Father escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 2
Capítulo 2




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Era uma segunda-feira consideravelmente tristonha; o céu encontrava-se completamente tomado pelas nuvens escuras que anunciavam uma longa tempestade. A menina ruiva estava lá, sentada à beira da calçada molhada pela chuva de outrora, com um livro entre as mãos, a cabeça baixa escondendo sua expressão. O casaco escuro era feito de lã, espesso e de mangas cumpridas para esconder os hematomas arroxeados que denunciavam a violência que sofria em casa. Mas ela estava ali, perdida em seu próprio mundo confuso, mergulhando incansavelmente na esperança que apenas as reconfortantes palavras de um bom livro podem transmitir. Você bem sabe do que simples frases são capazes, não é mesmo, minha pequena?

Elas amaldiçoam. Elas salvam. Compõem aquela delicada melodia sem palavras, que ecoa docemente sem que ninguém jamais possa escutá-la, ou repeti-la; sempre, sempre e para sempre.

Escondido próximo ao muro do colégio, sob as sombras onipresentes que mascaravam sua forma, ele a observava, retorcendo as feições numa nítida máscara de preocupação. Seu vizinho. Todos os dias ouvia os gritos, quando o pai dela chegava bêbado em casa. E não gostava. Não gostava de ouvir aquilo, não gostava de saber que alguém tão infinitamente querido sofria tanto, e que não podia fazer nada para ajudar.

Mas, querida, em algum lugar, as estrelas estão brilhando por todos nós. A dele sempre foi solitária, quase apagada, mas jamais esteve tão viva; porque aquela garotinha tímida e antissocial tornara-se o motivo de seu mais sincero sorriso, de seu mais saudoso aperto de mãos. Ela não sabia, ainda, e talvez nunca tomasse consciência disso, mas ele não se importava nem um pouco com aquilo.

Querer seu bem, desejá-la feliz, acima de tudo... Era isso que o fazia aguentar dia após dia, noite após noite. Era o que o obrigava a superar as dificuldades que surgiam em seu caminho, e seguir em frente. Docemente, aguardava. Esperava pelo dia em que ela finalmente observasse ao redor e o notasse; percebesse que ele estava ali.

Mesmo lutando por isso, apenas desejava tornar-se alguém simpático aos olhos cinzentos da garota, sem exigir nada que fosse além da amizade.

Puro. Inocente.

Todas as coisas deveriam ser assim, não é mesmo?

Mas essa, minha pequena menina, não é uma história de amor...


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