Beneath The Nightmares escrita por Moogle94


Capítulo 3
[ ~ Capítulo 03 - A última peça do quebra-cabeça]




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        Apesar do sol forte e do calor, um único garoto estava com o casaco fechado até o limite do zíper, na gola alta. Usava o capuz, também. Raymond Allen estava sentado no banco da praça principal, parecendo entretido em olhar pro chão. De vez em quando, dava uma rápida olhada no mangá que segurava na mão esquerda, sem prestar a mínima atenção e deixando que a leve brisa virasse as páginas para ele. O objeto era apenas um pretexto para que não parecesse um moleque autista qualquer. Olhar pro chão era seu modo de refletir. Sobre o quê? Tudo... Seus pais, que foram cruelmente assassinados durante um jantar; a avó que agora estava em viagem ao Peru, trabalhando; a falta de amigos... Enfim, sua vida solitária. Ao se levantar, retirou o capuz, exibindo os cabelos claros e os olhos azuis, e guardou o mangá no bolso do moletom, se voltando para a enorme fonte da praça, onde seu reflexo na água turva era quase invisível. Fitou-o por uns 10 segundos, agitando o líquido com o dedo indicador e limpando-o na calça em seguida. Retirou o celular do bolso de seu Jeans, pretendendo ligar para a avó. Ela era a pessoa mais preciosa para ele, o acolhera de braços abertos após a morte de seus pais, além de tratá-lo sempre com muito carinho. A mulher merecia sua atenção, e além do mais, queria perguntar como andava a escavação arqueológica. Sim, Desireé Allen era arqueóloga, e partira ao Peru com o intuito de achar um artefato que preferiu não entrar em detalhes com o rapaz, alegando que explicaria tudo na volta. Voltando sua atenção ao móbil, digitou os números cautelosamente, verificando-os no visor antes de confirmar a ligação. Pressionava o telefone contra o ouvido direito, tampando o outro devido ao barulho do ambiente... Nenhum sinal de vida: chamava e ninguém atendia. Ele só parou de tentar quando seus créditos acabaram, mas não se deixando abater, rumou para casa, um pequeno chalé na área rural do vilarejo.


         Apesar de pequeno, o chalé não deixava de ter suas modernidades. Sua avó gostava do bom e do melhor. A casa era modernamente decorada, e tinha eletrônicos de alta tecnologia. Ao entrar, ligou o computador e desapontou-se ao ver que o contato Desireé Allen estava Off-line. Largou-se no sofá, jogando a cabeça para trás e esticando os braços e pernas. Com os olhos fechados, teve uma idéia extremamente óbvia. Pulando da poltrona, correu até a estante de livros, puxando um com a cor vermelho escarlate. Em seu interior, havia um botão com a mesma cor da capa, envolto por um cubículo de plástico. Ao apertá-lo, a gaveta do móvel abriu, revelando um compartimento secreto, onde havia um pequeno dispositivo que lembrava um celular. Seu pequeno visor de LCD apresentava o mapa global, com os dizeres "Sem Sinal" no centro. O localizador que sua avó carregava na bolsa parecia estar desligado, ou danificado. Ele devolveu o aparelho ao buraco, fechando a gaveta com força, se jogando no sofá novamente antes do telefone tocar. Ele desesperadamente se atirou para atender, vendo que o número de sua vó estava digitado na bina:


 - Alô? Vó?


 - Boa-tarde Raymond - Mas não era sua avó quem falava...


 


                                                       •••


 


        O sol escaldante queimava a cabeça de Desireé Allen, que subia os imensos degraus de pedra das ruínas de Macchu Picchu a mais de 2 horas:


 - Estou velha demais para isso... - disse a si mesma, cansada, á ponto de desistir. Mas então avistou algo que retomou suas forças de imediato. As ruínas que pareciam pertencer a um enorme salão cerimonial se erguiam em meio a um cânion. No chão de pedra, haviam símbolos cravados caprichosamente, e uma pilha de rochas que Desireé deduziu ser um palco. Seus olhos encheram de lágrimas: o trabalho de sua vida estava finalmente realizado. Após 10 minutos de descida, chegou ao local, esbaforida. Ao pisar no primeiro degrau, uma luz azul invadiu as fendas e símbolos do chão, criando um incrível espetáculo de cores. Maravilhada, nem percebeu que havia ativado o mecanismo da ruína, onde surgiu um pedestal, ao centro. Não havia nada nele, pelo menos até a mulher se aproximar...uma flor se materializou ali, brilhando intensamente. Então sorriu...expressão que logo mudou para espanto assim que tocou na flor, caindo ao chão em seguida, com os olhos vidrados e sem vida.


                       


                                                       •••


 


 - Quem está falando?


 - Meu nome é Jason, Raymond... Sou amigo de sua avó. - disse o homem, em um tom sério.


 - Ah... Ela está bem? Aconteceu alguma coisa?


 - Raymond... - Jason suspirou – Desireé está morta.


        O rapaz sentiu suas entranhas se contorcerem. O telefone escorregou de sua mão mole, se partindo em dois ao colidir com o chão. Sentiu o peso de seu corpo puxá-lo para baixo, conseguindo chegar á tempo de cair no sofá, não ousando acreditar no que acabara de ouvir... Como se já não bastassem seus pais! Como iria viver?...Com quem? Uma dor de cabeça insuportável latejava sua têmpora, e desconsolado e sem forças, deixou cair uma lágrima solitária. Ao lembrar que deixara o telefone ligado, se apressou em remontá-lo, mas o homem já havia desligado. Então, seu celular tocou. Jason agora tinha a voz consoladora:


 - Sinto muito, Raymond. - Disse, parecendo tão desolado quanto ele.


 - C-como isso aconteceu? - gaguejou nervoso, com a voz fraca.


 - Não sabemos ao certo, estamos investigando. Ela foi encontrada morta sobre um tipo de círculo de pedra, com símbolos desenhados.


 - Símbolos? Isso tem a ver com o que ela foi procurar?


 - Ainda não sabemos, mas provavelmente sim. Enviei suas passagens por e-mail, seu vôo é amanhã bem cedo. - concluiu.


 - Vôo? - espantou-se com a viagem de última hora. - Sim, claro. Obrigado Jason.


 - Por nada, Ray. Procure descansar. - e desligou.


        Mudo e sem ação, o garoto percebeu que Jason estava certo: precisava descansar. Assim, tomou um banho e retirou-se para seu quarto, pois ver a avó morta seria completamente desgastante.


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Notas finais do capítulo

Comentem. 8D



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