Escolhidos escrita por Sahh


Capítulo 5
5




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Entramos no bar e meu pai sai da cozinha. Ele me olha surpreso por me ver no bar e não em minha cama, onde eu deveria estar – onde, provavelmente, minha mãe contou para ele o meu estado pela manhã. Atrás do balcão, o velho Joel sorri ao retirar os copos da bandeja de cima do balcão. Tenho a nítida impressão de que seu sorriso não era para o movimento no bar.

Oliver começa a andar em direção á porta da cozinha, ele vira para mim, possivelmente querendo ver se eu estava bem, ver se estava tudo bem me deixando para entrar na cozinha. Para não preocupá-lo, dou um meio sorriso. Seus ombros não relaxam como eu esperava. Mas ele se vira de volta e entra na cozinha. Vou para meu lugar de sempre, aos banquinhos em frente ao balcão. Me sento e logo quero saber se tem algo para ajudar no bar, quero evitar meu nervosismo e minha inquietude com os olhares ás minhas costas.

– Joel, ajuda na cozinha?

– Por enquanto não, Eve – diz ele, arrumando as garrafas na prateleira de trás. Ele se vira, sorridente. – Sabia que não demoraríam a voltarem a se falar. – Ele sorri gentilmente.

– Matou aula para namorar, é? – pergunta alguém atrás em voz alta. Me viro e olho para o Steel. Não fico com vergonha quando ele sempre diz algo entre mim e Oliver. Fico com raiva. Ele não têm o direito de falar nada, é só um bêbado que esquece onde mora ou esquece as calças, como aconteceu há uns mêses. Pela sua cara, ele já estava em sua quarta garrafa, imagino. Sua cara está totalmente abatida. O doutor Edlund já desistiu de vir aqui para impedí-lo de beber, mas Steel é bem mais alto do que o doutor. O doutor saiu daqui berrando para Steel deixar a bebida, ou acarreterá piores danos á saúde dele, mas ele não escuta ninguém. Viro a cabeça de volta para Joel e reviro os olhos.

– Quando ele vai parar com isso?

– Steel pode até ser um velho bêbado, mas em um ponto ele tem razão. Afinal, ele só vai parar quando você mesma aceitar – diz ele. De fato, meio que aceitei. Eu e Oliver não trocamos beijos ontem e hoje? Provavelmente, ninguém viu. Ninguém sabe. Mas isso não é segredo.

– Filha – chama-me meu pai ao meu lado. Eu estava concentrada em meus pensamentos e nem o vi chegar perto. – Sua mãe disse que você não estava bem para ir a escola. Tudo bem agora?

– Ah, tudo bem. Talvez fosse só o cansaço – digo. Ele balança a cabeça em concordância, ele é o tipo de pai que se preocupa bastante quando ficamos calados por muito tempo. Ele passa a mão carinhosamente na minha cabeça e se afasta para a porta da cozinha.

Por aqui, falam bastante de mim e Oliver, não nego e nem concordo, pois gosto quando dizem algo sobre nós e não concordava por que eu não sabia dos sentimentos de Oliver.

O que será que meu pai acha disso tudo? Ele nunca tocou nesse assunto, e nunca falou da minha amizade com Oliver. Acho que ele via Oliver mais como um irmão para mim.

¨Me lembre de falar com o senhor Marshall de noite? ¨. A frase de Oliver dança alegremente em minha cabeça. Mas meu pai aceitaria isso, não aceitaria? Meu pai ouvia sobre nós dois aqui no bar e em todos os lugares, claro que sim. Meu pai é uma pessoa calma. Mesmo quando algo o estressava, papai não tirava a sua postura calma, era o que minha mãe dizia. Até ela, ás vezes, sentia medo de sua calma toda. Uma gota de suor desce perto da minha sombrancelha direita. O bar está quente, preciso respirar ar puro, não de cerveja.

Levanto-me do banco e me dirijo á porta. Olho para trás e ninguém nota que me levantei e que estou na porta. Oliver entrou á pouco na cozinha e meu pai está falando com o Joel no balcão. Saio porta a fora e o sol da manhã está forte, venta um pouco. Ao lado da porta, tem o velho banco azul. Me sento nele e me curvo, coloco os cotovelos nos joelhos e olho para as velhas tábuas sob as minhas botas. Oliver não quer me escutar, a cidade é o melhor lugar para levá-lo. Lá eles têm médicos capaz de curá-lo. Sei disso por causa dos mercadores, eles dizem que na cidade têm de tudo. E pela televisão passa poucas coisas sobre a cidade, a maioria é sobre guerras. Não quero ficar sentada vendo Oliver morrer, não quero ter que ver os choros de Luke perguntando pelos pais e pelo irmão, explicar será difícil. Ouço a porta velha do bar se abrir e olho em sua direção, meu pai parece preocupado. Ele senta do meu lado.

– Tem certeza que está tudo bem? – Não gosto de preocupar meu pai nem com uma simples febre ou o que seja. Olho para ele e sorrio.

– Claro – digo. Fico pensando, será que Oliver contará para meus pais sobre sua doença? – Pai, Oliver vai lá em casa hoje á noite.

– Que ótimo. Faz tempo que ele não aparece para jantar – diz sorrindo. Meus pais gostam bastante de Oliver, e para ele, meus pais são como seus pais. – Joel está te procurando, ele precisa de ajuda na cozinha.

– Ok – hesito. Tenho algo a perguntar. – Pai, o senhor já foi na cidade?

– Não, sou daqui desde que nasci, mas você sabe disso. Por quê?

– Não sei – digo. Preciso fazer algo por Oliver, não vou conseguir ficar sentada e vê-lo morrer. Não conseguirei mesmo. – Fiquei interessada na cidade. Lugares novos seria legal. – Meu pai levanta as sombrancelhas.

– É. Quem sabe. – Ele pisca para mim e sorri – Vamos lá, trabalhar. – Ele se levanta e entra no bar. Suspiro e entro no bar atrás dele.

Fiz quase o mesmo de sempre, lavar os copos e os pratos. Não era muito trabalhoso. Eu estava nervosa com o fato de Oliver querer conversar com meu pai. E estava pensativa demais no caso de Oliver. Temos que dar um jeito de ir na cidade, só assim ele pode melhorar, podemos evitar isso, mas ele não quer me escutar. Ele já se conformou que é o fim... Eu não quero isso. Nem que eu tenha que ir sozinha na cidade arrumar um médico, não quero nem pensar no que vai acontecer depois. A ideia é absurda, ir na cidade é como se eu fosse para minha morte, não sei o que vou encontrar lá, mas tenho que ir, pelo Oliver. Espero que os mercadores venham aqui hoje, vou perguntar á eles tudo o que preciso saber do caminho daqui até a cidade. Mas tenho medo de sair desse lugar, medo de não encontrar o caminho de volta. A nossa volta, é só floresta.

Já está tarde, eu havia lavado a louça e varrido a cozinha. Os mercadores não vieram hoje, espero que venham amanhã. Eles quase não têm dia para vir. O trabalho deles é muito arriscado, passam pela floresta onde encontram os animais selvagens. O presidente fala muito nisso, ele diz que é arriscado ir para a floresta. Os mercadores falam que nada de anormal encontram na floresta, mas quando alguém aqui sai do vilarejo, jamais volta.

Eu estou como sempre, sentada no balcão esperando meu pai e Oliver terminarem de arrumar o resto. Ao terminarem, fomos á caminho de casa. Oliver, primeiramente, iria á sua casa, para dar uma olhada em Luke e pôr ele para dormir. Entrando em casa, meu pai avisou a minha mãe que Oliver iria jantar lá em casa, minha mãe adorou, ela sempre gostou de Oliver.

Vou para o meu quarto e caio na cama. Tenho que terminar o dever de matemática e ainda tem o jantar. Suspiro. Me levanto e vou tomar um banho. Embaixo do chuveiro é mais fácil organizar as ideias. Tomo um longo banho, quero tirar esse cheiro de cerveja que ficou nos meus braços e mãos. Ao colocar um vestido verde claro, minha mãe bate de leve na porta do meu quarto.

– Filha, Oliver chegou. Vamos começar o jantar – diz ela. Eu abro a porta e pelo canto do olho vejo Oliver sentado no sofá com meu pai.

– E Brandon? – pergunto.

– Ah, ele já chegou, está na cozinha devorando algo – diz ela sorridente. Acompanho-a até a cozinha para pôr a mesa, chegando lá, vejo Brandon sentado á mesa com uma maçã na mão.

– Não foi você quem disse que não gostava de maçã? – pergunto para ele. Ele sorri.

– Tô com fome – reviro os olhos para minha mãe, ela sorri.

Ajudo minha mãe a colocar os pratos na mesa. Brandon chama meu pai e Oliver para a mesa. Eu já estou sentada, colocando uma concha de sopa no prato, Oliver senta do meu lado e sorri. O jantar corre naturalmente, apesar das trocas de olhares e do silêncio sobre a mesa. Minha mãe tinha feito para a sobremesa uma torta de morango que aprendeu á fazer com a ajuda da Abigail, e está ótima.

Terminada a sobremesa, Oliver fala com meus pais que quer ser mais do que um amigo para mim, eu olhava para os meus dedos entrelaçados em cima do colo. Poucas vezes eu levantava os olhos para olhar o rosto dos meus pais. Minha mãe parecia satisfeita, como se já esperasse por isso. Meu pai parecia somente pensativo, até que olhou sério para Oliver, senti o mesmo tremer, em seguida, meu pai sorriu e botou a mão no ombro de Oliver.

Vejo que Oliver vai começar á contar sobre sua doença, me levanto e vou para meu quarto. Sento-me na cama e fico me balançando para frente e para trás. Tapo os ouvidos, não querendo imaginar como ele estaria contando. Preencho minha mente com coisas felizes, com pequeniques alegres na nossa árvore aos domingos. Como o rosto de Oliver se preenchia de felicidade só por ver um Bluw e vê-lo sorrir quando eu via morangos, ele sempre parecia satisfeito com a cena. Lembrei-me de Luke, com seus bracinhos e perninhas gorduchas tentando andar, e rindo quando Oliver fazia careta, sua risada pequena e gostosa. Paro de me balançar e lágrimas escapam dos meus olhos, abaixo a cabeça e coloco a mão na testa, na tentativa de esvaziar minha mente, mas não adianta, as lágrimas insistem em sair. Alguém entra no meu quarto e vêm em minha direção, olho para cima e vejo minha mãe, como ela ficava diferente sem aquele sorriso doce dela, sem suas leves rugas no canto dos olhos que surgiam quando ela sorria. Ela senta do meu lado e me abraça.

– Seu pai acompanhou Oliver até a casa dele – sussurra ela. Balanço a cabeça em concordância.

Essa noite consegui dormir. Depois de minha mãe tentar me consolar ontem, acabei dormindo em seus braços. Acordei enrolada na coberta e ouvia os pingos de chuva baterem na janela. Me levanto e olho pela janela, as nuvens cinzas davam o sinal de um dia longo de chuva. Olho pro despertador e vejo que faltei mais um dia de aula. Saio do quarto e vou para a cozinha, com Faris me seguindo. Ninguém em casa, estão trabalhando. Boto leite no copo e me sento na cadeira. Faris sobe na cadeira e coloca as patas pretas na mesa e me olha com aqueles olhos redondos e verdes.

– Sei que já comeu, seu prato está vazio – digo á ele. Ele abaixa as orelhas, desce da cadeira e sai da cozinha.

Giro o copo entre os dedos. Antes de pegar no sono ontem, eu pensava numa maneira de ir á cidade, preciso ir, não vou aguentar isso tudo, preciso ajudar Oliver. Eu só espero que os mercadores venham hoje, sem eles, não vou saber se corro perigo nessa floresta. Não sei como acreditam nesses animais selvagens, dizem que os mercadores disseram que não existe nada do gênero, mas muitos preferem acreditar que sim, que tem perigo nessa floresta e assim, preferem ficar aqui dentro, onde parece ser mais seguro.


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Notas finais do capítulo

Té +! ô/
Bjss'



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