A minha relação com o Jasper ficou completamente abalada depois do "verdade ou desafio". No colégio nós não nos víamos a sós, só quando tinha alguém por perto e nesse meio tempo estávamos sempre fingindo. Ele sorria pra mim, segurava a minha mão, tudo como antes, mas assim que ficávamos a sós de novo, sem ninguém para quem fingir, ele ficava frio e se afastava de mim. Eu queria jogá-lo contra a parede e perguntar o motivo, mas eu tinha uma vaga ideia e não queria ter uma D.R., então simplesmente deixei as coisas como estavam, esfriei com ele também e os meses se passaram naquela situação.

Faltavam apenas alguns dias para o recesso de duas semanas, antes de um novo semestre começar, quando o Jasper me chamou num canto.

– O que você quer?

– Eu vou te pedir em casamento. - Ele falou de maneira bem hostil e aquilo me paralisou por algum tempo.

– Co... Como... Quando?

– Logo. Acho importante que você fique surpresa porque, você sabe, as pessoas ficam surpresas quando são pedidas em casamento de verdade. Mas eu pensei que você gostaria de saber, de não ser pega totalmente desprevenida.

– Tudo bem. - Eu disse e me afastei. Fui para a minha próxima aula que, felizmente, eu não fazia com ele.

* * *

– Posso passar na sua casa?

– Claro. Vai por volta das cinco.

Era uma sexta-feira e, finalmente, o último dia do semestre. Todos os anos os alunos do último e do penúltimo ano participavam de um jantar chique, no último dia do semestre, e depois iam para uma festa organizada pelo colégio. Qualquer pessoa podia ir para a festa, mas o jantar era exclusivo para o último e o penúltimo ano. Eu, honestamente, achava aquilo uma baboseira sem tamanho, mas todos os meus amigos iam.

A Bella ia passar na minha casa pra se arrumar (ou para que eu a arrumasse, mais precisamente) e ia dormir lá em casa depois da festa.

Como todo último dia de aula, aquele passou voando e, claro, sem nenhuma aula de verdade. Assim que eu cheguei em casa, almocei e tomei um banho, fui dormir. Porque, afinal de contas, eu tinha certeza que a festa que aconteceria naquela noite não ia terminar antes das quatro da manhã do dia seguinte.

Quando acordei, um pouco mais tarde, a Bella ainda não havia chegado, então aproveitei para separar a minha roupa e a maquiagem, tomei um longo e demorado banho e fiquei vestida apenas com um roupão.

– Toc toc. - Alguém disse em frente à porta do meu quarto.

– Bells! Entra. - Ela entrou e sentou na minha cama. - E aí? Pronta para a transformação?!

– Você gosta mesmo de me fazer de Barbie não, é? - Ela riu, mas sentou-se na cadeira em frente a minha penteadeira.

Só quando ela estava de fato pronta - e linda, diga-se de passagem - é que eu fui me arrumar. Tomei outro banho quente e bem mais rápido, vesti meu roupão outra vez e fui fazer o meu cabelo enquanto conversava com a Bella.

Terminei fazendo um rabo de cavalo alto que eu soltaria na hora da festa, depois do jantar. Meu vestido era dourado e preto, curto e sem alças mas, ainda assim, era bem arrumado.

Quando fui escolher um sapato na minha prateleira cheia deles, antes de encontrar o que queria, avistei o sapato no qual o Jasper havia vomitado na noite em que admitiu estar apaixonado por mim. Instantaneamente uma sensação estranha me atingiu e eu me dei conta de que realmente sentia falta dele. No entanto eu engoli esse sentimento bobo e peguei o sapato que realmente queria, preto e com um salto alto.

Finalmente estávamos todos prontos, então saímos de casa. A Bella foi com o Edward, no carro dele, e eu sozinha no meu.

– Ei, aqui! - Rose acenou, com o Emmett ao seu lado.

Haviam quatro mesas longas, dispostas lado a lado, onde cabiam umas cinquenta pessoas em cada. O lugar era realmente muito arrumado; lustres de cristal pendiam no teto e a decoração - das velas até as toalhas mesa - era dourada como o meu vestido.

Nós sentamos com a Rose e com o Emm e ficamos conversando durante um bom tempo, enquanto o restante das pessoas chegavam.

O jantar já estava para ser iniciado quando eu senti alguém sentar ao meu lado e colocar a mão na minha perna. Eu me virei e era o Jasper. Ele sorriu para mim, mas eu ainda estava atônita. Até aquela manhã ele estava tão frio quanto uma pedra de gelo. Talvez fosse porque nós estávamos em público.

Começaram a servir o jantar e nós comemos. A comida era uma delícia e, pela maior parte do tempo, eu esqueci que o Jasper estava ali. Não o ignorei, apenas esqueci mesmo.

Depois que a última sobremesa foi servida o diretor falou algumas coisas, explicou a localização da festa e estava prestes a nos liberar quando o Jasper levantou e pediu a palavra.

O diretor sorriu como se soubesse de algo e voltou para a sua cadeira. Jasper, por sua vez, levantou-se e estendeu a mão para mim, para que eu fizesse o mesmo, e eu me levantei também.

– Alice. Eu amo o seu nome, eu já te contei isso? - Ele sorriu um pouco sem graça. - Todo esse tempo eu estava por aí, meio perdido, e eu não fazia ideia do que eu queria. Mas agora eu sei o que eu quero, e eu quero você. Sei que às vezes fica um pouco difícil de acreditar nisso, mas eu realmente te quero. Você é tudo o que eu preciso agora e eu não quero ficar longe de você, qualquer distancia parece maior do que realmente é quando se trata de você. Talvez nós sejamos novos demais, talvez isso pareça um pouco precipitado, mas não me importa. A única coisa que importa agora é você. Você quer casar comigo? - Ele tirou uma pequena caixinha do bolso e abriu. Como já era de se esperar, era um anel. O anel mais brilhante que já vi na minha vida.

Eu não ouvi nada mais à princípio, eu só enxergava ele ali. Foi quase como numa cena de filme, onde o foco é só uma pessoa e o resto é só um borrão, um fundo desfocado. Mas aos poucos eu ouvi as pessoas falando de novo, e outras arfando, ainda incrédulas.

Minha reação de surpresa foi ótima, eu tenho certeza, mas eu reagi logo em seguida.

– Sim, eu quero. Eu com certeza quero. - E pulei em seus braços. Ele pareceu surpreso com a minha reação, mas me abraçou forte, e depois colocou o anel em meu dedo. Ele parecia um pouco trêmulo e eu também estava.

– Beija! - Ouvi alguém gritar, e depois mais algumas pessoas. Eu senti o Jasper rindo e então ele beijou minha testa. É claro que não era daquele beijo que as pessoas estavam falando, então houveram protestos até que finalmente nos beijamos da forma que estavam pedindo.

Pra falar a verdade eu e o Jasper não nos beijávamos havia meses, desde o "verdade ou desafio", e eu fiquei surpresa quando me dei conta de que seus lábios eram exatamente da forma que eu lembrava. De fingido aquele beijo não teve absolutamente nada. Eu pude sentir nele toda a paixão que o Jasper disse sentir por mim e receio que tenha demonstrado a que eu sentia também, mesmo que eu não admitisse e que ele não soubesse.

E então nos aplaudiram, nos cumprimentaram e a multidão de alunos de dispersou, cada um pegando o seu carro para ir até o local da festa.

Não vi o Jasper depois do beijo, fui para o meu carro e presumi que o encontraria na festa. Eu queria ter uma conversa com ele.