Ela gostava de Takeru?

Era claro que sim! Eles eram melhores amigos desde que tinha sete anos. Mas será que aquele sentimento de amizade havia se tornado algo ainda mais precioso?

Hikari não sabia responder ao certo. Ela havia prometido a si mesma que passaria cada segundo daquele dia com Tk, mas por causa das palavras de Daisuke, só pensar em vê-lo despertava uma sensação estranha na boca de seu estômago. Por isso, depois que o sinal anunciou o final do recreio, ela seguiu para o telhado da escola onde poderia pensar em paz, longe da influência daquele olhos azuis.

Ao contrário das sua colegas de sala que alegavam a cada semana estarem apaixonadas por um garoto diferente, Hikari nunca sentiu que estava apaixonada por ninguém e isso não foi por falta de pretendentes. O próprio Daisuke foi um que sempre se arrastou pelos encantos da menina. Na verdade, pensando bem, vários rapazes já haviam se declarados para Hikari ao longo dos anos, mas a garota nunca havia correspondindo nenhum deles.

Não que ela fosse admitir para alguém, mas algumas noites a garota se perguntava se havia alguma coisa de errado com ela. O por que ela não conseguia aquela sensação de borboletas no estômago que as amigas sempre descreviam. O pior de tudo é que ela nunca havia se sentido verdadeiramente incomodada por isso, e isso era o que mais a preocupava. Será que, logo ela – uma alma tão boa e carinhosa – era incapaz de amar.

A garota deve ter passado mais tempo do que desejara perdida nos seus pensamentos, porque, quando deu por si, o sinal que anunciava o fim daquele dia letivo soava em alto e bom som. Ela queria sair daquele lugar o mais rápido possível, mas ao vislumbrar Takeru próximo a saída, ela percebeu como aquilo tudo era uma besteira.

Ele era o melhor amigo dela e sempre fora. Independentemente disso, hoje seria o último dias deles juntos e ela o havia jogado fora por uma bando de dúvidas inúteis. Para concertar esse erro ela seguiu confiante na direção dele. Quando ele notou que ela se aproximava, o garoto abriu um de seus famosos sorrisos,  e a garota sentiu algumas das partes congelarem diante desse gesto tão costumeiro. As palmas das mãos dela suavam enquanto ele vinha caminhando em sua direção e cada passo dele parecia se sincronizar com uma batida do coração dela.

“Hikari-Chan, você vai fazer alguma coisa hoje mais tarde?” Perguntou ele, naturalmente, parando em frente a ela.

“ Você não tem que arrumar as malas?” Apesar de terem sido essas palavras que saíram de sua boca, Hikari se repreendeu delas assim que saíram de sua boca, pois essas soaram tão frias e indiferentes.

“Já guardei tudo.” Respondeu ele com um sorriso triste, Hikari sentiu um aperto no peito porque não gostava daquela expressão no rosto dele. “Além disso...” O garoto pareceu hesitar. “Eu tenho uma coisa muito importante que eu preciso te contar.”

O que será que era? Ela e Takeru não guardavam nenhum segredo um do outro. Ou pelo menos ela achava que sim até aquele momento...

 “Ok. Nos encontramos aonde?”

“No mesmo lugar de sempre.” Ele respondeu. Por um segundo o menino sentiu um impulso muito grande em ajeitar a mecha rebelde na cabeleira morena, mas controlou-se com medo de que tal gesto pudesse assustar a menina.

Ambos queriam passar mais tempo juntos, só que infelizmente tiveram que se separar rapidamente visto que suas casas ficavam em direções opostas. Quando chegou em casa os pensamentos de Hikari  estava ainda mais confusos, se é que isso era possível.

Taichi que estava deitado no sofá vendo algum programa sobre algum esporte idiota o qual Hikari não ligava a mínima. Na verdade, o irmão percebeu que ela não prestava atenção em nada quando acidentalmente colidiu seu pé contra um dos pés da mesa logo depois de ter esbarrado em uma das paredes.

“Você tá bem, Hikari?” Taichi sabia seria uma pergunta retórica considerando que ele sabia muito bem que dia era aquele. Mas achou que esse seria o jeito mais fácil de abordar o assunto que incomodava tanto a irmã. Primeiramente, ela não respondeu nada, sentou-se do lado do irmão. Seu semblante era pensativo e melancólico o que aumentava muito a preocupação do mais velho.

“Taichi-Nii-Chan, naquele dia, porque você deduziu que eu estava chateada por causa do Tk?”

Taichi hesitou antes de responder aquela pergunta. Poderia simplesmente responder com toda a sinceridade do mundo, falar como era óbvio que existiam sentimentos muito mais fortes entre a irmã e o loiro do que uma simples amizade. O problema é que ele duvidava que a própria, com sua inocência e mania de idealizar as coisas, tivesse consciência desse fato. E, para piorar tudo, talvez se ela se desse conta agora, a situação ficaria muito mais complicada do que já estava.

“Bem, ele é seu melhor amigo.” Respondeu ele optando pela mentira.

“Mas se ele MESMO é o meu melhor amigo...” Hikari sentiu um aperto muito grande no peito ao perceber que nem ela mesma parecia acreditar naquilo “...Porque eu ficaria triste por ele ter arranjado uma namorada?”

Ele não tinha certeza se deveria responder ou não, pois parecia que ela estava perguntando isso mais para ela mesma do que para ele.

“Desde muito pequenos você e o Takeru tem um relação muito especial...” Começou ele com cuidado, mas ele não precisou completar o que tinha a falar. Aquelas poucas palavras foram suficientes para fazer com que Hikari se sentisse a maior idiota do mundo.

O irmão parou de falar quando viu as lágrimas rolando pelo rosto da menina, ele pôs seu braço ao redor dela para conforta-la. Hikari não se sentia capaz de proferir nenhuma só palavra. Pois ela finalmente havia percebido: Ela e Takeru, desde sempre.

Essa era a razão pela qual ela nunca sentira nada mais especial por qualquer outra pessoa e também a razão pela qual ela não notara seus sentimentos. Porque, nunca nada mudara.

Não havia uma época de que sua vida que a menina não recordasse de um par de olhos azuis que pareciam de criar uma barreira de esperança que tornava todo o seu mundo um lugar mais feliz.

Elas se sentia uma idiota por nunca ter percebido o que estava bem na sua frente. Daisuke estava certo:

Ela amava Takeru.

Sempre amou.