Escolhidos escrita por Sahh


Capítulo 10
10


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ^~^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/297037/chapter/10

Tomando o nosso café da manhã, conto á eles tudo o que aconteceu na floresta, exceto sobre a organização que Paul contou. Não expliquei o porquê de eu ter ido á floresta, Oliver tinha feito isso antes, e falar desse assunto nos deixava deprimidos. Oliver até agora não falou nada comigo, e isso me preocupa. Brandon saiu para a padaria, Oliver saiu junto com ele para deixar Luke com a vizinha. Quando todos saíram, fui ao banheiro, precisava de um banho.

Depois de banho tomado, arrumo minha mochila, não para a escola, mas estou guardando tudo no lugar; na floresta, não vou mais. Minha mãe disse que se eu quisesse, ficava em casa. Quero ver como Roland está, e é isso que vou fazer. Não está muito frio lá fora, então pego um casaco fino e saio de casa.

Roland está um pouco melhor, mas precisa de repouso, ele foi forte para aguentar vir até aqui. O doutor já colocou umas ervas que vende na botica de Jasmine nos braços de Roland e agora, ele descansa um pouco. O doutor disse que nunca viu cortes como aquele em seu braço. Enquanto Paul está jogado no sofá e dorme profundamente, vou até a mala deles e procuro pela arma. Mostro ao doutor, e ele fica impressionado. Ele nunca viu aquele tipo de arma, mas disse que Roland vai se curar logo. Conto ao doutor o que ouvi quando Roland foi arremeçado para longe, ele fica mais impressionado. E enquanto ambos dormiam, conto á ele tudo o que aconteceu na floresta, incluindo sobre a organização. Ele também acha muito estranho o pessoal do governo no meio desse nada. Eu disse que não queria saber, não quero ter nada a ver com esse pessoal, longe da floresta, estou bem, obrigada.

Fico o suficiente na casa do doutor. Já que Roland e Paul estão dormindo, voltarei outra hora. Não sei quanto tempo eles ficarão aqui, já que o pessoal do governo está á procura deles. Ou de nós. Não quero me envolver com esse tipo de pessoal, o que mais passa na televisão são mensagens do Presidente ou de seu irmão avisando sobre os problemas dos animais selvagens na floresta. Mas eu não vi nenhum animal selvagem e Paul disse que isso não existe.

Abro a porta da minha casa e vejo alguém sentado no sofá. Por que Oliver não está no bar? Com o som da porta se fechando, Oliver olha para trás. Ele volta á olhar novamente para a frente. Entendo o que ele quer.

– Faltando ao trabalho, não é? – pergunto.

– E você nunca ouvindo ninguém, não é? – retruca ele, ainda sem se virar. Ando até o sofá. Em pé, o olho fixamente. – Sente-se, a casa é sua – diz ele, batendo de leve a mão ao lado.

– Qual o seu problema? Eu só queria te ajudar.

– Você me ajudaria se ficasse na vila. Você sabe o quanto é perigoso – diz ele.

– Não, não é perigoso. Animais selvagens não existem nessa floresta. E o pessoal do governo? Isso foi falta de sorte.

– Não, Eve, não foi. Eu disse para esquecer essa ideia maluca de ir na cidade, já não disse? – A raiva aumentava no tom de sua voz, agora ele me fuzila com os olhos.

– Eu queria te ajudar, ainda quero. Você... tem que aprender a ser menos egoísta – digo. Ele não vê, ele não compreende, eu só quero o bem dele e tudo o que ele faz é tentar me impedir de ajudá-lo. Ele se levanta, de frente para mim. Não tiro meus olhos de seus olhos, agora obscuros.

– Egoísta? Você imagina como estou? Você imagina como fiquei quando soube que você foi embora? Eu sabia que você iria na cidade, mesmo eu dizendo que não queria – diz ele calmamente, contendo a raiva. – Eu estou morrendo, e você nem se dá conta de que a última coisa que quero é você. Eu fico preocupado com você. Eu só queria ter você por perto, como... um último desejo. Eu sempre quis ter você por perto. – Sinto um aperto no peito, eu queria abraçá-lo, beijá-lo, como se nada disso tivesse acontecido.

Oliver suspira e caminha até a porta. Minha vontade era de ir até ele e abraçá-lo forte, dizer que eu estava com ele e que aceitaria o que ele quer, mas não é o que eu quero e nem é o que faço. Oliver sai da minha casa. Corro pro meu quarto e sento na minha cama. Chorando, pego minha bota e jogo na parede. Faris entra no quarto, sobe na minha cama e bota a cabeça no meu colo. Enquanto eu acaricio seu pelo, lágrimas rolam pelo meu rosto, levanto a cabeça para respirar fundo. Ele realmente aceitou seu fim. E como Luke e eu ficaremos?

Lavo o rosto no banheiro. Tenho que ir pro bar, Oliver vai estar lá. Será que fiz mesmo certo? Mas é claro que sim, eu só queria o bem dele, quero ele melhor, mas ele não quer saber. Eu não quero que ele passe os últimos dias de sua vida assim, e eu nem quero que esses sejam os seus últimos dias. Seco meu rosto e volto pro quarto. Pego minha bota que caiu perto do armário e a calço.

Entro no bar e todos me olham. Uns balançam a cabeça em negativa, outros sorriam. Eu não ligo para o que eles pensam. Olho para Steel, sentado, como sempre, perto da porta. Ele me dá um sorriso torto antes de levar o copo á boca. Me dirijo para o banquinho de sempre. Joel parece cansado. Sento-me e ele senta do meu lado.

– Sentimos sua falta, sabia?

– Menos o Steel – digo, com raiva.

– Não. Ele até ajudou a te procurar. – Joel coça a barba mal feita. – Steel não é tão ruim assim.

– Eu sei – digo e suspiro. – Eu só não... Eu só estou cansada.

– Certo. – Ele se levanta. – O garoto passou mal enquanto você esteve fora. Eu sei porque você fez o que fez. – Ele sorri. – Eu faria o mesmo. – Ele se vira e entra na cozinha. Oliver sai da cozinha com uma bandeja de copos limpos. Ele coloca em cima do balcão e, antes de se virar, olha rapidamente para mim.

Eu ajudo Sue na cozinha e no que podia. Lavo a louça, varro a cozinha ou a varanda. Limpo umas mesas e ajudo Joel com a estante detrás do balcão. O clima era de alegria, risadas, piadas e muita conversação no bar. Ele parecia estar mais agitado hoje. Sue disse que era porque eu tinha voltado, e, mesmo que eu não fosse de falar com todas as pessoas que vêm ao bar, elas estavam felizes que tudo estava bem. Mas eu realmente não estava bem. A conversa com Oliver de manhã ainda me desanimava. As piadas contadas não serviam para me animar e, por mais que eu tentasse rir, eu fazia sempre uma careta.

Cansada e desanimada, vou para casa com meu pai ao meu lado e Oliver do outro. Andando em silêncio, de cabeça baixa, eu pensava em como pedir desculpas á Oliver, mesmo achando que não fiz nada de errado. Certo, fiz todos se preocuparem comigo, sabia que a carta não daria muito certo, mas era uma maneira de dizer que eu não sumi do nada.

Oliver vai buscar Luke na casa da antiga vizinha. Eu e meu pai entramos em casa e vou direto pro banho. Odeio esse cheiro de cerveja que fica nos meus braços. Terminado o banho, passo pela sala, secando o cabelo na toalha. O que me chama a atenção era que todos estão vidrados na televisão ligada. Me aproximo para ver o que se passa. Meu pai, Oliver e Luke estão sentados no sofá. Minha mãe está sentada no braço do sofá, ao lado do meu pai e Brandon está em pé, atrás do sofá. Chego ao lado de Brandon, ele me olha e desvia o olhar para a televisão, olho para ela. Na televisão mostra o símbolo da cidade Harmoce, a cidade em que vivemos; em sua floresta. O símbolo consiste num pombo voando á esquerda. Em seguida, uma repórter relata o que aconteceu numa cidade próxima. A repórter sai de foco e mostram pessoas mortas, incêndios em prédios e homens armados atirando para tudo que é lado. Mais uma guerra, mais pessoas feridas, tristes, arrasadas por perderem seus filhos, mães, pais, irmãos e amigos. Mais uma guerra de posse, mais desastres. Há somente cidades, e em cada cidade, um Presidente. Essas guerras são para tomar posse de uma cidade. É horrível ver tudo isso, pessoas morrem para nada, só pelo poder de um Presidente tomar uma cidade. Um tomando o poder do outro, sem se importarem com as pessoas que morrem nessas guerras. Odeio ver tudo isso, nada mais é seguro.

Vou para o meu quarto, ver aquilo me deixou pior. Ao trocar de roupa, minha mãe bate na porta, me chamando para o jantar. Na mesa de jantar, eu não estava com fome e nem com vontade de continuar naquela mesa silenciosa. Todos se entreolhavam, mas ninguém falava nada. Brandon parecia inquieto, logo ele que falava bastante na hora do jantar.

– Eve – chama-me Brandon. Todos olham para ele. – Viu algum animal selvagem? – Demoro uns segundos antes de responder. Olho pros meus pais, em seguida para Oliver, que parecia não se importar com a conversa. O pequeno Luke brinca com a colher.

– Não. Não vi nenhum. Os mercadores disseram que não existe animais selvagens na floresta.

O silêncio se arrastou na mesa por uns longos minutos. Eu estou quase acabando o jantar, depois eu vou dormir. Não estou pra mais nada hoje, foi um dia cheio.

– Filha, como está o mercador Roland? – pergunta meu pai. Tenho a impressão de que ele não quer ver esse silêncio todo.

– Melhor. Amanhã vou visitá-lo. – Dando a conversa por encerrada, me levanto e coloco o prato na pia. – Vou dormir, foi um dia e tanto – digo, sem olhar para trás, saio da cozinha. Eu estou realmente cansada, dormir em barracas e dentro de uma caverna, temendo ao medo, não faz nada bem. Deito em minha cama e a única coisa que sei é que terei um longo dia amanhã.

Na escola, o alívio era claro no rosto de minhas amigas. Meus colegas ficaram felizes por eu estar de volta, mas sem exageros, já que não sou uma garota que conversa com todo mundo. Oliver continuava me ignorando, queria falar com ele, e aceitar o que fosse, mesmo eu não querendo. No café da manhã, tinha perdido a fome. Sentar na mesma mesa com alguém que não quer te ouvir, não é nada fácil.

No bar, estou ajudando com as bandejas. Nos fundos do bar, eu estou na pia, lavando as bandejas que Joel havia pedido á pouco. A pia fica do lado de fora do bar, perto de uma árvore de tronco fino e alta. Eu não posso lavá-las na cozinha, Sue está lá lavando a louça e conversando com Brandon, já que a movimento na padaria está calmo, ele pediu ao Evans para dar uma saidinha e aqui está. Eu acho que Brandon e Sue têm um caso, eu não acho que eles sejam só amigos. Há uns dois mês atrás, surpreendi os dois num quase beijo.

Era um sábado alegre, um céu sem nuvens e as ruas calmas. Meu pai estava no bar. Minha mãe foi visitar a senhora Evans. Brandon estava em casa, já que aos sábados, a padaria fecha mais cedo. Eu havia chegado cedo em casa, pois estava com dor de cabeça. Ao abrir a porta, vi Brandon e Sue no sofá, suas bocas estavam prestes a encostar uma na outra, mas o som que a porta fez ao bater, fizeram os dois se separaram imediatamente. Ninguém falou nada depois daquilo. Naquele dia, eu havia corrido pro quarto, dando desculpas de não ter visto nada, de que estava com dor demais para não ver nada.

Lavando a bandeja de plástico, sinto um sorriso aparecer nos meus lábios, lembrando das vezes em que Oliver me beijou. Só de pensar nele, ele aparece. Mas ele aparece aqui de minuto em minuto para pegar as bandejas. Mas tenho certeza que não é só isso. A cadeira em que eu deveria colocar as bandejas limpas está vazia. Oliver me olha, e eu olho pra bandeja em minhas mãos, enquanto passo a esponja. Ele senta na cadeira próxima. O silêncio que nos rodeia nos deixa mal. Eu não aguento, posso ser teimosa ou o que for, mas deixar de falar com Oliver, logo a essa altura, não dá mais.

– Como está o casal lá dentro? – pergunto. Não sei o que ele sentiu ao me ouvir falar, já que ele mesmo não falara nada.

– Eles estão namorando?

– Acho que sim. Já os peguei num quase beijo há dois mêses – digo.

– E o que aconteceu? – pergunta ele.

– Corri pro quarto, dizendo que não vi nada – digo e Oliver ri.

Eu gosto do som de sua risada, é despreocupada, era como se ele não tivesse enfrentado tudo o que enfrentou. E é isso que gosto nele, o fato de ser forte o suficiente pro próprio irmão. Largo a bandeja na pia e giro o corpo para olhar para ele. Ele não estava mais sentado, está em pé, sorrindo e balançando a cabeça. Dou um sorriso torto e ele dá um passo a minha frente. Em silêncio, observamos os olhos um do outro com profundidade, sem interrupções, sem nada. Eu poderia simplesmente abraçá-lo, e é isso que faço. Sem hesitar, ele me abraça forte.

– Desculpa...

– Eu que deveria dizer isso – digo. Levanto o rosto para olhá-lo e ele sorri. Encosto meus lábios nos dele, sentindo a quentura deles. Um beijo rápido, mas que me deixou feliz.

– Não vá mais para a floresta, por favor – pede ele. Balanço a cabeça em concordância. – Desculpe, tenho que entrar – ele aponta com o queixo a porta. Eu o solto, já que eu tenho que continuar com as bandejas aqui. – Que bom que estou morando com você – diz ele e sorrio.

Já que não tem muita coisa que eu possa fazer no bar, resolvo ver como Roland está. Aviso meu pai aonde iria, não quero preocupá-lo mais. Ele não brigou comigo por eu ter ido á floresta, onde muitos acreditam nos animais selvagens; ele só disse pra eu não fazer isso denovo, e é claro, não farei. Aqui é meu lugar, por mais pobre que sejamos, por mais triste que o lugar possa parecer, eu gosto daqui. Nasci aqui, vou morrer aqui. O mundo lá fora está um caos, guerra por toda a parte. Já vi coisas piores que aquilo que vi ontem na televisão, o Presidente de alguma cidade queria dominar outra pequena, eram menos mortes, mas eram mortes. Não quero ir mais na cidade, não enquanto o mundo lá fora continuar sendo essa horrível perda de tempo. A guerra é sempre uma perda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Escolhidos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.