Devaneios Insanos De Uma Julieta escrita por Rocky Scarlet Fernandes


Capítulo 5
Capítulo 5 - A bruxa malvada ataca novamente


Notas iniciais do capítulo

Digamos que eu não sou muito fã de escrever sobre torturas, porque eu fico sentindo uma raiva profunda de quem as faz. Mas esse capítulo foi necessário, ok, eu odeio a Karen.
Espero que a odeiem tanto quanto eu. UAHSUAH' que jeito de se mostrar um capítulo.



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Lexy e eu entramos felizes na minha casa após pegarmos suas roupas. Mas quando chegamos, percebi que o clima lá não estava nada bom. Luke tinha um olho roxo e um corte no seu rosto e a Karen estava sentada na poltrona, com um celular na mão, que reconheci ser o dele. E além do mais, percebi que ela tinha algo em suas costas, reconheceria aquelas tiras em qualquer lugar. Era um chicote.

Soltei as malas da Lexy no chão quando vi que meu irmão estava assim porque ele telefonou para mim avisando que ela estava chegando. Ela o pegou no flagra desligando o celular, e resolveu puni-lo. E onde estaria meu pai uma hora dessas? Provavelmente ainda no aeroporto.

“Bem... Bem vinda de volta, Annelise” ela disse sarcástica, quase cuspindo meu nome com desprezo. Engoli seco. Ela me puxou com força para o lado de Luke e me examinou como se estivesse checando o lugar mais interessante para me causar um hematoma. “Quem é ela?” Disse baixo. “M-minha amiga” Respondi sem olhar em seus olhos. Ela ergueu o chicote e o pôs em meu rosto, mas como eu estava de costas para Lexy, não sei bem se ela viu esse ato. Se visse provavelmente já teria gritado assustada “E o que sua adorável amiga faz aqui?” Ela disse, percebendo que Lexy ainda estava aqui. “E-ela veio passar uns dias... Porque a mãe dela vai viajar!” Disse gaguejando. “Está mentindo” Ela disse entediada. “Não, é verdade senhora!” Lexy disse. Oh droga, não se meta!

Ela se virou para Lexy e rindo amorosamente escondeu o chicote, que em nenhum momento Lexy pareceu ver. Ela acariciou os ombros dela e rindo perguntou-lhe. “Você deve estar com fome, quer um biscoito?” Lexy negou.

Ela torceu a boca e foi em direção a Luke, sempre escondendo o chicote para Lexy não o ver, mas eu percebi que dessa vez ela avistou o instrumento, pois se desesperou e se preparou para correr em direção a ele, mas eu corri e a segurei, falando um ‘não’ baixo. “Espero que não faça mais besteiras, a não ser que queira se machucar novamente, senhor aventureiro”. Ela disse calmamente levantando o rosto de Luke. Ele a olhou com um desprezo tão palpável que se eu fosse ela, eu teria me sentido mal, ou pelo menos me sentiria ameaçada. Ela riu e saiu andando, o salto fazendo um ruído absurdamente doloroso aos meus ouvidos. “Estou na sala do escritório. Qualquer coisa me chamem, queridinhos” Disse sarcástica. Luke estava segurando sua perna com força, e uma mancha de sangue era visível em sua calça cinza. O que ela havia feito?

Na mesma hora que ela saiu, eu corri até o lugar onde Luke estava sentado. Ele havia caído no chão e lá ficou. “O que ela fez dessa vez Luke?” Disse examinando o corte que ia da parte superior direita da testa até um pouco acima da sobrancelha. E seu olho estava com um hematoma horrível. “Ela me chicoteou” Ele disse simplesmente, como se qualquer palavra que ele dissesse a mais fosse causar uma dor terrível nele “E pisou com aquele salto infernal em minha perna” Lexy examinou o membro inferior dele “O papai não vai gostar de te ver machucado, ela não terá escolha se contarmos, você tá machucado, ele vai ver isso!” Disse corajosamente, mesmo que estivesse internamente com medo que ela nos ouvisse.

“Não, ela vai dizer a ele que eu caí ao praticar no meu skate. Foi o que ela disse quando a enfrentei” Ele disse “Anne, pega o kit de primeiros socorros no armário”. Levantei, deixando Lexy com ele, iria até a cozinha correndo, mas ele me parou. “Não vá até a cozinha sozinha, tem um kit pequeno no daqui da sala” Ele disse apontando para o pequeno armário de madeira que havia no limite da sala, o abri e procurei. Trouxe a pequena maleta branca para perto dele, mas deixei que Lexy fizesse o curativo, ela tinha mais jeito com isso do que eu. Ele não queria que eu fosse sozinha porque do lado da entrada da cozinha, fica o corredor que dá em direção à salinha que antes era um estúdio de pintura da minha mãe, e é lá que ela normalmente fica. Não sei o que ela fez com o estúdio, mas deve estar pavoroso.

“Está se sentindo melhor?” Lexy disse após terminar de limpar a ferida. Ele estava com a mão relaxada em sua coxa e ela só havia se dado conta disso no momento em que acabou o curativo, logo ficou corada.

“O que foi?” Ele perguntou e sua voz ainda estava carregada de dor. Tremi pensando no que ele havia passado para me avisar sobre ela, se eu tivesse vindo sem a Lexy, nossa recepção teria sido muito mais pungente. Olhei para o corredor, para ver se ela estava ali e corri até a cozinha antes que Luke me impedisse. Quando cheguei lá, estava sozinha, mas conseguia escutar o barulho baixo da televisão, peguei o telefone que estava em cima da mesa e voltei correndo até a sala, tomando cuidado para ver se ela estava ali.

“Vamos pro meu quarto, é o mais longe daqui” Luke sussurrou tentando se levantar e acabou se apoiando em Lexy. Peguei sua mochila e algumas das malas dela e os segui até o quarto do meu irmão.

“Porque você pegou o telefone?” Ele disse. “Ela provavelmente veria se ligássemos para alguém” Neguei com a cabeça “Não vai ver, eu quebrei o telefone reserva semana passada, lembra? Ela provavelmente ainda não se deu conta disso”. Eu ri internamente e disquei o número de Charlie.

Alô?” Ele disse com a voz cansada.

“Charlie? Por favor, vem aqui em casa, mas não toque a campainha, quando você chegar jogue alguma coisa, sei lá, uma pedra na janela do quarto do Luke”. Disse.

O que foi que aconteceu?” Ele perguntou.

“Só faça isso, por favor, precisamos de você aqui” Disse baixo, enquanto Lexy espiava pelas escadas para ver onde ela estava. “Certo” Ele disse e desligou. Esperamos por seis segundos até a Lexy voltar dizendo que estava tudo limpo. “Ok, vou pegar alguma comida, por favor, fiquem aqui até o Charlie chegar, e se eu demorar mais que trinta minutos vocês liguem para a polícia” Disse. “Não tenham medo” Respondi novamente e desci as escadas correndo. Cheguei na cozinha me vangloriando por estar vazia, quando percebi que ela estava na saída do corredor.

“Ora Anne... Está fugindo de mim?” ela perguntou e eu me encostei na porta. Não tinha nenhum chicote em suas mãos, mas eu sabia que ela tinha uma infinita variedade de maneiras de nos punir. Reuni o pouco de voz que eu tinha e disse um sonoro “Não”. Ela deu alguns passos até chegar onde eu estava. “Não parece” Respondeu levantando meu queixo com suas unhas pontiagudas. Eu não ia fechar meus olhos, eu ia encará-la, assim como Luke faz, com ódio, desprezo, para ela ver que é somente isso que ela representa para nós todos. Ela estranhou meu comportamento, mas não pareceu se importar com minha expressão de ódio, afinal, ela já a via sempre em Luke. Ela riu e me puxou pelos cabelos até o estúdio. Deixei meu sapato cair na frente da porta para caso meu irmão e Lexy descerem, eles verem onde eu estou. Ela fechou a porta com delicadeza, uma coisa que não combinava com ela. Em cima da mesinha onde minha mãe normalmente colocava pincéis e tintas, agora tinha uma coleção de facas, o chicote estava posicionado em cima do pufe, e ainda tinha alguns outros instrumentos de tortura que não sei o nome. Engoli a saliva e respirei fundo. “Você sabe que se você me matar, meu pai vai descobrir e você vai passar o resto da sua vida mofando atrás das grades” Disse após reunir coragem suficiente. Ela virou fazendo uma falsa cara de temor. “Quem falou em matar queridinha?” Falou rindo. “Em hipótese alguma isso passou por minha cabeça” Eu sentia raiva de como ela conseguia se manter fria após uma ameaça. Embora não tenha sido uma ameaça em si. “Senta” Ela disse apontando com minha cabeça no pufe vermelho, não o que estava com o chicote e ainda segurando meus cabelos com força, Ela não seria maluca de me deixar perto de alguma dessas armas enquanto ela estava sem nada nas mãos. Eu caí em cima do pufe e ela se agachou ao meu lado, mostrando sua verdadeira face. “Porque trouxe a garota?” Senti meu rosto arder após sua mão depositar uma bordoada nele. Soltei um grito agudo de choque. Ela tapou minha boca com força e mordi seus dedos. “Olha, a garotinha está bancando a corajosa só porque a amiguinha dela está aqui” Ela disse segurando meu queixo com tanta força que sentia minha pele ser perfurada por suas unhas. “Saiba que posso acabar com ela, aliás... Com vocês todos, com um simples telefonema” Ela disse perversa. Encarei seus olhos verdes. “Não tenho medo de você” surpreendi até a mim mesma quando proferi essas palavras. Ela gargalhou. “Vejamos se ainda irá continuar sem medo após essa nossa conversinha”. Ela me puxou pelo pulso com força descomunal. Tentei fugir, mas ela cravou sua unha em meu braço. “Ai!” Disse. Ela puxou o chicote do pufe. “Eu não gosto que fuja!” Ela disse chicoteando meu tronco. Soltei um grito de dor. Ouvi batidas fortes na porta, mas foram ignoradas por ela. Mais duas chicotadas em meu corpo. A porta estava quase partindo ao meio, e imaginei que Luke havia me escutado gritar. Ela segurou meu pescoço com força e derramou um líquido em cima da ferida, o que percebi ser álcool. Gritei como nunca havia gritado em toda minha vida. Estava ardendo, muito. Era quase como se minha pele tivesse sido multilada e jogada numa fogueira logo após. Ela riu enquanto via me contorcer de dor, minha camisa já estava totalmente manchada de sangue. E a pior parte, é que ela me chicoteava de um modo que podia se passar por um acidente, como se eu tivesse me acidentado ao cair de um lugar muito alto. Gritei tão alto, mas pude ver a porta se partir e não era Luke que estava atrás dela e sim Charlie. Vi que Karen se assustou, ela nunca mais tinha visto Charlie. Ele arregalou seus olhos ao ver o chicote na mão dela e me ver no chão, ainda me agarrando às feridas, como se meu braço fosse um antídoto para a dor lacerante. Ele andou sem nem ligar que ela estivava com o instrumento da dor e me pegou nos braços. Ela levantou a mão para dar uma chicotada nele, mas ele segurou o pulso dela com mão livre, firme e com uma raiva imensurável. “Não ouse fazer isso. Ao contrário dela, eu não tenho mais ninguém pra me preocupar. E não seria uma surpresa caso eu vá preso por assassinato. Afinal, você convenceu meu pai a me internar num reformatório para delinquentes, não é mesmo Karen?” Ele disse sarcástico. Ela abaixou o chicote o olhando com espanto, nunca tinha a visto daquele jeito. Senti pontadas de dor e percebi que a camisa de Charlie já estava toda manchada com meu sangue. Olhei para a porta e vi que Luke estava se apoiando em Lexy, ainda com os curativos. “Por onde você entrou?” Ela perguntou. “Não é da sua conta” Ele respondeu. “Se você resolver vir atrás de nós, pode ir se despedindo da sua vidinha medíocre” Ele falou cuspindo as palavras. Ela ainda não tinha mantido uma expressão assustada, embora eu soubesse que ela não iria atrás de nós.

Subimos a escada rapidamente, embora nem Luke nem Charlie estivessem em condições de andar rápido. Luke, por estar dependendo de Lexy para andar, porque ela havia pisado com o salto na perna dele. E Charlie estava me carregando, e toda a vez q eu gemia de dor ele ficava ainda mais raivoso.

“Droga, eu vou matar aquela vadia!” Ele disse quando chegamos ao quarto de Luke e examinou meus ferimentos. Não estavam fundos, como uma vez ela fez, mas o álcool fez parecer muito pior do que realmente é. Charlie tirou a blusa ensanguentada dele e vestiu uma camisa que Luke jogou para ele.

“Ela jogou álcool em você?” Meu irmão perguntou descrente. Balancei a cabeça em concordância. Ele mudou a expressão pra pura fúria. “Nós Charlie... Nós vamos matá-la!” Ele disse se levantando com dificuldade, mas Lexy o segurou. “Vocês estão malucos?” Ela perguntou “O pai da Anne já vai chegar. Se vocês fizerem algo contra a mulher vai sobrar pra vocês!” ela disse. “Ela tem razão” Disse baixo, já que só de respirar meu corpo já doía. “Como meu pai não percebe que ela que faz isso conosco?” Eu disse com dificuldade. Charlie rasgou minha blusa para que Lexy fizesse logo o curativo e até esqueci de me envergonhar por ele estar me vendo em roupas íntimas. Ela limpou o ferimento, mostrando que os cortes não eram fundos, mas o álcool havia feito com que uma espuma saísse de alguma delas. Depois de alguns segundos, não estava doendo mais, não como estava antes. Ela tinha enfaixado meu tronco e posto uma pomada em meu queixo, que tinha pequenas feridas feita pelas unhas da senhora psicopata. Deitei na cama de Luke com ajuda de Charlie e ao me apoiar nele, percebi que estava tremendo.

“Droga. Ela não tem escrúpulos?” Ele perguntou. Luke negou ainda com raiva. Até que ouvimos a campainha. “Graças a Deus” Meu irmão sussurrou. Minha amiga andou até a janela para ver se era meu pai mesmo que havia chegado, mas nem precisou, pois logo ouvimos vozes animadas vindas do andar de baixo.

“O que ela aprontou dessa vez?” Charlie perguntou. Tive vontade de dizer que ela engana todos com uma facilidade incrível, menos a nós, porque sabemos com nossos próprios corpos do que ela é capaz, mas fiquei calada, apenas observando o garoto moreno que mantinha sua mão em minha nuca, mas seu olhar para a porta, como se quisesse ver através das paredes.

Até que meu pai entrou no quarto. Mas ele não parecia raivoso e sim preocupado. Provavelmente ela deve ter dito que eu sou uma dependente alcoólica e suicida que precisa ser internada. Respirei fundo me preparando psicologicamente para o discurso que ele com certeza iria fazer, mas não soltou uma palavra sequer. Esperei a enxurrada de acusação por estar me deprimindo por causa da mamãe, mas as acusações não vieram.

“Sinto muito pelo acidente filha” Foi tudo que ele disse. Olhei para Karen, que mantinha uma expressão vitoriosa na cara desalmada dela. “Acidente?” Disse com a voz embargada. “Você não falou sobre perda de memória Karen” Ele disse desconfiado. Ela fez uma cara de coitadinha e soluçando respondeu “Eu não queria lhe preocupar ainda mais” ela disse pondo as mãos, que ainda tinham resíduos de meu sangue embaixo das unhas vermelhas escarlate, nos ombros do meu pai. Eu estava quase chorando ao ver tanto atrevimento. Meu pai sentou na minha cama ao lado de Charlie, vendo-o ali, ele se assustou. “Charlie?” Perguntou não o reconhecendo. Ele soltou um sorriso tristonho, e a meu ver, cheio de raiva. “Garoto, nunca mais tinha lhe visto...” ele o abraçou “Pensei que vocês tinham brigado feio” Meu pai olhou para mim inquieto. “E tínhamos, mas fizemos as pazes” Charlie disse “Obra da sua filha” Ele disse olhando para mim com carinho. Sorri esquecendo-me que a víbora ainda estava no meu território. Até ouvir a voz dela.

“Oh claro, casalzinho lindo esse. Fiquei tão feliz quando soube” Ela disse fingindo uma felicidade. Essa mulher poderia ganhar um Oscar. Meu irmão a encarou sério. “Querem um chá?” Ela perguntou olhando para meu pai, mas se referindo a todos nós. Retirada estratégica, ela é bem inteligente. “Não, Obrigado” Luke disse quase cuspindo as palavras com desprezo, se segurando apenas por causa de meu pai. E o mesmo olhou carinhosamente para mim. “Bem Anne, de acordo com a Karen, você se desequilibrou depois do ensaio da sua peça e caiu em cima de objetos pontudos. Mas ainda não entendi que peça era. Não soube de nenhuma peça sua” Ele disse desconfiado. Me perguntei como ela sabia da peça, e que eu realmente sofri um acidente nela. Droga, eu não poderia negar.

“Colégio pai...” Disse com a voz fraca. “Mas eu estou bem” Respondi. Ainda bem que ela não havia inventado que eu estava com problemas psicológicos. Respirei aliviada quando ela saiu do quarto do meu irmão. “Bem, conte me as novidades” Meu pai disse com uma animação que não conseguia decifrar de onde tinha vindo. “Vocês estão namorando?” Perguntou à Charlie. “Não!” Gritei “Sim” Charlie respondeu. Meu pai ergueu uma das sobrancelhas. “Sim ou não?” Ele perguntou novamente. “Bem, eu não fiz um pedido oficial...” Charlie se lembrou e eu aposto que corei. Ele se virou para mim. “Charlie, esse não é o momento” Disse séria e ele entendeu o que eu quis dizer. “Oh, claro. Eu espero então” Ele disse acariciando meu cabelo. Meu pai fez uma carinha triste. “Pensei que era dessa vez” Ele suspirou e se virou para falar com Luke, então Charlie se debruçou e beijou meus lábios. “Apenas não está oficializado, certo?” Perguntou perto de meu ouvido. Soltei um riso baixo. “Você sabe a resposta” disse ainda com um pouco de dificuldade.

“Ei, não pense que só porque gosto de você vou querer lhe ver agarrando minha menina” Meu pai disse. “Pai, você nunca foi disso” Eu ri “Eu sei, apenas para não deixar que ele tome conta da situação” Ele ficou sério. “Nem pensei em algo do tipo” Charlie respondeu. “Bem, é melhor você dormir no quarto da Anne hoje filho” Ele falou com Luke “Estarei em meu quarto. Lexy, você dormi aqui com a Anne e o Charlie dorme junto com o Lucas” Eles dois se entreolharam “ECA!” Luke foi o primeiro a se pronunciar. “Ou tanto faz, só não quero ouvir barulhos de noite” Ele foi bem específico. Olhos azuis me fitaram. Pai, pelo amor de Deus, eu fui chicoteada, to sofrendo com as dores abdominais, e você ainda acha que eu tenho condições para fazer esse tipo de coisa? Francamente...

[...]

Resolvemos que era melhor Charlie dormir em meu quarto, e Lexy dormir no quarto do Luke. Como eu conheço meu irmão, ele iria por ela para dormir na cama dele e ele iria dormir no chão. Meu irmão nem estava preocupado com o fato de Charlie ter deixado bem claro que dormiria junto comigo, talvez pelo fato dele estar receoso a me deixar com a Lexy, ou não ser capaz de me defender caso a bruxa venha nos visitar à noite. Mas com Charlie era diferente, ele me ajudou hoje, e além do mais, Luke está seguro, já que o quarto do meu pai fica ao lado do meu, e caso não lembre, estou no quarto do meu irmão. Eu já não estava sentindo tantas dores, ou seja, já sou muito bem capaz de me movimentar. Ajudei Charlie a tirar o lençol da cama, embora ele não me deixasse fazer muita coisa. E o tempo todo resmungando que iria matar a puta da Karen. Com essas exatas palavras. Não era normal que ele ficasse xingando e se o assunto não fosse sério, eu provavelmente estaria rindo da cara dele agora. Quando deitamos na cama, eu já havia perdido todo o sono que me restava.

“Então...” Começou a conversar comigo percebendo que eu não iria dormir tão cedo. “Ainda está doendo?” Ele perguntou enquanto me fitava com aqueles olhos azuis. “Não muito” Respondi me endireitando na cama. Ele respirou fundo e sussurrou: “Estou com tanta raiva daquela vadia, que se ela aparecesse aqui... Agora... Eu juro que a jogaria pela janela sem pensar duas vezes” Riu baixinho e olhando para o teto. “Aliás, não... Eu iria torturá-la ainda mais...” O interrompi. “Não se dê ao trabalho de fazer isso” Disse fazendo carinho em seu pescoço. “Ela não merece que suas mãos fiquem sujas com o sangue dela” disse meio que sem pensar. “Tem razão...” Ele se virou para me encarar “Você estava falando sério quando disse que aceitaria namorar comigo?”. Sorri “Não me lembro de ter dito isso”. Ele sorriu me fitando “Você deu a entender...” e me beijou. Não foi um beijo apressado, muito menos selvagem. Foi um beijo carinhoso, preocupado, saudoso. Sua língua pedia passagem, e cedi. Além do que, não canso de me dizer que ele beija muito bem. “É melhor a gente parar” Ele disse e foi a minha vez de soltar um muxoxo. Depois desse dia eu mereço um descanso, eu apenas queria continuar com ele ali, mas ele me fez dormir.

Estava pensando se eu realmente conseguiria dormir depois desse dia.

“Você vai se arrepender muito por ter feito isso mocinha” Karen disse após o cuspe que recebeu de mim, eu estava com tanta raiva por ela havia mutilado o meu irmão e ele estava gemendo de dor no chão que eu nem percebi que ela tinha chegado e estava prostrada em frente a nós dois, uma raiva me subiu à cabeça e pulei em seu pescoço, arranhando tudo que eu via pela frente. Ela só fazia rir descontroladamente, como se meus arranhões não passassem de afagos em seu corpo esbelto. Ela me segurou com força, como meu pai não estava em casa, ela podia fazer o que bem quisesse conosco, contanto que ele não descobrisse. Eu havia tentado contar a ele alguns milhões de vezes, mas ela não me deixava. Sempre me castigava. Dessa vez não seria diferente. Ela me pôs em frente a ela e desceu a mão em meu rosto, que logo sentir arder como brasa. Mas eu não ia chorar, não daria esse prazer a ela. Karen tinha as mãos fortes e pegou uma das facas de sua coleção, uma pequena e muito fácil de manusear. Ela esticou o objeto até meu rosto e perguntou “Então, onde vai querer? Aqui talvez...” Disse apontando a faça para minha boca “Para parar de ser linguaruda” Ela puxou minha língua e fez um corte nela, não muito profundo, mas pude sentir o gosto amargo do sangue. Luke estava desacordado e não poderia me ajudar. Eu não gritei, não fiz nenhuma expressão assustada, e aquilo a irritou profundamente. Ela deu outro tapa em meu rosto, mas continuei a encará-la. “Ora, está se fazendo de corajosa? Vadia burra” Mais um tapa. Um corte no braço. Um empurrão no sofá. Eu caí com força no móvel, mas não chorei. Ela amarrou seu cinto em minha cintura, me prendendo ao sofá. Tentei escapar, inutilmente. Ela ainda segurava a pequena faca e estava fazendo alguns cortes em meus braços, como se estivesse usando-os como telas de pintura. Aquilo doía bastante. “AAH” Gemi de dor. Não muito alto, e aquilo a irritou, pois ela queria ouvir gritos de pavor. Luke havia acordado e estava prostrado no chão, incapaz de se locomover. “Olha quem acordou... o que acha de assistir ao meu espetáculo, querido?” Ela disse e sujou seu rosto com meu sangue, gargalhando como um bicho. Ela só podia ser doente! Então ela se virou para mim novamente “Quer saber, cansei...” E passou a lâmina em meu rosto. E foi a primeira vez que gritei por causa dela.

“AH!” Levantei assustada.

“Pesadelos?” Charlie disse ainda sonolento ao meu lado.

“Lembranças...” Disse ao perceber que apenas tinha sonhado com algo que já aconteceu. Pus minha mão cheia de unhadas em meu rosto, só para me dar a certeza que não tinha realmente acontecido novamente. Apenas para perceber que eu estava suando frio.

“Hey, calma” Ele disse me abraçando. “foi só um pesadelo ok?” Seu abraço me confortava, mas eu sabia que por mais que eu tentasse, eu nunca iria me esquecer do que já aconteceu. Cada corte ainda me lacerava por dentro. Eu era a Julieta mais azarada do universo, menos – é claro – a original. Me aconcheguei nos braços do meu Romeu e adormeci profundamente.

Sem pesadelos dessa vez.

Amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado, é o oceano nutrido das lágrimas desses amantes. O que mais é o amor? A mais discreta das loucuras, fel que sufoca, doçura que preserva.”

[...]


“Bom dia, Ela ensina as tochas a brilhar! Parece estar suspensa na face da noite, tal qual joia rara na orelha de uma etílope; beleza incalculável, cara demais para ser usada, por demais preciosa para uso terreno!” Acordei com as seguintes palavras ditas por Charlie, que sinceramente estava fazendo muito bem seu papel de Romeu. Ri baixo com meu lindo ‘bom dia’ e pensei que nem que eu vivesse mil anos, eu iria merecê-lo, ele é muito incrível para ser uma pessoa real, embora tenha seus defeitos, sempre me surpreende. E eu posso dizer que adoro suas surpresas.

“Bom dia Romeu, Como chegou aqui, diga-me, por onde veio? Os muros não são fáceis de escalar, e o lugar é mortal para você, se algum de meus parentes o encontrarem” E começamos a fazer nosso próprio ensaio pessoal.

Com as asas do amor, voei sobre eles; não há muros de pedra para o amor, nem seus parentes podem me deter” Ele disse ainda sonolento, mas bem realístico. Como se fosse meu próprio Romeu.

Eles matam você, se o virem” Me levantei e encarei-o. Ele fez o mesmo.

Ai de mim! Há mais risco em seu olhar do que em vinte espadas de seus parentes. Sua doçura é a única barreira ao ódio deles” Ele sorriu torto. Engoli a saliva, tentando-me lembrar qual era a frase seguinte.

“Eh... Por nada deste mundo quero que o vejam” Disse com pouca convicção de que havia acertado a frase, ele fez um aceno que sim com a cabeça.

Tenho o manto da noite para ocultar-me” Ele tocou minha nuca “Se tiver o seu amor, não importa que me vejam” Ele chegou mais perto “Prefiro a morte rápida pelo ódio deles do que a morte lenta...” Sorriu lentamente “Sem o seu amor” e me beijou.

“Own, isso foi tão fofo!” Lexy estava prostrada na frente da porta do meu quarto (digo, o quarto de Luke) e estava com as mãos bem juntinhas, entrelaçadas. Meu irmão estava atrás dela, com um olhar acusador para nós – amantes desafortunados – em sua cama. Pigarreei e ele disfarçou o olhar. “Vocês estavam ensaiando? Mas não há beijos nessa cena” Ele disse desconfiado “Bem, não foi exatamente um ensaio. Apenas estávamos tentando nos adaptar ao ritmo dos ensaios” Charlie explicou. Ok, ele lida muito bem com as palavras, melhor do que eu.

“Acordem queridinhos!” Karen chegou com aquela cara cínica e fingindo muito perfeitamente o papel da boa moça. Menos para nós. Charlie ainda estava com muita raiva dela, e tive que segurá-lo pelo pulso com uma força absurda, que não sei ao certo onde arranjei, embora não sei se surtiu efeito.

“Não dê esse gostinho para ela...” Disse perto de sua orelha.

“Estou tentado a rejeitar sua proposta” Ele respondeu firmemente, sem direcionar seu olhar para mim, o que me deixou um tanto frustrada e um pouco preocupada. O encarei séria, mas ele não pareceu perceber, ainda estava encarando Karen com súbita raiva.

Ela virou, rindo da expressão de Charlie. Não era um riso normal, que uma pessoa feliz daria, uma pessoa sem problemas mentais. Sério. O riso dela arrepiava meus pelos, até o fundo do meu ser. E não era um arrepio bom, como os que Charlie me proporcionava, eram daqueles ruins, de fazer você tremer na base.

“Estamos bem. Não precisa... Se preocupar conosco” Meu irmão deu uma ótima dose do seu sarcasmo básico. Ela fingiu não reparar. Meu pai entrou no quarto com seu pijama meio escalafobético e segurei meu riso com todas minhas forças. Era intrigante o fato de eu me proporcionar a uma risada enquanto ela ainda estava parada em frente à porta do quarto de Luke, como se esperasse o momento certo para dar o bote.

“Bem, acho que podemos fazer um cronograma de atividades que planejei para a semana, o que acha Bill?” Eu não acredito que ela não menciona meu pai como Sr. Benson ou algo do gênero. Bill, nem eu mesma o chamo assim com esse tom de intimidade. Meu pai a encarou “Karen, agradeço sua sugestão, mas queria passar algum tempo a sós com meus filhos” Ele disse isso. Ok, papai pode não saber do que essa víbora é capaz, mas ele não se deixa enganar por esse rostinho santo. Luke soltou uma risadinha irônica que –particularmente- adorei. A cara da Karen é impagável. Fora um misto de dúvida, incredulidade e raiva.

Lexy, que até agora eu tinha me esquecido que estava ali soltou uma risadinha que eu adorava ouvir na minha pequena amiga. Ela estava ajudando Luke a se apoiar – o que achei muito fofo da parte dela – e ele não parecia estar se importando que ela estivesse tão perto dele assim. Ele nunca gostava que uma garota se aproximasse tanto assim, tanto que papai até achou que ele não gostasse da coisa.

Karen ainda estava prostrada de decepção. Eu me segurei para não gargalhar deliciosamente na frente daquela cadela dos infernos.

É claro que eu não falaria com meu pai sobre ela, eu já tentei bastante nos últimos anos. Eu e Luke, embora tenha sido em vão. Sr. Bill não acredita que a tão inocente Karen poderia ser capaz de uma atrocidade pela qual fora acusada por nós, jovens tolos de mentes férteis.

É mais ou menos assim que a mente dele funciona. Mal ele sabe que por detrás daquela aparência imaculada e inofensiva esconde uma criatura asquerosa e psicopata. Acho que se eu não sentisse na própria pele os atos delas, nem eu acreditaria numa história dessas, porém, eu sei a verdadeira face dela. A Karen que eu não poderia desejar o conhecimento nem para meu pior inimigo. Aquela que ri de puro deleite porque uma adolescente está agonizando de dor. Então pensei, será que ela faz isso com outras pessoas além de nós? Quem eu quero enganar, ela parece ser tão experiente com isso, aposto que não somos os primeiros. E talvez nem os últimos, será que existem criancinhas pequenas também? Essa visão de tortura a uma criança me deixa nauseada.

Ela parece perceber, porque ela está olhando diretamente para mim, com aquele ar angelical, mas seus olhos me dizem que o que ela planeja está apenas começando.

Essa semana vai ser inesquecível para todos nós.

[...]

Próximo capítulo: A maldição dos capuleto.

Acordei lamentando por ser segunda feira, aliás, não tão lamentando assim, porque eu poderei passar mais tempo longe da Karen. Meu pai havia dispensado ela já que ele voltou, mas ela não saía de perto dele quase em nenhum momento, o que me irritava.


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Notas finais do capítulo

E aí, estão odiando a Karen? - Espero que sim. AUSHAUHS' Enfim, ela ainda vai causar alguns probleminhas para a pequena - e não tão indefesa - Anny. Aliás, nem posso chamá-la assim, porque só o Charlie pode, né? *w*
Comentem se gostaram, se odiaram, se choveu, se fez calor, se estão com sede, qualquer coisa, façam uma autora - maluca - feliz !
Beijuuuux !



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