CAPÍTULO 14

“Os celtas eram um povo cercado de magia, espiritualidade e sabedoria. Além do respeito à natureza, eles prezavam a amizade antes de qualquer coisa.

A expressão em gaélico Anam Cara significava Amigo da Alma, designando uma amizade entre duas almas que atravessaria os tempos, convenções e todos os obstáculos. Ter um Anam Cara significava ter amor.”

Terminei de ler o trecho e encostei-me à cabeceira da cama em que eu estava sentada. As palavras ainda rodavam pela minha mente e eu me sentia cada vez mais extasiada ao perceber que tudo isso estava completamente interligado à minha vida de uma forma inimaginável.

Vovó Aine sempre me disse que sabia muito sobre os celtas, porém nunca quis me contar sobre isso. E agora eu sabia que ela havia ido se encontrar com praticantes da cultura céltica, não necessariamente os originais já que segundo minhas pesquisas esse povo estava extinto há uns bons séculos... Era o que eu achava... Não podia duvidar de mais nada.

Voltei ao trecho e o reli. O dia em que eu e Jake encontramos o baú com as correntes na praia de La Push praticamente dançou sobre meus olhos e recordei-me das palavras escritas com uma caligrafia impecável no pequeno pedaço de papel. Digitei-as no site de busca e a resposta veio logo em seguida.

-- É uma oração! – exclamei fascinada.

Procurei tudo sobre aquilo devorando cada frase com extremo interesse, eu estava descobrindo segredos sobre a minha própria vida! Porém o que mais me deixava intrigada era como e porquê o baú veio parar justamente nas minhas mãos. Não havia nada falando disso...

A campainha tocou e eu preguiçosamente me levantei. Desci as escadas e finalmente abri a porta, dando de cara com um Jacob sorridente segurando quatro caixas de pizza na mão.

-- Boa Tarde! – falou entrando na minha casa sem a menor cerimônia.

-- Hei! – fechei a porta a empurrando com o pé. – Como assim você vai entrando?! A casa é min...

-- Ah Duda... – me deu um beijo na bochecha. – Su casa es mi casa... – sentou-se no sofá.

-- Além de tudo é folgado. – sentei-me ao seu lado. – E desde quando você fala espanhol?! – perguntei curiosa...

-- Desde que a Nessie me obrigou. – disse fazendo uma careta.

-- Interessante... Mais interessante ainda vai ser você me contando onde esteve nos últimos dois meses e meio. – o questionei.

Eu realmente precisava de uma resposta. Já que as minhas visões não estavam funcionando direito. E essa era uma das perguntas que me instigava.

-- Nessie decidiu viajar. – fiz cara de desentendida, o que de fato eu era naquela hora. – É que ela nunca quis ficar aqui em Forks e sempre que brigamos, ela arruma uma desculpa pra nós “sairmos” daqui. – fez as aspas com os dedos. – Mas como eu sempre disse que meu lugar é aqui a gente volta e ela briga comigo de novo. – terminou com uma expressão cansada.

-- Sua namorada é louca! – tentei fazer graça com a situação. – Sempre que briga com ela você vem conversar comigo... Estou começando a achar que eu só sirvo pra isso. – fingi que estava magoada, aliás, não fingi não! Realmente aquilo me afetou.

-- Claro que não! – respondeu preocupado e logo me tomou em um abraço esmagador. – Eu vim aqui porque estou com saudades. Além disso, preciso saber o que tá rolando em La Push.

-- Falando assim você parece uma adolescente fofoqueira. – comentei sorrindo. – E quem te disse que eu sei das coisas em La Push?

-- Quil. Você agora faz parte do bando? – perguntou curioso.

-- Faço, mas isso é até encontrarmos o vampiro que anda rondando as terras...

-- Vampiro? – eu assenti com a cabeça.

-- Ainda não conseguimos descobrir quem é. Mas o cheiro não me é estranho... – falei pensativa.

-- Já falaram com os Cullens?

-- Não Jake. Faz tempo que eu não converso com eles e eu não sei se o Conselho iria gostar. Você pode até ter um imprinting com a Renesmee, mas os velhos ainda não toleram vampiros.

-- Está bem... Você tem razão. – suspirou dando fim ao assunto. – E como é que você está? – ele parecia bem interessado em mim, vai ver que o Jake queria mesmo saber como eu estava.

-- Com fome. – sorri. – Você trouxe essas pizzas só pra deixá-las em cima da mesa como enfeite ou é pra gente comer? – perguntei.

-- Claro que é pra gente comer. – disse abrindo um enorme sorriso.

-- Eu vou pegar os pratos. – me levantei do sofá.

-- Não. – me puxou de volta. – A gente come com a mão. Igual quando éramos pequenos. – Jacob tinha um poder de persuasão incrível.

E por causa dele nós passamos boa parte da tarde conversando, rindo relembrando fatos da nossa infância e comendo pizza com a mão. Essa tarde entrou para a lista dos meus melhores momentos com o Jake, principalmente porque não falamos muito sobre a “Nessie”. Mas como felicidade de Duda dura pouco...

-- Eu quero apresentar você pra Nessie. – Jacob disse enquanto comia o último pedaço da caixa.

-- O quê? – eu, é claro, fiquei assustada.

Não é todo dia que o seu melhor amigo, por quem você é secretamente apaixonada te fala que quer apresentar à namorada. Óbvio que eu conhecia as ex-namoradas dele, porém elas eram apenas rolos...

-- Te apresentar a Nessie. – deu de ombros como se não fosse nada.

-- Pra quê? – eu tinha que fazer essa pergunta.

-- Você é minha melhor amiga Duda! – era preciso me lembrar disso?! – A Nessie tem ciúmes de você e eu vou mostrar que isso não tem cabimento.

-- Ah claro! – disse irônica.

-- É sério Duda! – rolei os olhos.

-- Ok Jake. Mas vou logo avisando que ou você marca isso para esse final de semana ou eu vou inventar desculpas pra não ir.

-- Claro, claro. – falou com convicção. – Não sei por que essa sua relutância em conhecer a Nessie pessoalmente.

-- Não é relutância! Eu preciso me preparar pra conhecê-la, só isso.

-- Aham. É bom você se dar bem com ela.

-- Por quê?

-- Você vai ser a nossa madrinha de casamento.

Recebi essa notícia com um baque. “Como assim ele vai se casar? Droga! Como se você já não previsse isso...” Fiquei um tempo digerindo a notícia, quando ele me sacudiu.

-- Duda! Você poderia parar de fazer isso? – falou chateado.

-- O quê? – eu não entendi.

-- Até parece que não está feliz com meu casamento. – deitou no meu colo.

-- Claro que eu estou feliz. – mentira. – É que eu te acho muito jovem. – de onde eu tirei isso? Não me pergunte. O que uma pessoa desesperada não faz?!

-- Jovem? Eu tenho quase trinta anos Duda?!

-- Eu sei, eu sei. Mas sei lá... Eu sempre vou imaginar você como aquele garotinho magrelo e com cabelos enormes. – sorri de lado.

-- Eu não era tão magro assim. – reclamou enquanto eu ria.

-- Eu estou feliz por você. E quero que seja muito feliz com ela. – o abracei deixando uma lágrima escorrer sem que ele visse... Eu achava que ele não tinha visto.

-- Tá chorando? – perguntou puxando meu rosto pra perto do seu.

-- Eu?! Não. – limpei discretamente o caminho que a lágrima havia feito.

-- Claro que não... – sorriu de lado. – Tenho que ir.

-- Já?! – perguntei manhosa. Eu sentia falta desses nossos momentos juntos.

-- Já. – começou a andar em direção à porta. – Peguei o turno da noite. Isso me lembra de perguntar o porquê de você estar à tarde toda aqui e não em La Push fazendo ronda.

-- Tirei uma folga hoje. – dei de ombros.

-- Certo.

Jake abaixou-se para me dar um beijo na bochecha, mas eu virei o rosto e nossos lábios ficaram perigosamente próximos. Meu coração disparou e começou a bater em um ritmo frenético... O dele não estava diferente. Nos víamos diante de um impasse: seguíamos em frente com aquilo, afinal os dois demonstravam o que queriam, ou desistíamos do beijo antes mesmo de tê-lo começado.

Infelizmente a batalha silenciosa que travávamos teve fim quando ele simplesmente desviou seu olhar do meu e deu um beijo rápido na minha bochecha. Virou-se de costas, subiu na moto estacionada na porta da casa e desapareceu. Me deixando desnorteada, sozinha e com um coração que não aceitava ele ser de outra, afinal, o meu era e sempre seria de Jacob Black, incondicionalmente.