Era quase amanhecer, Kurt revira-se na cama mas nenhuma posição parecia confortável para o Hummel. O jovem sabia o motivo de não conseguir pregar os olhos. Se passasse as mãos pelos lábios sentiria o gosto do beijo de Blaine, sentiria o gosto também de uma traição.

Kurt tinha feito a coisa qual pressionava Blaine. O principal motivo de ter brigado com o moreno foi porque Kurt não queria ser o amante de Blaine, porque achava essa ideia de traição algo repudiável, foi então que aconteceu, agora Kurt era o cafajeste com dois namorados. Isso não deveria acontecer, não deveria mesmo.

Desistiu de tentar pregar os olhos, colocou seu roupão e desceu as escadas, a fim de fazer um café da manhã para si mesmo. Pegou as panelas e os ingredientes sem fazer nenhum ruído e preparou algumas panquecas com molho de caramelo. O estranho é que Kurt também não estava com fome. Metade da refeição acabou indo para um prato na geladeira (qual Finn devoraria ao acordar). Sentou-se à mesa com uma folha de caderno e começou a fazer a coisa mais infantil que conseguiria pensar nessa hora da madrugada, uma lista de prós e contras.

Blaine era baixo demais, isso poderia ser um contra. Gostava de futebol e esportes em geral, outro contra para a lista do moreno. Excesso de gel também foi contado como um defeito, mas tirando essas três coisas, Kurt não conseguia achar mais nada que não gostasse no moreno (além do fato de ser um mentiroso descarado que esconde da escola inteira sua sexualidade, mas isso iria mudar em alguns dias, então Kurt nem se importou em escrever). Passou então para a lista de contras de Nick.

Nick foi ex-namorado de Karofsky, e o próprio jogador ameaçou Kurt a ficar longe do operador de caixa. Bom, Nick fazia algumas piadas sem graça ao longo do trabalho, o que Kurt achava adorável no começo, mas depois começou a ficar monótono. Não conhecia Nick o mesmo tempo que conhecia Blaine, então isso acabou indo para a lista de contras também. Nick tinha o cabelo loiro natural, mas ainda assim pintava todo mês (Kurt era especialista nisso, não precisaria perguntar, conseguia perceber por quilômetros que aquele platinado era falso). Nick tinha mãos pequenas, o que fazia andar de mãos dadas ficar estranho na opinião de Kurt. E... era isso.

Kurt traçou uma linha reta na folha de papel e iniciou a contar os prós de Blaine. Fez questão de grifar melhor beijo como se fosse a coisa mais óbvia de todas. Blaine tinha a capacidade de fazer Kurt viajar durante o beijo, como se estivesse em outro lugar, em outro planeta talvez. Sabia movimentar a língua exatamente como Kurt desejava e suas bocas se encaixavam em uma só. Outro pró era que Blaine estudava na mesma escola, e poderia se ver todos os dias. Blaine tinha carro (isso importava?). O moreno também tinha uma aparência de dar de 10 à 0 em Nick. Não que o loiro fosse feio, mas Blaine... Nossa senhora. Blaine era perfeito. As mãos de Blaine sabiam onde se posicionar em um abraço ou beijo. Blaine era seu sonho adolescente desde quando o viu pela primeira vez. Blaine o contou que faria de tudo para conquistar Kurt. Blaine era mais novo. Blaine era mais baixo de Kurt (isso não era um contra?), Blaine parecia ter os mesmos interesses que o castanho... Blaine...

Foi então que Kurt se lembrou de um contra de Nick que fez tudo ficar mais claro. Nick não era Blaine. E era por Blaine quem Kurt estava apaixonado, por quem suspirava de madrugada e por quem tocava os lábios tentando sentir o beijo do moreno novamente. Nick poderia ter milhares de qualidades, mas ele simplesmente não tinha o que Kurt procurava: ele não era nem um pouco como Blaine.

Se deu por convencido e amassou a folha de caderno rabiscada à sua frente. Isso realmente havia ajudado o castanho. Rolou seus olhos até a janela e viu que já era claro lá fora, fazendo desnecessário dormir. Se arrastou até o banheiro e tomou um banho gelado para acordar, pensando em como faria para ajeitar as coisas.

[...]

Finn acordou cedo porque ajustou seu despertador para uma hora antes, já que não queria ir para a escola dormindo e parecendo um zumbi. Se lembrou do outro dia onde quase bateu o carro por cair no sono durante o trajeto. Suspirou, colocou as pantufas e se arrastou escada abaixo procurando algum sinal de comida. Carole ainda dormia, o que significava que o café da manhã não sairia tão cedo, mas tinha esperança de encontrar alguma coisa na geladeira.

Para a sorte do grandalhão, três panquecas o esperavam. Agarrou a calda e nem fez questão de colocá-las para aquecer, comeu-as assim mesmo. Sentiu um doce sabor de perfeição descer sua garganta lentamente, deus do céu, quem havia feito aquela refeição? Esfregou os olhos, ainda tentando acordar. Deu uns tapas em seu rosto e finalmente estava disposto (a voltar a dormir). Rolou seus olhos e levou até a pia a louça suja. Nem pensou em lavar e caminhou até a sala. Ou pretendia. Uma folha amassada em cima da mesa chamou-lhe a atenção.

Finn esboçou um breve sorriso ao abrí-la. Era lerdo mas não tanto e logo se tratou que era uma lista de prós e contras de Kurt, com quem o castanho deveria ficar. Em baixo do nome de Nick havia breves palavras: "NOT BLAINE". Finn tentou segurar o sorriso, porém não conseguiu. Kurt e Blaine ficariam juntos, o que significaria que Blaine terminaria com Rachel, a deixando totalmente vulnerável para Finn. O plano estava cada dia indo de vento em poupa (quem fala isso nos dias atuais?). Era só uma questão de tempo para ter a baixinha de volta em seus braços.

.:.

Blaine estava uma bagunça; todos notavam. As roupas amassadas, o cabelo com gel do dia anterior, bom, Blaine estava um horror aos olhos dos outros alunos. Andou pelos corredores desejando morte à todos que o olhavam em dúvida. Qual é, só porque se atrasou porque a cama do hotel era deliciosamente confortável não significava que estava horrível, significava?

– Blaine, você está horrível. - Rachel apareceu se abraçando ao braço do mais velho, que suspirou apenas. Nada respondeu. - E parece que está de mau humor também.

– Pois é. - Disse seco, deixando a nariguda com um olhar triste.

– Fui na sua casa ontem a noite. - Blaine gelou e parou imediatamente de andar. Encarou Rachel como se ela fosse a coisa mais importante do mundo. - Coop disse que você estava dormindo.

– E-eu estava cansado. - Engasgou-se com as palavras tirando a atenção de Rachel e voltando a andar.

– Você realmente não está para conversa hoje. - Disse Rachel bufando, saindo batendo os pés pelo corredor. Blaine previu a briga que enfrentaria mais tarde, mas deu de ombros e parou na frente de seu armário.

Queria um minuto de sossego, de tudo e de todos, porém não teve. Assim que fechou a porta deu de cara com Santana encostada no armário e o encarando. Blaine abriu a boca para falar alguma coisa, mas a latina foi mais rápida.

– Você precisa se ajeitar com a Berry. - Blaine rolou os olhos. Já havia ouvido aquela mesma história milhares de vezes. Deu alguns passos, mas Santana segurou seu braço, fazendo-o encará-la. - Eu estou falando sério, Blaine. Finn veio me falar hoje que achou uma lista de prós e contras seus e do loirinho na mesa da cozinha, e Kurt acabou te escolhendo. Você precisa agir rápido para não magoar a Barbra, a versão homem da Bette Midler e a você mesmo. Tive que dar uma desculpa para convencer Finn a esperar mais alguns dias até abrir a boca para a escola inteira!

– E-eu? - Blaine engoliu seco. Seu dia já não estava bom antes, agora... Droga! Havia acabado de se assumir para a família e foi um horror, o que o garantia que na escola seria diferente? Digo, Blaine era o garoto mais popular do colégio - não que ele ligasse pra isso, mas se assumir gay o levaria direto para o fim da pirâmide social que era aquela escola.

– Si-sim, vo-você! - Santana imitou a gaguez do moreno. - E não esqueça de me armar com a Brittany, você prometeu. Eu posso estar sendo muito compreensiva com esse seu teatrinho "mamãe, sou hétero e namoro uma judia de família", mas isso é até o momento que você for conveniente pra mim. Entendeu?

Blaine assentiu rapidamente e Santana largou seu braço, caminhando para longe. Seu rabo de cavalo balançava conforme a latina andava, e isso meio que hipnotizou o moreno. Demorou alguns segundos até Blaine sair do transe e perceber que teria que quebrar a cabeça através de uma solução. Sorriu para si mesmo e caminhou na direção oposta de onde estava indo.

[...]

– Admito que fiquei surpreso ao ver sua mensagem. - O jovem entrou na sala de espanhol vazia (a do segundo andar que era usada apenas uma vez por ano letivo). - Não esperava Blaine Anderson querendo falar comigo.

– Finn, desencana. - Blaine estava sentado em cima da última mesa da sala. Finn deu mais alguns passos e se encostou na mesa à frente do Anderson. - Não faça como se o assunto que temos para falar não o interessasse.

– Tudo bem, Blaine. Gosto desse seu jeito. - Sorriu malvado para o menino de sobrancelhas triangulares. - Continue.

– Você quer Rachel pra você, e eu quero me ver livre dessa cadeia em qual me meti. Meu relacionamento com Kurt não é novidade para você, então vamos pular essa parte. - Blaine se levantou e deu alguns passos, se aproximando de Finn. Deixou o ar "malvado" de lado e voltou a ser o Blaine de sempre, talvez com até algum brilho no olho. - E-eu realmente gosto de Kurt, Finn. E nunca quis magoá-lo...

Finn assentiu para o moreno continuar. - ...E-estou disposto a terminar com Rachel e deixá-la em um caminho que vá até você. Mas pra isso... - Finn o interrompeu.

– Você está tentando me pedir algo em troca? - Desdenhou. - Digamos que a sua situação não seja uma das melhores. De qualquer jeito, você não tem opção. Ou você conta à todos, ou eu conto.

– Sim. - Encarou o chão por breves segundos. - Eu quero a lista de prós e contras de Kurt. - Sorriu para si mesmo.

– Santana te falou dela? - Colocou os braços no ar. - Eu sabia que aquela latina estava compactuando com você! M-mas tudo bem, eu te entrego ela. - Finn revirou os bolsos e achou um papel amassado. Abriu para se certificar que realmente era ele e confirmou, entregando-o para Blaine. - Temos um trato?

– Sim. - Sorriu enfiando o papel amassado no bolso, sem expressar nenhuma reação. Finn por um momento achou que Blaine apenas queria a lista para sumir com algum tipo de prova que ele e Kurt haviam ficado juntos. - V-vou falar com Rachel hoje mesmo.

– Tudo bem. - Finn caminhou até a porta, antes de sair olhou novamente para Blaine. - Desculpe te empurrar pra fora do armário assim, aliás. Mas uma coisa que não suporto é mentiras, e eu precisava disso para ter Rachel de volta nos meus braços.

Blaine jogou um sorriso falso para o grandalhão, que sorriu em retribuição e saiu da sala. O Anderson pôde ouvir seus passos na escada, e logo o silêncio se reinstaurou naquele andar. Esperou alguns segundos para se certificar que Finn não iria voltar e pegou no bolso o papel amassado, desdobrando-o com cuidado para não danificar nenhum pedaço que pudesse atrapalhar a leitura. Passou os olhos rapidamente, e um sorriso brotou em seu rosto. Prometeu a si mesmo que tentaria melhorar nas coisas que estavam citadas no seu lado "contra", mas nada poderia tirar da cabeça aquelas letras enormes escritas "NOT BLAINE" ao lado de Nick.

Se antes já achava que estava apaixonado por Kurt, agora tivera a certeza.