Escolhidos escrita por Sahh


Capítulo 2
2


Notas iniciais do capítulo

Ô, povo lindo! Mais um capítulo. ^~^
Boa leitura á todos! ô/



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Hora da saída, eu tenho que esperar por Holly para falar sobre o dever de matemática. Ela foi na biblioteca e eu disse que a esperaria do lado de fora da escola. Saio pelo portão da escola com alguns amigos e nos despedimos. Atravesso o pequeno gramado verde escuro, me encosto em uma velha árvore, com a mochila no ombro. Quando eu era mais nova, meu pai preferia que eu fosse ao bar quando saísse da escola. Ele não queria que eu ficasse sozinha em casa, por causa dos desaparecimentos que vinham acontecendo por aqui. Todos tinham medo de deixar seus filhos sozinhos. Eu prestava atenção nesses desaparecimentos, somente jovens desapareciam; meu pai queria prevenir, me fazendo ir ao bar. Mas eu gostava de lá, antes eu somente ficava no banquinho do bar, rindo com o velho Spense, vendo meu pai trabalhar. Sempre gostei de vê-lo trabalhar, e observava Oliver.

Quantas pessoas sumiram eu não consegui contar direito. Lembro que o amigo de Brandon, que trabalhava na padaria sumiu á dois anos; o filho do ex-prefeito sumiu á quatro anos. Uma menina loira, filha da dona da botica que sumiu faz quatro anos. Lembro-me também de um garoto que ajudava o velho Steel com sua pequena fazenda, esse também já faz quatro anos que sumiu. Enquanto pensava nesses desaparecimentos, eu observava um buraco na areia, abaixo da árvore, onde um monte de formigas vermelhas saiam e entravam. As que entravam traziam algo em suas costas...

– Parecem interessantes – diz uma voz ao meu lado. Olho para trás.

– Que susto, Oliver – digo. Acerto minha mochila no braço dele. – Quer me matar? – Ele se esquiva e vou atrás dele, ainda tentando dar uma mochilada nele. Ele anda para trás e eu o sigo, ainda com as mochiladas.

– Ei, calma aí – diz ele, com as mãos levantadas. Ao tropeçar numa pedra, eu senti que ia cair de cara no chão, mas não caí. Braços me seguraram pela cintura. Olho pro lado e vejo Oliver me segurando e sorrindo. Me levanto e ele começa a rir.

– Que bom que te divirto – digo, em tom de desgosto. Odiei o fato de ele continuar rindo por eu ser boba e quase cair. Amelia aparece. Eu já estava com raiva. – Amelia, desculpa, nos falamos outra hora. – Me viro e ando em direção ao bar. Não fica muito longe, era só atravessar a estreita rua, passar pela casa de Joel e pronto. Andando rápido, chuto as pedrinhas que estão no meu caminho com força.

– Ah, Eve, espera aí – diz Oliver, tentando acompanhar meu ritmo. – Tá chateada por que ri de você, não é? – Eu odiava o fato de ficar chateada com ele, mas eu parecia tão boba e tão fácil de se levar quando estava com ele. E isso é horrível. – Eve Marshall! – Seu tom de voz mudou. – Pare com isso agora mesmo! – diz ele, tentando parecer durão. Mas ele nunca conseguia. Eu até podia rir dessa cena se eu não estivesse com raiva.

– Você não manda em mim, Oliver Baker! – digo, com firmeza.

Entro no bar e evito os olhares estranhos. Atravesso o bar e entro na cozinha, deixo minha mochila no banquinho que fica perto do depósito de alimentos. Me viro e vejo Oliver encostado na porta dos fundos, de braços cruzados e com o rosto sério.

– Vai ficar brava comigo só por que ri de você? – Oliver anda até mim. – Desculpa – diz ele. Aqueles belos olhos azuis me olham profundamente, eu sempre me sentia bem com ele, olhava para ele e me sentia segura, como se nada no mundo pudesse me fazer algum mal.

Ignoro-o e saio dos fundos do bar, sento no mesmo banquinho de sempre do balcão. Joel está secando um copo de vidro. Ele se vira e coloca na estante de atrás. Oliver sai dos fundos do bar com um olhar sério, evito seu olhar.

– Joel, tem algo que eu possa fazer? – pergunto. Quero me distrair, não ficar pensando naquela briguinha boba que tive á pouco.

– Ainda não, Eve – diz ele, sorrindo. Ele olha para Oliver e, em seguida, olha para mim. Faz isso umas três vezes e conclui: – Brigaram, foi? – Eu resmungo e viro a cara. Joel ri. – Ainda quero vê-los juntos. – Abaixo a cabeça. Eu, definitivamente, não quero mostrar meu rosto totalmente vermelho para Joel e nem para ninguém, eu nem quero imaginar o quão vermelho deva estar.

– Spense, me passa o avental, por favor – pede Oliver, em voz baixa.

Ouço os passos de Joel se afastando e, em seguida, voltando. Joel Spense é um bom homem, nunca casou. Ele é bem velho. Spense tem ombros largos, barba curta e branca, com o cabelo bem penteado para trás. Passos se aproximam e vejo as surradas botas pretas do meu pai abaixo do meu braço, levanto o rosto e, de esguelha, vejo Oliver tirando os copos de cerveja de uma mesa.

– Tudo bem na escola, filha? – pergunta meu pai, com a voz calma. Meu pai é um bom homem, sempre preocupado comigo.

– Tudo sim, pai – suspiro. – Tudo bem? – pergunto, tentando manter minha cabeça fresca, tentando fazer com que ele não repare que estou brava com alguém.

– Tudo...

– Outro copo! – grita o homem velho e magro da mesa de perto da porta. Steel, o velho chato que adora me perturbar. – Ora, Thomas, a menina Eve está muito bem, ela só brigou com o namorado, coisa de gente jovem! – diz, em voz alta. Olho para Oliver pelo canto do olho e ele parece desnorteado, até as maçãs de seu rosto ficarem vermelhas.

– Cala a boca, Steel – manda Joel. Meu pai me olha estranho, ele pega o copo que Joel havia colocado no balcão. Dou de ombros.

– Ele adora implicar comigo, pai, acostumei – digo, na tentativa de manter as coisas melhores.

Meu pai sabe que Oliver é meu amigo, sabe que ele é um ótimo amigo, mas não sabe do que sinto por ele, claro que não sabe. Meu pai pega o copo e se vira para levar na mesa de Steel, o velho barbudo. Olho para Oliver na outra mesa, ele ainda parece confuso. Ele balança a cabeça e sorri para mim. Ele se vira e entra na cozinha, com uma bandeja de copos.

Observo pela janela de perto do balcão o quanto o tempo hoje está calmo. As folhas da pequena árvore recém plantada perto da janela, balançam suavemente. Joel conversa um pouco comigo sobre a escola, eu digo sobre as mochiladas em Oliver e ele ri. Pelo canto do olho, vejo Oliver saindo da cozinha, de volta com os copos limpos na bandeja, ele chega perto de mim e bota a bandeja no balcão. Quando Joel se vira para a estante, Oliver rapidamente enfia um papel amarelo dobrado embaixo do meu braço. Ele me olha e sorri.

Oliver se vira para pegar mais copos da outra mesa. Olho em volta, para ver se alguém olhava para mim. Ninguém. Pego o papel e o coloco no bolso da saia. Minhas mãos tremem. Quero ler logo esse papel que Oliver me deu. O bolso parece vibrar, parece se mexer, parece querer jogar para fora o papel para eu ler logo. Me levanto e vou em direção ao banheiro. Lerei o papel aqui banheiro do bar mesmo. Fecho a porta e me sento no vaso. Pego o papel e o abro. A letra pequena e fina de Oliver diz:

Eve, aparece na nossa árvore hoje, ás 22:30. Precisamos conversar.

Minhas mãos tremem. Admito que sou teimosa, sim. Temo que seja algo que fiz, algo que ele não gostou. Sei que brigamos, e sei que fui muito idiota em brigar com ele por que ele riu de mim. Oliver é paciente, mesmo em minhas crises, ou até mesmo brigando por algo tão fútil. Na nossa árvore hoje eu aproveito e falo o que sinto por ele, preciso fazê-lo, antes que alguém chegue antes de mim.

Na nossa árvore, meu lugar favorito desse lugar. A árvore enorme onde eu e Oliver subimos nela. Em uns troncos da árvore, dá até pra dormir, por ser espaçosa. Sempre vamos lá, fazemos piqueniques e nos divertimos lá. Dobro o papel e devolvo ao bolso da saia. Suspiro antes de abrir a porta do banheiro. Abro e vou em direção ao balcão, me sento e fico rindo das piadas que Joel é bom em contar. Oliver sai da cozinha e me olha. Sorrio para ele.

Por um tempo, fico sem ter o que fazer, até que a pilha de copos que tenho que lavar se torna grande. Sue, a outra ajudante no bar – e acho que, namorada do meu irmão – está gripada. Então, tenho que fazer bastante coisas por aqui, pelo menos garantirá mais trocados. Meu pai faz umas pequenas coisas na cozinha, já que Sue está doente. Como todos por aqui sabem que Sue não está bem, os que adoram a comida dela nem vêm pro bar. Mas os que bebem não faltam aqui. Oliver de cinco em cinco minutos aparece na cozinha, trazendo menos copos a cada minuto.

– Esse pessoal bebe demais – diz ele, limpando o suor da testa. Sorrio. É difícil ficarmos brigados por tanto tempo. Ele se encosta na pia, de costas para mim e de braços cruzados.

– Alguns bebem para esquecer a dor – digo.

– Coração partido... – diz Oliver, pensativo. Mesmo que ele não veja, concordo balançando a cabeça. Ele suspira. – De volta ao trabalho. – Ele sai de perto da pia e anda para a porta. – Não esquece a árvore.

– Piquenique?

– Também. – O som de seus passos se distanciam. Meus ombros caem. Hoje vou falar com ele, será que é isso que ele quer falar comigo? Um sorriso brota nos meus lábios. De repente é isso. Eu não posso ser a única aqui que está sentindo isso, será que ele gosta de mim assim como eu gosto dele? É hoje que vou ver.

Termino de lavar os copos e coloco o que cabe na bandeja. Vou até o balcão e coloco-a nela.

– Obrigado, Eve – diz Joel. Ele pega os copos e enfileira na estante atrás. – Já sabe, não saia do bar antes de eu lhe pagar.

– Não esqueço – digo e sorrio.

Sento-me na cadeira perto do balcão, de costas para a estante de copos, boto os cotovelos em cima do balcão e olho o movimento. Está tranquilo e normal. Olho para a mesa em que o velho Steel meio que vive ali. É a mesa dele, a que fica perto da porta. Escorado no banco ele levanta o olhar em minha direção e sorri, com o copo na mão, ele o estende á mim antes de jogar para dentro o líquido de uma só vez. Bate o copo com força na mesa, não sei por que ele se destrói assim. Balanço a cabeça. Velho sem noção, vive para implicar comigo. Oliver está atendendo a mesa das irmãs Klein, uma do cabelo curto castanho, sobrancelha feita á lápis e lábios de um vermelho muito forte. A outra é baixa, olhos puxados, cabelos grandes e pretos, o contorno dos lábios é de um lápis marrom. Esse pessoal inventa cada moda. Reviro os olhos.

Horas se passam, eu ajudo meu pai com uns poucos pratos de comida que Sue o havia ensinado. Varria o chão ou empilhava os copos para o Joel quando ele teve que resolver algo sobre mercadorias.

As mercadorias daqui são trazidas da cidade por dois homens, dependendo da mercadoria. Existem cinco mercadores: para os tecidos e roupas, tem o Roland e Paul; comidas e bebidas, Phil e Joe; quem vende os objetos é a Nessie. Eles são os únicos que transitam pela floresta, o resto não se atreve, por causa dos animais ferozes na floresta. Quando eu tinha uns doze anos, tentei uma vez sair daqui, até que consegui achar o portão. Com medo de me perder do vilarejo, voltei, pois aqui é minha casa, nasci aqui; voltei correndo, não contei á ninguém, só ao Oliver, ele também é louco para conhecer a cidade, mas ninguém se atreve á sair, ainda mais com mensagens do presidente sobre as florestas.

Olho pela janela – que fica ao lado do velho alvo com os dardos vermelhos presos, onde usamos para nos distrair um pouco – e vejo que já está escuro lá fora, além dos postes ligados, tudo parece calmo. Olho para o velho relógio, que fica acima da porta de entrada do bar, 21h e 45, faltam ainda 15 minutos para o bar fechar. O movimento fica mais lerdo, já que está prestes á fechar. Steel, como sempre, permanece em seu lugar, ele só sai quando Joel o expulsa. Joel sai da cozinha, cansado, com os ombros caídos, assim como seus olhos. Ele me olha e sorri.

– É mesmo. Seu pagamento. – Ele vai para trás do balcão e se abaixa. Ali fica a caixa onde ele coloca o dinheiro. Ele pega umas moedas, na palma da mão ele as conta. Conto junto com ele, dez moedas de cor amarelada, isso está ótimo. Ele estende para mim. – Obrigado, Eve. – E sorri.

Pego as moedas e vou para os fundos do bar, abro minha mochila e as coloco no bolso da frente, jogo a mochila no ombro. Meu pai está ajudando Oliver á pegar os últimos copos que sobraram nas mesas e levam á cozinha. Aproveito e vou dar uma passada na padaria, para o piquenique na árvore hoje.


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Notas finais do capítulo

Isso aí, leitores!
Quando puder, postarei o próximo.
Bjss"



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