Foi só descer do ônibus pra toda atenção se virar a mim. Minha irmã fazia uma cara de assustada com tantas pessoas nos olhando. Eu me senti um pouco envergonhada com tantos olhares e juro que passou pela minha cabeça de voltar na mesma hora e fugir dali. Mas minha irmã não me deixou fazer aquilo. Colocou a mão nas minhas costas e entramos abraçadas no colégio. Pelo corredor até a sala todos me olhavam e me cumprimentava. E eu só conseguia pensar em como era incrível a falsidade que as pessoas tinham, num dia ninguém te olhava e no outro todos te tratavam como rainha.

S: está pronta? Você está tremendo Lola.

L: é o nervosismo.

S: não deve ficar assim. Olha, você está linda irmã.

L: obrigada.

S: cabeça erguida. Tem certeza que vai ficar bem?

L: vou. – disse ao mesmo tempo pensando que não ia conseguir entrar na sala.

S: então ta. Vou pra minha sala.

L: ta. – quando ela se foi contei até três e entrei na minha antiga sala.

Quando entrei todos me olhavam espantados, alguns faziam cara de que não estavam me reconhecendo, outros me olhavam admirados de boca aberta. Todos sem exceção cochichavam uns com os outros. Gerard estava lá atrás sentado na mesa da carteira de costas pra porta. Pude ver o Frank que me olhava abobalhado, foi então que Gerard olhou pra trás e me viu, fez uma cara de quem não reconheceu e depois abriu um sorriso. Eu acenei sem graça e me sentei na primeira fileira, mas no canto, bem do lado da porta me afundando na carteira. Qualquer coisa era só fugir por ali rapidinho. Assim que sentei Gerard sentou na cadeira ao lado e ficou me olhando sem dizer nada, talvez não acreditando na minha mudança.

L: o que foi? – perguntei olhando com cara de espanto.

G: nossa você está a maior gata. – disse ele bem devagar como se estivesse hipnotizado.

L: ah fala sério Gerard. – eu disse dando-lhe um soquinho de leve no braço.

Enfim já estava começando a me enturmar com ele novamente como nos velhos tempos. Me virei pra frente e respirei fundo, aquele comentário me deixou bastante envergonhada.

G: to falando sério. Eu nem te reconheci.

L: poxa obrigada.

G: não estou querendo te zoar, você está mesmo ainda mais bonita do que antes. Ficou ótima.

L: valeu Gerard, mas vamos parar por que você está me deixando constrangida. Vamos falar de outra coisa por favor, já chega ver todo mundo me olhando.

G: ok. Recebi sua carta ontem.

L: a ultima?

G: sim, a que você dizia sobre a festa surpresa.

L: ah é a ultima mesmo.

G: minha mãe avisou que você me ligou, mas quando retornei você estava dormindo.

L: pois é, estava muito cansada. E você estava aonde?

G: estava com uns amigos.

L: que amigos?

G: uns lá do clube. Saímos pra beber.

L: e como estão as notas?

G: ótimas como sempre.

L: que bom Gerard.

G: é. – não sei por que, mas a resposta de Gerard não me foi convincente.

Nas cartas não pude perceber, mas ali naquele momento, frente a frente com ele, pude perceber um tom estranho em sua voz. Um jeito meio nervoso ao falar.

Quando acabaram as aulas fui na diretoria ver minhas notas e conversar com a diretora.

A: bom dia o que deseja?

L: oi Alice.

A: oi, qual o seu nome?

L: sou eu Lola.

A: ah meu Deus me desculpa. Não tinha te
reconhecido. Está diferente, está linda. Nossa!

L: é, já ouvi isso hoje umas mil vezes. – disse sem graça.

A: o que faz aqui?

L: vim saber sobre minhas notas.

A: foram ótimas viu. – disse abrindo a gaveta e retirando um envelope de dentro delas. – toma aqui. Todas as provas estão aí dentro.

L: ta. Obrigada. – eu disse me levantando, mas ela me chamou de volta.

A: Lola, pode ficar só mais um minutinho pra eu trocar uma idéia contigo.

L: claro, o que foi?

A: é sobre o Gerard. – pelo jeito que ela disse lá vinham problemas.

L: o que houve? Algum problema? Ele me disse que estava tudo bem e que foi bem nas provas...

A: então ele mentiu pra você. – disse ela ficando séria.

L: mentiu, como assim? Ele foi tão mal assim?

A: ele está praticamente reprovado.

Quando ela disse isso eu fiquei imobilizada de boca aberta sem acreditar no que ouvia. Então todas aquelas cartas foram mentiras de Gerard. Como ele pôde ter me enganado desse jeito, como pôde ser tão mentiroso. Coloquei a mão na boca ainda não acreditando.

L: mas como? Eu não entendo, ele não mentiria pra mim.

A: muito menos eu. Estão aqui as notas dele. – disse me entregando o boletim com as notas que eram deprimentes, todas abaixo de D a partir do segundo bimestre.

L: foi tudo minha culpa, eu o abandonei, só pensei em mim e acabei deixando que ele se afundasse desse jeito.

A: não foi sua culpa. Precisamos conversar seriamente sobre ele.

L: é algo muito pior não é? – perguntei já imaginando no que era.

A: sim, Lola. Estive com a mãe dele essa semana e ela está arrasada. Parece que ele voltou a andar se envolvendo com...drogas.

L: o Gerard?

A: é o que a mãe dele acha. Ele voltou a andar com más companhias de antigamente e não para mais em casa. Estou te contando isso por que acho que só você pode nos ajudar já que da outra vez você conseguiu. Ajude ele Lola. Ajude a mãe dele que está inconformada com tudo isso. Impeça que algo pior aconteça com esse menino.

Mas o que eu devia fazer? Quem seria eu pra impedir alguma coisa? Gerard já estava bem grandinho e sabia no que estava se metendo. Foi quando lembrei de algo, o pai dele. Isso poderia fazer com que ele voltasse atrás e parasse com isso.

L: eu tive uma idéia. mas não garanto sucesso nenhum ainda. Vou conversar com ele.

A: obrigada. Se quiser conversar com a mãe dele, ligue pra ela. Você deve ter o número não é?

L: tenho sim.

A: obrigada mesmo Lola.

L: eu que agradeço por me contar essas coisas. Por confiar em mim.

Quando saia da sala da diretora Gerard me esperava sentado numa das cadeiras de espera no corredor da diretoria.

G: o que fazia aí?

L: estava pegando minhas provas.

G: o que vai fazer agora?

L: quer dar uma volta?

G: se você quiser ok.

L: ta. Precisamos colocar o papo em dia. Vamos.