Just a girl escrita por Emilly


Capítulo 4
Primeira conversa




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Narrado por Alícia:

Depois de alguns minutos fitando a lamina, a guardei.
- Não, eu não vou fazer isso! Pelo menos... não agora. - Disse a mim mesma. 
Fui pro meu quarto e abri a janela. O dia estava muito quente, e eu não estava mais aguentando ficar de blusa moletom o tempo inteiro, minha tia não esta em casa, e o pessoal da escola não mora por aqui, acho que não teria problema colocar uma blusa normal então. 
Tomei um banho, e fui até o meu guarda roupa. Vesti uma camiseta e um shorts não muito curto. Passei o protetor solar. Não iria entrar no mar, apenas andar pela areia pra variar um pouco, já que passei as férias inteiras trancada dentro de casa acho que isso vai ser bom pra mim. Fui até a praia e caminhei pela areia. A melhor sensação do mundo agora, era escutar o barulho do mar. Olhei para a marca dos cortes nos meus braços e algumas sicatrizer em minhas pernas, preocupada em que alguém visse, me sentei em uma rocha. Moro no fim da praia, onde as ondas se quebram nas rochas, e apenas poucas pessoas vão a essa parte da praia.
- Alícia? - Escutei uma voz conhecida e olhei para o lado.
- O que foi? - Perguntei, olhando novamente para o mar.
Era aquele garoto novo da escola, eu não fazia ideia de que me encontraria aqui.
- Nada. - Ele disse se sentando ao meu lado.
- Como sabe meu nome? - Perguntei, sem demonstrar nenhuma emoção.
- Natalia me contou. - Ele disse.
Ficamos em um completo silencio, por vários minutos, até que ele decidi quebrar.
- Você fez alguma coisa pra Natalia? Ela parece não gostar muito de você. - Percebi que ele me fitou.
- Não. - Respondi ainda olhando para o vazio.
Percebi que ele fitou o meu pulso.
- Você se corta? Porq...
- Odeio ser questionada. - Falei friamente antes que ele terminasse a frase.
Não é que eu não gostasse dele, mas eu tenho medo de ser julgada novamente, como sempre aconteceu. Antes a garotinha gordinha, sofreu de anorexia e hoje tem bulimia. Estou a baixo do peso, mas não da para se perceber muito isso. Me corto para talvez me sentir melhor, desde que comecei, não consigo mais parar. Tenho medo de dizer a alguém pelo que passo, medo de ser julgada novamente.

Narrado por Gabriel:

Assim que saí de casa, vi Alícia sentada em algumas rochas, onde as ondas se quebravam e ela estava sozinha. Me aproximei dela e tentei puxar assunto, mas ela sempre respondia friamente.
- Desculpa, não queria me intrometer na sua vida. - Falei.
- Ok. - Ela respondeu.
Seu pulso estava cheio de cicatrizes e alguns cortes ainda não cicatrizados. Mesmo não a conhecendo, mesmo não sabendo nem a idade dessa garota, alguma coisa dizia que eu tinha que ajuda-la, alguma coisa me dizia que ela estava implorando por socorro, mesmo sem dizer uma palavra. Coloquei minha mão na sua e ela me olhou, e tirou sua mão e colocou no seu colo, e percebi que suas coxas também estão com cicatrizes.
- Não quero me meter na sua vida, mas... por que se corta? Tem alguma coisa a incomodando? - Perguntei.
- Já disse que odeio ser questionada. - Ela respondeu e olhou para o nada novamente.
- Você é sempre difícil assim?
- Na maioria das vezes.
- É fria comigo, porque não gosta de mim?
- Não, sou fria com todos.
- Não vou nem perguntar por que, sei que você odeio ser questionada. - Falei e ela sorriu de leve, tentou esconder, mas eu percebi.
Ficamos em silêncio novamente, era difícil conversar com ela, confesso, mas fico feliz por ter conseguido arrancar um sorriso seu.
- Eu já vou indo. - Ela disse se levantando.
- Sua casa fica longe daqui? - Falei caminhando junto a ela pela areia perto do mar, onde a água molhava apenas nosso pés.
- Não. - Ela disse olhando pro vazio.
- Desculpa em ser curioso demais. - Falei.
- Ok. - Ela disse.
- E o corte da boca? Ainda dói.
- Não.
- Quer companhia até sua casa? 
- Não precisa, já me acostumei em ficar sozinha.
- Não sente falta de alguém com você?
Perguntei e ela ficou em silêncio e fitou o chão.
- Tchau. - Ela disse, andando um pouco mais rápido.
Fiquei parado e a observei ir.


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