CAPÍTULO 27

Nove horas em ponto eu estava arrumado, perfumado e sentado em uma mesa do Peking Bar’s esperando a Duda chegar. Tudo bem que banho eu tomava todo dia, mas não era todo dia que ela me chamava pra sair!

O bar não estava muito movimentado devido ao frio anormal que estava fazendo. Só pessoas loucas, ou que não sentiam frio, sairiam de casa à noite. Eu me enquadrava no segundo grupo e as que restaram estavam tão agasalhadas que só podíamos ver os olhos e o nariz de fora.

Além do caixa ao lado do balcão de bebidas e da cozinha escondida atrás da porta de correr, o bar tinha uma pista de dança, um palco onde provavelmente alguma banda tocava e o famoso karaokê, para os corajosos passarem vergonha na frente de desconhecidos.

Com cinco minutos de espera eu comecei a batucar os dedos na mesa de nervosismo. Afinal, por que eu estava daquele jeito? Até parece que eu nunca fiquei sozinho com a Duda! Nós já havíamos até dormido juntos! Mas quando isso aconteceu eu não sabia que era apaixonado por ela.

Comecei olhar a meu redor procurando por ela. Talvez Duda já estivesse ali e eu com toda a ansiedade não havia me dado conta. Claro que isso era uma desculpa que meu cérebro usava para justificar sua demora, porque eu saberia se a “minha garota“ tivesse chegado, principalmente por causa de seu cheiro incrivelmente delicioso e único.

Pra confirmar meus pensamentos a porta abriu-se e o vento gelado trouxe o aroma de rosas e framboesa que tanto me encantava. Em poucos segundos ela entrou sorridente procurando por algum conhecido (eu) e assim que me viu o sorriso ficou ainda maior. Agora a noite começaria!

Duda veio em minha direção, fazendo com que eu prestasse mais atenção em seu corpo: uma blusa fina de mangas na cor branca, marcando os seios perfeitos, por cima um casaco pesado, calças jeans, mostrando a cintura fina e as coxas bem torneadas, e nos pés, botas. Continuei a olhando descaradamente até perceber uma mão grudada a sua, fui olhando mais pra cima e quase caí para trás ao encontrar o mauricinho.

-- Oi Jake! – me abraçou animada enquanto passava o olhar rapidamente pelo bar. – Não chegou mais ninguém até agora?! – “Claro! Tinha que ter mais alguém. Só eu, o idiota, que não percebi que isso era uma saída de ‘amigos’, muitos amigos.”

-- Ainda não. – respondi.

-- Eles já devem estar chegando. – sorriu mais uma vez. – Ah! Esse é o Matthew McBride. E Matt – “Que bom, ela o chama pelo apelido.” – esse é Jacob Black. – dei um aceno com a cabeça e apertei sua mão com força. “Vamos ver quem ganha essa...”

-- Já pediu alguma coisa pra beber? – perguntou.

-- Ainda não. – essa era a resposta pra todas as perguntas.

-- Vou pedir algo e já volto. – levantou-se deixando eu e o mauricinho sozinhos.

-- Então... – pigarreei. – De onde vocês se conhecem?

-- Negócios. – “Então ele mistura trabalho com vida pessoal?!” – Minha empresa assinou um contrato com a “Black Spring” para o fornecimento de mercadorias. – assenti. – E você?

-- Eu o quê?

-- Conhece a Duda de onde?! – apontou para onde ela estava.

-- Somos amigos de infância. – “Por enquanto.” – Nos conhecemos desde as fraldas praticamente. – dei um sorriso de escárnio. Ele não era páreo pra mim. Eu tinha muito mais bagagem e conhecia a Duda infinitamente melhor.

-- Trabalha com o quê?!

-- Com o setor automotivo. – “Oficina mecânica também está ligada a isso...” – Já comecei a negociar com a GM¹ a proposta de abrirmos uma loja especializada na venda das marcas Buick, Cadillac e Chevrolet aqui em Port Angels.

-- Não me disse isso Jacob! – Duda voltou segurando três garrafas de cerveja.

-- Na verdade eu não havia dito pra ninguém. – “Mas pra diminuir o ego do seu namoradinho eu tive que contar!”.

-- Devia ter me contado. Eu podia te ajudar em alguma coisa.

-- Eu prefiro lidar com isso sozinho.

-- Tudo bem. – respondeu se aproximando do Matthew e este lhe passando o braço sobre os ombros. Eu não ia aguentar muito tempo com o casal.

-- E seus outros amigos Duda?! – perguntou inquieto, acho que ele estava gostando daquilo tanto quanto eu.

-- Devem estar chegando. Leah me ligou agora a pouco perguntando o endereço do bar. – olhou pra porta ao mesmo tempo em que o pessoal entrava. – Não disse!

Seth, Cecília, Embry, Leah, Christopher, Lucy, Quil, Claire, Paul e Rachel. A maioria dos meus amigos estava ali. Pelo menos eu teria com quem conversar além do casalzinho vinte à minha frente.

Depois de todos devidamente apresentados, o grupo dividiu-se em dois: mulheres e homens. O assunto pra mim não estava rendendo muito e meus amigos traidores estavam no maior papo com o Matthew. Só eu que não tinha ido com a cara daquele idiota?! Um idiota que, por sinal, não largava a cintura da Duda.

Assim que os dois começaram com os cochichos ao pé do ouvido, carícias mais explícitas e sorrisinhos, me levantei bruscamente da mesa e sem me importar com o que os outros estavam achando do meu surto segui para o único local ali onde eu teria mais paz: o banheiro.

Parei em frente ao espelho e apoiei as mãos no lavatório. Tentei me concentrar. O que eu estava fazendo?! Eu me encontrava em um estado de nervos tão grande que já começava a sentir a transformação começando, e essa era a última coisa que eu queria que acontecesse. Abri a torneira da pia e enfiei a cabeça debaixo da torneira, a água gelada ajudaria a me acalmar.

Não sei dizer por quanto tempo fiquei ali, só sentindo a água bater em meu rosto. A porta do banheiro se abriu e eu nem me preocupei em saber quem era. Eu só precisava me controlar e não acabar com a raça do Matthew assim que o encontrasse.

-- Jake! – senti Embry me levantar e sacudir meus ombros fazendo com que as gotas d’água caíssem na minha camisa. – Tá fazendo o que cara?!

-- Nada. – passei a mão nos cabelos, olhei primeiro o meu reflexo pra depois virar e encontrar Embry, Seth, Quil e Paul com expressões preocupadas.

-- Ficou maluco?! – Quil foi o primeiro a quebrar o silêncio perturbador que se instalou.

-- Ou talvez ele só estivesse tentando se afogar dentro da pia. – Paul veio com uma piada sem graça.

-- Eu tô legal! – respondi me encostando na parede e batendo a cabeça repetidas vezes nela.

-- Tô vendo. – Seth falou. – O que é que tá pegando?! Desde que nós chegamos você não abre a boca nem pra comer!

-- Tá sentindo falta da Nessie? – Quil perguntou e eu abri meus olhos o encarando incrédulo.

-- Da Renesmee?! Ficou maluco Quil? Quando eu senti falta dela? Nunca! E eu demorei anos pra descobrir isso. O pior é que eu demorei mais tempo ainda pra descobrir quem realmente era importante pra mim. – me lamentei.

-- Espera. Deixa eu recapitular. – Paul começou. – Quer dizer que você nunca gostou da Renesmee?! – assenti a contra gosto.

-- E o imprinting?! – Embry me questionou.

-- Não sei! Eu. Não. Sei. Eu achava, ou melhor, eu tive um imprinting pela Renesmee, mas ele começou a retroceder e eu percebi que nunca a tratei como vocês tratam suas imprinteds. Eu nunca a amei.

-- Isso é impossível Jacob! – Quil me olhou assustado.

-- É tão possível, quanto o fato de eu amar outra pessoa. – desabafei.

-- O coração do Jake é igual coração de mãe, sempre cabe mais uma. – Paul completou.

-- Não tá vendo que esse não é o momento para suas piadas sem noção, Paul?! – Embry reclamou. – Mas você bem que poderia ter escolhido outro lugar pra pirar, não acha?! O namorado da Duda está aí e... – ele parou no momento em que eu o olhei com raiva. – Não vai me dizer que... – deixou a frase em aberto enquanto todos compreendiam o que acontecia. A história estava se repetindo.

-- Você gosta da... – Seth começou a falar e eu o interrompi antes que falasse algo que poderia me atrapalhar. A Duda escutava tão bem quanto nós e com toda a certeza estava prestando atenção em nossa conversa.

-- Vamos sair. – comentei saindo do banheiro.

-- O quê? Você solta uma bomba dessas e depois age como se nada tivesse acontecido?

-- Mas nada aconteceu. – falei ignorando completamente o ocorrido.

-- Não vai fazer nada? Quase morreu por “achar” que gostava da Bella. O mesmo aconteceu com a Renesmee. E agora que finalmente gosta de alguém que nós aprovamos, você vai desistir? Por causa de um humano?!

-- Vocês não entendem. – balancei a cabeça em negação. – Ela parece amar ele. Não vou deixá-la infeliz porque simplesmente descobri que a amo.

-- Larga de ser frouxo Jacob! – Paul reclamou. – Você nunca ligou pra isso antes. Agora levanta essa cara e vai mostrar quem manda nesse território!

-- Tá legal. – dei-me por vencido e comecei a pensar em uma maneira de tirar a Duda do lado do Matthew, pelo menos por essa noite. – Mas vão ter que me ajudar.

[...]

“E agora, para animar nossa extraordinária noite...”

Estávamos atrás do palco esperando o dono do bar nos anunciar. Paul queria me matar e o Quil também, o único mais conformado com sua situação era Embry, que resolveu aproveitar a oportunidade para mostrar seus dons à Leah, não que ela não soubesse, mas é sempre bom ressaltar.

“Teremos os Wolfpack!”

Nenhum grito, nem palmas. É claro! Ninguém nos conhecia e todos estavam preocupados demais em se esquentar para prestar atenção em quatro caras enormes andando pelo palco e se posicionando atrás dos instrumentos.

Wolfpack. Confesso que o nome era ridículo e quase uma piada interna, mas o tempo era curto e isso foi a única coisa decente em que pensamos em quase dez minutos.

Olhei para a plateia e procurei pela mesa onde ela estava sentada. Não me preocupei com o namorado, nem com o resto das pessoas que estavam lá esperando que começássemos a tocar algo. Tudo que me importava era se ela entenderia tudo aquilo. Se ela veria o que eu estava lhe mostrando. Se ela sentiria tudo que eu estava sentindo. Então eu fechei os olhos e comecei.

(Far Away – Nickelback - http://www.youtube.com/watch?v=vOq7PX66yxw  - 0:31)

Esse tempo, esse lugar
Desperdícios, erros
Tanto tempo, Tão tarde
Quem era eu para te fazer esperar?
Apenas mais uma chance
Apenas mais um suspiro
Caso reste apenas um
Porque você sabe,
Você sabe, você sabe

Que eu te amo
Eu sempre te amei
E eu sinto sua falta
Estive tão longe por muito tempo
Eu continuo sonhando que você estará comigo
E você nunca irá embora
Paro de respirar se
Eu não te ver mais

De joelhos, eu pedirei
uma Última chance para uma última dança
Porque com você, eu resistiria
A todo o inferno para segurar sua mão
Eu daria tudo
Eu daria tudo por nós
eu daria qualquer coisa, mas não desistirei
Porque você sabe
você sabe, você sabe

Que eu te amo
Eu sempre te amei
E eu sinto sua falta
Estive tão longe por muito tempo
Eu continuo sonhando que você estará comigo
E você nunca irá embora
Paro de respirar se
Eu não te ver mais

Tão longe
Estive tão longe por muito tempo
Tão longe
Estive tão longe por muito tempo
Mas você sabe, você sabe, você sabe...

Eu quis
Eu quis que você ficasse
Porque eu precisava
Porque eu preciso ouvir você dizer:
Eu te amo
Eu sempre te amei
E eu perdoo você
Por ficar tão longe por tanto tempo
Então continue respirando
Por que eu não estou te deixando mais
Acredite em mim, me abrace e nunca me deixe ir
Continue respirando
Por que eu não estou te deixando mais
Acredite em mim, segure-se em mim e nunca me solte
Continue respirando, segure-se em mim e nunca me solte
Continue respirando, segure-se em mim e nunca me solte

Eu não lutaria pela Duda somente enquanto ela respirasse e nem por causa de um imprinting. Eu lutaria por ela enquanto eu tivesse alma. Por que o corpo padece, mas a alma não. E meu amor por ela não era carnal, era de alma. Era eterno.

GM¹ - General Motors Corporation, também conhecida apenas pela sigla GM, é a maior montadora automobilística do mundo e também uma multinacional com sede em Detroit, nos Estados Unidos, cuja principal área de negócios é a produção de automóveis. A GM tem várias marcas no seu portfólio, entre as quais, as quatro marcas originais de automóveis da GM: Buick, Cadillac, Chevrolet, e Pontiac (foi desativada em 2010), além da GMC, Daewoo, Holden, Hummer, Opel, Saturn, e Vauxhall.