Minha mãe me olhou e sussurrou no meu ouvido:

- Seu pai e eu vamos distrai-los. Saiam daqui pelos fundos, te amo princesa, boa sorte! - Olhei para meu pai e ele piscou para mim, vi que em sua boca se formava a seguinte palavra: Acredito em vocês, boa sorte, te amo! Não aguentei e comecei a chorar, tanto que Vitor teve que me puxar para fora. Minha tia tentou vir atrás de nós, mas meu pai a segurou fazendo com que ela gritasse. Uma luz se formou na mão da minha mãe e ela pela janela, jogou aquilo naqueles monstros.

Lara abriu a porta dos fundos e disse que estava seguro e poderiamos sair. Sai limpando meu rosto, pensando o quanto iria sentir falta dos meus pais. Iamos sair por trás - onde haviam arbustos - para depois seguirmos a leste. Nesse momento um dos monstros que soltava fogo apareceu em nossa direção. Edu jogou fogo nele, mas teve pouco sucesso. Lara e Vitor ficaram na minha frente, enquanto Pablo e Edu tentavam acabar com a coisa. E eu sabia que sem ajuda eles não conseguiriam. Empurrei Lara e Vitor para o lado , apontei minhas mãos para o chão, que começou a tremer, até se abrir onde a fera estava e engoli-la.

- Uau - sorriu Edu. - Isso ai eu queria fazer. Daora!

- Depois ficamos felizes com isso - falou Lara. - Agora vamos!

Entramos correndo entre os arbustos, aos poucos fui deixando de ouvir os barulhos da luta em minha casa. Só queria que meu pai, minha mãe e minha tia ficassem bem. Quando ficamos longe o suficientes, Lara pegou o mapa e disse:

- Bom, já podemos começar a ir a leste. Porém o que estou preocupada é, onde vamos passar a noite?

- Não tem hotel mais pra frente? - perguntou Vitor.

- Deve ter - respondi. - Mas alguém tem dinheiro pra isso?

- Ué - sorriu Edu. - Lara pode hipnotizar os caras do hotel e a gente sai sem pagar, que tal?

Lara o encarou.

- E isso, o senhor sabe que é errado. Claro que não vou fazer isso com mortais, onde você está com a cabeça Edu?

- Você ainda pergunta? - disse ele. - Em você né Lara! Você sabe que eu sou parado na sua, mas você nunca vai me dar uma chance.

- Bem que você sabe! - falei/sorri

Edu me olhou feio, e antes que ele me xingasse Pablo falou:

- E eu acho que quem um dia decidir isso é a propria Lara, você não acha Edu?

- Pode ser! - ele balançou a cabeça. - Até lá Pablo, até você tem mais chance com Lara do que eu.

Lara corou. De verdade, aquela garota gostava de Pablo sim. Ela poderia negar mas eu sabia, porque estava estampado na cara dela. No jeito que ela ficava quando Pablo sorria pra ela, quando ele a olhava, até mesmo quando falava com ela. E parecia que Pablo tinha uma queda por ela também. Confesso que os dois combinavam, realmente gostaria que ficassem junto, e... bem... Edu teria que aceitar.

- Bem... - falou Lara, tentando disfarçar. - Vamos parar por aqui certo? Vamos seguir em frente, e não quero mais ouvir esse tipo de assunto, ok senhor Edu?

- Ok princesa, ops, Lara! - sorriu ele.

Seguimos á leste. Andando meio que pelas sombras, e quando um carro passava entre a gente evitavamos olhar para ele. Claro, poderiamos ir voando, porém quem tinha esse dom, era Pablo e eu, Pablo poderia levar Lara, mas e eu? Não aguentaria Edu e Vitor, então optamos por ir a pé.

No caminho me aproximei da Lara, já que depois que entramos na minha casa, não consegui mais conversar com ela.

- E ai? Como você está? - perguntei.

- Sei lá - respondeu ela. - Medo, raiva, saudade, preocupação, enfim, tudo junto.

- Acha que seus pais... bem, acha que eles...

- Se eles estam vivos? - ela me olhou com aqueles olhos azuis meio que me encarando. - Acho que sim Sofia, porém você sabe que minha grande preocupação é a minha irmã. Claro que eu queria meus pais de volta, mas a minha irmã é prioridade, eu a amo, e quero ela comigo, segura!

- Eu entendo - falei. - Mas, me diz, como é a sua irmã?

Ela sorriu de leve.

- Ela é linda. Tem cabelos loiros iguais aos meus, porém os dela são cacheados. Nossos olhos são iguais. Ela mesmo sendo mais nova que eu, era mais alta. Gostava de borboletas, e dizia que as borboletas eram suas melhores amigas, quando pequena. Ela era praticamente igual a mim Sofia, a única diferença era que ela era mais feliz, mais esperta, mais calma, tudo melhor que eu. Tenho certeza que no dia que ela foi capturada, se fosse eu, ela teria lutado contra o que fosse que estivesse lá, e não fugido igual eu fiz.

- Você sentiu medo Lara, e...

- E que ela é a minha irmã. Fui fraca e não protegi ela.

Lara estava quase chorando, então resolvi parar o assunto ali.

- Ok, bom, vou te deixar quieta agora. Fique bem! - e me afastei dela. Ficando do lado de Vitor, que não falou comigo.

Quando ficou de noite, ainda não tinhamos visto nenhuma estatua que parecia um sorvete, então não sabiamos onde ficar.

- E agora? - perguntei.

Pablo e Lara, junto com Vitor começaram a descutir qual seria o melhor lugar para ficarmos, até que Edu gritou:

- Gente, ali do lado tem uma loja aberta que vende barracas.

- Não temos dinheiro Edu! - lembrei.

- Eu sei, mas temos coisas legais, tipo relogio, brincos, e outros objetos. Vai que a pessoa é de bom coração e troca com a gente!

Nos olhamos, e percebemos que não tinhamos opção melhor. Entramos na loja que Edu tinha visto. Não tinha ninguém no balcão. Então andamos por ela. A loja não era muuuito grande, aliás, era até pequena. Fiquei em um corredor onde as prateleiras eram "pequenas" demais. Peguei um produto, parecia uma tinta e no rotulo dizia: Uso apenas para anões, e duendes, para retocar a pintura" como assim anões e duendes? Foi quando me toquei. Desde quando aquela loja existia ali?  Desde quando tudo na loja era pequena? Olhei para a saida e vi que a porta foi trancada. Ouvi um grito, e era de Lara. Corri na direção do grito - que vinha dos fundos da loja - e vi Lara sentada em uma cadeira, com pés e mãos amarradas. Edu e Vitor presos de ponta cabeça por uma corda e Pablo que lutava para escapar da parede, que alguém havia "colado" ele com mel.

Lara indicou com a cabeça o chão e eu vi um homenzinho, pequeno, batia nos meus joelhos, de barba cinzenta, de olhos verdes me encarando.

- Então você é a Sofia? - disse o homenzinho. - Sorte a minha de você ter entrado justamente na minha loja, não acha?