Final de semana, acordei tarde e me deitei no sofá e liguei a tv. Passavam coisas chatas então resolvi assistir um desenho animado. Fiquei assistindo Pica pau, o desenho é bem irritante, mas como não tinha nada pra fazer iria ser aquilo mesmo. Resolvi ligar pro Gerard. Entendi minha mão sem me levantar do sofá e peguei o telefone que ficava ao lado numa mesinha e liguei pra ele.

L: alô, poderia falar com Gerard?

M: ele não está, quer deixar um recado?

L: é o Mikey?

M: sim ele mesmo quem está falando?

L: é a Lola, amiga dele.

M: ah oi Lola, o Gerard saiu e desde ontem que não voltou.

L: o que? Mas ele não disse pra onde ia?

M: ele foi sair com a namorada, mas não voltou até agora.

L: com a namorada é?

M: sim, lá pras nove da noite.

L: obrigada então. Avisa que eu liguei quando ele chegar por favor.

M: pode deixar, tchau. 

 

Não sei por que, mas naquele momento me passou pela cabeça que Sarah estava metida nisso. Nove horas foi a mesma hora que ela tinha saído de casa e o “namorado” dela veio busca-la. Na mesma hora me levantei e subi as escadas em passinhos bem leves pra que ela não ouvisse. Quando cheguei em frente a porta abri bem devagar pra não acorda-la. Mas quando abri a porta não tive sucesso na minha intuição, Sarah estava na cama e sozinha. Não tinha mais ninguém com ela. Que paranóia a minha pensar que Gerard e ela estavam juntos. Mas bem que tinha tudo a ver, ele não queria me contar nada, eu conhecia a garota, os dois saíram no mesmo horário, Gerard era afim dela. Mas também tinha seus contras, Gerard não tinha carro, ele tinha uma vã e era branca e o carro que eu vi era azul, Gerard não estava em casa e Sarah dormia em sua cama. Então quem era essa garota afinal? Estava curiosa pra saber quem era essa talzinha que estava saindo com ele e que proibira dele me contar quem era ela. E mais, eu estava louca pra sair com ele e ele não tinha dormido em casa, com certeza devia estar dormindo com ela em outro lugar. Isso seria ciúmes? Ou não? Preferi pensar que não.

Quando desci pra sala desliguei a tv e com o violão do lado e lápis e um bloco na mão comecei a compor uma música pensando em Gerard. Enquanto escrevia um verso testava no violão pra ver como ela ficaria. Foi quando fui interrompida pelo telefone.

L: alô.

D: oi filha.

L: oi mãe e aí como a senhora está? – disse colocando o violão no chão e me ajeitando no sofá.

D: tudo bem e você?

L: bem também.

D: fazendo muito sucesso?

L: que nada, tudo na mesma.

D: conversou com a diretora do colégio?

L: sim, ela me entregou as notas, me sai bem em todas.

D: que bom. Seu aniversário está chegando, vai fazer alguma coisa?

L: não quero nada mãe. Não posso voltar a comer besteira então é melhor não ter bolo nem nada pra não engordar de novo, assim eu evito.

D: eu não sei se vai dar pra eu aparecer aí na segunda, mas talvez na terça talvez eu consiga aparecer aí pra te dar um abraço.

L: ta bom mãe.

D: e sua irmã está bem?

L: tudo bem, está dormindo, parece que a noite foi longa.

D: como assim?

L: saiu com um namorado ontem.

D: namorado? ela não me disse nada que estava namorando.

L: não sei mãe, esquece o que eu te disse senão Sarah me mata.

D: ok, nem vou comentar nada pro seu pai por que ele não quer que ela fique saindo com homem nenhum sem ele saber. – se ele soubesse de tudo... pensei. – vou lá filha, tchau.

L: tchau mãe, um beijo. 

 

Quando coloquei o telefone no gancho ele voltou a tocar.

L: fala mãe!

G: oi minha filha. – disse fazendo voz de mulher, aquela voz eu já conhecia.

L: fala Gerard.

G: Mikey me avisou que ligou pra cá ainda pouco.

L: sim.

G: posso saber por que?

L: queria te convidar pra sairmos.

G: hum seria ótimo. – seria??? Como assim??? – mas... – esse mas me matou. – eu tenho compromisso hoje à tarde.

L: certo. Então a gente faz alguma coisa de noite.

G: de noite?

L: eu já sei, você tem compromisso também.

G: é, eu tenho uma apresentação da banda.

L: ok.

G: mas se quiser ir tudo bem, vai ser lá no clube.

L: vou ver se vou.

G: ta bom. Eu vou desligar agora por que preciso de um banho acabei de chegar da rua.

L: é, seu irmão comentou comigo.

G: ta. Então até de noite. Tchau.

L: tchau. – desliguei o telefone. – pobre Lola, sozinha no mundo novamente. – disse pra mim mesma.

 

Continuei minha música, a cada verso eu relia tudo e rabiscava as partes que eu não gostava e acrescentava outra coisa no lugar ou então deixava sem mesmo. No final de tudo peguei o violão e toquei a música. Estava ótima. Tocava uma outra vez quando minha irmã apareceu só de camisola na escada com a maior cara de sono.

S: mas que cantoria é essa? – perguntava enquanto descia até a sala.

L: bom dia pra você também.

S: o que está fazendo?

L: compondo uma música.

S: desde quando faz isso?

L: desde quando estava no SPA.

S: vai virar cantora agora?

L: não sei ainda, mas já ganhei cartão de um empresário e tudo.

S: poxa você me acordou.

L: foi mal. – disse voltando a tocar meu violão.

S: ai que música mais pra baixo.

L: é o que eu sinto nesse momento.

S: por acaso está gostando de alguém?

L: não por que?

S: isso mais me parece música de alguém apaixonada. Não está gostando do Gerard está?

L: nada a ver Gerard e eu somos amigos. Mas e se eu tivesse eu não poderia?

S: não disse nada disso. Pode gostar de quem você quiser. Tente fazer menos barulho, pois vou ter que sair mais tarde.

L: sair? Vai pra onde? – aquilo me interessou.

S: sair com alguém.

L: namorado?

S: pode ser. Agora me deixa dormir. – disse subindo a escada irritada.

 Sair? Hoje? De novo? No mesmo horário que Gerard!? Isso estava muito estranho. Minha desconfiança que os dois estavam juntos estava aumentando novamente. Eles estavam querendo me fazer de palhaça é? Mas se fosse mesmo minha irmã que estava com ele, por que estava me escondendo? Isso que não encaixava mesmo. Peguei meu violão e minha letra de música e fui pra fora de casa, sentei nos degraus da porta dos fundos e comecei a tocar. Era a única coisa que restava pra se fazer.