Minhas aulas voltam amanhã, mas confesso que não estou nem um pouco animada pra voltar pra escola. Eu gosto muito de estudar, mas só de pensar nas humilhações do ano passado, voltar a escola já me desanima. Passei as férias inteiras trancada dentro de casa, já que não tenho amigos pra sair e me divestir, acho que eu nem sei mais o que é diversão nesses ultimos dois anos. Minha única companhia é Teddy, meu ursinho de pelúcia. Eu sei que pode parecer idiota conversar com um brinquedo, mas ele é minha única campanhia. Perdi meus pais em um acidente de carro, e minha mãe me deu Teddy um dia antes da tragédia. Moro com minha tia, mas ela passa o dia inteiro fora, e as vezes a noite também, por isso me sinto muito solitária e sinto como se Teddy fosse minha única companhia. Eu confesso que gostaria de ter alguém aqui comigo, um amigo em quem eu possa confiar, o que eu acho muito dificil. Como sempre estou deitada na cama abraçado com Teddy e com vários pensamentos em minha mente. Eu temo o amanhã, eu temo voltar a escola, lá só me trás más lembranças. Já são quase 23:00, e daqui a pouco minha tia vem me mandar dormir. Ela geralmente fala apenas o básico comigo, um "oi", "tchau", "bom dia" e assim por diante, por isso nem faço questão de querer conversar com ela. Me levantei da cama e fui até o banheiro e joguei uma água no meu rosto e escovei os dentes. Apaguei a luz e abraçei Teddy, amanhã a mesma rotina voltará novamente, as provocações e as humilhações, a rotina difícil de sempre. Quero que meus 18 anos chegem logo, assim poderia logo acabar com esse sofrimento.

Acordei com o despertador tocando. O desliguei e me levantei. Fui até o banheiro sonolenta, levando uma toalha junto comigo. Abri o chuveiro e tomei um banho, os cortes dos meus braços ainda estavam doendo muito quando a água batia, mas eu já aprendi a aguentar isso, afinal, acontece sempre. Assim que terminei, voltei pro quarto e vesti uma calça jeans, uma blusa de moletom e calcei um all star. Não estava frio lá fora, o sol estava brilhando, sinal de que o dia hoje, vai fazer calor, mas eu me visto assim para evitar que vejam meus cortes. Deixei meu cabelo solto e peguei meu fichário. Minha tia não devia estar em casa, como sempre. Vou pra escola sem comer nada, na verdade evito sempre comer, mas quando bate a fome eu como compulsivamente e depois coloco tudo pra fora, se minha tia soubesse disso ela te teria me mandando para alguma clínica, mas ela não sabe, por seu muito ausente na minha vida. 
Assim que deu a hora, fechei a porta da frente e fui até a escola. Cheguei lá e me sentei no chão do pátio, ao lado da parede, peguei meu caderno de desenho e um lápis e comecei a desenhar, como sempre fazia. Eu não sei se desenho bem ou não, afinal, ninguém nunca viu meus desenhos e não pretendo mostra-los a ninguém. Levantei um pouco o olhar e observei as pessoas pelo pátio. Vi Natalia conversando com um garoto que eu nunca tinha visto antes, coitado com certeza vai ser mais um na lista dela. Voltei a desenhar e rezei para que ninguém que gosta de me zoar, notasse a minha presença.