Aqueles foram os dias mais felizes que ela chegou a pensar que jamais teria a alegria de vivenciar. Mesmo com as surras constantes do pai, a preocupação iminente da mãe, as provas que definiriam seu futuro se aproximando... Mesmo com tudo isso para lhe perturbar a mente, conseguia sentir-se completa com apenas as brincadeiras bobas que ele fazia. Eram palhaçadas, piadas, todas sem nenhuma graça, mas que sempre lhe arrancavam as mais deliciadas gargalhadas, os mais sinceros e largos sorrisos.

Nunca fora muito cética, mas, se alguém lhe perguntasse sobre a existência de um ser superior zelando por toda a humanidade, seria capaz de negar... E isso fora antes de conhecê-lo. Porque, depois disso, só havia luz. Felicidade. Um sorriso era o que bastava para aquecer seu coração, afastar as dores do restante do dia.

Ele era aquele menino meio bobo, tagarela como uma maritaca, que não se calava até que alguém lhe pedisse para fazê-lo. E, quando aquele ato se mostrava necessário, ruborizava até adquirir a tonalidade de um pimentão maduro, resmungando um tímido e baixo pedido de desculpas. Ela nunca entendeu seus motivos, nunca soube por que ele permanecia ao seu lado quando poderia muito bem arrumar companhias infinitamente melhores para si, mas jamais reclamava, porque não era idiota o suficiente para tal.

Gostava de sua presença, gostava da segurança que ele transmitia. O jovem se tornara uma espécie de porto seguro, um amigo que ela nunca teve e agora tinha a chance de provar, mesmo que minimamente. E, mais tarde, ela descobriria que realmente nunca o teve, de fato, ao seu lado.

Tanto quanto poderia ser agradável, ele poderia ser agressivo. E toda aquela ferocidade, toda aquela fúria cega existia por um motivo.

Distorcido, mas que valia algo.