Father escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 4
Capítulo 4




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Você provavelmente está se perguntando o motivo de eu não lhe ensinar nenhum dos famosos contos de fada, não é mesmo, minha pequena? Ainda que desejasse, e não o desejo, nunca poderia fazê-lo, minha doce criança. Você precisa entender. Por quê? Oh, tudo isso fará sentido para ti. Talvez não agora, quem sabe nem mesmo amanhã, mas algum dia você, com certeza, irá se lembrar dessas palavras... Não, não chore, menina. Serão boas as memórias, lhe garanto. Não irei permitir que palavras amargas lhe tirem a pureza antes do tempo, pequena...

Desde o dia em que o salvou de uma possível morte tétrica, aquela garota passou a ver o menino com outros olhos, mas não com maldade, pois era inocente demais para tal. E, ainda, sentia-se inevitavelmente incapaz de não permanecer atraída por aquele olhar da cor do mogno, uma espécie rara de madeira que se perdeu antes de a civilização dos EUA finalmente fincar. Não sorrira novamente, porém, uma vez que realmente levara uma bronca do pai, e até mesmo a mãe lhe passou um sermão em consequência do atraso.

Ele ouviu a gritaria, a balbúrdia dos copos se quebrando, o choro quase silencioso demais para se fazer presente; e que, ainda assim, quebrava a frieza da cena com uma melancolia que fazia doer o coração.

Nunca desejou correr o risco de perdê-la comentando coisas sobre assuntos dos quais não tinha certeza. E, de fato, tampouco autoridade ele possuía para fazê-lo; porque manter-se em silêncio era indiscutivelmente o melhor que podia fazer para não estragar o pouco que conquistara com muito esforço e uma boa dose de sorte.

Transcorreram-se assim, semanas e mais semanas, até que ela finalmente conseguisse conversar com uma naturalidade que lhe parecia fora do comum. Era delicada, e inegavelmente doce com suas palavras. Quando lhe perguntou a respeito dos machucados já cicatrizados, e do motivo pelo qual o encontrara em Nothing Street, ele apenas respondeu que arranjara problemas um tanto sérios com alguns rapazes mais velhos.

Ela jamais soube o motivo, porém, e as coisas talvez tenham sido melhores assim. Talvez, se quisesse de fato conquistar seu inocente coração, ele devesse ser mais sincero. No entanto, que culpa possui um rapaz atormentado, sem boas lembranças, cuja única luz é uma paixão platônica e sem fundamento algum?

Ele preferia se manter no anonimato, preferia se manter nas sombras, como fez durante toda a vida...


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