CAPÍTULO 33

Observava a expressão descrente de Jacob enquanto minha mente processava uma explicação plausível para o que acabava de acontecer. Era impossível ele ter adquirido poderes. Mais impossível ainda era serem os meus poderes.

Nada fazia sentido até que eu bati os olhos na correntinha no pescoço dele e uma única palavra praticamente dançou na minha cabeça: Aine.

-- Temos que ver a Vovó. – levantei da cama apressadamente e o puxei pelo braço.

-- E o que ela tem a ver com isso?!

-- Tudo! Ela anda cheia de segredinhos e sempre que eu peço pra me contar algo, fica cheia de rodeios. Mas hoje a Vovó vai ter que desembuchar. – olhei pra ele esperançosa.

-- Posso pelo menos trocar de roupa?! – olhei para seu corpo: peito desnudo mostrando o tanquinho perfeito e uma calça de moletom.

-- Pra quê?! Tá perfeito assim. – lhe dei um selinho. – Além disso, estamos na sua casa! Vovó está ao lado. – o levei para fora e rapidamente chegamos ao nosso destino.

Encontramos Vovó Aine sentada numa poltrona na varanda que dava para os fundos da casa.

-- E aí Vó?! – Jake a cumprimentou com um beijo na bochecha.

-- Bom Dia Vovó. – sentei-me na cadeira de frente pra ela e esperei Jake fazer o mesmo.

-- Então Eduarda, o que a trás aqui?

-- A senhora sabe! – elevei minha voz. – Há meses eu tenho perguntado a mesma a coisa e a senhora me dá apenas respostas evasivas!

-- Duda... – Jake segurou minha mão pedindo silenciosamente para que eu me tranquilizasse.

-- Não! – olhei para ele e virei-me novamente para Vovó Aine. – Sabia que o Jake quase enlouqueceu agora a pouco? Isso mesmo. De repente ele consegue escutar os pensamentos de toda La Push.

-- Sente-se e fique calma. Eu ainda sou sua avó. – me respondeu tranquilamente. – Eu já disse pra você uma vez e irei repetir: Não posso dar todas as respostas. Terá... Terão que descobrir sozinhos. – olhou para nós. – Mas como você é impaciente, - me olhou – posso lhes contar uma historinha.

-- Vovó...

-- Silêncio! – recostou-se relaxadamente na poltrona e avistou o horizonte. – Sabia que as mulheres celtas podiam escolher seus maridos? Bom... Nem sempre era assim, mas, basicamente, tudo o que elas possuíam era dividido igualmente com seus maridos e vice e versa. Com as guerreiras ocorria a mesma coisa. Porém existia uma guerreira diferente das outras. – me olhou sugestivamente.

“Astrid possuía algumas... Peculiaridades. Quando a deusa Morrighan lhe concedeu formas de destruir os inimigos de seu povo ela avisou que a moça deveria casar-se apenas com seu Anam Cara, em outras palavras, seu irmão de alma. Astrid não entendeu como poderia encontrar seu Anam Cara, já que poucos tinham esse privilégio, e também não soube como se casaria com um amigo. A deusa então revelou um segredo.”

-- Que segredo?! – perguntei deixando a curiosidade me controlar.

-- E o que é esse Anam Cara? – Jake questionou.

-- Se me deixarem terminar, com certeza descobrirão. – sorriu. – Continuando. Anam Cara é uma espécie de alma gêmea. Dizem que todas as almas no momento da criação são divididas em duas partes. Todas se tornam Anam Cara de sua outra metade, mas algumas possuem além da amizade o amor entre homem e mulher. Essas almas, apesar da dádiva que receberam, enfrentam diversos obstáculos para se unirem à suas metades. Têm que provar que são dignas dessa benção.

“Astrid tinha esse tipo de Anam Cara e só poderia se casar com ele porque no momento em que eles se tornassem íntimos ela não dividiria só os bens materiais, mas também os seus poderes, sua vida, seus segredos.”

-- E se ela... – engoli em seco antes de prosseguir. – Se deitasse com outros homens?

-- Nada aconteceria. Astrid compartilharia esses dons apenas com seu companheiro verdadeiro. – soltei o ar que nem percebi que estava prendendo. – E para ajudá-la, Morrighan lhe deu um colar. Era uma correntinha simples, – apontou para o pescoço do Jake. – mas com um pingente que carregava todo o significado de Anam Cara: Amizade.

-- Isso significa que o mesmo ocorreu comigo e com o Jake?!

-- Eu só contei uma história. Vocês decidem se ela se encaixa ou não em suas vidas.

Falando isso ergueu-se da poltrona e entrou para dentro de casa nos deixando sozinhos.

-- Não acredito.

-- Não acredita em quê? Nessa ideia maluca da Vovó ou no fato de que provavelmente somos almas gêmeas estranhas e que todos os meus poderes passaram pra você? – perguntei usando todo o sarcasmo possível.

-- Acho que nos dois. – me abraçou fortemente e eu descansei a cabeça em seu ombro.

-- Estou com medo.

-- Medo de quê?

-- De tudo. Tenho certeza que existe algo a mais nessa história. Algo que provavelmente irá afetar nossas vidas. Não quero ficar longe de você.

-- Não vai ficar. – segurou meu queixo deixando nossos olhos na mesma altura. – Um dia eu prometi ficar sempre ao seu lado Duda, só que como amigo. Agora eu prometo estar sempre ao seu lado como amigo, companheiro, amante. Eu nunca vou te deixar Duda, haja o houver.