Liberdade! Era esse o sentimento que eu tinha naquele momento em que estava no carro voltando pra casa dos meus pais. Fazia seis meses que não saia pra rua. Mas todo esse sacrifício valeu a pena, eu estava renovada e ainda consegui um empresário. O tal do empresário, é um dos mais famosos do país, era empresário de várias outras cantoras famosas que eu amava. Combinamos de nos encontrar em breve, pois eu ia ficar atolada nesses últimos meses com provas e eu tinha que meter a cara nos livros se quisesse passar de ano.

Com a cabeça encostada no vidro do carro, imaginava como seria o reencontro com Gerard. Como será que ele estava? Sentia tantas saudades já que fazia tempo que não me mandava cartas. Sempre que alguma carta chegava pra mim ficava contente já imaginando ser dele e eu lia atentamente e ficava tão feliz. Não conseguia parar de rir depois de ler a carta dele. O pessoal até me zoava dizendo que ele era meu namorado. falando em namorado, eu estava ansiosa pra conhecer a tal menina que tinha roubado o coração dele. Sentia um nervosismo quando lembrava disso e um pouco de ciúmes, mas nada demais. Estava mesmo era curiosa, pois pelo que me pareceu eu a conhecia.

Chegamos na casa dos meus pais onde eu ia passar a noite pois já estava tarde. Fui pro meu quarto e quando cheguei fiquei fuxicando ele pra relembrar meu passado. O quarto estava do jeito que eu tinha deixado quando fui morar com minha irmã. Estava intacto. Um enorme mural estava entupido de fotos minha com a minha família, e amigos, que fazia tempo que não via desde quando me mudei da casa dos meus pais. Abri a cômoda que havia abaixo do mural e achei um diário meu de quando tinha dez anos. Como eu ri com as coisas que eu tinha escrito, tempo bom aquele...pensei. peguei o envelope onde guardava todas as cartas do Gerard e as reli até pegar no sono. Quando acordei fui vestir uma calça minha e que ficara gigantesca, cabia mais uma Lola dentro dela. Vi que era hora de mudanças. Coloquei uma roupa que achei no armário da minha irmã que ela havia deixado lá e desci pra tomar café.

L: bom dia. – dei um beijo no rosto da minha mãe e abri a geladeira atrás de leite. – e o papai?

D: foi trabalhar, eu irei levá-la de volta.

L: ta. Eu queria te pedir uma coisa. Estava pensando em passarmos num lugar antes de eu voltar.

D: aonde?

D: ah filha não acredito!? Você pedindo pra ir ao shopping? Tem certeza que é a minha Lola?

L: sim, eu preciso renovar meu armário já que agora visto 38.

D: que ótimo nossa primeira compra no shopping juntas. Você deixa eu opinar?

L: é claro mãe, vou precisar mesmo da sua ajuda já que quero mudar meu estilo de me vestir, quero me vestir como as jovens do meu colégio. Não quero mais me vestir como a antiga Lola. E queria também mudar meu cabelo o que você acha?

D: acho uma ótima idéia, você poderia clarear mais e fazer um corte.

L: ótimo.

D: eu vou me arrumar.

L: já subo pra pegar minha mala.

D: ok, estou tão empolgada. – disse ela correndo pro quarto dela.

Minha mãe adorava shoppings, nunca me dei tão bem com ela quanto minha irmã. As duas viviam indo comprar roupas juntas e eu sempre ficava em casa já que não gostava dessas coisas.

É...era uma nova Lola, não por dentro. Eu continuava a mesma Lola de sempre, mas por fora não, era uma menina nova. Mais magra, com guarda-roupa renovado e um corte de cabelo. Mal esperava pra ver a mudança que eu iria sofrer e as caras de todos quando me vissem diferente. Será que iriam me reconhecer? Imaginei Gerard, será que me acharia bonita? Opa! O que estou pensando? Me acharia bonita? Não, nada a ver, éramos amigos.

Quando saíamos do cabeleireiro minha atenção voltou-se a uma loja de instrumentos musicais e eu avistei um violão muito bonito.

L: mãe, espera! – avisei à ela que já ia lá na frente. Ela voltou e parou do meu lado me abraçando.

D: o que foi? Gostou de algo?

L: do violão. É lindo.

D: você quer?

L: não, você já gastou demais hoje comigo...

D: seu aniversário está chegando, te dou de presente. Qual deles você gostou?

L: daquele lá em cima. – disse apontando.

D: vem comigo. – disse me puxando pra dentro da loja.

Depois de horas no shopping, minha mãe pegou a estrada pra me levar de volta pra casa. Estava muito feliz com minhas novas roupas, meu novo penteado e meu violão. Meu primeiro violão. Quando estava no SPA tivemos aula de música e aprendi a tocar violão, ainda não era muito boa, mas dava pro gasto. Enfim acabei adormecendo com a viagem e acordei com minha mãe me sacudindo.

L: chegamos? – perguntei ainda sonolenta.

D: sim filha. Já chegamos.

Levantei num pulo e olhei pra minha casa que estava à esquerda do carro. Sai do carro e olhei de um lado pra outro enquanto me espreguiçava. Como sentia falta daquele lugar. Enfim estava em casa. Logo a porta de casa se abriu e dela veio Sarah correndo em direção a minha mãe e a abraçou.

S: nossa! – disse depois olhando pra mim. – Lola, é você?

L: não uma outra pessoa parecida.

S: nossa que mudança!

L: não é pra tanto.

S: não é pra tanto? Quantos quilos você perdeu? 60...75?

L: não exagere, perdi 35 quilos.

S: nossa, mas você está magérrima, com um corpo ótimo. To até com inveja mana.

D: minha filha está linda. – eu estava sorrindo de tão boba com tantos elogios.

S: vamos entrar, quer comer algo?

D: eu prefiro não entrar, preciso voltar logo só vim trazer sua irmã. Ainda preciso preparar o jantar antes que seu pai chegue do trabalho.

L: mais uma hora de viagem né mãe?

D: é rapidinho, dá tempo de eu chegar antes do seu pai.

S: então vai lá mãe. Tchau. Nos visite quando quiser.

D: eu digo o mesmo mocinha, faz tempo que não vai nos ver lá em casa.

S: tenho estado ocupada com a escola.

D: mas nas férias não tem desculpa. – e depois me abraçou. – tchau filha e boa sorte com seu novo look.

L: obrigada mãe por tudo.

D: não foi nada. O que não faço pelas minhas filhas queridas? Agora tenho que ir, Lola, sua mala. – disse abrindo a porta traseira do carro.

L: me ajuda Sarah?

S: ta. – disse vindo me ajudar com as bolsas e eu peguei a mala.

D: tchau queridas, quando eu chegar ligo pra vocês. – minha mãe entrou no carro e foi embora. Ficamos olhando o carro dela até dobrar a esquina e depois entramos. Quando cheguei me joguei no sofá e fechei os olhos. Quando abri Sarah estava parada me olhando.

L: o que foi?

S: tava reparando a mudança. Realmente assustador, você está linda.

L: para de bobagem. – disse tacando-lhe uma das almofadas do sofá.

S: não vai ligar pro seu amigo Gerard pra avisar que chegou?

L: to com sono. mas...É vou ligar pra avisar e depois vou me deitar. – peguei o telefone e liguei. A mãe dele atendeu e disse que não estava.

S: e aí?

L: não estava. Mas amanhã vamos nos ver mesmo no colégio.

S: é.

L: vou me deitar, se ele ligar avisa que amanhã vou pro colégio.

S: ta bom. Vai lá.

Subi pro meu quarto e nem arrumei nada e fui dormir. Estava muito cansada com aquela viagem toda. Foram uma hora de viagem mais horas andando pelo shopping, aquilo me esgotou totalmente. Quando acordei ainda eram cinco horas da manhã. Então resolvi me levantar e me preparar pro colégio. Tirei minhas roupas das sacolas e fiquei olhando qual delas ficaria melhor pro meu “primeiro” dia de aula como a nova Lola. Depois fui no banheiro e tomei um banho. Enrolei a toalha em volta do meu corpo (nossa eu nunca tinha conseguido isso antes) e fui no quarto da minha irmã pedi-la ajuda já que eu nunca tinha me maquiado antes.

S: que é? – dizia com voz de sono e sem abrir os olhos.

L: preciso da sua ajuda.

S: pra que?

L: quero que me ensine a usar esses troços. – disse amostrando o estojo de maquiagem dela.

S: que horas são? – disse virando o despertador da cômoda pra ela pra olhar as horas. – são cinco e vinte Lola.

L: eu sei, mas por favor, prometo que será só hoje. Amanhã eu me viro.

S: ta bom.

Ela se levantou não me aturando mais e foi comigo até o banheiro do meu quarto. me sentei num banco e ela me apresentou ao lápis de olho, rímel, sombra, batom...e assim começamos com a aula de maquiagem. No começo foi horrível pra passar o lápis de olho, vira e volta acabava enfiando ele dentro do meu olho. Mas com o tempo fui pegando a malícia. O rímel também não foi nada fácil, eu sempre borrava tudo. Depois de brigar com a maquiagem ela me ensinou a usar a pranchinha no cabelo. Pronto, terminamos depois de meia hora do processo de embelezamento.

S: toma, espalhe isso no rosto. Mas antes esfregue nas duas mãos.

L: o que é isso? – disse olhando pro liquido meio pastoso na minha mão.

S: isso é base, esconde tudo, manchas na pele, espinhas, olheiras...

L: ta. – e passei.

S: Ficou ótimo. Mas com o tempo você vai fazer isso em dez minutos. Demoramos, pois foi sua primeira vez. Eu mesma faço tudo isso em dez ou quinze minutos no máximo.

L: ficou ótimo. Não ficou nada exagerado então ta ótimo.

S: é, ta bem de leve mesmo, mas se quiser algo mais forte fique à vontade só não exagere senão vai parecer uma puta.

L: é valeu, assim ficou legal.

S: sim.

L: vou me vestir então.

S: e eu ainda vou tomar meu banho, com licença pra você.

Fiquei ainda um tempo sentada em frente ao espelho olhando pra nova Lola que refletia nele. Parei pra pensar em como seria no colégio e senti medo, ansiedade, nervosismo, todos os sentimentos ao mesmo tempo. Não sabia como iriam me receber com aquela mudança, quais seriam os comentários, estava bastante nervosa com o que iam pensar de mim. E isso sempre foi uma coisa que nunca me importou. Me deu vontade de tirar aquilo tudo, lavar todo o meu rosto e meu cabelo, e me esconder atrás de algo como um boné e roupas largas, mas depois pensei bem e vi que aquela não era eu. A Lola não liga pros que os outros pensam, a Lola não ta nem aí pros comentários e vai entrar no colégio de cabeça erguida. Voltei pro quarto e coloquei a roupa que tinha escolhido. Peguei minha mochila que estava guardada no armário e os livros das matérias que eu teria aula naquele dia. Ainda me lembrava de cada aula os dias de cada matéria. Logo depois que me arrumei minha irmã apareceu no quarto me chamando pra partimos. Enfim chegara a hora. A nova Lola, iria se apresentar ao público.