Devaneios Insanos De Uma Julieta escrita por Rocky Scarlet Fernandes


Capítulo 6
Capítulo 6 - A maldição dos Capuletto


Notas iniciais do capítulo

Oi gente ! Primeiramente, me desejem sorte, please. Amanhã vou fazer A prova da minha vida e preciso de muita inspiração e energia positiva (estou pegando a mania da minha tia). Segundo, temos o primeiro e único pdv de Charlie! *comemoração* Enfim, não me crucifiquem após ler a última linha, é uma coisa que eu precisava fazer. Mas não se preocupem, afinal ainda há o 7 capítulo e talvez um bônus (do qual fiz 1/3). Bem, eu estou super nervosa porque são 36 questões de conhecimento e uma redação (que eu não estou tão preocupada assim). É para uma escola técnica, AAAA, eu quero muito passar! Beijos, espero que gostem.



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Acordei lamentando por ser segunda feira, aliás, não tão lamentando assim, porque eu poderei passar mais tempo longe da Karen. Meu pai havia dispensado ela já que ele voltou, mas ela não saía de perto dele quase em nenhum momento, o que me irritava. A ponto de nem querer descer para almoçar. Bill deixou Charlie dormir aqui enquanto Lexy ainda estava. Eu... Bem, eu já posso me mexer dignamente. E é claro que eu deveria, já que hoje é o último ajuste para a estreia da peça. Eu já sei as falas, graças à Lexy e ao próprio Romeu.

E pensar que no inicio eu queria que acabasse logo para que eu não sofresse tanto com o mico, e agora eu apenas quero que continuem os ensaios, para eu passar mais tempo longe de casa, e perto de Charlie, claro. Enfim, não sou muito fácil de entender. Meus ferimentos estavam muito melhores, agora nada mais eram do que simples manchas rosa em uma pele pálida. Destacam-se, claro, mas não estão ardendo como antes. Agora tudo que me resta é a memória, que parece doer tanto quanto a realidade. Não pense que estou virando melancólica, droga. Mas não é todo dia que você é chicoteada e ainda se é jogado álcool em suas feridas desse jeito. Mas parando de ser melodramática, estou me arrumando para ir ao último ensaio da peça e não estou com um bom pressentimento, porém, acredito que isso seja mais um delírio de minha mente. Apenas um delírio insano e apavorador. Charlie acabou de sair do banho e eu resolvi tomar logo o meu e devo admitir... Sorte a minha que todos os quartos têm seu próprio banheiro, isso me poupa de uma desagradável visita ao andar de baixo. Eu fiquei pensando, já tínhamos tentado tudo para tentar denunciá-la, primeiro foram apenas escutas, mas ela descobriu e nos colocou num castigo imperdoável. Depois foram câmeras, mas para isso tínhamos que entrar em seu covil, o que não deu nada certo, e tivemos nossa punição por atrevimento devidamente dada. Eu e Luke tínhamos planos de A a Z que experimentamos desde que ela entrou em nossas vidas, e nada, exatamente nada funcionava. Quando conseguimos testemunhas, ela os ameaçava e eles viravam a seu favor, isso era frustrante. E logo em seguida, havia as punições.

[...]

Vesti uma roupa meio normal, nada muito extravagante, do jeito que gosto, e fiquei esperando o Luke e a Lexy descerem para irmos todos juntos. Meu irmão desceu alegre e começou a tagarelar, fomos andando até uma lanchonete que ficava na esquina, aqui perto de casa, não prestei muita atenção no que ele estava dizendo, até que ele falou algo que fez Lexy pular.

“Você sabia que ela gosta de histórias eróticas?” Ele disse enquanto comia um sanduiche. Ok, essa é super nova. Lexy corou profundamente e sussurrou baixo algo como isso era pra ser um segredo. Juro que quase engasguei com o meu misto quente. Olhei para Lexy, que ainda se mantinha calada. “Sério isso?” Ri profundamente e ela me encarou “Não está achando ridículo?” Ela perguntou. Fitei-a “Não mesmo, acho fantástico! Sério Lexy, você não parece ser o tipo de garota que lê...” Pausei com um olhar severo de Charlie, ok, o que eu fiz agora? “Quero dizer, não acho ridículo você gostar dessas histórias...” Engasguei. “Ai Anny, você não sabe mentir” Ela riu nervosa. “Não estou mentindo, não sei como me expressar dignamente, mas... Eu sinceramente não acho ridículo” Falei sincera. Ela me examinou alguns segundos e depois deu um tapa na cabeça de Luke. Ele gemeu de dor e eu ri.

“Bem feito, por contar o segredo dela. Embora ela pudesse ter confidenciado isso a mim...” Encarei-a desafiadora e ela corou. “Ah poxa, ele me pegou no flagra! Não pude negar” Ela se explicou.

[...]

“Adorei sua camisa” Lexy disse enquanto eu descia meu olhar para me lembrar qual roupa eu estava usando. Ah, nada mais era do que uma camiseta cinza com um panda estampado e um short preto com tachas. Sorri “Obrigada, você se lembra de quem que me deu ela, não lembra?” Ela riu, claro. Lexy me deu essa camisa no meu aniversário de quinze anos. E eu acho fofa, mesmo eu não seja muito chegada em coisas fofas. “Sabe, é uma das minhas camisas favoritas” Disse. Ela me encarou “Não acredito!” Riu calorosamente “Você está blefando” Cruzei os braços “Eu tenho cara de quem está blefando?” Ergui uma das sobrancelhas me esforçando para não rir, inutilmente. “Ei mocinhas, venham logo, temos que terminar isso aqui” Charlie chegou segurando uma trouxa de roupas no ombro, que acredito serem os trajes de Romeu. Ele estava com o cabelo molhado caído nos olhos e um sorriso de garotinho no rosto, adorável. Corei com o pensamento. “Eu ein, a Anna agora só anda corando” Lexy sussurrou para Charlie “Acho que ela tá pegando minha mania de pensar coisas indevidas” virei para os dois “Ora, calem-se”.

Não que – em partes- isso possa ser considerado mentira. Mas a Lexy tem a incrível habilidade de pensar obscenidades quase o tempo todo, chega a ser cômico. Andei lentamente observando todo o lugar, e acabei me sentindo um pouco deslocada, ao ver tantas pessoas ajudando umas as outras, ajeitando cada detalhe de uma peça que todos diziam que iria ser inesquecível. Sorri lembrando que eu nem queria fazê-la, e agora estou torcendo para que haja mais tempo dela. Talvez seja porque já que Karen voltou desejo ficar o mais longe possível dela, ou é apenas porque gostei de ser a mocinha indefesa por alguns tempos? As provas finais tinham sido anunciadas para depois da conclusão da peça, e sinceramente eu não estava preocupada com elas. Charlie virou para me encarar no exato momento em que eu observava o grande pátio pela janela, o lugar onde eu tinha o encontrado para ‘recomeçar’. Sorri fraca com a memória boa. Ok, P-A-R-O-U! Eu estou agindo como se eu fosse morrer hoje. Regula isso aí produção! Chega de melancolia. Estalei meus dedos em frente ao meu rosto, como se eu estivesse prestes a dormir e Charlie achou isso engraçado, veio andando até onde eu estava e com seu sorriso irônico me perguntou: “Pronta para o último ensaio?”. Isso me fez suspirar. “Queria continuar aqui por mais algum tempo, quem sabe” Disse após relaxar meus ombros, que estavam tensos, mesmo que eu não tenha percebido. “Isso é estranho e preocupante vindo de você” Ele simplesmente disse. “Bem, mas de qualquer jeito, estamos aqui, não é?” Ele pôs sua mão livre em meu rosto. “Vamos aproveitar o fim dignamente” Ele disse revirando os olhos. Sorri.

“Adorável! Admirável! Vocês são incríveis!” Pulei de súbito quando percebi que todos no ginásio haviam parado de fazer suas tarefas para nos observar. “Diabos! Eu nem estava falando alto!” Praguejei após perceber que eles ainda nos fitavam. Charlie olhou para eles, mas se virou novamente. “Quer proporcionar a eles um showzinho?” Ele sorriu malicioso e sussurrou isso em meu ouvido. O que será que ele está pensando? Coisa boa não pode ser. Resolvi aceitar, ele sorriu novamente e me puxou até o palco improvisado. QUE INFERNO! Ele não havia mencionado que era tão público a esse ponto. Lexy me fitou do fundo do ginásio com uma expressão curiosa, sendo ridiculamente imitada pelo meu irmão. Charlie pigarreou alto para chamar atenção dos que ainda não olhavam para nós dois. Ele pôs uma de suas mãos em minha cintura. “Sabe, antes de começarmos essa peça, eu achava todo mundo meio insuportável, mas... Vocês provaram que somos muito mais do que as pessoas acham de vocês. Afinal, quem aqui não me rotulava como um nerd sem graça ou coisa do gênero?” Ele me fitou e eu podia jurar que corei. “Enfim, essa peça é uma das coisas mais incríveis que aconteceram pra mim, e acredito que ela também teve algum significado especial para vocês! E queria pedir para que cada pessoa viesse aqui em cima para dizer as coisas boas que aconteceram nesse tempo, devido à peça” Ele disse e limpou a garganta. “Bem, eu estava à muito tempo sem falar com minha melhor amiga, a garota que eu sempre fui apaixonado” Ele começou a falar e o pessoal olhou para a mão dele em minha cintura. “Com a convivência, ou sei lá que diabos aconteceu nesse tempo, eu pude finalmente voltar a falar com ela como nos velhos tempos, e o melhor... Agora estamos juntos...” Ele passou a mão da cintura para a minha mão e as entrelaçou. “Gostaria de dizer algo?” Direcionou a mim. Respirei fundo. “Acho que eu nunca tinha me divertido tanto, esse tempo antes da peça eu costumava xingar a tudo e a todos internamente, e nem faço isso mais. Sentia muita falta de conversar com alguém, e é claro, sentia falta do meu melhor amigo” Disse corando, ele apertou minha mão, como se dissesse que eu estava me saindo bem. “Essa peça proporcionou momentos incríveis, que com certeza vou guardar para toda minha vida”. Disse sorrindo. Então Lexy subiu ao palco correndo e abraçou nós dois ao mesmo tempo. Havia palmas, e logo muitas pessoas se encaminharam para dizer o que a peça trouxe de bom para todos eles. Eu estava feliz.

[...]

“Padre, meu pai quer obrigar-me a casar com quem não amo. O que farei?” Disse, dando inicio à cena. Charlie ainda estava escondido, afinal ele ainda não entraria na cena. O garoto que iria interpretar o padre subiu ao palco.

“Tenho que ajudá-la, não podes te casar, pois já está casada” Ele disse.

“Prefiro morrer” Simplesmente disse. Charlie sorriu irônico e me segurei para não matá-lo. No bom sentido, claro.

“Escuta: vai para casa e dize que estás disposta a casar-se com o conde” Fiz uma falsa cara de desespero. O padre me acalmou “Amanhã, à noite, deita-te sozinha, sem que a ama fique no quarto” Ele suspirou “Então bebe esta poção. Tu vais parecer morta. Como é costume em nossa terra, tu serás sepultada no antigo túmulo dos Capuletto” Pude imaginar o que Julieta estava sentindo, pois fiquei apavorada com a possibilidade de ser enterrada viva, mesmo que fingindo estar morta. “Eu vou mandar uma carta para Romeu, em Mântua” Olhei para Charlie “Ele vem te pegar e os dois podem fugir para aquela cidade” Ele sussurrou. Respirei fundo e continuei “Me dê o veneno!” Estiquei as mãos “Mas... Se Romeu não puder ser avisado?” Perguntei-lhe com minha falsa cara de inocência. “Eis aqui. Vou mandar agora mesmo a carta para teu marido” Ele disse sorrindo. Se referir à Charlie como meu marido, mesmo que na peça, me fez corar profundamente. “Está bem. Adeus, meu caro padre” Disse e saímos da cena. Minutos depois, fui obrigada a voltar para fazer meu monólogo.

“Adeus, mundo. Por um tempo estarei morta. Será que terei coragem de tomar este veneno” Disse pondo de lado um punhal “E se o padre quiser me matar mesmo?” Raciocinei e balancei a cabeça em seguida “Não, ele não faria isso. Ele é um homem de Deus. Sempre me ajudou” Disse. “Ah, eu vou ter que ficar no túmulo da família. Teobaldo está lá. Que medo! Mas vou tomar poção. O amor que sinto por Romeu é mais forte” Pude ouvir vários sussurros e ‘awns’ tanto na plateia quanto no camarim. “Romeu, bebo isto por tua causa” Disse caindo sobre o leito, para dentro das cortinas, fingindo um sono mortífero.

[...]

“Querida Julieta” Charlie começou a falar na cena da cripta, na qual ele pensa que eu – ou seja – Julieta, estou morta. “Corri de Mântua até aqui para te ver. Disseram-me que tinhas morrido” Ele suspirou “E o que vejo é verdade” Esticou um vidro “Tomarei este veneno que comprei e te acompanharei no teu sonho de morte” Acordei de súbito. “É aqui que deveria estar. Mas agora estou livre para Romeu” Me virei apenas para ver um corpo imóvel ao chão, ou quase imóvel, ainda podia ver sua respiração, e agradeci internamente por isso ser apenas uma peça. “Meu querido, não recebeste a carta de Frei Lourenço? O veneno... Tomaste tudo. Quem sabe sobrou um pouco em teus lábios? Ainda estão quentes” Silêncio da plateia. Peguei o falso punhal. “Punhal, serei tua bainha...” E fingi enfiá-lo em minha pele.

[...]

“Pobre casal! Romeu não recebeu minha carta e, pensando que Julieta estivesse morta, bebeu veneno” o padre falou. “Imbecil” A plateia riu e me concentrei para não abrir meus olhos “A moça revolveu acompanhá-lo, matando-se com uma adaga” Ele continuou. Então entrou em cena o príncipe. “Capuletto! Montéquio! Vede com sobre vosso ódio a maldição caiu e como o céu vos mata as alegrias valendo-se do amor” ele disse sereno, com um tom entediado, mas normal, já que ele era um idiota mesmo. “Fomos todos punidos pelo ódio” A garota que interpreta a princesa disse. “Dá-me tua mão, senhor Montéquio; é o dote de minha filha. Mais não posso pedir” Meu falso pai disse. “Mas eu posso dar mais, pois hei de mandar fazer a estátua dela do mais puro ouro. Enquanto for Verona conhecida, nenhuma imagem terá tanto preço como a da fiel Julieta” O Sr. Montéquio disse.

“Romeu também fama dará à cidade; são vítimas de nossa inimizade” Meu falso pai disse novamente. “Esta manhã nos trouxe paz sombria: esconde o sol, o rosto. Ide; falai dos fatos deste dia” o príncipe falou novamente. A princesa suspirou “Sereis clementes, ou rijos, a contragosto, que já de viver de todos na memória de Romeu e Julieta, a triste história” Ouvi passos, ainda estava com os olhos fechados e a mão de Charlie entrelaçada com a minha. Eu estava soando frio, de expectativa, sorri de deleite enquanto ouvia a música da cena. E tudo acabou aí. Ouvimos o som da cortina fechando-se e os aplausos, e isso foi mais do que suficiente para nos dar a impressão de que podíamos nos levantar. Olhei para Charlie, ainda dormindo e sussurrei em seu ouvido “Ei, acabou” Por um momento, eu tremi, pensando se algo ruim realmente tivesse acontecido, mas ele me acalmou no segundo em que franziu a sobrancelha “Eu sei” Exclamou com tristeza. Levantamos para dar a saudação ao público, e percebi que ela estava lá, me encarando com seus olhos verdes, provavelmente tendo num profundo deleite de me vez morrendo, mesmo que de mentira. Apunhalada por uma adaga, por amor. Que mais ela poderia querer?

Meu pai estava a seu lado, aplaudindo com fervor e entusiasmo. Sorri olhando para ele e entramos no camarim.

Lexy nos observava ainda vestida com seu traje. Tínhamos mudado de ideia há pouco tempo sobre o fato de a peça ser uma comédia-paródia, mas ainda tinha a cena do strip. O que não gostei nadinha e Charlie que pareceu adorar aquela cena.

A última cena havia me deixado tão assustada, com medo de perdê-lo, que eu ainda estava apertando sua mão firme à minha, quase esmagando seus dedos com tanta força que os pressionava, mas ele não estava reclamando. O fato dele não levantar logo ao fim da peça, e também por tão imóvel que ficou, passou pela minha mente que talvez ele tivesse realmente bebido um veneno.

“Eu fiquei assustada” Finalmente disse, foi a primeira palavra que trocamos desde que acabou a peça. Ele me fitou. “por quê?” disse enquanto usava sua mão livre para tirar uma mecha de cabelo de meus olhos. “Porque por um momento eu pensei que você realmente...” Parei de falar tremendo. “Ah droga, por que você tem que ser um ótimo ator?” Bati com minha mão livre de leve em seu peito, o movimento brusco me fez sentir um pouco da dor do chicote, até agora quase esquecida, retraí e segurei meu tronco, me soltando da mão de Charlie e procurando ar. Isso fez algumas pessoas na sala soltarem um gritinho abafado e vir me socorrer. “Chama o pai dela” um falou.

“Não!” Disse “Não precisa, estou bem” Respirei fundo, ainda me segurando. “Deixe-me a sós com ela, ok? Ela está bem” Charlie disse se agachando perto de onde eu havia me recostado. “Está melhor?” Ele perguntou. Neguei com a cabeça após ver as pessoas saindo, deixando-me a sós com Lexy, Luke e Charlie.

“Sei que não é um momento oportuno para dizer isso, mas a peça foi um sucesso!” Lexy bateu palmas de entusiasmo. “Anne você foi perfeita!” Ela disse sorrindo para mim. Sorri após me recompor. “Mas o que foi que aconteceu contigo?” Ela perguntou. “Nada demais, não se preocupe ok?” Disse piscando um olho para ela, pois sabia que iria entender. Ela sorriu e puxou Luke (ainda mancando, mesmo que levemente) para fora do camarim. “Enfim a sós” Charlie sussurrou erguendo uma das sobrancelhas. É, eu tinha mesmo pegado a mania de Lexy de pensar besteiras até nas horas mais improváveis. Isso me fez ter coragem para fazer uma pergunta muito pessoal a Charlie.

“Você já...?” Nossa... Que pergunta incrível. Ele mudou sua expressão de malícia para curiosidade. “Já o quê?” Ele disse. Respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas, que fugiam de mim no momento. “Se você já fez aquilo?” Disse. Ele sorriu tristonho. “Bem...” Arregalei os olhos, essa não foi bem a resposta que eu estava esperando receber. Não podia acreditar que ele já havia feito sexo! “Você nunca me contou” Disse baixo. “Você nunca perguntou... E também não gosto de lembrar-me disso” Ele disse balançando a cabeça. “Foi ruim?” Perguntei de súbito “Não foi com você, isso é suficiente para ser ruim para mim” Ele disse. “Então por que você fez?” Eu perguntei séria. Ele respirou “Eu estava realmente tentando te esquecer, uma pena que eu estava vulnerável naquele momento” Ele disse. “Vulnerável?” Ergui uma das sobrancelhas. “Vulnerável, bêbado, como preferir chamar” Ele sussurrou. “Enfim, não gosto de lembrar-me de nada que aconteceu aquela noite” Ele disse me encarando. Respirei fundo. “Eu pensei que você era virgem” Disse. “O fato de eu não ser muda alguma coisa no meu sentimento por você? Pra mim não. Muda algo em seus sentimentos por mim?” Ele perguntou e neguei. “Não é isso, só estou insegura” Relaxei meus ombros e me deixei ser abraçada por ele. Eu estava insegura sim, talvez não pelo fato dele ter dormido com alguma garota, ou talvez sim. Talvez eu quisesse ser a primeira – e única- para ele. Ele sussurrou em meu ouvido, como se adivinhasse meus pensamentos “Não deixe que isso te abata. Você é a minha primeira, sempre” E beijou meu lóbulo. Fiz um esforço enorme para me lembrar de que ainda estávamos no camarim, mas não foi preciso, já que logo ouvi batidas na porta. “Casais, estão puros, vestidos e castos aí?” Ouvimos a voz do nosso excêntrico diretor. “Claro, diretor” Confirmei após Charlie esconder seu rosto em meus cabelos. Um garoto estava atrás dele, pelo que me lembro do nome dele, era Eric. Ele nos fitava com seus olhos cor de ônix e internamente eu me parabenizava por manter a compostura, enquanto Charlie ainda estava se escondendo atrás das minhas mechas de cabelos. Bem, não estava exatamente se escondendo, mas era o que parecia. “Vim parabenizar vocês! Foi incrível! Surreal!” O diretor parecia querer pôr em extinção o resto da masculinidade que ele tinha. Charlie finalmente o encarou, retirando seus lábios imóveis de meu pescoço, mesmo que a sensação de sentir sua respiração fosse agradável, aliás, muito mais do que agradável, me senti mais confortável quando ele fez esse ato, pois provavelmente eu já estava vermelha de vergonha. Eric e o diretor ainda nos encaravam. “Obrigada” Disse simplesmente. “Nem parecia aquela menininha arrogante que vivia fazendo birra nos bastidores, não é querida?” Ele agarrou minhas bochechas. Oh lord, não.

[...]

Terminei minha ducha no chuveiro do colégio, após todas as meninas já terem ido embora, eu não suportaria a ideia de tomar banho com alguém lá dentro. Nem com Charlie, suponho. A simples ideia dele tomando banho comigo me deu uma boa dose daqueles arrepios bons. Me enxuguei com a toalha, despida. Olhei para a porta, ainda fechada e suspirei. Não queria que ninguém entrasse lá. Me vesti depressa, com os cabelos molhados. Fui até os armários apenas para pegar minha bolsa e comecei a estranhar que tudo estivesse vazio, normalmente as garotas saíam do banho e ficavam conversando aqui. Mas hoje é um dia de festa, pensei. De qualquer jeito, continuei me arrumando, peguei minha mochila dentro do armário e joguei-o por cima do ombro. Cheguei na frente do espelho e levantei minha camisa, apenas para visualizar alguma das cicatrizes que ela causou em mim. Respirei fundo ao perceber que uma das chicotadas não iria sair tão cedo. Pus a camisa de volta ao seu lugar e me virei, saindo do banheiro. Lá fora tudo estava calmo, não do jeito habitual, mas havia algumas pessoas ali, o que me deixava um pouco mais sossegada.

Mas nenhum sinal de Charlie, ou Lexy, e muito menos de Luke. Isso sim eu achei realmente estranho, já que eu tinha marcado com Charlie e Lexy em uma das arvores do pátio, a primeira logo na saída do banheiro feminino. E não havia nem sinal de fumaça que um deles esteve por aqui.

“Procurando alguém?” Segurei a alça da minha mochila com força quando escutei a voz seca dela. Virei-me apenas para encará-la. A ruiva dos olhos verdes usava uma roupa elegante, até demais para simplesmente ter vindo assistir a uma peça de teatro. Ela segurava uma bolsinha de mão e estava com uma expressão sádica e debochada, enquanto eu sentia o vento balançando minha camisa quadriculada. Engoli seco e virei meu pescoço para ver se achava algum de meus amigos, talvez minha sorte seja a que estamos em um local público onde há testemunhas. Mas a sorte não estava à meu favor.

“Não adianta procurar, dei meu jeitinho para parecer que você já estava em casa, com seu querido pai. Como um homem tão gostoso pode ser tão idiota quanto aquele seu namoradinho, o Charlie” Só da menção de seu nome eu tremi. Então estávamos só eu e ela.

“Aproveite a festa Karen, temos um grande dia pela frente” Disse tentando escapar e me virei. Ela puxou meu pulso com força, para quem estava vendo, parecia briga de mulheres. “Não me deixe falando sozinha, pirralha” Ela disse com um sorriso que desfigurava seu rosto. Puxei meu pulso, ela não poderia me agredir no meu colégio. Mas ela o fez. Uma bordoada no rosto, que estalou como tão grande foi a força aplicada sobre ele. Algumas pessoas se viraram para ver o que estava acontecendo, mas passamos despercebidas porque parecia que a mulher havia se irritado com os comentários da delinquente. Ela havia me batido em meu próprio colégio e ninguém tinha ido tomar satisfação, coisa que ela percebeu, já que me levou à força ao grande carro preto que eu não conhecia. Gritei.

“Me larga Karen!” Mas ninguém parecia ouvir, ou se importar com meus berros. Eu estava amedrontada, eu tinha certeza, que se eu entrasse naquele carro, ninguém mais me veria. Gritei mais vezes, mais uma surra. Eu nem me importava que meu rosto estivesse ardendo, só queria que alguém a impedisse.

[...]

Pov. Charlie

Não sei onde eu estava com a cabeça quando me deixei ser convencido pelo pai da Anny de deixá-la vir junto com o Luke, nenhum dos dois ainda tinha voltado e eu estava ansioso de preocupação. Pois Karen também não estava aqui. Será que Bill iria estranhar se eu perguntasse sobre ela? Achei melhor não correr o risco. Continuei sentado na cadeira de madeira da sala de estar, sendo acompanhado por uma Lexy igualmente preocupada.

“Eles ainda não chegaram” Ela traduziu meus pensamentos em voz alta.

“Não se preocupe querida, logo eles chegam” Bill disse sereno e saiu da sala para buscar mais café. Mas eu não conseguia me acalmar, algo dentro de mim estava gritando para que eu fosse para o colégio imediatamente. Batia os dedos compulsivamente na mesa enquanto esperava os dois, e nada.

“Eu deveria ter esperado por ela” Disse baixo, apenas para confirmar o que eu tinha certeza. “Não consigo, eu preciso ir” Disse pondo meu casaco por cima da camisa branca. “Você vem comigo Lexy?” Perguntei. Ela olhou para mim, realmente eu estava fazendo um favor para ela no momento em que sugeri que fossemos atrás deles.

[...]

“Como assim eles já foram?” Perguntei à uma garota loira, que reconheci como sendo a Stacy. “Um carro preto levou a Annelise, e acho que o Luke estava dentro dele também” Ela disse dando de ombros. “Mas aquela mulher batendo nela, o que foi aquilo Charlie? Ela anda aprontando tanto assim?” Stacy perguntou. Lexy arregalou os olhos. “Uma ruiva alta?” Perguntou. A loira confirmou e isso foi o suficiente para percebemos o erro que cometemos.

“Droga” Falei alto. Stacy nos encarou curiosa. “Por que vocês estão assim?” Ela perguntou mascando um chiclete.

“Nada!” Lexy disse. “Pra que lado eles foram?” Ela perguntou. “Não sei bem, mas Matt me disse que quase foi atropelado pelo mesmo carro na saída da rua” Ela virou o rosto “Oh, tenho que ir”.

Corri sendo seguido por Lexy, a saída não era tão distante do colégio e muito menos da casa da Anny. Seguimos o caminho, até que eu vi marcas no chão. Era de pneus de carros, uma freada mal dada, provavelmente foi aqui que Matthew deve ter sido quase atropelado. Mas algo me chamou atenção. Um líquido escarlate ainda fresco no asfalto. E um pedaço de tecido, provavelmente de uma camisa. E eu duvido que Luke ou Matt usem perfume feminino. Provavelmente Anny tivesse tentado sair do carro em movimento.

“Merda!” Lexy gritou quando observou o sangue e o pedaço de camisa no chão. “Onde eles podem estar?” Ela pôs a mão na cabeça. A trilha do pneu ia até certo ponto da rua, mas depois sumia. Como uma curva.

Olhei para a casa verde onde o trilho desaparecia.

“Ali, vamos ver!” Disse voltando a correr.

A casa era uma antiga e ainda utilizada casa, provavelmente tinha décadas de idade. Mas não era uma boa hora para prestar atenção na arquitetura. Toquei a campainha da casa e uma mulher morena baixa me atendeu.

“Desculpe o incômodo, mas viu uma mulher ruiva, ou um carro preto por aqui?” Disse ainda ofegante devido à corrida. A mulher me encarou de cima a baixo e franziu a sobrancelha. “Carros pretos passam toda hora aqui meu bem, não se esqueça de que no fim da rua tem um cemitério” Congelei. O cemitério. Olhei para Lexy e ela pareceu entender minha linha de raciocínio, agradeci à senhora e saí correndo. “Ligue para a polícia Lexy, avise ao pai da Anny, chame todo mundo que possa ajudar! Ela é louca, sabe-se lá o que pode ter feito com eles!” Disse temendo só de imaginar o que eles estavam passando, e a Anny... A garota que tanto tempo levei para me declarar, dizer que a amava, e agora estava sofrendo por causa da mulher que causou muitos problemas para mim mesmo em minha infância. Corri o mais rápido que pude, até ver o terreno que demarcava o inicio do cemitério, e havia não só um, mas dois carros pretos lá. Lexy saiu correndo na frente, pareceu ouvir algum barulho. E eu a segui.

O que vi a seguir fez meu coração parar de bater, literalmente.

Anny estava com as roupas rasgadas e com os braços amarrados a um túmulo, com a cabeça baixa e sangue por todo seu corpo, as pernas esticadas, pálidas por baixo do líquido escarlate. Luke estava caído no chão, do lado de um buraco que ainda estava sendo cavado por um cara mal encarado. Havia uma poça de sangue embaixo dele. Temi o pior. Mas eles não estavam mortos, pude ouvir Anny tossindo, cuspindo sangue. E como Luke estava deitado de barriga para cima, podíamos ver seu tórax se mexendo por conta de sua respiração, mesmo que fraca.

“Me... Solta...” Ela sussurrou, ainda sem levantar o rosto. Sua voz estava tão fraca que quase não a escutei. Eu ainda estava parado perto a eles, mas uma arvore tapava grande parte de meu corpo. Virei para Lexy, para saber se ela tinha chamado a polícia e dado as coordenadas, como o posto policial era perto, logo chegariam aqui.

Karen estava com o vestido rasgado e arranhões sangrando em seus braços, imaginei que Anny tivesse feito eles. Luke estava pálido, mas estava respirando, pelo que pudemos ver. O cara mal encarado ainda cavava o buraco, então percebi o que ele iria fazer.

“Eles vão enterrá-lo vivo” Disse. Lexy choramingou. “Ele ainda está vivo?”. Concordei com a cabeça. Eu não ia conseguir ficar parado por mais tempo, desviei meu olhar de Lexy quando ouvi um gemido de dor e um estalo. Karen tinha surrado ela novamente. Mas dessa vez ela tinha levantado o rosto, pálido, quase sem vida e ensanguentado, com lágrimas nos olhos. Os olhos, eles me encontraram no meio das árvores e pude ver sua boca chamando meu nome. Fui segurado por Lexy quando Karen se virou para onde estávamos, mas não nos encontrou, estava escuro, devido ao clima. Nublado, com sombras por todo o lado.

Karen pegou uma adaga e fez uma pergunta rápida à Anny.

“Quer morrer como a Julieta?” Ela riu sádica. “Uma morte rápida para quem não merece” Disse. “Meio trágico, mas não posso esperar mais” Ela pôs a adaga no meio do peito dela, e pude ouvir uma tosse, seguida de sangue. “Acaba logo com isso” Anny disse baixo. Karen retraiu a adaga.

“E perder meu show? Não querida” Ela sorriu “Eu não te aguentei todo esse tempo para te dar uma morte rápida” Ela segurou o queixo dela, forçando-a olhar em seus olhos. Anny cuspiu sangue novamente.

Eu não aguentaria ficar lá mais um segundo. Saí andando, para o lado do homem mal encarado. Ele se virou no momento em que iria atacá-lo, partiu para cima de mim e com uma pedrada na cabeça ele caiu desacordado. Karen chegou a se desequilibrar ao tentar olhar para trás, só para me ver com uma pedra na mão. Ela riu. “Olha quem se juntou a festa” Ela disse se levantando e tirando o salto, jogando-o em cima da Anny, da minha Anny, que ainda estava tossindo sangue.

Até que ouvimos o barulho das sirenes. Ela pulou em cima de mim com a adaga. “Ora seu pirralho!” Bati com a pedra em sua cabeça, mas não tinha sido forte o suficiente, por causa da queda. Ela enfiou a adaga em meu braço e gritei de dor.

“Charlie!” Lexy correu até mim.

“Ajude a Anny e o Luke! VAI!” Disse. Karen tentou impedi-la, mas a segurei, fazendo que eu ficasse em cima dela. Meu joelho em cima do seu tórax. Eu havia perdido a pedra, mas ela também perdeu a adaga, que ainda estava cravada em meu braço. A tirei, observando o sangue jorrar. Minha visão estava turva, mas eu tinha tanta raiva que poderia acabar com a vida dela naquele exato momento. Segurei a adaga com força. Ela riu. “Vai garoto idiota, me mata logo!” Ela disse. “Mata e passe o resto de sua vida na cadeia. No reformatório. Moleque imundo. Mata!” Ela disse com os olhos de uma psicopata assumida.

Ouvimos os policiais chegando e eu saí de cima dela. Apenas para ver um dos policiais a segurando com força. Fui correndo para longe da Karen só para escutar.

Patrulha 158. Temos quatro feridos e uma morte!”.

“Não!” Lexy gritou observando o corpo imóvel no chão, e eu não podia acreditar que realmente isso estava acontecendo.

Não!


Capítulo final: Por debaixo do céu estrelado, a tragédia.

Anny mantinha seu rosto abaixado, e eu ainda não tinha a visto respirar, nem cuspir mais sangue. Ela não! Saí correndo para desamarrá-la, sentindo seu corpo cair sobre meus braços. Ela estava fria.




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Notas finais do capítulo

Antes que vocês queiram me matar, não é exatamente o que vocês estão pensando, sim eu sei o que estão pensando ~le eu vidente~ maaaaas, não é bem assim que a banda toca. Veremos o que irá acontecer, último capítulo no próximo sábado. ok?



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