Pov. Amy Carter

– Amy, para de fazer graça e vem me ajudar. – Cinthya falou, aparecendo no quarto.

– Eu não to fazendo graça. Quem disse que eu to fazendo graça? – Perguntei, fechando a cara. – Para de ser estraga prazeres, Cindy, to só esperando o tempo passar.

– Faça algo de útil e pega mais lenha pra colocar no fogão. – Ela mandou, revirando os olhos.

– Sabe, eu acho que se eu fosse pros Jogos, você até que ficaria feliz. – Falei, abrindo a porta.

– Cala a boca, Amy. Você sabe que não é verdade. – Ela respondeu, enquanto eu saía de casa.

– Amy, Amy, Amy. – Ouvi alguém cantarolando. Olhei para a cerca e observei uma garota baixinha (mais baixa que eu, o que é um milagre) e loira.

– Oi, Leslie. – Sorri. – Porque tá tão feliz? Hoje é dia de Colheita.

– Nem isso vai me tirar a felicidade, meu amor. –Ela riu, pulando a cerca e vindo me abraçar.

– Que foi dessa vez? – Perguntei, abraçando-a também.

– O Rick me pediu em casamento. – Ela sorriu, mostrando um anel de madeira, todo talhado, com uma pedra vermelha em cima.

– Uau. Isso é ótimo! – Sorri, enquanto ela me abraçava de novo. – Parabéns.

– Obrigada. – Ela sorriu, olhando para o anel. – Ele quem fez. Não é fofo?

– Muito. – Respondi, pegando algumas toras. – Não quero ser estraga prazeres, mas... E se um dos dois for escolhido para os Jogos?

– Não vamos. – Ela sorriu.

– E como tem tanta certeza? – Perguntei, voltando para casa. Ela abriu a porta para mim e entramos.

– Esse ano as regras mudaram. Eu sei, Rick me contou. – Ela disse, toda alegre e saltitante.

– Mudaram é? – Minha irmã perguntou, mexendo a mistura na panela.

– Oi Cindy. Então, mudaram, porque essa edição vai ser especial. Estão chamando de “Massacre Quartenário”. – Ela disse com uma voz muito mais dramática que o normal.

– E como tem certeza que não vai ser chamada? – Perguntei, olhando a cabeleira loira dela balançar de um lado para o outro.

– Falem mais baixo! Estou com ressaca! – Meu tio gritou lá do quarto.

– NOVIDADE! – Gritei de volta.

– Você tá querendo apanhar, é? – Jude, minha outra irmã mais velha, perguntou.

– Como se aquela gordura que ele tem deixasse-o bater em alguém. – Sorri.

– Você às vezes me assusta, sabia? – Leslie perguntou, olhando para mim.

– Sabia. – Respondi, colocando a lenha (ou seja, aquela madeira podre que a Capital não quer) no fogão.

– E aí? Como você sabe que não serão chamados? – Perguntei de novo.

– Fácil, o Distrito que vai escolher o casal. – Ela sorriu. – E, cá entre nós, eu não duraria nem um minuto naquela Cornucópia.

Leslie tinha razão. Era pequena e delicadinha demais para os jogos. Era com se fosse uma boneca de porcelana, dava até medo de tocar.

– E o Rick? – Jude perguntou. – Ele teria chances, mesmo sendo o filho do prefeito.

– Ele é alto e tem cara de despreocupado. – Ela deu de ombros. – Mas é magrelo e não sei se duraria muito mais que eu também.

– Tomara que não me escolham. – Falei.

– Porque escolheriam? – Cindy perguntou, levantando uma sobrancelha.

– Talvez eles precisem de alguma ruivisse na Arena. – Leslie disse, me fazendo olhar para ela com cara feia. – Que é? – Ela perguntou. – Você devia me agradecer por eu idolatrar seus cabelos ruivos.

– Não acho que vão te escolher, Amy. – Jude falou, ignorando a loira. – O que você tem para oferecer na Arena?

– Eu não duvido muito da Amy. – Leslie falou. – Já viram essa menina com raiva? Ela quase arrancou os olhos da Bernadete semana passada!

– Mas aquela patricinha metida merecia! – Reclamei, fechando a cara.

– Bom. Vamos torcer para essas pessoas terem bom senso e não mandarem você para lá. – Cindy disse. – Agora vai tomar um banho e vê se consegue se arrumar direito pra essa Colheita.

Fui para o banheiro de mau grado.

Nunca entendi isso. Pra que se arrumar para a morte certa?