CAPÍTULO 10

Acordei com o sol batendo em meu rosto e um pouco confuso. Aos poucos as lembranças da noite anterior foram me atingindo e eu mais que depressa procurei por outro corpo na cama. Não encontrei. Não era possível que ela tinha ido embora de novo.

Levantei-me e dei uma olhada no quarto. Nada. Passei na sala, no antigo quarto da Rachel, até chegar à cozinha. Onde a encontrei escorada na pia fazendo algo que não distingui imediatamente.

Usava a mesma roupa do dia anterior, mas o cabelo estava preso em um coque meio frouxo. Cantarolava alguma música e parecia estar alegre. Eu queria acordar todos os dias e ver essa cena. Escutar essa voz... A falta que eu sentia da Duda era algo inexplicável.

Apesar de não conversar com ninguém sobre isso, eu sofria. Sofria em silêncio pela saudade, pelo vazio que se formou dentro de mim. No dia em que descobri que ela havia partido eu fiquei desolado. Eu era seu amigo. Melhor amigo. E isso não foi suficiente para ela ao menos se despedir de mim.

Quando vi aquela loba branca à minha frente, há uma semana, eu vi algo extremamente familiar nela, mas só descobri quem era quando escutei sua voz em minha mente.

Eu fiquei feliz, mas a felicidade deu lugar à raiva e à mágoa por ter sido abandonado. Briguei com ela e também a feri. E depois que conversei com meu pai e com Tia Suh, percebi o quão injusto fui. Ela também havia sofrido e eu não dei chances para ela se explicar.

-- Vai ficar aí parado Jake?! – ela perguntou, me “acordando”.

Andei em sua direção e lhe dei um abraço apertado acompanhado de um beijo estalado na bochecha. Eu queria fazer isso há algum tempo... Sentir o cheiro em sua pele... Mesmo tendo “dormido” com a Duda eu tinha uma necessidade enorme de estar perto dela... Eu precisava senti-la.

Isso nunca havia acontecido. Bom... Não depois que eu tive o imprinting com a Nessie. O que me incomodava bastante, já que antes dela chegar eu só tinha olhos pra Renesmee, eu não conseguia enxergar outra mulher a não ser ela.

E agora eu começava a reparar em como a Duda tinha crescido, amadurecido... Ela era uma mulher e eu a admirava e estava encantado com isso...

-- O que temos pro café da manhã?! – tentei mudar o rumo dos meus pensamentos.

-- Panquecas de chocolate! – ela disse com um sorriso radiante que me alegrou ainda mais.

-- Meu café da manhã favorito...

-- Eu sei... Por isso resolvi fazer. – e virou-se para o fogão onde estava derretendo uma barra de chocolate. – Relembrar os velhos tempos. – deu de ombros.

-- É... – falei ainda abraçado a ela que descansou a cabeça em meu peito.

[...]

-- Jake o que vai fazer hoje? – Duda me perguntou enquanto sentávamos à mesa para comer.

-- Não sei. Como é domingo eu não vou abrir a oficina.

-- É mesmo... Você se formou em engenharia mecânica não é?!

-- Aham.

-- Sabe o que eu não entendo? – perguntou sem me dar chances de responder – Você odiava física e matemática, e adorava consertar carros... E acabou juntando os três na faculdade.

-- Eu gosto do que faço, só não sabia que pra me formar eu teria que aprender todas as matérias chatas. – falei sorrindo.

-- E a Nessie? – fiz cara de quem não estava entendendo nada. E realmente não sabia aonde ela queria chegar com esse assunto de novo. – Não vai sair com ela hoje?

-- Não sei. Depois que nós brigamos ontem, eu saí sem falar nada com ela. – eu gostava da Nessie, e ficar separado dela ainda me doía, só não era com a mesma intensidade que eu sentia pela mulher sentada à minha frente.

-- Se troca que você vai atrás dela. – ela disse sorrindo, mas o sorriso não chegava aos olhos.

-- O quê? – perguntei meio devagar. Eu estava com ela agora e não queria ficar com a Nessie.

-- Vai Jake. Termina de comer e troca de roupa que você vai conversar com ela e fazer as pazes.

-- Mas...

-- Mas nada. Estou te esperando na garagem. – e dizendo isso saiu da cozinha me deixando completamente confuso.

Porém, mesmo relutante, fiz o que ela pediu (ou ordenou). Quando cheguei à garagem, Duda estava ao lado do meu carro girando a chave no dedo indicador.

-- Vamos repassar o que você vai dizer pra ela. – falou andando de um lado para o outro.

-- Eu vou chegar lá e conversar com a Nessie. – me encostei no capô e esperei a Duda chegar perto para poder pará-la, todas as voltas que ela estava dando começavam a me irritar. – Não tem nenhum segredo Duda. – a abracei. – Por que está me “ajudando” com isso? – ela me olhou confusa. – Quer dizer, desde ontem está na cara que você não gosta nem um pouco da Nessie, então por que quer me ajudar a fazer as pazes com ela?

-- Porque se ela te faz feliz é o que me basta. – deu um sorriso triste. – Agora vai logo procurar a projeto de vampira.

-- Chamou a Nessie de quê?

-- AH! Nada não. Só um apelidinho carinhoso. – falou saindo da garagem.

-- Vai ficar aonde?

-- Na casa da mamãe. Embora eu ache que ela está com seu pai. – deu de ombros e voltou pra me dar um beijo no rosto. – Vejo você depois.

Entrei no carro e dirigi o mais devagar possível. Eu estava num dilema se queria ou não, ficar bem com a Nessie novamente. Isso era algo novo pra mim... Pra mim e para todo o povo quileute, na verdade. Eu nunca havia escutado algo como o que estava acontecendo. Eu não queria ficar com o meu imprinting!

A amiga da Duda, Lucy, estava com um vampiro. E ela também era transfiguradora então por que não teve um imprinting? E por que a Duda também não teve? E nem a Leah.

Minha geração estava tendo todos os problemas possíveis com vampiros e ainda tinha os comuns... Os problemas do dia a dia. Embora não parecesse, eu também tinha obrigações humanas. Trabalho. A oficina estava indo bem, mas sempre havia os pequenos contratempos. Eu tinha que cuidar do meu pai e ainda havia a matilha. Sam estava para abandonar o bando e ficar com a Emily e seus filhos, então eu, como descendente direto de Ephraim Black, seria o alpha.

Eram muitas coisas pra uma cabeça só. Além disso, tinha Nessie. Ela achava que por ser meu imprinting me teria sempre que quisesse, mas não era assim. Esse era um dos muitos motivos de nossas brigas constantes. Ninguém conseguia entender como eu ficava tanto tempo longe dela sem sentir muita saudade. Como eu já disse, eu sentia sua falta, só que era mais como uma obrigação. Ficar com a família Cullen era uma obrigação. E olhar para a Bella como vampira era um tormento. Mesmo que não a amasse como antes, eu não me sentia bem em um mesmo local que ela.

Cheguei à casa dos Cullens e olhei para o outro lado da rua e encontrei a casa da Duda. Era bem a cara dela. Simples, bonita e charmosa. Mas eu não tinha ido ali para olhar a casa e sim para fazer as pazes com Nessie, minha namorada.

Entrei, e na sala eles estavam tentando parecer normais. Alguns assistindo TV, outros jogando xadrez. Esme estava na cozinha, de todos, ela e Carlisle eram os únicos que tinham meu maior respeito e carinho.

Edward desceu as escadas e me olhou de soslaio. Com os anos eu aprendi muito bem a controlar meus pensamentos perto dele, principalmente depois que eu e Nessie passamos para outro estágio do nosso relacionamento, o que não foi há muito tempo. Ele parou à minha frente e franziu a testa.

-- Por que eu não consigo ler sua mente? – perguntou assustando os vampiros da casa.

-- Como? – não estava entendendo nada.

-- Eu não consigo ler sua mente. – virou-se para a sala. – Bella! – chamou a esposa que veio prontamente. – Você está bloqueando a mente do Jacob?

-- Não.

-- Então como... – Jasper se intrometeu no assunto.

-- Será que dá pra pararem de falar de mim como se eu não estivesse aqui? – disse nervoso, eles começavam a me irritar.

-- Com quem você estava? – Edward finalmente lembrou que eu estava lá.

-- Não te interessa sanguessuga. Agora me dê licença que eu quero conversar com a Nessie. – passei por eles e subi as escadas até o quarto dela, bati na porta e entrei.

Ela estava deitada com a cabeça no travesseiro e pelos soluços bastante audíveis deduzi que estava chorando. Quando levantou o rosto fiquei com um imenso remorso de ter brigado com ela no dia anterior. Seus olhos estavam inchados e as bochechas e a ponta do nariz ganhavam um tom de vermelho cada vez mais intenso.

Num rompante ela levantou-se e pulou nos meus braços. Não tive outra reação que não abraçá-la.

-- Desculpa Jake. – soluçou. – Eu não devia ter brigado com você, por favor, me desculpa. Não me deixa...

-- Eu nunca vou te deixar Nessie. – puxei seu rosto dando um selinho em seus lábios. – E eu te desculpo. – ela sorriu e me beijou de forma desesperada, acabamos caindo sobre a cama, com ela por cima de mim.

Por um instante me deixei levar pelo momento. Nessie não era mais nenhuma criança e seu corpo clamava por mim. Comecei a descer a mão que estava em sua cintura e quando percebi ela já estava tirando a blusa.

Com o pouco de lucidez que me restava, levantei e disse que não podíamos fazer isso ali, já que a casa estava repleta de vampiros e dois deles eram seus pais. Nessie não gostou muito disso, mas aceitou com a condição de que saíssemos e terminássemos o que há pouco havíamos começado.

Aceitei. Afinal, eu também queria. Quando chegamos ao primeiro andar, todos nos olhavam desconfiados, mas não disseram nada. Nessie pegou a chave do meu carro e me puxou pra fora.

Ela dirigia como uma louca e rapidamente chegamos ao nosso destino: Hotel Plaza de Port Angeles. Depois de passar pela recepção chegamos ao quarto.

-- Tô morrendo de saudade do meu namorado... – ronronou no meu ouvido apertando meus braços. – Eu quero você. Agora! – mordeu o lóbulo da minha orelha.

A partir daí eu me deixei levar. Ela era minha namorada, era gostosa e, além disso, eu a amava. Não amava?!

A beijei com um pouco de violência... Ela gemeu, só não sei se era de dor ou prazer. Não me importei. Eu queria saciar o animal que estava dentro de mim. E ele precisava de prazer. A levantei e ela abriu as pernas se encaixando em minha cintura. Fui para a cama e olhei para o rosto da Nessie. Bom... Eu esperava ver o rosto dela, mas o que eu vi foi a Duda.

Até nessas horas eu me lembrava dela! Era algo inconsciente. Resolvi me concentrar no que estava fazendo.