Faziam seis meses que as aulas na AMDA começaram e alguns fatos puderam ser logo notados.

  Fato um: Não importa o quanto você foi popular no colégio ou que o seu padrasto faz parte do senado. Se tudo isso estiver relacionado a uma cidade pequena como Lima, Ohio, você imediatamente se torna um zé caipira, alguém que não merece um mínimo de respeito.

  Fato dois: Estar numa escola de riquinhos não significa que você terá os mesmos privilégios. Ao contrário, estar lá da maneira como Finn entrou era considerada a pior maneira, aquela que só os porcos que se dizem artistas conseguiriam, pois não teinham nenhum talento para fazer isso sozinhos.

  Fato três: Em menos de seis meses se pode ganhar o ódio mortal de alguém. Nesse caso, Brody Weston.

Três meses antes

  Finn acabava de sair da ultima aula do dia e caminhava para o refeitório a fim de comer rapidamente antes de correr para casa e se arrumar para a boate.

  Depois de finalmente escolher o que comer estava procurando um mesa vaga quando a viu. Uma garota linda, de pele morena e longos cabelos castanhos. Ela segurava um livro fino na mão esquerda enquanto levava uma pequena xícara à boca com a outra. Era a cena mais doce e bela que ele já tinha visto.

  Pensou se deveria se aproximar ou não, mas antes que pudesse se controlar, já estava caminhando em direção à ela.

  — Olá. - Disse timidamente quando parou em frente da menina.

  —Oi. - Ela respondeu com um pequeno sorriso, focando os olhos em Finn. Grandes e brilhantes olhos chocolates, quase infantis.

  — Eu me chamo Finn. Finn Hudson. - Ele queria estender a mão para ela, tocá-la, mas temia denunciar a tremedeira que sentia se o fizesse.

  — Rachel Berry. - Um sorriso brilhante foi lançado em sua direção e nada pode fazer para conter o sorriso que se formou em seus labios como resposta.

  — Posso me sentar aqui? Digo, com você? - Estava tão nervoso. Nunca se sentiu assim antes.

  — Ah... É, claro... - Por um segundo, Rachel pareceu meio relutante, mas ela permitiu, então estava tudo bem.

  Finn colocou a bandeija na mesa e puxou uma cadeira de ferro para se sentar frente a ela.

  — Você estuda aqui na AMDA?

  — Obviamente, considerando que só os alunos e funcionários tem permissão para usarem o refeitório, e que eu não sou velha o bastante para ser considerada uma funcionária, e, mesmo que isso não seja um impedimento, não poderia estar aqui sentada quando deveria estar trabalhando. Não acha?

  Finn já foi chamado de burro muitas vezes, mas o olhar de leve presunção e divertimento que Rachel jogou em sua direção no final do breve discurso o fez sentir como se fosse o maior dos imbecis e que talvez, apenas talvez, as coisas que Quinn gritou no seu rosto quando disse à ela que ficaria em Lima por mais algum tempo não tenham sido tão injustas assim.

  — Oh... E-eu... É... M-me desculpe eu não queri- Foi interrompido por risadas.

  — Está tudo bem. - Rachel cortou a sua tentativa patética de contornar a situação a seu favor. — Você parece ser um dos novatos que entraram nesse semestre e não estão inteirados das regras basicas da escola. Uma irresponsabilidade devo dizer. Conhecer as regras do local onde passará os proximos quatro anos da sua vida me parece essencial para uma boa permanência e para evitar conflitos posteriores.

  O tom levemente cortante de sua voz não foi notado por Finn, estava ocupado demais com o olhar gentil de recebera apesar da bronca. Na verdade, sequer ouviu o que a morena disse.

  — É claro. Você tem toda a razão. - Respondeu rezando para que essa fosse um resposta coerente à seja lá o que for que ela tenha dito.

  — Em que ano você está Rachel? - Ele se inclinou levemente sobre a mesa, quase derrubando a copo de refrigerante ao esbarrar o cotovelo. Isso o fez lembrar da refeição e começar a comer.

  — Eu sou junior.

  — Puxa. Que máximo. - Respondeu impressionado. — Sabe, você tem razão sobre eu ser novato e, bem, eu não estou começando exatamente com o pé direito. Ontem minha turma teve aula de dança e eu não sou nenhum bailarino. Foi horrivel. Eu estava pensando se você não poderia... Sabe, se você quizer, claro... Se não poderia me ajudar com algumas dicas, se puder é claro, ou-ou indicar alguém - Perguntou com a garganta fechada. Mal conseguia respirar.

  — Eu não sei Finn. Eu não sei se conheço alguém disposto e tenho um cronograma que gosto de seguir à risca todos os dias, mas acho que podemos conversar isso depois. Podemos ver um jeito. - Disse depois de terminar o conteúdo da xícara que pelo cheiro Finn achava ser chá.

  — Jura? Quer dizer, obrigado. Isso, isso é demais. - Não poderia estar mais feliz. Nada poderia estragar sua felicidade no momento.

  — Rachel! - Uma terceira e desconhecia voz foi ouvida de longe. Finn e Rachel olharam na direção de onde ela parecia ter vindo e viram um rapaz musculoso, vestindo apenas uma calça jeans verde escura, desgastada nos joelhos, se aproximar rapidamente deles com a expressão fechada olhando fixamente para Finn.

  — B! - Rachel tinha um sorriso enorme no rosto, um que até então, Finn não tinha visto. Ela se levantou, deixando o livro na mesa, quando o rapaz chegou perto da mesa. Os dois se fundiram em um abraço apertado separando-se brevemente apenas que trocassem um beijo breve, mas apaixonado.

  O mundo de Finn tinha explodido bem diante de seus olhos.

  Já deveria saber. Que estupido era. Pensar que uma garota tão bonita estaria sozinha. Pior, namorava com aquele cara. Sentiu o sangue ferver em suas veias e a visão avermelhar.

   Aquele imbecil da aula de dança.

  — Finn, este é Brody Weston, meu namorado. - Rachel chamou a sua atenção apos se separarem, ainda mantendo um braço na cintura do garoto. — Amor, este é…

  — Finnesse Hudson. - Interrompeu Brody olhando friamente para ele.

  — Se conhecem? - Rachel perguntou olhando confusa de um para o outro.

  — Sim. Nos conhecemos ontem, na classe de dança. Seu novo amigo se move como se estivesse tendo um AVC. - Brody disse rindo ironicamente para Finn.

  — Brody! - Rachel bronqueou levemente dando um tapa em seu braço. — Não liga para ele, Finn. Meu namorado tem o pessimo hábito de tentar ser engraçado, mas acaba sendo maldoso.

  — Não. Está tudo bem. Eu acho melhor ir andando, não quero me atrasar. - Disse se levantando da mesa. Já estava ficando incomodado com a forma que o garoto Weston o encarava.

  — Tudo bem Finn, depois conversamos mais para acertar as coisas. - Rachel respondeu alegremente. Alheia a tensão entre os dois rapazes.

  — É melhor ir mesmo Finnocence. Você tem muito o que fazer. - O veneno escondido na voz e no olhar de Brody causaram arrepios em Finn.

Atualmente

  Finn estava caido no chão, nos fundos da AMDA.

  O lábio inferior sangrava deixando uma mancha vermelha grotesca na camiseta que um dia foi totalmente branca. Brody e outros dois caras que andavam com ele o olhavam com desgosto e riam das tentativas dele de se colocar de pé. Era a terceira surra que levava em seis semanas.

  Brody bateu levemente no ombro deles e ambos se aproximaram predatóriamente de Finn. Brody o pegou pelos ombros e os outros o seguraram pela parte de trás dos joelhos. Sabia o que a conteceria agora, era o 'toque final' de Brody.

  Pela terceira vez, foi jogado dentro da lixeira que estava ali perto. Os rapazes riam sem parar da cara dele, enquando Weston se debruçou sobre a caixa de metal para olhar para ele.

  Filho da puta, desgraçado.

  — Sabe Willy, eu estava pensando. - Começou Brody analisando-o curiosamente. — Acho que bater em você e te jogar na lata de lixo perdeu a graça, além do mais, minha Rach pode acabar descobrindo. Ela ficaria chateada se soubesse que eu voltei aos antigos negocios, especialmente por sua causa. Hmm... Quer saber? Já chega disso. Está noite eu pensarei em uma nova maneira de nos divertirmos juntos... Não se preocupe. Tenho certeza que vai adorar. - Brody lhe deu um olhar quase maníaco antes de cuspir em seu rosto e se virar deixando o classico "perdedor" no ar.

  Finn nunca se sentiu mais humilhado em tuda sua vida, do que quando tinha esses 'encontros' com o maior cretino que conhecerá. Se ele soubesse que aquela breve e inocente conversa com Rachel três meses atrás pudesse ter todas essas consequencias. Nunca teria caminhado até aquela mesa.

  Nunca teria falado para ela.

 Inferno, nunca teria sequer olhado para ela.

  Era tudo culpa daquela vadia.