Kurt chegou no café e tentou ignorar Nick o dia inteiro. De pedido em pedido o caixa tentava conversar com Kurt, puxar algum assunto, mas o castanho só dava um sorriso torto e arranjava alguma desculpa para sair de fininho, e isso estava cansando ambos os funcionários.

O café fechou mais cedo devido à frente fria que vinha do norte, o movimento abaixou muito e o dono permitiu os garotos a fecharem mais cedo. Kurt fechava as notas enquanto Nick varria e recolhia as cadeiras. O loiro fez seu serviço rápido para poder conversar com Kurt. Se sentou no balcão, de frente para o jovem.

– Você me evitou hoje, acho que até a Sra. Tribbiani percebeu isso. - Sorriu fazendo piada à uma cliente que ia todos os dias no café, mas ficava desatenta a tudo que acontecia.

– E-eu meio que tenho que falar com você. - Disse guardando as notas e caminhando até a porta. Seus pés estavam o matando. Nick acompanhou o castanho enquanto fechava a porta do café. - Isso pode parecer um pouco ironia, já que te ignorei o dia todo.

– Estamos livres. Pode falar agora. - Nick pegou as mãos de Kurt, mas o castanho deu alguns passos para trás. O operador de caixa logo percebeu sobre o que se tratava. – Foi Karofsky? E-eu sei que ele te assustou, que ele te falou pra você ficar longe de mim, mas eu não quero ficar longe de você, Kurt. Ele tem que entender que o que nós tínhamos ficou pra trás.

Era muito mais fácil para Kurt admitir que era por causa de Dave, e não porque estava perdidamente apaixonado por Blaine. Assentiu lentamente, se sentindo ótimo por ter achado uma desculpa e se sentindo péssimo por mentir descaradamente.

– Eu não sei o que dizer... - Encarou o chão. A neve começava a cair.

– É melhor irmos pra casa, ou então vamos acabar virando bonecos de neve. - Nick desconversou, com um sorriso triste no rosto. Kurt começou a andar até seu carro e o loiro o acompanhou.

– Estamos bem? - O outro assentiu. - Você parece tranquilo com tudo isso. - Kurt estranho e Nick gargalhou baixo por alguns segundos.

– Você sabe que não vou desistir de você tão cedo. Ainda acho que não foi coincidência nos conhecermos no café bem quando você precisava de alguém, bem quando eu precisava de alguém. Você pode negar o quanto quiser, mas Karofsky nenhum me assunta. Eu vou lutar por você. - Disse convencido.

Kurt achou aquilo particularmente adorável. Deu um abraço rápido no loiro e entrou no carro. Aquilo não era hora e nem lugar para desencorajar Niccholas, já que ambos estavam quase congelado no estacionamento do café. Ou talvez nem precisariam conversar sobre isso, essa ideia de lutar por Kurt parecia ridicula e nunca iria sair do papel.

Tudo começou no dia seguinte.

Era intervalo, e como todos os outros dias, Kurt se sentou com a turma do coral. A conversa durante o intervalo naquela mesa era algo insano, uma atravessada pela outra. Mercedes, Santana e Quinn conversavam sobre o figurino da peça que estrearia em alguns dias, Mike, Artie e Rory conversavam sobre o filme ninja que passou na televisão na noite passada. Kurt mexia em seu celular, assim como Joe e Sugar.

Blaine pensou em se sentar no lugar vago ao lado de Kurt, mas viu Brittany sentada sozinha em uma mesa no meio da cafeteria enquanto desenhava algo na palma da mão, e seus dedos cheio de esparadrapos. O moreno levantou uma sobrancelha e se sentou ao lado da loira.

– O que você está fazendo, Britt?

– Hoje pela manhã eu lembrei de algo que precisava fazer a tarde, e para não me esquecer colei uma fita no dedo. - Até então Blaine achou normal o que a dançarina dizia. - Então pensei, "e se eu esquecer pra quê a fita é?", então colei uma fita em outro dedo pra me lembrar sobre o que a outra fita era.

– E você fez isso em todos os dedos? - Perguntou segurando o riso.

– Eu precisava me lembrar!

– E por que sua mão está toda rabiscada?

– Porque eu pensei "não seria muito mais fácil eu ter anotado na mão o que eu precisaria lembrar, ao invés de ficar colando esparadrapos nos dedos?".

– Esperto. - Blaine assentiu.

– Então. Mas agora não consigo me lembrar porque colei a primeira fitinha. - Brittany mostrou a palma da mão para Blaine que tinha os dizeres "lembrar que esparadrapo é para lembrar".

Blaine achou aquilo adorável e por alguns segundos quis abraçar a loira, mas ao receber um olhar reprovador de Santana desistiu. Seguiu o olhar da menina até a mesa do coral e tentou colocar seu plano em prática.

– Posso te contar um segredo?

– Eu adoro segredos! - Sorriu, sem tirar os olhos de Santana.

– Eu acho que estou me apaixonando por Kurt.

– Ele também está apaixonado por você. Precisa ver quando você passa no corredor, ele te acompanha com os olhos e solta longos suspiros. - Gargalhou. - Posso te contar um segredo também?

– Claro.

– Eu acho que estou me apaixonando por Santana. - Antes que Blaine pudesse comemorar, a loira interviu. - Somos muitos amigas e eu adoraria sentir o gosto daquele gloss de pêssego que ela sempre passa, mas o Lord Tubbington...

–...Seu gato?

– É, meu gato. Ele entrou em um grupo religioso que prega que relacionamento entre pessoas do mesmo sexo é errado. - Disse um pouco triste.

– Não, Britt. Não é errado se te faz bem! Veja por exemplo eu e Kurt, nos gostamos e tudo está bem.

– Pra vocês, porque na hora que Rachel descobrir que você anda dando uns beijos com o Porcelana, ela vai surtar de vez. - Brittany esboçou um sorriso, ainda com os olhos vidrados na líder de torcida.

– Sabe o que eu ouvi falar? - O tempo de Blaine estava acabando. - Que Santana estava dando aulas para animais de estimação homofóbicos, para aceitarem a felicidade de seus donos. Você poderia falar com ela que está gostando de uma menina e que o Lord T precisa ser educado.

– Isso é maravilhoso. - Abriu um sorriso enorme, finalmente encarando Blaine. - Você acha mesmo que vai funcionar? Da ultima vez que tentei ensinar alguma coisa ao meu gato ele acabou dormindo na cama e eu no chão.

Blaine gargalhou algumas vezes, mas sua atenção foi chamada para a mesa do coral, onde todos gritavam e se divertiam. Uma caloura havia levado alguns balões, uma caixa de bombons e um cartão para um dos estudantes na mesa, e Blaine não gostou de saber quem foi.

– Olha, Kurt conquistando corações. - Quinn gargalhou. Kurt estava vermelho, não sabendo o que fazer. Encarou Blaine, mas o moreno não esboçou nenhuma reação. Pensou algumas vezes e se lembrou de alguém que poderia ter feito isso.

– É do loirinho do café? - Mercedes insistiu.

– Ele tem nome, Mercedes. O nome dele é Nick. - Kurt tentou não esboçar nenhum sorriso com a surpresa, mas não conseguiu. Aquilo era deveras romântico, ainda mais para Kurt.

– O que é isso? - Disse Rachel chegando à mesa curiosa.

– O namorado de Kurt mandou um presente pra ele, e parece que nem é um dia especial nem nada. - Santana provocou. - Quando foi a última vez que o Anderson fez uma coisa dessas pra você? - Rachel abriu a boca, mas a latina foi mais rápida para falar. - Ah, sim, no primeiro mês de namoro quando ele te cantou uma declaração com as cheerios. Isso faz o quê? Dois, três anos? - Sorriu satisfeita.

– Santana! - Kurt repreendeu a menina, que deu de ombros.

– E-eu...

– Não adianta, umpa-lumpa. Até a versão homem de Patti LuPone tem mais romance na vida do que você.

Rachel bateu os pés e saiu pra longe. Kurt soltou um olhar reprovador para Santana, porque ela era a única ali da mesa que sabia do affair de Kurt com Blaine. Mesmo Mercedes, que era a melhor amiga do castanho não sabia. O Hummel rolou os olhos e abriu o cartão.

"Quem desiste é uma pessoa que não confia em si mesmo,

quem hesita é uma pessoa que não consegue expressar o que quer,

quem expressa é, exatamente, quem você precisa ter ao seu lado.

Você não acreditou quando falei que não iria desistir, pois bem, não vou! Espero que isso não tenha sido 'demais'... Beijos, Niccholas. ♥"

Kurt sentiu o olhar de Blaine queimando sobre si, mas até que foi bom o moreno ver isso acontecer, porque quem sabe desse mais valor ao que tem. As aulas depois do intervalo passaram rapidinhas, e logo a sala do coral era preenchida com os alunos. Mr. Shue foi o último a chegar. Kurt e Blaine sentaram lado a lado, apenas Santana percebeu algo demais nisso, o resto nem prestava atenção.

– Mr. Shue? - Rachel levantou a mão e o professor deu o direito de falar. - Por mais que eu esteja adorando as últimas semanas, onde todos fazem alguma coisa e eu não tenho feito nada, gostaria de pedir a permissão de cantar uma música fora do repertório da peça.

– Claro, Rach. É bom para aquecermos. - Sorriu para a baixinha.

– E quando eu pensei que finalmente tínhamos parado de ouvir a voz da anã. - Santana soltou e todos gargalharam baixo, inclusive Blaine. Rachel deu de ombros e acertou a melodia com Brad.

– Antes de eu e Brad começarmos, eu queria avisar que é um dueto meu com Blaine.

– O quê? - Perguntou Blaine, sem ser avisado.

Kurt fez a mesma cara de espanto que o rapaz. A namorada puxou o menino do gel pro meio do palco e começou a cantar.

Right from the start

You were a thief, you stole my heart

– Oh, deus, não. - Kurt pressionou as têmporas, não acreditando que veria o garoto por quem estava apaixonado cantar essa música com a menina que mais odiava atualmente.

And I, your willing victim

I let you see the parts of me

That weren't all that pretty

And with every touch

You fixed them

Blaine tentou não cantar, tentou poupar Kurt de qualquer tipo de constrangimento, mas era sua música favorita e sempre quis cantá-la no coral (com Kurt).

Now you've been talking in your sleep oh oh

Things you never say to me oh oh

Rachel dava voltas em Blaine, tentando fazer uma performance, mas o namorado estava duro igual pedra, não se mexeu um passo. Talvez Santana estivesse certa e a química entre os dois havia acabado.

Tell me that you've had enough

Of our love

Our love

Just give me a reason

Just a little bit's enough

Just a second we're not broken just bent

And we can learn to love again

Kurt tentou segurar, mas teve que rolar os olhos nessa parte. Percebeu o desconforto de Blaine a cantar essa música com Rachel, mas se tinha uma coisa que aprendera em todos esses anos é que nunca se interrompia uma Rachel Berry performando.

It's in the stars

It's been written in the scars on our hearts

We're not broken just bent

And we can learn to love again

Mercedes percebeu os olhares de ódio de Kurt, e não estranhou, afinal não era novidade para a negra que Kurt odiava Rachel e em seu mais profundo desejo queria estar cantando essa música com Blaine, mas a negra estranhou o fato de Kurt olhar de minuto em minuto para Blaine, cobrando alguma atitude. Estranhou Blaine tentar gesticular algo para o castanho. Alguma coisa estava rolando ali.

I'm sorry I don't understand

Where all of this is coming from

I thought that we were fine

Blaine estava se achando ridículo cantando essa música com Rachel, logo com Rachel.

You've been havin' real bad dreams oh oh

You used to lie so close to me oh oh

There's nothing more than empty sheets

Rachel se jogava em Blaine durante a performance. Qualquer um naquela sala de coral podia perceber que a morena pedia desesperadamente por atenção, e Blaine agia como se não quisesse a dar. Finn observava tudo, Blaine de vez enquanto o encarava, mas tudo estava indo conforme o plano os dois garotos. Rachel deveria sentir que Blaine não queria mais nada com ela (ou seja, a verdade).

Between our love, our love

Oh, our love, our love

Kurt revirou os olhos mais uma vez, não sabendo se aguentaria muito tempo com aquele teatrinho. Não sabia se aguentaria muito tempo escondendo seu amor por Blaine.

Just give me a reason

Just a little bit's enough

Just a second we're not broken just bent

And we can learn to love again

– Por favor. - Kurt finalmente se pronunciou. Pegou sua bolsa que estava encostada na cadeira e saiu da sala do coral. Brad continuou no piano porém os cantores haviam parado.

Rachel não sabia porque Kurt tinha saído daquele jeito, provavelmente porque estava irritado de não ser o centro das atenções nessa aula. Blaine sabia, Blaine sentiu que o castanho estava bravo consigo, e por isso precisava falar com Rachel o mais rápido possível.

Mercedes ao ver o amigo correr para fora da sala foi atrás. Santana tentou ignorar o que havia acontecido com alguma piada, mas nenhuma veio à sua cabeça. Brittany encarou Blaine com pena, sabia que ele enfrentaria uma barra.

– Kurt, espera! - Mercedes correu atrás do castanho. Kurt parou no meio do corredor e se virou para se encontrar com a amiga. - O-o que aconteceu ali? - Disse ofegante.

– Se eu te contar um segredo, você promete não contar pra ninguém?