POV SILENA

Foi uma apresentação maravilhosa. Não querendo me gabar, mas eu gostei muito do meu desempenho no palco. E as pessoas gostaram também. Ah, eu tinha muito que agradecer a Apolo por isso, como diz meu pai, ele me deu uma espécie de benção quando eu era pequena. Acho que isso só se revelou agora. Fui pega de surpresa, mas não importava. Eu era assim. Como dizia meu irmão, eu estava cada vez mais parceira. Na verdade eu só gostava de arriscar, sem medo de dar tudo errado. E foi pensando nisso que eu o avistei.

Ele estava num cantinho perto de uma das janelas do Chalé de Poseidon. Seu cabelo loiro, como de costume. Mas o que me deixou paralisada foram seus olhos azuis, a intensidade deles, da qual eu tanto sentia falta. Foram cinco anos sem se ver, as noticias que eu tinha dele eram através de conversas entre meu irmão e o Zeke, onde um passava informações pro outro, sobre conversas pela internet com o Jake.

Eu nunca perguntava dele. Sei lá, não tinha coragem pra tanto. Acho que é por isso que eu topava qualquer parada, porque o que eu mais queria eu não tinha coragem de fazer. Eu sabia que se eu pedisse para os meus pais para ir visitar o Jake eles deixariam. Ainda mais depois dos meus quinze anos, quando eles tiveram a certeza de que eu era responsável e capaz de me virar sozinha. Charlie o visitou uma vez. Mas foi por acaso, ambos tinham ido ver um jogo em uma cidade próxima, e combinaram de se ver. Passaram o dia juntos, e quando meu irmão voltou pra casa eu engoli a vontade de perguntar sobre o Grace.

Charles também não mencionou nada, sinal de que Jake também não perguntou por mim.

Mas quando eu o vi ali, junto com todos os meus amigos, e ao mesmo tempo sozinho, eu não pude evitar. Não consegui fugir mais uma vez. Simplesmente fui até ele e o abracei.

Foi bom.

Acho que a coragem que me faltava, acabara de aparecer.

–Não sabia que você viria – eu disse puxando assunto.

–Pois é, meus pais estavam loucos pra vir, já que a última eles perderam. – ele respondeu. – Foi um belo show, o seu.

–Ah,obrigada. Não vou dizer que eu me esforço, eu só gosto de fazer isso; aí sai. – eu disse sorrindo.

–E pensar que alguns anos atrás eu estava te dando aulas de violão. – ele disse relembrando o passado. Não sei por que, mas gostei por ele ter feito isto. Mostrava que ele ainda se lembrava bem da nossa época juntos.

–Admita Jake, você não tocava lá muito bem não. – eu disse tocando em seu braço.

–O que? Se eu não tocava bem por que você me iludia? Ficava toda feliz com as aulas e parecia se esforçar muito pra tentar, veja bem, tentar fazer um pouco do que eu fazia.

–Mas a questão é que eu era péssima com instrumentos! Por isso eu me esforçava – eu disse rindo, e ele me acompanhou.

–Tudo bem, bom saber que a única aluna que tive na vida me achava um professor horrível.

–Venhamos e convenhamos Jake, eu estava lá pelo professor, ele tocando bem ou não. – eu disse e ele corou.

–O que importa é que agora eu toco bem melhor do que antes, ta? – ele disse ignorando o que eu tinha dito.

–Você vai ter que me provar isso. – eu disse.

–Com certeza, me arrume um violão que eu te mostro! – ele disse todo convencido.

–Aqui não é o melhor lugar pra isso, muita bagunça. Você podia passar lá em casa, comer alguma coisa e tocar. Uma zoeira básica, como nos velhos tempos. – eu disse.

–Pode ser sim, mas não te prometo porque você sabe como meu pai é. Não tenho ideia de quantos dias vamos ficar por aqui, e nem se vamos realmente ficar. Ele pode querer ir embora daqui a pouco.

–Credo! E eu achando que o Jason tinha melhorado nesse ponto! – eu exclamei. – Mas e aí, que tem feito da vida?

–Agora vou pra faculdade, cursar Direito. Enquanto não começam as aulas, faço um pequeno estágio no escritório do meu pai.

–Vai seguir a carreira da família, então?

–Por incrível que pareça sim. – ele disse rindo – Mas e você? Já sabe o que vai fazer? Seu último ano do colégio e tal.

–Sim, na verdade eu sempre soube. Pretendo cursar Biologia. Não decidi uma área especifica ainda, mas tenho certo tempinho pra decidir. – eu respondi.

Ele assentiu. Continuamos conversando sobre várias coisas, e parecia que não tínhamos ficado cinco anos sem se ver.

Quando dei por mim, o Chalé já estava bem vazio, e o movimento lá fora estava meio escasso. Um tempo depois, Charles e Anna Sophia saíram com Ezequiel e acabamos apenas nós dois no Chalé.

Foi aí que o assunto surgiu.

–E você, tá namorando ou algo assim? – ele me perguntou.

–Não. Na verdade nunca namorei ninguém. Tive meus rolos, como dizem, mas nada que durasse mais de umas semanas. – eu respondi na sinceridade. – E você?

–No momento eu estou esperando.

–Esperando?

–Sim.

–Esperando o que Jake?

–Esperando o dia que eu teria coragem de falar pra uma garota o quanto eu ainda gosto dela.

–E por que você não fala?

–Porque eu já levei um fora antes. – ele disse abaixando a cabeça.

Meu coração pareceu falhar. Ele estaria falando de mim?

–E você sabe o por que você levou um fora?- eu resolvi perguntar.

–Não. Na verdade nunca soube. – foi quando ele ergueu a cabeça, e meus olhos se encontraram com a imensidão azul dos dele. –Silena, por que você não me conta porque me deu um fora?

Eu fiquei sem ar por um momento.

Senti meu rosto corar.

–Jake, eu não te dei um fora.

–Como não? – ele perguntou- Silena, nós nos beijamos e quando eu quis conversar sobre isso você me disse pra esquecer e sermos amigos. E depois nunca mais fomos amigos.

–Fomos sim! – eu disse – Amigos nós sempre fomos e sempre seremos Jake. Eu só estava esperando uma iniciativa sua.

–Iniciativa minha? Silena, eu beijei você! – ele exclamou.

–Eu sei, mas eu queria que você dissesse que gostava de mim, que admitisse isso. Não importando o que eu fosse falar, eu estava esperando você se declarar. – confessei. –Mas você nunca fez isso.

–Eu tentei, mas você deixou bem claro que só queria minha amizade! – ele tentou se defender.

–Na verdade Jake, nós dois fomos culpados. Acabamos enrolando as coisas, e deu nisso. Não acho que naquela época, nem eu nem você, tivéssemos cabeça pra algum relacionamento.

–Você tem razão. Como sempre. – ele murmurou e eu sorri.

Nos fitamos por um longo tempo.

–E agora? – eu perguntei.

–E agora o que?

–E agora, que sabemos o porquê não deu em nada antes, quer dizer que agora também não temos futuro? Que depois desses anos afastados, nos tornamos diferentes demais um do outro, e agora não temos capacidade de dar certo? – eu perguntei desesperada.

–Isso só depende de você, Silena. Eu estou aqui. Sempre estive aqui, esperando por você. – ele disse se aproximando.

–Como um idiota que sempre foi. – eu murmurei. – O idiota que eu gostava. E ainda gosto. – eu completei e nisso seus lábios se colaram aos meus, e finalmente, depois de tantos anos pensando nele, tudo estava bem.

POV ANNABETH

A festa tinha sido ótima. Nossas companhias também, foi muito bom rever todos aqueles colegas de Acampamento depois de tanto tempo. Era bom ver que, ainda eram os mesmos. Com o mesmo espírito de heróis. Alguns mais revoltados, como Clarisse, outros mais sacanas como Travis e Connor. Mas, no fundo, todos iguais.

–Passamos bons momentos aqui, não é? – disse Piper.

–Sim. Eu cresci aqui, já passei tanta coisa nesse gramado! – eu disse.

–Impressão minha ou começou o momento depressivo? – Clarisse perguntou.

–Não é depressivo sua ogra! Estamos relembrando. – disse Travis.

–Ogra não! Seu filhote de ladrão! – disse Clarisse dando um tapa no Stoll.

–Calma Clarisse! Foi uma brincadeira. - Chris disse apaziguando a mulher.

–Idiotas. – ela murmurou.

–Mas falando sério, se não fosse esse lugar, não seríamos metade do que somos hoje. – Percy falou.

–Não é que você tem razão, mesmo? – disse Jason.

–Eu só sei que sempre me diverti demais aqui! – Connor exclamou.

–Mas também tivemos nossos momentos tristes, né? – Clarisse murmurou provavelmente se lembrando de certa filha de Afrodite.

–Perdemos pessoas muito importantes pra nós nesses anos. – eu disse.

–Mas também encontramos as que nos fariam felizes pra vida toda! –Léo disse sorrindo.

–Verdade, incrível como se não fosse essa coisa louca dos deuses e tudo o mais, não teríamos nossas almas gêmeas! – Piper disse.

–Espera aí! Eu não tenho alma gêmea! – Connor reclamou.

–Como não seu infeliz? E eu sou o que? – Travis se indignou e todos riram.

–Percy e Annabeth, Jason e Piper, Clarisse e Chris, até o Léo e a Reyna. – Connor disse.

–E você e o Travis cara! Não se esqueça! – Percy disse levando um tapa do Stoll.

Enquanto riamos das brincadeiras entre os homens, ouvi um trotar lento se aproximar. Me virei em direção ao som, e avistei nosso centauro favorito.

–Quíron! – eu exclamei.

–Annabeth. – ele fez uma reverencia. E veio trotando até se colocar de frente a todos nós.

–E aí Quíron? – Léo gritou. – Festinha maneira.

–Léo! – Reyna o cutucou e repreendeu.

–Obrigado meu jovem. Acho que foi do agrado da maioria dos convidados. Mas, esses também já foram embora, sinto que só restaram os campistas que aqui moram agora, e vocês e suas famílias é claro. – ele disse.

–O que houve Quíron? Parece que quer dizer alguma coisa. – eu compreendi e ele sorriu.

–Na verdade, há uma coisa que gostaria de dizer, e este parece ser um bom momento.