Minha Doce Isabella escrita por Silmara F


Capítulo 12
Cicatriz


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, eu quero agradecer de coração a A CS, A Sonhadora e a Josi por recomendarem a fic. As palavras de vocês me fizeram muito feliz.
Segundo, quero me desculpar pela demora. Estou sem tempo, então só escrevo mesmo nos finais de semana.
Terceiro, quero dizer que eu não parei de ler fic nenhuma. Tenho muitos leitores que são autores de fics que leio, e nas últimas semanas parei de comentar, mas é porque eu AINDA não li os novos capítulos. Eu não abandonei vocês, okay?
Em compensação posto agora um capítulo que não é nada pequeno! Haha! Espero que gostem, e leiam as notas finais.



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CAPÍTULO XII

Bella’s POV


Eu ainda estava trancada no banheiro feminino do avião, respirando fundo e tentando controlar meus sentimentos. Fungava com o pano de enxugar as mãos perto de meu rosto, abafando qualquer som que poderia sair. Eu estava extremamente chateada e magoada com Damon. Tudo bem, eu sei das verdades em cada palavra que ele falou, mas mesmo assim não esperava uma atitude tão fria. Balancei minha cabeça. Eu não devia confiar em vampiros...


Eu não chorei, mesmo sentindo meus olhos arderem e ficarem levemente úmidos. Eu sabia que não aguentaria quando chegasse na Flórida como estou aguentando agora dentro do avião.


Lavei meu rosto e logo em seguida escutei a porta bater. Provavelmene alguma mulher que ficou esperando muito tempo e queria logo entrar no aposento.


Abri a porta e fechei a expressão quando vi quem era. Klaus.


– O que é? – questionei em um tom de voz baixo, para somente ele escutar.


– Já ficou muito tempo ai. Damon está arrependido, e daqui a pouco o avião irá pousar. Além do mais, querida, você ainda me deve essa história da cicatriz. A verdadeira. – assim que ele falou mordi minha língua para não respondê-lo. Primeiro por ele em nenhum minuto ter se importado se eu estava bem ou não, mas em um pensamento rápido senti-me grata. Eu não queria ouvir “sinto muito” nenhum. Klaus não parecia ser o tipo de homem que finge algum sentimento e admirei isso. Segundo que me senti até um pouco deslumbrada de como as palavras saiam com maestria de sua boca.


Acenei com a cabeça e fui para o banco onde estava sentada.


Eu contaria a verdade?


Algo em mim me dizia que eu não teria problemas se eu contasse sobre os Cullen para eles. O que poderia acontecer? Minha história só se resumia em uma garota boba que se apaixonou por um vampiro e logo depois foi abandonada em uma floresta por ele. Não tinha nada demais, a não ser que era extremamente vergonhoso. Eu não queria que ninguém sentisse pena de mim por isso. Não digo pena por ter sido abandonada, por que essa é uma coisa que acontece muito hoje em dia: os fins de namoros. Mas pena por eu ter aberto mão da normalidade de minha vida por um amor que não deu certo no final, por agora eu estar envolvida nesse mundo e sem ter nada para ganhar. Nada de vantagem. Eu sai a perdedora na história toda.


Mas pensando melhor, o que era a minha história comparada a desses dois? Um homem sozinho que procura criar híbridos para diminuir o vazio que sente – sim, eu estava muito convicta que esse era um traço da personalidade de Klaus que ele mesmo não queria enxergar. Outro cara que se apaixona pelas namoradas do irmão , e tem que conviver com os dois, sempre se empenhando para salvar a garota que prefere o irmão a ele.


Estranhamente, eu me senti bem.


Não por gostar do sofrimento deles, isso não. Mas sim por saber que de alguma forma eles poderiam me entender, que não era somente eu ali com um sofrimento antigo. Na realidade, minha situação estava melhor que a deles, pois já tinha percebido há muito tempo que Edward nunca fora bom para mim.


Suspirei. Eu contaria. Não havia motivos para esconder mais.


Se eu lutaria com Damon tentando descobrir mais sobre o bilhete de Klaus, se eu iria me esforçar para descobrir quem realmente é esse Original que minutos antes estava me esperando do lado de fora do banheiro, eu contaria para eles mais sobre mim. Acho que eles mereciam saber.


Inclusive Damon, que falou palavras que eu não queria ouvir.


Sentei-me na cadeira e Klaus ficou ao meu lado, no antigo lugar de Damon. Assim que me acomodei, o Salvatore olhou para mim e eu soube que ele iria falar. Esperei.


– Bella – começou – eu me expressei mal. – vi ele franzir os lábios, como se estivesse fazendo algum esforço para dizer as palavras. – Não deveria descontar em você minhas frustrações e desconsiderar seus sentimentos. Eu somente... falo muito sem pensar.


Balancei a cabeça negativamente e levantei minhas mãos, em sinal para ele parar.


– Eu entendo, Damon – falei. – Obrigada por se desculpar.


Ele me olhou levemente agradecido. Senti Klaus se remexer desconfortável ao meu lado e quando o mirei percebi seu estranho olhar para mim. Ignorei, decidindo perguntar sobre isso depois. Eu tinha dito que contaria sobre a minha cicatriz e era isso que faria no momento. O Mikaelson, porém, foi mais rápido que eu e já se pôs a me lembrar de minha palavra.


– Agora conte sobre sua marca no pulso. – inquiriu, de forma imperativa. Arqueei as sobrancelhas para seu tom de comando.


– Marca? – perguntou Damon.


Levantei minha mão e apontei para cicatriz.


– Você não tinha percebido? Achava que era mais atento.


Ele fechou a cara.


– Desculpa se não percebi uma cicatriz enquanto me concentrava em apagar sua memória.


– E falhou miseravelmente – sorri maliciosa, gostando de vê-lo chateado.


A voz de Klaus se fez presente:


– Damon tentou apagar sua memória? De que exatamente?


– Do ocorrido na casa de Bonnie, sobre eu ter descoberto que eles eram vampiros e que ela era uma bruxa.


– E porque o Salvatore não conseguiu? – eu percebia que ele me olhava com curiosidade e interessado.


– Cada coisa em sua hora, Klaus. – falei. – No momento, explicarei sobre a cicatriz.


Sorri ao ver que Klaus me encarou descrente, provavelmente pensando na situação que estava ocorrendo: uma humana impondo o que iria acontecer e discordando de um vampiro híbrido milenar. Mas isso era somente um jeito natural meu.


Senti Damon tocar a cicatriz em minha mão, analisando-a.


– Percebo agora. – falou – Isso parece... parece com uma mordida. É estranho. Mais fria. O que causou isso?


No momento que abri a boca para começar a falar, a voz de uma mulher falou primeiro em inglês que estaríamos pousando. Depois falou no que acredito que seja Espanhol e Francês, não sei direito.


– Parece que o tempo não está do nosso lado – comentou Klaus – mas você terá muitas horas para contar no carro.


– Vai conosco? – questionou Damon, verbalizando também minha dúvida.


– Pegaremos um carro e deixarei vocês no seu destino, depois seguirei para o meu.


Acenei com a cabeça, concordando, mas mesmo assim não entendendo suas ações. Seria apenas curiosidade em saber minha história? Se eu fosse contar a minha, queria que ele contasse melhor a dele e de seus motivos, inclusive o que ele veio fazer na Flórida e quem era esse M.M.


Sim, eu tomei a minha decisão. Iria confrontá-lo.


Damon’s POV

No momento em que disse as palavras duras para Bella, senti o arrependimento me preencher. Eu sabia que tinha sido cruel em não pensar nos sentimentos da menina. Nunca fui bom com as palavras e provavelmente nunca serei, isso é meu jeito e ponto final. Mas não significa que eu possa ter o direito de ser grosso, principalmente com uma “parceira” minha.


Por que eu não escolhi Alaric mesmo?


Ah, claro! Quem tinha encontrado a droga do bilhete destinado ao Klaus fora a garota Isabella. Era óbvio que pelo jeito dela e também por conta da curiosidade que emanava, não deixaria esse assunto morrer. Ela estava maluca para saber mais sobre nós e isso estava muito claro.


Eu não poderia impedi-la de procurar pelas respostas, já que era uma caçadora e possuía conhecimento de nosso mundo sobrenatural. E tinha o estranho fato de não conseguir compelir a mente dela.


Eu confesso que estou um tanto abismado.


Existe também a hipótese de matá-la, mas eu não queria isso. Tinha simpatizado com Isabella assim que vi sua postura na casa da bruxa de Salém. Suas pequenas ironias e sua coragem...


Sobrou então a alternativa de juntar-me a ela nessa perseguição a verdade. Se o homem naquele bilhete estava realmente ameaçando Klaus, e isso era muito visível, ele poderia nos ajudar a acabar com o Original.


Mas isso levanta muitas questões.


Como um ser ousaria falar com tamanha ousadia com o híbrido Original mais temido? Este M.M já estaria morto? Não, acredito que não. Niklaus ficou interessado demais quando soube que sabíamos dessa sigla.


Irritado. Eu estava extremamente irritado por não ter essas respostas.


Por esse motivo fui tomar um pouco de sangue com a primeira pessoa que encontrei. Tomei pouco, o que me deixou mais irritado por não me saciar completamente.


E então Isabella aparece com sua raiva e mania de me controlar, o que faz minha língua dizer palavras insensíveis.


Mas o que me deixou realmente surpreso foi a reação de Klaus. No começo, eu não entendi o motivo dele ter me olhado irritado e logo depois defendido a garota. Esse não era o Mikaelson frio que eu conhecia, definitivamente. O que me deixou com a boca mais aberta ainda foi ver que ele foi atrás dela e esperou pacientemente do lado de fora do banheiro, impedindo-me até mesmo de falar com ela.


O que aconteceu com ele?


Ou melhor: o que essa garota fez com ele?


Seja o que for, Isabella poderia ser bem útil. Mas por enquanto, minha concentração estava em ajudá-la com a mãe. Eu sei pelo o que ela está passando, já que tinha perdido a minha há muito tempo...


Quando Isabella voltou do banheiro – junto com Klaus, para constar – o Original abordou uma questão que eu ainda não tinha percebido: a cicatriz que marcava seu pulso.


Peguei a mão de Bella, passando com cuidado o dedo por cima da cicatriz, notando sua temperatura e seu formato. Era estranha, em meia lua, porém com pequenas deformações. Franzi o cenho minimamente para isso. Parecia uma mordida... Será que foi algum vampiro que ela cassou que fez isso?


– Percebo agora. – comentei – Isso parece... parece com uma mordida. É estranho. Mais fria. O que causou isso?


Assim que a garota ia responder, foi anunciado que o avião pousaria. Quase bufei de frustração, mas conformei-me ao lembrar que teríamos muito tempo pela frente.


E qual não foi minha surpresa ao ouvir que Klaus iria conosco?! Mesmo não sabendo de seus principais motivos, achava que não seria assim tão ruim a companhia dele pelas próximas horas. Era certo que eu e Isabella não poderíamos trocar suposições e teorias sobre o assunto “M.M”, mas quem sabe ele não estaria disposto a trocar informações.


Esperamos o avião pousar e nada foi dito nesse curto espaço de tempo, até descermos do avião e pegar nossos pertences. Saímos do aeroporto e Klaus já sabia onde ficava o lugar para alugarmos o carro. Escolhemos e entramos do automóvel.


Isabella deu todas as informações do local onde morava e disse que iríamos para lá porque seu padrasto, um tal de Phill, estaria esperando por ela.


Assim que entrei no carro notei que Bella se preparava para contar; e pelo jeito que Klaus tocava no assunto, ele estava muito, mas muito curioso para saber da história da garota.


– Acredito que agora tenhamos tempo suficiente para colocarmos um ponto final a muitas dúvidas – falou o Mikaelson.


Vi a garota dar de ombros e então começou a falar:


– Tudo começou quando minha mãe casou de novo...


Klaus’s POV

Eu estava ansioso para saber a verdade sobre Isabella e não sabia o motivo disso. Percebo que a medida que o tempo passa, minhas dúvidas aumentam mais. Isabella tinha resistido a compulsão de Damon? Estaria ela usando verbena, então? E como ela conseguia agir tão a vontade conosco? Sim, porque eu não via traços de medo na garota.


Deixei meus pensamentos de lado, assim que vi que Isabella começaria a falar, já no carro.


– Tudo começou quando minha mãe casou de novo. – vi Damon afirmar com a cabeça, como se já soubesse disso. – Ela queria ficar viajando com Phill, então eu decidi passar um tempo em Forks com meu pai. Eu achava que a minha estádia lá seria horrível, mas não foi. Pelo menos uma parte dela.


– Por que você pensava que seria ruim ficar com seu pai? – perguntei.


– Eu não mantinha muito contato com ele, e eu simplesmente odiava Forks. É uma cidade fria, úmida e chuvosa. Quase ninguém a conhece.


– Eu já estive em Forks uma vez, há muito tempo... – comentei.


Isabella olhou-me feio.


– Deixe-me continuar, Klaus.


Eu ri.


– Desculpe-me. Pode continuar.


– Pois bem. Eu achava que seria horrível, mas não foi. Nessa época, eu nada sabia sobre esse mundo de vampiros, bruxas e lobisomens. Mas eu estava prestes a descobrir assim que entrei na escola...


– Pensei que tivesse descoberto sobre vampiros quando encontrou os dois caçadores, já na saída de Forks. – falou Damon. Eu percebi que ele sabia muito mais que eu, e não gostei disso.


– Não, quando eu os encontrei já sabia disso tudo. E não me pergunte o motivo de não ter contado antes na sua casa, Salvatore. Deixe-me terminar a história toda. – ela olhou para nós, esperando alguma pergunta. Somente acenei com a cabeça, entendendo. Continuou:


– Quando cheguei no meu primeiro dia de escola, eu vi eles pela primeira vez. Eles eram uma família de vampiros que não tomavam sangue humano, somente de animais.


– Ah, Seguidores de Stefan. Pff. – Damon revirou os olhos ao falar.


– Cale-se – rosnei para o Salvatore.


– Na verdade, Damon, o patriarca da família que conheci é muito mais velho que você e seu irmão juntos, acredito.


– Eu ainda não entendo o motivo de não ter nos contado antes.


– Claro, você não me deixa terminar. Voltando: cinco desses vampiros estavam na escola, os outros dois mantinham a fachada de pais adotivos. Todos tinham um par, um companheiro. Menos um... – Isabella parou por um momento e refletiu. Eu estava dirigindo o carro e ela estava ao meu lado, logo eu podia ver o seu olhar longe. – E foi por esse homem que eu me apaixonei.


Silêncio.


Notei Damon recostar-se no banco traseiro, a expressão clara, como se estivesse entendo tudo agora. Eu, por outro lado, tinha mais perguntas do que antes. Onde estava esse vampiro agora, que não está ao lado dela? Teria morrido ou algo assim? E o que isso tem ligação com a cicatriz no pulso? Eu estava prestes a verbalizar minhas dúvidas, mas Isabella ainda não tinha terminado sua história:


– Confesso que no começo ele me assustou um pouco quando tentava me fazer afastá-lo. Mas eu não podia negar que estava extremamente intrigada por aquela família e seus segredos. Um vez então fui a La Push e acabei revendo um velho amigo. La Push é como se fosse uma pequena aldeia e eles possui muitas lendas.


– Cidade com lendas são um saco – comentou o Salvatore.


Isabella continuou:


– Esse meu amigo me contou que a família que conheci na escola eram bebedores de sangue, e há muito tempo já tinham morado ali, naquela cidade. Tinham feito um trato com o bisavô dele, alfa na época, de nunca cruzarem para o território deles se em troca fizessem o mesmo e aceitassem a proposta de paz. É claro que os Quileutes, os chamados habitantes de La Push, só aceitaram o acordo por que viram que os vampiros se alimentavam somente de sangue animal.


– Não entendo... – disse Damon – Por que esses vampiros iriam temer essa tribo? E como os Quileutes sabiam que eles alimentavam-se somente de sangue animal?


– Os vampiros temeram os Quileutes, Damon, porque eles eram transfiguradores. Transfiguradores são a mesma coisa que lobisomens, o que muda é o fato deles se transformarem quando quiser e que mesmo na forma de um lobo ou qualquer outro animal, terem completo domínio sobre si. Mas o ponto negativo é que os transfiguradores são bastante voláteis, portanto se ficarem muito irritados há o risco de se transforarem e machucarem quem está por perto.


– Quando eu visitei Forks – falei – não havia transfigurados algum na aldeia de La Push.


– Jacob, o nome de meu amigo que contou-me sobre os vampiros, disse que tinha uma teoria sobre a transformação dos quileutes em lobos: quando um vampiro aparecia na área, os genes dos descendentes eram ativados, e assim eles poderiam proteger todo o seu povo.


– Sim. Mas isso não explica o fato de quando esses vampiros que conheceu chegaram nessa cidade, já haver muitos transfiguradores em suas formas animais.


– Eu nunca havia pensado muito nisso... – disse Isabella – Klaus, há quanto tempo foi que você visitou Forks?


– Menos de um século. – falei.


– Muito preciso – ironizou Damon.


– Não, não. Está ótimo. Acho que assim que você chegou lá, ativou essa sina dos transfiguradores. Explica porque em anos mais tarde eles já estarem com uma matilha formada na chegada dos Cullen.


– Cullen? – perguntei – esse é o nome da família de vampiros?


Isabella mordeu seu lábio inferior, desconcertada.


– Sim. Eu não deveria ter falado, mas sim. O nome da família dele é Cullen. E quanto a pergunta do Damon sobre os transfigurados terem a certeza que os Cullen não bebiam sangue humano, é porque na espécie dele dá para perceber fisicamente esses detalhes. Possuem olhos vermelhos quando bebem de humanos, dourados quando bebem de animais. São frios e pálidos. Você conhece essa espécie de vampiro, Damon?


– Já ouvi falar, mas confesso que nunca vi um deles. Dizem que são mais raros que a nossa espécie, mas possuem uma realeza na Itália.


– Sim. – falei primeiro que a garota – São os chamados Volturi. Acham que são os mais poderosos, mas o poder que possuem agora não passa de um golpe de sorte ocorrido há tempos atrás. Eu acompanhei a história deles. Aliás, Isabella, eu já imaginava que o vampiro que fez essa marca não fosse da nossa espécie, já que nossa mordida deixa somente dois furos por conta das presas que crescem, já a sua cicatriz é uma arca dentária completa.


Ela acenou com a cabeça, concordando:


– Eu e... o vampiro que acabei me apaixonando começamos a namorar, isso depois de vários problemas como a aceitação da família dele e a encrenca que me meti e que ele teve que me salvar.


– Pensei que esses vampiros não tinham tanto auto controle quanto nós. – comentou Damon, prestando atenção.


– E não possuem. – eu disse, ainda seguindo a rota que Isabella havia me indicado.


– Exatamente. Os Cullen são a maior família de vampiros que vivem unidos e com residência fixa. Perdem somente para os Volturi. Da espécie dele, é claro. Enfim, uma vez eu fui assistir eles jogando beiseboll. O que não esperávamos é que um trio de nômades vampiros apareceu por lá.


– E suponho que eles não se alimentavam de sangue animal. – conclui.


Isabella concordou.


– Um dos vampiros se chamava James e ele era um rastreador. – na hora que ela disse isso, tudo ficou muito claro. Eu conhecia bastante as espécies de vampiros e um dos dons mais comuns era o rastreamento. Quando um vampiro rastreador acha uma presa, ele não desiste dela. Meu olhar correu para o pulso da garota ao meu lado, pensando no que ela tinha passado e no tanto de recordações que aquela marca a trazia. Era algo como uma corrente ao passado. Percebi então que a caçadora nunca se livraria totalmente dele, mesmo se quisesse.


Concentrei-me novamente no que ela dizia:


– Os Cullen fizeram de tudo para me proteger, não posso negar. O problema é que James conseguiu ir até minha casa que estava vazia, exatamente essa que estamos indo nesse momento. Ele pegou meu número e antigas gravações de minha mãe. Fez-me acreditar que a tinha como refém. Eu, desesperada, fui atrás dele no local indicado escondido dos Cullen. James me atacou e mordeu meu pulso. Foi assim que ganhei essa cicatriz.


– Não entendo... – falei negando com a cabeça – Se ele te mordeu como não é uma vampira agora?


– Meu ex-namorado. Ele sugou todo o veneno, enquanto a família dele matava James.


– Ele também poderia tê-la matado.


– Sim, poderia. Mas não matou.


Eu tive que concordar, mesmo estando contrariado. Ele a salvou, mas isso era uma obrigação depois de tê-la deixado a mercê de um vampiro louco por sangue. Como uma família inteira de vampiros conseguem perder uma humana? Isso é praticamente inconcebível. E mais inconcebível ainda era imaginar que essa menina que há minutos atrás acreditou tão piamente em meu caráter, já ficou estirada em um local sozinha com um chupador de sangue psicótico.


Balancei a cabeça negativamente. Se fosse comigo, eu não teria sido tão descuidado.


Damon, pelo menos uma vez em toda a sua existência, fez uma pergunta útil que eu também queria saber a resposta:


– Tudo acabou bem: você viva e humana graças ao vampiro vegetariano salvador. Mas então porque não está com ele?


– Por que meses depois ele me deixou.


Silêncio.


Essa não foi a resposta que eu esperava.


Mal pude pensar em algo, pois a Swan continuava sua narração:


– O irmão dele era novo na dieta e não tinha um controle muito bom. Na minha festa de aniversário de dezoito anos eu me cortei com o papel de presente. O recém na família não aguentou a cheiro de meu sangue e tentou me atacar, porém não conseguiu chegar até mim pois todos os irmãos o parou. Foi ai que meu relacionamento caiu de vez. A família foi embora de Forks e não disse nenhum adeus. Meu namorado me abandonou sozinha na droga de uma floresta alegando que eu não era boa o suficiente para ele. Eu fui uma tola.


Isabella agora falava sem interrupções e com a voz embargada. Eu sabia que ela não iria chorar, eu sentia isso. Ela não choraria mais. Parava de vez em quando para respirar fundo e continuava a contar.


– Quando ele me abandonou eu corri atrás dele. Eu corri atrás do maldito vampiro no meio de uma floresta escura. Toda a Forks me procurou nesse dia, pois acabei caindo e me perdendo no meio de tantas árvores. Semanas se passaram e eu ouvia os comentários maldosos ao meu respeito, via os olhares de pena. Mas surpresa eu nunca percebi em nenhum morador daquela cidade. Era como se todos soubessem que um homem lindo, rico e inteligente não ficaria nunca com uma garota como eu. Eu não os julgo, na verdade, até concordo com eles agora...


– Não. – interrompi – Isabella, você é uma pessoa corajosa e... – eu falaria mais se ela tivesse deixado, mas a garota parecia um tanto exaltada, como se quisesse concluir sua linha de raciocínio. Eu esperei ela falar, depois teria minha vez.


– Você pode me achar uma pessoa corajosa agora, Klaus. Mas você diz isso porque não me conheceu antes. Sabe qual a pior parte nisso tudo? A pior parte é ver que eu fui totalmente imatura e infantil. Não por me apaixonar, mas sim por me deixar cegar pela paixão. Eu era totalmente submissa, Klaus. Eu não tinha voz. Eu o amava acima de tudo, acima de mim mesma e hoje sei que esse tipo de amor nunca foi e nunca será saudável. Concordava com cada particularidade que aquela família dizia ou fazia. Eu queria ser uma deles, queria me entregar àquelas pessoas, para como resposta ser esquecida e deixada sem um único adeus. Eu me pergunto se algum dia eles me viram como eu os vi.


Ela balançava a cabeça negativamente, presa nos pensamentos, mas as palavras continuavam a sair de sua boca:


– Eu não estou dizendo que os Cullen não merecem meu respeito. Pelo contrário, merecem sim. A história de cada um, a dedicação e o sofrimento para eles estarem ali me fazem os respeitar de uma forma grandiosa. É por isso que até hoje não entendo o fato de como tudo sucedeu. Não entendo o porque da saída tão fria. Recuso-me a acreditar que foi somente por um pequeno ataque, pequeno deslize. Não, eu não acredito nisso. Não se deixa a família para trás, nunca. Somente aceitamos como eles são, com seus defeitos, seus erros e com todos os seus deslises. Agora as vítimas dessas consequências se deixa. Deixamos as vítimas para podermos somente aprender com nossas escolhas e não precisarmos encarar o olhar daquele que machucamos.


Continuou:


– Quando um filho seu, por exemplo, machuca alguém, provavelmente você dará assistência à pessoa machucada , mas a pessoa que levará contigo será sempre seu filho. Cedo ou tarde você deixará a vítima. E eu sou a vítima nessa história toda. Fiquei quando todos foram embora. Mas quer saber? Ainda bem que tudo isso me aconteceu. Somente com essas experiências eu pude mudar quem eu era antes para a pessoa que sou agora. Preciso de muitos aperfeiçoamentos, é claro, mas no meu ponto de vista não há comparação para a Isabella dos Cullen e para a Isabella dos Winchester, os dois caçadores que conheci. Eu comecei do zero para está aqui nesse momento, e quando digo “zero” quero dizer do estado catatônico. Olhe para mim agora! Estou falando sobre meu passado para dois vampiros e sem derramar uma lágrima sequer! É claro que isso não significa que eu não sinta nada ao relembrar esses fatos passados, pelo contrário. Eu não sei se suportaria outro abandono novamente...


A voz dela foi diminuindo, até que parou completamente de falar e ficou somente a olhar para frente. Eu e Damon não nos pronunciamos também, entendo tudo o que ela tinha dito e passado.


Eu estava surpreso por vários motivos: pela história da Isabella, pela sua força, sua mudança, sua persistência, seu caráter e pelo seu ponto de vista. Eu a entendia.


Entendo as convicções dela e seus motivos, suas atitudes. Minha mente formou imediatamente a imagem de uma garota inexperiente, fascinada com a beleza e com o mistério de um mundo novo que pensava existir somente em contos infantis e filmes de terror. Imaginei uma garota desajeitada sendo abandonada no meio de uma floresta pelo homem que amava, condenada a carregar o fardo psicológico da marca que o abandono deixa no coração, e no caso da garota também em seu físico. Ela nunca esqueceria, nunca poderia esquecer de seu passado. Nunca conseguiria desligar seus sentimentos.


Eu a admirava.


Não irei dizer que a história dela foi a mais impressionante ou triste que já ouvi em minha existência, porque não foi. Longe disso. Mas com ela é diferente: Isabella envolveu-se com o mundo vampírico. Eu mais do que ninguém conheço nossas capacidades de deslumbramento. Quando nós vampiros somos magoados ou ficamos tristes, simplesmente desligamos nossos sentimentos. Fácil, simples e rápido. Mas um humano nunca poderia desligar o que sentia.


Nem somente por isso, eu a admirava também pela maneira com qual ela trata tudo nesse momento. Ela melhorou. Continuava com seu ar inocente e sua preocupação com o mundo, demonstrando sempre achar o lado bom das coisas. Ela aprendeu com isso tudo, mas levou também esse conhecimento para suas atitudes. Não gosto da ideia de ela ser uma caçadora, (mesmo sendo horrível nesse ramo) mas ela aprendeu a perdoar. Dos grandes erros até os pequenos, como foi com Damon no avião algumas horas atrás. Eu conseguia ouvir a tristeza quando ela falava de seu passado, mas não raiva. Ela não odiava, somente aceitava. E criou ideias tão invejáveis...


Eu a invejava.


Não a ponto de querer me tornar uma Isabella da vida, isso não. Mas não posso negar que sua fala me intrigou, principalmente quando ela tratou de forma tão realista o assunto família.


Não se deixa a família para trás, nunca. Somente aceitamos como eles são, com seus defeitos, seus erros e com todos os seus deslises.” Ela tinha dito, e eu sabia que era verdade. Contudo, não praticava isso. Lembrei de meus irmãos presos aos caixões em uma caverna na floresta, que somente Greta, Juliet e eu tínhamos conhecimento. Os únicos que estão em minha casa são Rebekah e Elijah, pois foram os mais recentes a eu apagar. Rebekah eu já tinha acordado, mas e os outros?


Somente aceitamos como eles são...”


Eu sentia falta de meus irmãos, mas somente lembrar de tantas raivas que me causaram, o sentimento de culpa diminuía consideravelmente. Eu não aguentava ser contrariado, decepcionado, ver minha própria família discordar de mim. Não, aceitar isso não era minha personalidade. Eu sou Klaus Mikaelson, por favor! Mas então como essa Swan faz tudo parecer tão simples?


Eu era simplesmente tão diferente dela...


Decidi desligar meus pensamentos por um momento. Um tempo se passou e a viajem seguiu em um profundo silêncio. Nada mais foi dito, mas eu sabia que ago precisava ser comentado. Ela não podia contar a vida dela e eu e Damon ficarmos com a boca fechada.


Estávamos chegando da casa de Phill, segundo as informações de Isabella. Parei em frente de uma casa cor bege com dois andares. Pequena pela frente, mas aparentava ser extensa para os fundos. Antes de abrir a porta, eu segurei a mão dela e a fiz olhar para mim. Falei:


– Isabella, obrigado por ter saciado minha curiosidade e confiado em nós o bastante para nos contar sua verdadeira história. Acredito que não posso deixá-la aqui sem dizer nenhuma palavra a mais. É difícil imaginar você como uma garota quieta e inexperiente, quando vejo nesse exato momento um traço de sabedoria em seus olhos. Se esse Cullen não deu o valor devido que você merecia, é porque ele foi covarde o suficiente para não enfrentar os riscos que um relacionamento desse tipo tem. Você não errou em nada. – dei um sorriso, ao ver que ela prestava atenção em minhas palavras – E ainda devo minha versão de grande parte de minha história para você.


Ela assentiu, falando somente:


– Pode me chamar de Bella, Klaus.


Sorri:


– Volto para buscar vocês.


E soltei a mão dela.


Tanto a Swan quanto o Salvatore saíram do carro. Vi um homem que aparentava ter em média trinta anos aparecer na porta da casa com a expressão abatida, provavelmente era Phill. Dei partida no carro e voltei a dirigir em direção a Juliet, a bruxa que procurava.


Ela não estaria longe, logo daria tempo de chegar cedo o bastante no local onde deixei Isabella e Damon.


Peguei o telefone no meu bolso ainda dirigindo. Disquei o número de Rebekah com as palavras de Bella na cabeça.


Nik? – Bekah falou na linha – O que foi?


­– Tire a adaga de nossos irmãos, Rebekah. Acorde-os. Eu explicarei onde eles estão.


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Notas finais do capítulo

Então, gostaram?
.
Não sei se a reação deles foi o que vocês esperavam, mas tudo tem explicação. Eu não podia simplesmente colocar algum dos homens ficaram com raiva do que ela passou, pois ficaria sem sentido. Eles são velhos demais e possuem problemas demais para ficarem dando "piti" a cada história que ouvem. Fiz uma reação bem "interna" mesmo, principalmente no Klaus. Isso é o mais importante.
.
A demora não foi curta, mas o capítulo também não foi. Haha!
Espero o comentários de cada um de vocês. AMO cada review que recebo, vocês são demais, mesmo!
.
Beijos, beijos e até depois. (Qualquer erro no capítulo, comuniquem-me.)