Eu, Fora De Controle escrita por Lionardo Fonseca Paiva


Capítulo 13
Capítulo 2 - Interlúdio 1




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Capítulo 2

“A Metrópole”

Interlúdio 1

Raquel Prado nunca soubera onde nascera ou quem eram seus pais verdadeiros. Eles deixaram-na numa caixa de papelão na porta da casa da família Prado. O bebê tinha cabelos negros compridos, olhos gigantes que pareciam duas jabuticabas. Os primeiros dentes estavam despontando e estava tão magra que mal se percebia tinha aparência de um recém-nascido e não de um bebê de um ano. Seu choro acordou Nilson e sua esposa. O portão estava trancado com chaves e nunca entenderam como a criança fora deixada ali na porta.

Este pequeno segredo eles nunca esconderam da menina, mas ela sempre tratou de esconder isso do mundo inteiro.

Nilson era encantado com a nova filha. Mimava ao extremo e não tinha uma única vontade de Raquel que ele não satisfazia. Isto não mudou nem mesmo quando seus filhos legítimos nasceram. Mas foi igualmente adorada e paparicada pelos novos irmãos que nunca viam nela uma bastarda mas sim uma pessoa legítima da família. Raquel atraia todos com seus modos meigo e carismático. Sua aura hipnotizava quem convivesse com ela. Mesmo depois de adulta nunca abandonou a face de menina que necessitava da proteção de todos, porém ela sabia se proteger muito bem e usava essa fascinação que tinham por ela em seu próprio benefício.

Raquel era materialista. Comprava roupas e sapatos que não usaria mas que desejava ter. Tinha uma predileção por rock pesado e isto causava conflitos em sua casa pois somente ouvia no ultimo volume que o aparelho tinha disponível. Tudo que era novidade de consumo, ela queria. Havia discordância com a irmã por causa disso. Enquanto Raquel ia conseguindo tudo o que almejava, sejam através dos pais, tios, primos ou admiradores, Shirley já tinha que lutar pelos seus desejos.

Shirley sempre notara que o pai tinha mais afeto por Raquel mas se conformava pois ela também tinha um amor imenso pela irmã.

A noticia de que Nilson usaria a economia da família para que Raquel fosse estudar em São Paulo não foi surpresa pois ele sempre deixou claro que sua filha seria educada na maior faculdade do pais.

Na metade do ultimo semestre Nilson já tinha arrumado tudo. Conseguira uma bolsa parcial para a faculdade com um reitor amigo que conhecera numa viagem e também com que sua filha terminasse o ensino médio no Colégio Santa Sofia que tinha forte vocação religiosa e disciplinar, e isto lhe agradava.  

A viagem foi feita debaixo de um grande temporal e seu tio, por várias vezes, ameaçou voltar e viajar outro dia. Mas, Raquel insistiu vorazmente como se fosse para defender a própria vida. Era ansiosa demais para adiar um acontecimento desejado. A chuva foi cessando à medida que iam se distanciando da cidade.

Durante a viagem ela pensava em tudo que estava deixando para traz. Nada! Ela tinha fé no futuro e nas pessoas que ainda conheceria nesta nova vida. De seus namorados e paixões passadas tinha e no máximo uma simpatia por todos, mas nada afetivo demais. Ninguém foi marcante em sua vida para merecer qualquer apego.

Contudo, Raquel tinha consciência que fora especial na vida dos rapazes que passaram pela sua vida. Os garotos se apaixonavam rápido demais por ela e poderia magoá-los tanto quanto fosse possível que ficavam mais apaixonados ainda.

Raquel Prado tinha o dom de envolver as pessoas, e fazia isto com pouco esforço. Eles se deixavam manipular para ter um momento de carinho ou consideração de sua parte.

Agora ela queria reinar em São Paulo. O passado tinha que morrer na pequena cidade de Rio Verde. Sua nova moradia é a capital dos sonhos e das celebridades. Não se via numa vida medíocre mas numa recheada de luxo, respeito e sucesso. Tentaria fazer um curso de teatro, participaria de programas de calouros na televisão, faria testes e enquanto isto estudaria muito para ser a melhor na profissão escolhida.

“Vou precisar de roupas de grife, um bom carro e perfumes. Aqui não serei suburbana.” — pensava ela na viagem.

Não seria uma pessoa solitária. Queria alguém do seu lado. Se os homens caiam aos seus pés na sua cidade natal, então fariam o mesmo em qualquer lugar.

“Mas desta vez somente os ricos e famosos.” — devaneava ela.

 O dinheiro que o pai iria mandar era pouco e no inicio teria que arrumar emprego. Mas esperava que fosse por muito pouco tempo. Somente até aparecer o primeiro pretendente endinheirado querendo cativá-la com bajulações e presentes.

Tinha que moldar sua nova vida.

Logo seus pensamentos se concentraram em Alex. O sonhador que queria ser cantor. Ela não gostava da ideia dele procurá-la quando fosse a São Paulo. Nada que fosse ligado ao seu passado era desejável naquele momento! Ela iria fugir dele ou então o faria se arrepender de ter ido procurá-la. Porém, se realmente ele gravasse um CD e fizesse sucesso, seria outra história. Ela o receberia de braços abertos.

“Por outro lado, se ele for um sucesso não iria me procurar. Neste caso eu quem iria.” — Riu dos próprios pensamentos que já estavam isto longe demais.

Raquel Prado tinha 17 anos e acreditava que gostaria o mundo a partir de então.


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