Escolhidos escrita por Sahh


Capítulo 3
3


Notas iniciais do capítulo

Opa, mais um capítulo!



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Entro na padaria e encontro Brandon limpando o vidro abaixo do balcão. Ele está passando o pano e me abaixo, encontro o rosto centrado dele, ele me olha e se assusta. Sorrio. Me levanto e ele também.

– Que susto, Eve – diz ele sorrindo.

– Eu não sou tão feia assim – digo, e mostro a língua.

– O bar já fechou? – pergunta ele.

– Ainda não. Vim comprar umas coisas.

– Então fale, senhorita Marshall. – Ele sorri.

– Vou querer dois bluws, senhor Marshall – digo, apontando para os pãezinhos com as coberturas em azul claro e amarelo.

– Sim, senhorita – diz ele. Ele gosta de brincar disso, desde que me entendo por gente. Ele brinca de me chamar assim, e eu faço o mesmo. Brandon pega os dois bluws com a sacola de plástico, enrola a boca do saco e me entrega, entrego á ele uma moeda.

– Brandon, ainda tem maçã em casa? – pergunto, colocando a sacolinha com os bluws na mochila.

– Têm, sim. Eu não como maçã, prefiro melancia – diz ele sorrindo.

– Sério? E as maçãs da semana passada? Mamãe e papai não iriam atacar aquilo tudo de maçãs. E só estava você em casa – digo, fixando o olhar nos olhos claros de Brandon. Ele desvia os olhos.

– Tá bom, é que estavam ótimas – diz ele, reviro os olhos.

– Te vejo em casa, Brandon.

– Claro, senhorita Marshall – diz ele, com um grande sorriso.

Saio da padaria e passo por entre a casa de Joel e o bar. Em frente ao bar, meu pai e Oliver estão conversando. Eles me avistam e sorriem.

– Onde você estava? – pergunta meu pai.

– Na padaria. Eu não acredito, Brandon comeu todas aquelas maçãs da semana passada? – Meu pai ri.

– Estamos falando do Brandon, Eve. – Lembra-me meu pai.

– Verdade – balanço a cabeça e sorrio.

– Vamos, garotos – diz meu pai, que já começara a andar.

Sorrio para Oliver, ele sorri de volta. Andando os três em silêncio, o único som era o do meu pai assobiando. Chegamos na porta de casa.

– Até amanhã, senhor Marshall – diz Oliver.

– Até amanhã, garoto – diz meu pai, entrando em casa. Fico do lado de fora com Oliver.

– Até daqui á pouco – digo, sorrindo. Ele sorri e se inclina para beijar minha bochecha. Um toque quente e delicado. Ele começa a andar, só entro em casa quando eu não consigo mais vê-lo ao longe.

Entro em casa e meu pai está vendo televisão. Minha mãe está ao seu lado, com a cabeça em seu ombro. Olho para os dois e sorrio. Vou para a cozinha, chego lá e vou na cesta de frutas, pego duas maçãs e as coloco numa sacolinha. Jogo-a dentro da mochila. Saio da cozinha e vou para meu quarto, mas antes, para não me chamarem ou desconfiarem que saí, preciso dizer algo.

– Papai, mamãe, vou ficar estudando no quarto, tá? – Não gosto de mentir para eles, mas acho que se eu falasse que eu ia me encontrar com Oliver à essa hora perto da casa dele, as chances de eu sair de casa novamente seriam pequenas.

– Ok, filha – diz minha mãe, com a voz sonolenta.

Tranco-me no quarto. O bom é que a janela de ferro do meu quarto é baixa, e assim, posso sair por ela. Olho pro despertador na mesinha, 22hs e 16, ainda dá tempo de fazer alguma coisa. Lembro do dever de casa de matemática. Me sento na mesa e pego o caderno na mochila. Tento fazer as questões mais fáceis hoje, as outras deixo para amanhã.

Olho pro relógio, 22hs e 35, não havia notado que o tempo passou voando. Fecho apressadamente meu caderno. Jogo minha mochila no ombro. Abro a janela, subo no parapeito dela e forço meu corpo para frente. Meus dois pés encontram firmemente o chão. Contorno a casa e ando na direção onde Oliver sempre vai.

Ando apressadamente. Passo pela casa da vizinha, continuo andando reto. Para pegar atalho, passo por entre duas casas, viro a direita e encontro a casa de Oliver, de madeira, toda bonitinha com o pequeno gramado á frente. Está tudo escuro lá dentro, sinal de que ele já deve estar na árvore. Imagino Luke dormindo na cama dos pais de Oliver. Passo pela casa de Oliver e pego outro atalho, passo por entre mais duas casas. Tudo em volta está calmo, as luzes dos postes não iluminam muito bem, já estão bem velhas. Onde começa a floresta, é uma pequena subida de gramado. Subo e vou em busca do grande pedregulho que fica abaixo da nossa árvore. A avisto, à pouco metros. Olho para cima da árvore e no tronco tem as madeiras pregadas que eu e Oliver as colocamos para subir nela. Subo na escadinha malfeita de madeira e encontro o tronco onde sempre nos encontramos. Ele não está lá. Olho para um lado, depois para o outro. Me sento no galho, que tem desenhado no tronco da árvore nossos sobrenomes, mostrando que essa árvore já têm donos. Ouço um farfalhar próximo. Olho para trás e não encontro nada além da escuridão dentre os galhos. Começa á ventar, e sinto um arrepio. Ouço galhos se mexendo.

– Oliver, se for você, para com isso – digo, trêmula. – Isso não têm graça.

– Desculpe – ouço a voz dele. Me viro e o vejo atrás de um galho. – Pensei que não vinha.

– Não vi o tempo passar – digo, botando a mochila no colo. – Estava fazendo dever. – Oliver senta do meu lado, ele coloca a mochila no colo. – O que você trouxe?

– Um saco de morangos! Peguei com o Steel hoje.

– Oh, amo morangos – digo, olhando pra mochila e quase babando. Ele ri.

– Eu sei. E o que você trouxe?

– Duas maçãs e... – Abro a mochila. Pego a sacolinha e mostro á ele os pãezinhos que ele mais ama. Ele sorri, olhando pros bluws.

– Meu preferido! – diz ele, hipnotizado pelos bluws.

– Eu sei, por isso os comprei. – Ele sorri e beija minha bochecha. Isso me lembra do por quê estarmos aqui. – Você, hum, queria conversar... sobre o quê?

– Sobre, hum, a gente.

– O que têm a gente? – pergunto, com o coração na mão. Ele olha para as mãos na mochila, depois olha pras minhas e as pega, seu toque é suave e quente.

– Eu... – Ele me olha, com aqueles olhos profundos. – Não consigo dizer... Vou ter que mostrar – diz ele, aproximando o seu rosto do meu.

Sinto minhas bochechas queimarem. Meus olhos fixos em seus belos olhos azuis que aos poucos se fecham. Faço o mesmo. O contado de seus lábios nos meus fez tudo á minha volta rodopiar, senti seus lábios macios. Eu sempre notei seu lábios, pensando no dia em que eu os tocaria com os meus. Seu beijo é suave, sinto chamas passando pelo meu rosto, como se ele as tivesse provocado. Ele se afasta, resmungo mentalmente por aquilo. Quero continuar beijando ele, eu tinha adorado aquilo. Suas bochechas ficam vermelhas. Ele fixa seus olhos no meus, procurando uma resposta.

– Ah, a gente – sussurro. – Hum...

– Se não gostou – diz ele, abaixando os olhos –, vou entender...

– Não, eu gostei, só estou pensando.– Ele volta a me olhar. – Calma...

– Eu queria ser mais do que seu amigo – diz ele, olhando nos meus olhos, pelo canto do olho, reparo que ele está esfregando as mãos. Ele o faz sempre que está nervoso.

– Mais... que amigo? – sussurro. Ele balança a cabeça em concordância. – Como seria? – Ele sorri e bota a mão no meu queixo, me aproximo mais, fazendo nossos rostos ficarem novamente à centímetros de distância. Fecho os olhos e me afundo em seus lábios macios, coloco minha mão em seu cabelo. Sua língua pede passagem e a deixo. Ele acaricia meu braço, e eu estou adorando isso. Nos afastamos.

– Você fica linda vermelha – diz ele, me fazendo corar ainda mais. Sorrio sem jeito. Ele bota a mão no meu rosto, com a mão livre, a pego e a beijo. – Por que demoramos tanto?

– Provavelmente, um achava que o outro não sentia o mesmo – concluo. Ele balança a cabeça, sorrindo.

– Você sente o mesmo? – pergunta ele. Balanço a cabeça em concordância. Ele sorri e me abraça. – Desculpe por ter rido de você naquela hora... – Saio de seu abraço para olhar em seus olhos.

– Você ainda lembra disso? – sussurro. Ele sorri e me dá um pequeno beijo.

– Eu não devia ter feito aquilo – seguro sua mão e o vejo sorrir. – Não é imaginação minha? Os bluws estão aí? – Eu rio.

– Estão. – Abro a mochila, tiro o saquinho e o entrego. Ele abre e pega um, fica o admirando e sorrindo. – Não vai comer? Eu posso ficar com eles.

– Nem pensar! – diz ele, e rimos. Ele come seu bluw aos poucos, tentando saborear cada pedacinho. Ele termina de comer o seu. – Posso ficar com o seu? – Ele me olha com cara de pidão. Pego o meu e direciono á sua boca, ele ia abrir a boca pra morder e o tiro, mordo um pedaço.

– Nem pensar! – digo, com o mesmo tom de voz que ele havia usado. Adoro esse pãozinho, o creme amarelo derrete na boca e o azul é tão doce e irresistível. Ofereço o meu pãozinho á ele. – Um pedaço, hein – digo, e ele pega um pedaço maior do que imaginei. – Ei! – digo, olhando o lado em que ele quase arrancou metade. Ele mexe na mochila e tira uma sacolinha.

– Uma troca. – ele sorri. – Você me dá o pãozinho e esse saquinho fica todo pra você – hesito. Olho do pãozinho, em seguida, para o saquinho de morangos.

– Isso é injusto. Você já comeu o seu. – Ele ri. – Vamos dividir, então. – Com as mãos eu tiro metade do meu pãozinho e dou para ele, ele me entrega o saquinho. Depois de comido uns cinco morangos, falo:

– Não vai querer?

– Pode ficar com tudo, fico feliz vendo você comer morangos. – Ele sorri.

– Toma, se não aceitar não falo mais com você.

– Ei, isso não vale – diz ele, rindo.

– Vale, sim. – Estendo o saquinho. – Pelo menos três?

– Tá bom. – Ele pega três e as come. Nesse nosso pequeno momento, noto que ele parece inquieto, como se algo o incomodasse. Deixo os morangos de lado e olho para ele, ele está esfregando as mãos.

– O que houve? – pergunto.

– Eve, precisamos conversar sobre algo – diz ele, sério.

– Sobre o quê?

– Eu... Olha, se algo acontecer comigo, você promete que cuida do Luke?

– O-O quê? – Ele pega minha mão.

– Por favor, Eve. Promete – diz ele, seus olhos estão entristecidos.

– Oliver, para com isso. Por que está falando isso? – pergunto, ele abaixa a cabeça. – Oliver, o que foi? – Eu vou chorar. Por que ele está falando dessas coisas? Começo á tremer.

– Eu estava há semanas passando mal. Eu tossia e saia sangue. Já não aguento muito peso. Parecia que minha cabeça ia explodir de tanta dor. Fui no doutor Edlund há uma semana... ele disse... Disse que posso ter um prazo de vida... – Oliver não é de mentir, ainda mais se tratando de doença.

– Ele não confirmou, não é? Não. Não, ele não têm remédios, um tratamento ou sei lá? – Eu já estava nervosa, não quero acreditar nisso. – Oliver, na cidade podemos tratar disso, eles têm médicos melhores do que aqui... Oliver... – Abaixo minha voz e começo a tremer.

– Não adianta. O doutor disse que essa doença já está avançando... E posso mor-

– Não fala isso! – interrompo ele. – Você não vai morrer. Você não vai deixar o Luke, você... não vai me deixar! – Já estou chorando. Respiro com dificuldade. Eu não acredito nisso, Oliver não vai me deixar. Ele tenta me abraçar, eu bato em seu peito, tentando afastá-lo. Ele não desiste de tentar me abraçar, bato várias vezes e ele não recua, paro de bater e ele me abraça forte. – Oliver... Por que não falou antes?

– Eu não tinha certeza, o doutor também não tinha certeza. Ele disse que isso ia além de seus estudos... – Sua voz está fraca, sinto seu corpo tremer. – Vai cuidar do Luke por mim?

– Oliver... – digo, limpando as lágrimas.

– Eve, por favor. Isso está sendo muito difícil... Luke não têm pai, não tem mãe, e vai perder seu irmão...

– Eu cuido dele – digo, não querendo ouvir o resto, não querendo acreditar. Ele me abraça mais forte.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo, pessoal!
^.^



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