Escolhidos escrita por Sahh


Capítulo 12
12




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Estico o braço até a mesa á procura do velho despertador vermelho. Ao desligá-lo, me sento preguiçosamente na cama. Levanto-me e afasto as cortinas, trazendo pro quarto a claridade do sol. Viro o rosto, fugindo da luz que me cega. Hoje é sábado, não tem escola mas tem o bar. Só de pensar em aturar o velho Steel minha cabeça dói. Mas Steel está diferente, parece até mais sóbrio. Eu não devia, mas eu quero, preciso descobrir o que Roland tanto conversava com Steel. Mas nada vêm á mente.

Saio com meu pai e Oliver para o bar. Sinto-me feliz. Ontem, com Luke e Oliver no sofá, eu estava realmente bem, como se não tivéssemos que enfrentar nada. Eu tinha colocado Luke para dormir e em seguida abracei Oliver, sentindo sua quentura e seu braço pelas minhas costas. Aquilo era tudo o que eu precisava. É daquilo que vou sentir falta.

Sue parece bem feliz no bar, entra alegremente na cozinha. De vez em quando conversamos e rimos de Brandon. Era engraçado o seu nervosismo. Sue diz que Brandon planeja falar com sua mãe logo, eu digo á ela que ele vai ficar mais nervoso e ela riu.

Sentada no meu banquinho de sempre, observo Steel. Ele não nota que eu o vigio, na verdade, ele não nota nada. Não era a bebida, mas algo em seu rosto mostra infelicidade. Ele gira o copo entre os dedos brancos e esqueléticos, concentrado no movimento que a bebida faz quando ele gira o copo. Ao seu lado, a porta se abre, revelando um Roland muito melhor. Ele senta ao lado de Steel e pede ao meu pai uma bebida. Meu pai vai até o balcão e pede a garrafa ao Spense. Uma ideia surge em minha mente de imediato. Me levanto do banquinho e vou até meu pai.

– Pai, se quiser eu levo o copo. A pia de lá de trás ainda está com problemas – digo.

Já faz um tempo que Joel tentou consertar a pia e nada deu certo. Ele disse que iria falar com meu pai, mas acho que ele havia esquecido. Lembrei em bom momento. Meu pai olha para a mesa de Steel e volta a olhar novamente para mim.

– Tem certeza?

– Sim. Não esquenta, Steel não parece tão assustador quanto antes – digo e sorrio.

Não era isso o que meu pai queria ouvir, mas surtiu efeito desejado. Meu pai suspira e entra na cozinha. Olho para o velho Spense, que me olha desconfiado, empurro levemente o copo para ele enchê-lo. Ele levanta as sobrancelhas, em seguida, balança a cabeça. Lentamente, ando até a mesa de Steel com o copo na mão. Roland está de costas para mim e cochicha algo. Steel está de cabeça baixa, ouvindo atentamente os cochichos de Roland.

–... dessa vez foram quantos? – ouço Steel perguntar.

– Cinco... sabemos que faltam três, o pessoal sabe que dois serão daqui – sussurra Roland. Steel faz uma cara séria, uma cara que eu nunca tinha visto antes nele. Ele nota que eu estou perto deles, ouvindo-os. Ele rapidamente levanta a cabeça, fazendo com que Roland olhasse em minha direção. Roland sorri. – Eve, como vai? – Ele não é tão simpático assim comigo.

– Bem. Aqui está – Coloco o copo na mesa e vou para o meu banquinho no balcão. Ouvi algo que Roland não gostou, óbvio. Mas o que foi? Cinco o quê? Dois daqui? Argh! Chega! Chega disso. Chega de me meter onde não devo, não quero confusões. Por mais que eu esteja tentada á descobrir do que eles conversavam tanto, em condições em que nunca vi ninguém sentar com Steel e conversar com ele. Respiro fundo e bato a mão na testa. Sorte a minha ninguém notar minha mudança de humor, não quero me explicar pra ninguém.

Brandon senta do meu lado. É, ele aparecerá mais no bar agora.

– Sue está na cozinha – digo, de uma forma meio grossa.

– Eu sei – diz ele, calmamente. – Quero te pedir algo primeiro – Se ele notou meu humor, não ligou muito. Eu não devia descontar as coisas nele, logo em meu irmão. Suspiro. – Você pode ir lá na casa da Abigail avisar pra mãe que vai ter visita hoje?

– A Sue?

– E a mãe dela. – Ele dá um sorriso nervoso. Sorrio.

– Não se preocupe tanto, Brandon. – Tento confortá-lo. – Eu aviso a mamãe. – Ele assente com a cabeça e vai em direção á cozinha.

Joel sai da cozinha com meu pai, pelo visto, a pia já deve estar consertada. Meu pai é bom em arrumar coisas quebradas, como pias, mesas, fogões e o que fosse. Spense me dá um trabalho, lavar as bandejas que ele diz que estão empilhadas no quintal. Oliver está na varanda, varrendo o pequeno lance de escadas. Hoje aqui no bar, nem nos falamos muito. Passo pela cozinha rapidamente, não querendo atrapalhar meu irmão e Sue, acho que eles nem me notaram passar. Ao chegar no quintal, eu não imaginava que teriam tantas coisas para lavar. Na cadeira ao lado da pia, uma pilha com mais ou menos sete bandejas, não eram muitas. Os copos, pratos e talheres eram mais. Parece que toda a vila veio comer ou beber. Sue ajuda mais com os pratos, lavar a louça não é muito com ela. Quando ela está na cozinha preparando os pratos – ou simplesmente namorando Brandon – a louça fica pra mim. Desse jeito nem vou conseguir ir avisar á minha mãe sobre o jantar. Então, terei que começar logo, ficar contando quantos pratos e copos têm, não ajudará muito.

Começo pelas bandejas, para empilhá-las novamente na outra cadeira quando limpas. Oliver aparece quando eu chego na penúltima bandeja. Ele tenta me beijar, mas eu desvio e rio quando ele faz cara de triste. Eu preciso acabar com essa louça toda para poder ir na casa de Abigail. Eu digo isso ao Oliver, mas ele simplesmente não liga, prefere tentar me beijar. Desisto de impedi-lo de me beijar, largo o prato na pia e me viro, o beijo-o. Ao ouvir um barulho na porta, me afasto de Oliver rapidamente. Brandon passa por nós.

– Não liguem pra mim. Só estou passando – diz ele. Ele se vira, sorridente. – Sue está querendo saber dos pratos. – Ele se vira de volta e sai andando. O observo até perdê-lo de vista, passando pela casa de Spense. Oliver solta uma gargalhada.

– Os dois ficam vermelho tão facilmente – diz ele. Faço uma cara séria, não gostei de Oliver ter rido de mim. Cruzo os braços. Oliver para de rir e levanta as sobrancelhas. – Não vamos brigar, não é? – Oliver sorri e se aproxima de mim.

– Eu não vou brigar com você. Você sabe – abaixo os olhos. Oliver coloca as mãos nos meus ombros. Eu levanto os olhos.

– Eu não quero te ver triste. – Descruzo os braços e o abraço. É impossível não ficar triste com isso. Ele me abraça forte. Ele se inclina e toca seus lábios nos meus.

Depois de muito tempo, enfim acabo com a louça. Aviso ao meu pai que eu vou á casa de Abigail. Ao abrir a porta do bar, respiro fundo. O ar puro da floresta preenche-me completamente. O ar no bar é abafado, adoro sair de lá quando o tempo está ótimo, quando venta bastante. Contorno a casa do doutor e entro na rua da minha casa. Minha casa. Aconchegante e estranhamente quieta. O lugar em que verei os filhos de Brandon crescer. O lugar que não verei meus filhos, pois jamais os terei. A única pessoa que queria comigo ao meu lado na velhice, vendo nossos netos, vai embora. Balanço a cabeça, na tentativa de impedir que as verdades angustiantes penetrem a minha mente. Volto a andar e passo pelo terreno de terra escura que fica na frente da casa de Abigail. Caminho pela trilha de pedras até a porta de sua casa e bato a porta. Minha mãe é quem abre a porta, com a linda Erin no colo.

Eu digo á minha mãe do jantar, ela fica feliz com a notícia. Diz que chegaria em casa e prepararia a comida preferida de Brandon – frango refogado com um molho branco, só se consegue ele com as plantas da fazenda de Steel – para ele se sentir melhor. Minha mãe arranja a carne com Steel, onde ele têm uns poucos animais em sua fazenda. A fazenda não é grande, têm uns dois cachorros que ficam de guarda, chamamo-os de o babão um e o babão dois. Têm um lado das plantas e o outro lado da fazenda de animais. Galinhas, cabras, cavalos e pequenas vacas.

Volto pro bar. Na cozinha, Sue se encontra sozinha no fogão. Não vou para o quintal lavar a louça, acho que já lavei tudo o que tinha pra lavar. Volto pro balcão e me sento. Elliott Murphy, o mágico, me chama para me sentar com ele. Gosto dele, ele é um cara agradável. Com seus trinta e sete anos, ele parece muito bem de saúde, diferente de muitos daqui com sua idade. Nós temos uma boa amizade, conto piadas á ele, e ele me ensina um pouco de mágica. Ele tem o cabelo loiro escuro, olhos claros e uma risada contagiante. Adoro ver seus números de mágica. Atravesso o bar e sento ao lado dele. Sua mágica é impressionante. Ele me ensina como tirar uma moeda da orelha de alguém. Em minhas tentativas frustrantes, ele ri baixo, não querendo chamar á atenção de todos. Minha raiva por não conseguir tirar uma moeda da orelha dele só aumenta, até que sua risada aumenta e começo á rir.

Oliver está conversando com Steel e é nessa hora que minha risada diminui. Oliver se inclina e não consigo ver mais seu rosto, tem um casal na mesa á frente. Inclino minha cabeça pro lado. Agora consigo vê-lo. Oliver está falando com Steel, onde o mesmo, está balançando a cabeça. Depois é ao contrário. Oliver toma uma expressão séria no rosto, ele fica paralisado. Oliver vai ao balcão e fala com Joel, coloca a bandeja no balcão e sai do bar. Meus pés formigam, com vontade de seguir Oliver. Digo á Elliott palavras confusas de preciso ir ali, tenho que ir em casa, e entro na cozinha.

Passo rapidamente por Sue, que está no fogão. Passo pela velha porta amarelo claro dos fundos e desço os dois degraus. Entro no beco entre o bar e a casa de Joel. Chego perto de uma árvore velha e fina e olho de um lado para o outro na rua. Avisto Oliver andando em direção á casa do doutor. Após uns minutos, Oliver sai da casa do doutor.

Na pia dos fundos do bar, tem duas bandejas. Me direciono á elas, chegando até á pia, começo á lavá-las. Eu não prestava atenção em como passava a esponja na bandeja de plástico, eu estava concentrada nas perguntas que se formavam em minha cabeça. Enquanto mais eu me perguntava sobre Oliver ter ido á casa do doutor, mais minha cabeça girava. Oliver aparece na porta. Eu não olhava para ele, eu fingia estar concentrada na bandeja.

– Tudo bem? – pergunta ele.

– Tudo – consigo dizer. – Tudo bem com você?

– Sim – olho para ele. Ele está sorrindo, como se não tivesse nada. – Você não estava com Elliot?

– Eu quero me livrar das bandejas – minto. Ele sorri e entra de volta no bar. Por que ele está escondendo algo de mim? Logo eu! Foi á mim que ele contou que estava doente, se ele piorou, por que não me conta? Ele pode estar com medo de eu tentar ir na cidade, mas prometi que não iria, isso pode me matar por dentro, mas não adiantaria mais ajudá-lo. Ele não quer.


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