Escolhidos escrita por Sahh


Capítulo 6
6


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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Tenho que ir pro bar, esperar pelos mercadores. Oliver deve estar lá. Tomo um banho, me visto e saio para mais um dia no bar. A chuva está fraca e as ruas encontram-se cheias de lamas. Na porta do bar, bato os pés, retirando a lama das minhas botas. Entro e o ar está quente. O bar não está muito cheio, meu pai deve estar na cozinha. Sue está de volta, servindo umas das irmãs Klein. A vejo de costas, pele morena, cabelo cheio e preto amarrado. Ela se vira e sorri, eu retribuo. Ela parece melhor. Joel sai da cozinha. Vou para o balcão e me sento no banquinho.

– E aí, Eve, tudo beleza? – pergunta Sue. Gosto dela, ela é bastante simpática, gosta de conversar com todo mundo. Menos com o Steel, ela é inteligente o suficiente para não manter uma conversa com ele.

– Tudo. E como você está? – pergunto. Ela está ajudando Joel nas prateleiras detrás do balcão.

– Estou melhor. O doutor Edlund é ótimo – diz ela sorridente. Concordo com um aceno de cabeça. Ela entra na cozinha com a bandeja.

Meu pai me observa. Quero saber o que ele sentiu sobre Oliver. São 9hs, Joel disse que Oliver foi cuidar de Luke, porque a vizinha que cuida dele está gripada. As horas passam, reviro os olhos quando Steel começa á emplicar com algo ou alguém e ajudo Sue com algumas coisas na cozinha.

Joel sai do bar e sei que hora é essa, os mercadores chegaram. Me levanto do banquinho e me direciono para a janela, onde poderei ver os mercadores. Nunca falei com eles, não havia necessidade. Infelizmente, a janela fica perto da mesa de Steel. Não gosto de chegar perto dele, uns dois metros de distância e ainda acho muito. Chego até a janela e os vidros estão totalmente embaçados, passo a manga do casaco no vidro, limpando num circulo onde quero ver o que se passa lá fora. Encosto a ponta do nariz no vidro gelado e procuro por Joel. Não muito longe o avisto perto da árvore, que fica perto do bar, á uns quatro metros. Os homens carregam grandes malas nos ombros. Os homens estão vestindo grandes casacos cinzas, um deles tem uma barba curta e preta, ele me lembra um Steel mais novo. O mesmo é alto, cabelos rebeldes e tem um brinco na orelha esquerda, acho que esse é Roland. O outro é mais baixo, cabelos castanhos e está com um grande sorriso no rosto, esse é o Paul.

– O que está bisbilhotando aí, garota? – pergunta Steel. Olho em sua direção, ele parece curioso. Ignoro ele, contorno algumas mesas e saio do bar.

O ar está mais gelado e o vento parece cortar meu rosto. Joel ainda não me viu e vou para trás do bar, esperar que ele entre no bar para eu falar com os mercadores. Ele não demora muita e entra no bar. Os mercadores estão segurando suas notas de dinheiro, eles abrem a mala e pegam uma caixinha vermelha, onde guardam o dinheiro e colocam de volta na mala. Essa é minha chance. Chego até eles, que estão abotoando seus casacos.

– Com licença – digo.

– Sim? – diz Paul, sorridente.

– Eu queria saber de uma coisa. Bem, a floresta, na verdade. É perigoso ir lá? – pergunto. Os homens se entreolham e levantam as sombrancelhas um para o outro.

– O que você quer na floresta, garota? Não se sente bem aqui? – pergunta Roland.

– Desculpe. É só curiosidade – digo com a voz firme.

– Pois lhe digo uma coisa, aqui você está melhor. Pode crer no que falo – diz o homem alto. Olho para Paul, e já não têm mais um sorriso em seu rosto.

– Só quero saber o que tem na floresta – insisto.

– Nada demais. Se você acha que esquilos e coelhos são selvagens, aí, é problema seu – diz Roland. O homem mais baixo parece não querer falar mais nada. Parece cansado e sem paciência.

– Vamos, Roland – diz Paul. – Vamos passar na cidade logo, quero ver minha família essa semana. – Eles arrumam as malas no ombro e começam a andar. Roland vira o pescoço e sorri.

– Não têm nada selvagem – diz ele por cima do ombro.

Eu preciso segui-los, só assim não terei problemas em me perder na floresta e nem na cidade. Mas não posso sair agora. Tenho que fazer algo á respeito. O quê, eu não tenho idéia.

Entro no bar, esfregando as mãos. Me sento no banquinho e abaixo a cabeça, pensando numa maneira de seguir os mercadores, mas agora não dá. Não sei quanto tempo Oliver ainda pode viver, quem sabe mais um dia, mais uma semana, eu só quero evitar isso. Levanto o rosto e vejo Steel, ele me olha curioso, com as sombrancelhas erguidas, ele parecia estar sóbrio, e acho que nunca o vi sóbrio. A porta do bar se abre e Oliver entra, um pouco molhado, com os cabelos pretos bagunçados, ele está tremendo, de cabeça baixa. Corro até ele e o seguro pelo ombro. Eu ia perguntar o que aconteceu, mas ele perdeu o equilibrio e caiu pra frente. Eu não aguento seu peso e estou perdendo o equilibrio, eu vou cair no chão, mas sinto algo nas minhas costas, alguém segurou minhas costas. Olho para trás e encontro o rosto do meu pai sério. Enquanto ele segura as minhas costas, ele passa um braço para pegar Oliver. Consegue colocá-lo no ombro e sai do bar.

Saio do bar atrás deles. Milhares de pensamentos invadem minha mente enquanto eu corro atrás de meu pai e Oliver. Eu não posso acreditar, ele não vai morrer agora. Meu pai leva Oliver pra nossa casa. Não entro em casa, vou na casa do doutor, que fica á frente da nossa casa. Passo pela cerca de sua casa e passo pelo pequeno gramado. Subo as duas escadas e bato na porta apressadamente. Ele não atende e fico andando de um lado pro outro, bato denovo. A porta se abre e o doutor Edlund está vestido com seu roupão azul, o cabelo preto totalmente bagunçado e seus óculos caídos.

– Eve, o que houve? – pergunta ele.

– É o Oliver. – Ao dizer isso seu rosto toma uma expressão diferente. Uma expressão que nunca vi nele antes. Ele ajeita os óculos.

– Espere aqui, vou ser rápido – balanço a cabeça em concordância.

Ele fecha a porta e ando de um lado pro outro. Oliver não vai morrer agora, ele não pode. Sinto um aperto no peito e respiro fundo. O doutor não demora muito e sai de casa com sua pequena maleta, onde leva seus equipamentos de médico. Corremos até minha casa, ao entrar, vejo meu pai em pé lado de Oliver, que está deitado no sofá. Corro até o sofá e vejo Oliver com o rosto calmo, como se estivesse dormindo. E é isso que imagino. O doutor se abaixa e bota dois dedos no pescoço de Oliver, em seguida, leva á mão ao peito dele. Seu olhar é fixo e depois de uns segundos, a expressão em seu rosto relaxa.

– Ele só está desmaiado. O tempo não fez bem á ele. – Os músculos dos meus ombros relaxam e me ajoelho ao lado do braço do sofá. – Thomas, tem como arranjar uma coberta pra ele?

– Vou pegar – diz meu pai. Me arrasto até Oliver e seguro sua mão, ela está gelada e tento esquentá-la com minhas mãos.

– Você sabe, não sabe? – pergunta o doutor. Balanço a cabeça em concordância sem tirar os olhos de Oliver, que está com o rosto sereno. Lágrimas rolam pelo meu rosto.

– Te-tem que ter um jeito de evitar isso, por favor – imploro com a voz entrecortada. Olho pro doutor, ele tira os óculos e balança a cabeça negativamente. O doutor abaixa a cabeça e eu limpo minhas bochechas. Meu pai volta com o cobertor vermelho de Brandon. Eu pego o cobertor e o cubro.

– Esse garoto não pode mais ficar sozinho – diz o doutor para meu pai.

– Nós o manteremos aqui. Eu havia conversado isso ontem com Millie, nós concordamos que seria melhor ele ficar aqui conosco.

– Então vocês também sabiam – afirma o doutor. Meu pai balança a cabeça em concordância. – Eu tenho que ver uns casos hoje mesmo, mas se tiverem problemas, é só me chamar.

O doutor sai e fico ali, sentada, segurando a mão de Oliver. Com medo, triste e sem saber o que fazer. Meu pai voltou pro bar. Sentada no chão, penso numa maneira de seguir os mercadores, eles devem estar na prefeitura vendendo algo. Esse é o último lugar que eles vão, já que fica mais perto do portão da cerca. Me levanto e vou para meu quarto. Tiro tudo o que têm dentro da minha mochila. Pego umas poucas mudas de roupa e coloco nela. Debaixo da cama, pego de dentro da caixa de papelão, meu cantil. Vou até a pia da cozinha e o encho. Pego uma sacolinha e coloco uma maçã, uma laranja e quatro pães. Volto pro quarto e coloco tudo na mochila. Isso é loucura, mas eu vou dar um jeito de trazer um médico aqui e curar Oliver. Pego minhas meias e luvas, não sei quanto tempo ficarei fora. Sentada na cadeira do meu quarto, calço minhas velhas botas. Não posso sair sem avisar que estarei bem. Pego uma folha do caderno e rabisco as seguintes palavras:

Não se preocupem comigo, estarei bem. Não tentem vir atrás de mim.

Releio minhas letra grande umas três vezes para ter certeza de que isso é o certo. Imaginando o que eles sentirão ao ler isso. Tento não pensar nisso. Deixo o papel dobrado ao meio em cima da mesa. Pego minha mochila e saio do quarto. Faris me segue até o sofá. Olho para Oliver e tento controlar minhas lágrimas. Me abaixo e beijo sua bochecha.

– Você vai ficar bom logo – sussurro. Beijo seus lábios quentes. Olho pro chão e vejo Faris sentado, me olhando. – Não suba no sofá!

Ao abrir a porta, sinto o frio invadir cada parte do meu corpo á mostra. Desço as escadas e atravesso a rua, passando pelo colégio. Ainda tenho que andar um pouco até o portão. Ao passar pela escola, olho para trás, na direção do bar, respiro fundo e volto a andar. Será que verei o pessoal denovo? O velho Joel, Sue, o mágico Elliot, e até o chato do Steel?

Passo pela prefeitura que já está meio decaida e por umas casas. As poucas pessoas que estão nas ruas nem notam que estou andando por aqui. Já estou á uns metros do portão, tenho que passar por entre duas casas á frentre para ver o portão. Passando pelo beco, tem uma leve subida de terra e avisto o portão de madeira. Subo e boto a mão no portão, ele não está trancado, só encostado. Abro o portão e passo por ele, me viro para encostá-lo de volta. Procuro por uma árvore alta, tenho que esperar pelos mercadores. Se eu subir numa árvore, poderei vê-los se aproximando do portão. Avisto a árvore perfeita á uns dois metros. Subo na árvore e alcanço um galho forte o bastante para me aguentar. Sento no galho e espero.

Não demora muito e avisto os dois saindo do beco entre as duas casas. Eles passam pelo portão e entram na floresta. Desço calmamente da árvore e vou atrás deles, se eu perdê-los de vista, eu me perco. Ao seguí-los, ando lentamente, fazendo o menor barulho possível com os galhos no chão. Ao entrarmos num lugar plano, onde as árvores estão mais afastadas do centro, tem pedras de todos os tipos e tamanhos espalhadas. Ambos param e sentam no chão. Atrás de uma árvore, os observo. Paul pega um cantil de dentro da mala e leva á boca.

– Estou com fome – ouço Roland dizer. Paul mexe na mala e joga para Roland uma pequena mochila verde escuro. Roland o abre e pega pedaços de carne e joga na boca. – Estão frias mas estão boas.

– Que nojento! Esquenta isso – diz Paul, torcendo o nariz.

– Não, vai dar mais trabalho. Você não quer ver logo seu filho? – Paul balança a cabeça em concordância, ainda com cara de nojo – Então.

– Vamos logo – diz Paul, e joga o cantil na mala.

– Certo, certo. – Ele joga a pequena mochila para o Paul.

Os dois se levantam e voltam á andar. Eu continuo seguindo-os atrás das árvores. Eles nem notam que alguém os segue, eles param pouco para descançar. Sinto fome e pego uma maçã da mochila, fazendo de tudo para não fazer barulho, mas eles não notam o barulho da sacola de dentro da minha mochila. Eu não estou muito perto deles, mantenho uma distância boa entre eles. A floresta parece calma, os pássaros em cima de árvores cantam, esquilos correm ao me ouvir chegar perto, e eu já estava quase suando. O tempo esquentou um pouco. Fico imaginando se Oliver já acordou, se ele já está no bar ou se está procurando por mim. Seu desmaio só forçou á ideia de eu ir na cidade, não o verei desmaiar mais, nem ficar mal... Crec Olho pro chão e sob minha bota direita têm um galho partido ao meio. Eles param, me encosto rapidamente na árvore mais próxima e me viro. Como pude me destrair dessa forma? Ótimo, eles vão me descobrir aqui. Minha respiração fica pesada. Fico paralisada.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima! ô/
Bjkss'



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