" 'O que o futuro guardou para mim?' - Era a primeira vez que fazia essa pergunta em toda a sua vida. Estava grávida, era isso o que a profetisa sabia. Mas de que adiantava ser a maior das augures*, se não podia mais ver além do presente? Estava cega, e não sabia o porquê. E o presente lhe obrigava a enxergar uma dura realidade, para a qual ela preferia fechar os olhos. Talvez estivesse perdendo os seus poderes em expiação por algum pecado. Ou talvez devesse apenas esperar o nascimento de sua futura substituta...

A criança nascera de um parto difícil, mas estava bem. Era uma bela menina de cabelos quase dourados, e olhos tão verdes quanto os da mãe. Mas, ao contrário desta, a bebê possuía pequeninos olhos vivos e brilhantes, e com uma vontade ardente de ver.
E aos doze anos de idade, finalmente descobrira a origem dessa volúpia por enxergar...
Estava com sua mãe colhendo rosas quando se cortou com um espinho. E a última coisa que ela imaginava que pudesse ver passou diante dos seus olhos, claramente. Algo que, inexplicavelmente, não estava lá. Ou, ao menos, não ainda. Viu uma pessoa que sua mãe escondera dela durante anos. Ela viu alguém que ela nem conhecia. Ela viu seu irmão mais novo. O irmão bastardo, que fugira da mãe para tentar um futuro melhor. Ela viu O futuro.
Assustada, e com medo, acordou de seu transe repentino. E tinha tantas dúvidas que nem sabia por onde começar. Até que tomou coragem e questionou:
- O que foi isso? Por que isso aconteceu? Quem era ele? A senhora não viu isso também, não é?
- Filha, -a voz da mãe parecia calma, em contraste com a da jovem- isso foi uma visão. Você provém de uma família de sacerdotisas. Há muitas gerações nós somos escolhidas para receber os sinais que os deuses nos mandam. Mas, além disso, nós podemos ver o futuro. Mesmo que não possamos entendê-lo, sempre há um motivo. Eu não sei o que você viu, mas sei que é muito importante pra você, ou será, um dia.
- Mas mãe, por que a senhora nunca me disse isso antes?

- Como eu disse, tudo tem um motivo. Se você recebeu sua primeira visão agora, é porque só agora você tem o entendimento necessário para entendê-la.

- Mas, então... Quer dizer que a senhora pode ver o futuro?

- Não filha. Quando você nasceu, já não podia mais prever os fatos. Tinha perdido o dom que me fizera ser tudo o que sou. Agora, não vejo nada além de qualquer outra pessoa...

- E o que eu devo fazer para ter uma visão do futuro?

- As visões normalmente vêm através de sentimentos. Se você sente medo, fúria, alegria, entusiasmo... não depende do tipo, mas da intensidade da emoção. Agora, por exemplo, você sentiu dor, e isso ativou sua capacidade de ver através do presente. Por isso, você deve tomar cuidado com o que sente. Com o destino não se brinca...



Assim, a menina ocupou o lugar da mãe no templo onde esta servia à deusa do vento. A maior sacerdotisa, aquela que pode, além de interpretar sinais, ver o futuro, é, com toda a certeza, SABAKU NO TEMARI...”

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