí sim que ele me mata."

Ele se levanta e pega algumas roupas para se vestir no banheiro.

Enquanto ele está se vestindo eu começo a me perguntar se ele se lembra do que ele me contou no dia anterior. Ele parecia bem assustado com a idéia da visita do pai e como agora ele está querendo ir sozinho, eu estou preocupado.

Quando ele saiu do banheiro, ele já estava vestido mas com um rosto pálido.

"Eu vou indo antes que ele fique nervoso."

Quer dizer que ele estava calmo antes?

"Ok.. Eu vou tomar um banho e se precisar eu vou estar aqui."

Ele acena com a cabeça e respira fundo antes de sair. Eu fico encarando a porta por algum tempo tentando me controlar para não ir atrás dele e me certificar que o pai o trate bem.

Resisto a minha vontade e tomo um banho. Depois coloco uma roupa e me deito na cama para ficar olhando para o teto numa tentativa falha de não ficar pensando no que deve estar acontecendo entre Hunter e seu pai.

De repente escuto um miado vindo do canto do quarto, o que me faz levantar e olhar em direção de onde ele vem. É o Mr.Puss que está tão encolhido no canto, que mal posso ver sua forma.

"Ei, gatozilla..."

Digo delicadamente enquanto me levanto da cama e me sento perto do gato no chão. Ao reconhecer minha voz, ele vem para o meu colo onde mia sem parar.

"O que foi? Você também está preocupado com o Hunter?"

Ao dizer isso o gato levanta a cabeça e olha para mim. Apesar da minha surpresa (não medo!) com isso, ele mia mais algumas vezes antes de sair do meu colo e ir se deitar no travesseiro do Hunter.

Mordo meus lábios quando lembro da promessa que fiz para ele.

'Que se foda..'

Eu me levanto e saio do quarto procurando por Hunter e seu pai, só para ter certeza que eles estão bem. Começo a procurar pelas salas e pela biblioteca, mas sinto meu coração acelerar quando não os encontro. Andando por mais um pouco da Dalton, encontro Nick e Jeff conversando em um dos salões principais.

"Como foi a noite de vocês, Sebastian? Jeff me falou que Hunter te deu trabalho hoje de manhã."

"Por mais que eu tenha uma lista infinita de motivos para te insultar, eu vou deixar isso para mais tarde. Vocês viram o Hunter?"

"Ele foi com um senhor para a sala de ensaios..."

A sala de ensaios?

"Ok. Nos vemos mais tarde."

Vou para a sala de ensaios correndo já imaginando os possíveis motivos deles quererem estar sozinhos mas quando chego no corredor vazio já estou escutando gritos que reconheço ser do Sr.Claringon.

"Você não vale nada, Hunter! Você é a piada da nossa família! Eu só não te abandono no primeiro lixo que eu vejo por causa da minha imagem!"

"E isso tudo porque? Só por eu ser bissexual? Isso realmente é tão importante assim para você?"

"Cala a boca, Hunter!"

"Não! Eu já fiquei calado muito tempo!"

Eu estou paralisado com a mão na porta e não consigo mexer um músculo .

"Aqui vai uma surpresa para você: Eu sou bissexual, sim! Mas sou muito mais que isso! E se você não consegue ver isso, a piada aqui é você!

Escuto um barulho forte vindo da sala e não penso duas vezes antes de entrar.

Meu coração se quebra quando vejo Hunter caído no chão e seu pai com um sorriso no rosto. Eu corro até onde Hunter está e me ajoelho ao lado dele, levantando seu queixo e vendo que ele levou um soco no rosto.

"Qual o seu problema?"

Dirijo a palavra para o homem.

"Porque bateu nele?"

"Não se intrometa num assunto que não é seu!"

"Eu me intrometo onde eu quero! Você não tem o direito de bater nele!"

"Me chame de senhor, seu garoto estúpido!"

Eu vejo seu punho se fechando e seu rosto ficando vermelho de ódio. Eu me levanto e me aproximo dele.

"Eu só chamo de senhor quem eu respeito e eu não respeito você! Ainda mais agora!"

O homem parece ainda mais impaciente e não consigo mais manter as palavras na minha boca.

"Qualquer pai ia ter sorte de ter o Hunter como filho! Ele é uma das pessoas mais brilhantes e corretas que eu já conheci e eu realmente sinto pena de você por não conseguir ver isso. E você quer me bater? Vá em frente. Porque se você encostar um dedo em mim eu vou fazer meu pai, o advogado mais famoso e copetente do país, meter um processo tão fundo na sua garganta que você vai ter que vomitá-lo para ler!"

O homem parece surpreso e não acreditar no que está ouvindo, o que me faz acreditar que que nunca ninguém havia enfrentado ele desse jeito. Sua respiração começa a se acelerar antes dele virar seu olhar para o chão, onde Hunter ainda está sentado. Ele pisca algumas vezes antes de se virar e ir embora.

Minhas pernas estão bambas e quando me viro para olhar para o Hunter, ele se levanta e se senta num dos sofás da sala de ensaios. Seu olho já está ficando roxo e inchado por causa do soco e sinto meus olhos arderem com as lágrimas que involuntariamente brotam no meu rosto. Eu tento me controlar ao máximo quando sento ao lado dele e coloco meu braço em volta dele.

"Obrigada."

Eu posso ver as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e tento me manter calmo para ele. Tudo que ele não precisa agora é que eu comece a chorar também.

"Você não precisa me agradecer, Hunt."

Ele começa a soluçar e afunda sua cabeça no meu peito enquanto eu o envolvo com meus braços trazendo ele mais para perto de mim.

"Está tudo bem agora..."

Ficamos assim por bastante tempo e quando ele finalmente consegue se acalmar eu o levo para o nosso quarto e o coloco sentado na cama enquanto pego gelo para colocar no seu olho. Eu sento ao seu lado segurando o saco de gelo no seu olho mas ele parece estar um pouco apático e distante, o que faz com que meu coração quase se parta.

"Me desculpe, Hunt."

"Pelo quê?"

"Por não ter mantido minha promessa."

Ele volta o olhar para meus olhos carregando um pouco de confusão em seus próprios.

"Você não deve se lembrar mas eu te prometi que não ia deixar nada acontecer. Que eu ia te proteger."

Ele me observa por alguns segundos e depois coloca a mão sobre a minha e a aperta delicadamente.

"E você protegeu, Bas."

Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto enquanto ele segura o saco de gelo e apoia a cabeça no meu ombro.

"Nós somos muito viados, né?"

Um sorriso sincero aparece no meu rosto ao mesmo tempo que algumas lágrimas e eu apenas concordo com a cabeça.

"O que eu vou falar para os garotos? Eu não quero que eles saibam o que realmente aconteceu..."

"Fala que você se comportou mal e eu tive que te colocar na linha."

Ele levanta a cabeça e olha para mim com um pequeno sorriso no rosto.

"Vai sonhando..."

Nós não saímos do quarto por todo o dia e acabamos almoçando e jantando uns salgadinhos que eu tinha na minha bolsa. Nós não tocamos mais no que tinha acontecido com o pai dele de manhã, o que o deixou um pouquinho aliviado.

Porém em alguns momentos eu não me controlava e passava a mão delicadamente no rosto machucado dele pensando em como alguém tem coragem de bater em alguém tão.. Bonito. É claro que só durava alguns segundos até que eu voltasse para o mundo real e continuássemos a conversar com normalidade sobre assuntos aleatórios.

De noite, só consegui descançar depois que me assegurei que Hunter já estava dormindo.


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Notas finais do capítulo

O que estão achando?? :)



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