Riley estava copiando da lousa as anotações de física, atenta como a aluna aplicada que era, porém não conseguia parar de pensar sobre os acontecimentos da noite passada. Na sua mente, tudo não passava de borrões, de tão exausta que estava.

Hoje, ela havia acordado de um sono profundo e longo, sentindo suas forças renovadas e um pouco mais descansada. Espreguiçou-se, mas logo se deu conta de que o despertador não havia tocado, e uma onda instantânea de pânico a tomou, até que viu sua mãe ajoelhada ao lado do sofá-cama da sala, sorrindo calmamente para ela.

– Mãe? O que a senhora.....

– Fique tranquila, minha filha. Eu deixei você dormir até mais tarde hoje, e já liguei para sua escola.

– Mas...

– Um garoto muito educado deixou você aqui ontem à noite, e Kit me disse que você não parecia nada bem.

– Um garoto? – os eventos de ontem a noite voltaram como flashes, e ela se lembrou do esbarrão com Ward.

– Não se preocupe, filha – sua mãe disse, levantando-se com certa dificuldade. – Leve o tempo que precisar.

“Então ele me deixou em casa,” pensava ela, cada vez mais confusa e surpresa. “Bom, talvez eu só não esteja acostumada com esse tipo de gentileza. Preciso parar de me entupir de tanto serviço, mal está dando para organizar os estudos!”

O sinal para o intervalo bateu, e Riley pegou a pequena sacola que guardava o cachecol de Ward, que ele havia emprestado para a menina se agasalhar na noite anterior. Seguiu para o pátio, à procura do garoto.

– Hanna, sabe aonde posso encontrar Ward?

Hanna ergueu uma sobrancelha em descrença. Nunca, mesmo depois que Hanna havia começado a namorar Robert, o popular jogador de rúgbi e um dos melhores amigos de Ward, ela havia ouvido Riley perguntar sobre um garoto. Ainda mais sobre o garoto que recebia e recusava cantadas e declarações diariamente no colégio.

– Quem é você e o que fez com a Riley?! – Hanna disse, se esforçando em sua melhor expressão de espantada.

Hanna estava sentada com duas outras meninas no quintal do pátio, e Riley falava um pouco de pressa.

– Por favor, Hanna! Só que preciso entregar algo a ele e....

– Desculpe mas... estou perdendo alguma coisa?

– Você sabe onde ele está ou não?

Hanna riu e apontou para cima.

– Se quiser achá-lo, suba até o terraço. Ele sempre se esconde por lá.

Riley agradeceu, e logo já estava empurrando a porta da escada de incêndio no último andar. O sol parecia mais claro lá de cima, e uma brisa contínua balançava os cabelos loiros do garoto sentado na beirada.

Ward estava de costas, apoiando-se com as mãos no concreto. Suas costas bem definidas eram destacadas pela camisa branca de linho. Seu paletó estava jogado ao lado.

Riley aproximou-se e forçou limpar a garganta, para chamar sua atenção. Ele virou o rosto para ela, indiferente. Ela corou um pouco ao reparar nos seus olhos incrivelmente verdes, mas logo mudou a direção do olhar para o pátio do colégio embaixo e a cidade, à frente.

– Por que você não espalhou para todos? – ela não soava nem um pouco brava, apenas cheia de curiosidade. – Porque você não contou a ninguém?

– Talvez porque queira guardar você só para mim. – ele respondeu, calmo, alguns instantes depois. - E ver você como maid não seria exclusivo se todos soubessem.

Ward abriu um largo sorriso, o que a fez corar imensamente. Riley desviou o rosto quando notou uma pontada de malícia na sua voz extremamente tranquila.

– Bom, não importa. – Riley esticou a sacola para ele. – Aqui está seu cachecol. Muito obrigada por ter me ajudado ontem, eu realmente não sei se conseguiria....

– Você não poderia, nem se quisesse, aguentar tudo sozinha. – ele a interrompeu, olhando sério para frente. – Deveria pensar mais se ainda quiser manter essa rotina maluca e passar mal mais vezes.

Riley suspirou, sabendo que ele tinha razão.

– Sei disso. Mas obrigada mesmo assim. – estava se virando para ir embora, quando se lembrou de algo. – A propósito, você poderia pensar em algo para retribuir o favor?

Ward virou a cabeça para olhá-la.

– Odeio dever favores, então por favor pense em algo para recompensá-lo.

– Acho que já tenho algo em mente.... – ele sorriu maliciosamente.

– Puxa, já pensou? Então me diga.

– Você seria minha maid particular por um dia?

– O QUE?!

Ele riu com a expressão de pânico dela, então apenas levantou-se, pegou seu paletó marinho e jogou nas costas.

– Deixe isso para mais tarde – Ward chegou bem perto dela, e antes de sair pela porta, sorriu. – Posso cobrar o favor quando for mais apropriado.

E saiu, deixando Riley de queixo caído.