“Havia na cidade de Potédia, na Grécia, uma bela menininha. Ela era dotada de talentos incríveis. Era um primor na arte da oratória, pintava belissimamente, dançava como poucas e, principalmente, escrevia. E isso apenas aos onze anos! Mas vejam só como o destino é cruel com aqueles que são capazes... apesar de toda essa capacidade, ela não passava de uma menininha pobre de uma cidade mais pobre ainda. Mas essa garotinha, agraciada também por uma beleza incrível, sonhava alto. Sonhava em ser uma musa. Queria, porque queria, ser uma pessoa conhecida. Queria que as pessoas caíssem aos seus pés; queria ser tomada como modelo de pessoa ideal. E talento não faltava: faltava dinheiro. É claro que se a família ajudasse mais também facilitaria muito. Mas era filha de uma viúva muito teimosa e determinada. Sua viúva mãe queria que sua filha se tornasse uma vestal... sabe, aquelas virgens que fazem sacrifícios e cortam o cabelo... mas só de pensar em cortar suas longas madeixas loiras, ou encostar num pedaço de carne com sangue das oferendas, ela sentia calafrios. Não, ela definitivamente não seria uma vestal. Ela queria ser algo bem mais... mais... interessante.


Decidiu sair de casa. Prometeu mandar recursos ($$) para sua mãe assim que ficasse rica. Viajou da Grécia à sede romana em busca de quem reconhecesse seu verdadeiro valor. Mas as pessoas só se interessavam por guerras, exércitos, e coisas do gênero. Não deram o menor valor à sua arte. Não perceberam que aquela jovem estava extremamente à frente do seu tempo. Foi decepcionante para ela descobrir o quanto supervalorizavam a arquitetura, e ignoravam a música e o teatro. Mas ela não desistiu. Continuou usando seu ‘rostinho bonito’ e sua ‘finesse’ a seu favor.
E finalmente conheceu alguém que a entendesse. Era uma dançarina, que vivia às voltas do palácio real, usando roupas de cores extravagantes, e dançando para generais, senadores, cônsules, pretores, e, até mesmo, os ditadores* que a ocasião apresentasse. E, por incrível que parecesse, ela se sustentava daquilo. E não havia maior deleite para a jovem loira de olhos azuis do que conhecer alguém que pudesse passar seus dias dançando, sem se preocupar com outro trabalho! Logo, fizeram amizade, e mais rápido ainda a loira estava trabalhando junto com sua amiga. Acumulou uma boa quantia em riquezas, e, além de pagar sua promessa para com sua mãe, trouxe-a para morar junto de si. Morou com sua mãe até completar seus dezoito anos, quando decidiu traçar por si própria os caminhos de sua popularidade.



E a ‘garota das artes’, como ficou conhecida pelas redondezas, é ninguém mais, ninguém menos que YAMANAKA INO, a pessoa que vos escreve agora estes relatos.



São todos verídicos, hein?! E a história foi assim...”

----

*ditador: não é um tirano, mas uma pessoa escolhida pelo senado em tempos de crise, que tem poderes políticos absolutos.

----