Acabei adormecendo, e as palavras escritas na ultima página do bloquinho não saiam da minha cabeça. Lembro das vezes que ele me fez sorrir, e se não fosse por ele e Lysandre, eu poderia estar morta agora. A ideia de morte ainda me "agrada" um pouco, mas eu fico feliz de ter sobrevivido até agora, e pude conhecer esses dois garotos que eu tanto amo.
Acordei na manhã seguinte e me arrumei pra escola. Não vi Anny pela casa, bem, melhor assim. Quando deu a hora, fechei a porta da frente e fui andando até a escola. Chegando lá, fui direto ao meu armário pegar alguns livros pra primeira aula. Ao abri-lo, um pedaço de papel caiu ao chão.
– O que será?
Peguei o papel que estava dobrado ao meio, e o abri.
"Me encontre hoje na praia depois da aula. Gabriel."
O dobrei novamente e coloquei dentro do meu fixário. O que será que ele quer comigo?
– Oi, minha pequena. - Lysandre apareceu do nada e me deu um beijo na bochecha.
– Oi, Lysandre. - Tentei sorrir.
Ele sorriu meio sem jeito e me entregou um envelope.
– O que é? - O olhei.
– Abra, e descubra. - Ele sorriu meio sem jeito.
Abri o envelope, e tirei uma folha dobrada de dentro, então a desdobrei.
– Que lindo, Lys! - Falei maravilhada olhando para o desenho.– Espera, s-sou eu? - Falei o olhando e sorri.
– Sim.
– Obrigada, ficou, perfeito. - O abracei.
– Sério?
– Claro, você desenha muito bem.
– Igual a você. - Ele disse e eu sorri.
O guardei dentro do meu fichário, e o sinal bateu. Me despedi de Lysandre e fui pra sala. Me sentei no lugar de sempre, e havia uma rosa em cima da carteira.
– Por que isso esta aqui? - A peguei sem entender e tinha um papel em baixo da mesma. O peguei e o abri.
"Eu te amo muito, minha princesa. Espero que me perdoe. Gabriel"
Rapidamente olhei em direção de onde ele estava e ele sorriu. Virei o rosto e me sentei, muito envergonhada. O que deu nele? Ele esta louco? Espera... A caligrafia desse bilhete e diferente do que eu encontrei no meu armário. Peguei os dois e comparei a letra. É diferente, mas assinaram como "Gabriel", quem foi que colocou isso no meu armário? Bom, mais tarde eu descubro.
Fitei a rosa que estava em minha mãos, e sorri sem entender. Essa era a sua maneira de tentar se desculpar comigo? Esta tudo tão confuso agora... Até a alguns meses atrás, eu ficava sozinha a todo momento, chorava e era humilhada diversas vezes por várias pessoas, não conversava com ninguém e meu sorriso era a coisa mais rara do mundo, bem... isso até eu conhece-lo. Gabriel conseguiu transformar a minha vida de uma maneira que até hoje eu não sei explicar. É incrível a forma que ele consegue me fazer sorrir. É difícil explicar, mas ele me faz bem e faz mal, ao mesmo tempo.
As aulas passaram rápido. Assim que o sinal bateu, peguei minhas coisas e fui pra casa. A pergunta que não saia da minha mente era: "Quem mandou aquele bilhete, e por quê assinou como se fosse o Gabriel?" Eu não consigo entender, mas não tenho um bom pressentimento. Apenas me troquei e fui até a praia, assim como estava no bilhete.
– Olha só quem chegou.
– Eu sabia que não tinha sido o Gabriel. O que você quer, Natalia?
– Quero que pague por tudo que me fez!
– Como assim?
– Não se faça de sonsa, Alícia! - Ela gritou, e algumas lágrimas escorreram pelo seu rosto.
Não entendi aquela reação, o que havia acontecido pra ela ficar desse jeito?
– Do que esta falando, Natalia? Eu naõ me lembro de ter feito nada a você!
– Foi no fundamental, 4 série. Nós duas estávamos na mesma sala. Eu era apaixonada pelo Breno. - Breno, é um garoto da nossa sala - Não era um simples amor de infância, era uma coisa mais forte do que isso. Eu sempre me arrumava toda ao acordar, apenas para que ele me notasse na escola. - Ela sorriu e olhou pro chão. - Eu gostava mesmo dele, e sempre sonhava acordada com o dia, em que ele iria notar a minha existência. Eu o observava de longe, e algumas vezes eu percebia que ele mantinha os olhos fixos a você. Eu não entendia. Você era a mais gorda e zoada da sala, e eu a mais bonita. Eu não entendia o por quê de sempre ele olhar pra você com os olhos brilhando, sempre que os garotos mexiam com você, ele te defendia e eu não gostava disso.
– E-eu... eu não sabia disso. Eu pensava que ele me defendia como defenderia qualquer um.
– Não. Com o passar do tempo, me tornei amiga dele, e ele se abriu pra mim a 2 ano atrás. Ele disse que estava apaixonado por você. - Ela começou a chorar ainda mais. - Eu não sabia como reagir, e comecei a te odiar. Eu te odiava mais a cada dia que passava. Eu sentia como se você tivesse roubando ele de mim, mesmo ele nunca ter sido meu. - Natalia colocou as duas mãos no rosto.
Não pensei, apenas a abracei.
– Se gostava do Breno, por que ficava dando em cima do Gabriel?
– Eu sabia que você gostava dele, e eu queria que você sentisse o mesmo que eu senti, mas não deu certo. Gabriel não dava bola pra mim, eu sou uma idiota.
Nos sentamos na areia.
– Natalia, é por isso que você me persegue?
– Sim, sempre que o Breno não esta por perto, eu tento fazer da sua vida um inferno. Eu sou muito idiota. Eu queria ser igual a você, queria desenhar tão bem quanto você desenha, e queria ter o amor de Breno pra mim. - Ela se levantou e secou as lágrimas com a mão. - Eu nem sei por que estou te dizendo isso. Acho que devo aceitar que perdi.
– Não, Natalia. Você não perdeu nada. Eu amo o Gabriel e não quero nada com o Breno. Eu não sei o que ele vê em uma garota tão idiota quanto eu.
– O que você vai fazer?
– Eu vou conversar com ele, pode ficar tranquila.
– M-me desculpa, Alícia. Por tudo que eu te fiz. Eu não sou nada daquilo que aparento ser, não sou má, eu só fazia isso por raiva e ciúmes, por impulso... Eu sou completamente diferente do que você acha que sou, espero que possa me perdoar um dia. - Ela sorriu e foi embora meio sem jeito.
Eu não falei antes, mas quando eu estava no primário, quando eu era zoada por alguém, Breno sempre me defendia, mas eu nunca olhei ele diferente, nunca tinha me apaixonado por alguém, antes de conhecer o Gabriel. Nunca imaginei que esse era o único motivo pelo qual a Natalia me odiava.
FLASH-BACK ON:
– Não acha que ta na hora de fazer um regime, Alícia? - Um garoto disse e todos riram. Ele estava prestes a me empurrar, quando um garoto entrou na minha frente.
– Não encosta nela!
– O que deu em você, Breno? Sai da frente!
– Não! Deixa a Alícia em paz!
FLASH-BACK OFF.