Lua Azul escrita por Mr Ferazza


Capítulo 14
XIII. RESIGNAÇÃO (PoV: 3ª pessoa)


Notas iniciais do capítulo

Esse ficou pequeno! Tinha que me fazer entender que o Aro estaria disposto a absolutamente tudo para conseguir o que queria, preparado para agir com antecipação assim que fosse necessário. Peço desculpas por algum eventual erro de digitação.



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XIII. RESIGNAÇÃO

PoV: 3ª pessoa.

Dois anos antes...


Aro via o corpo de um homem já adulto se contorcer de uma forma nada natural enquanto o veneno queimava suas veias.

                Aquela era a trigésima tentativa do dia. Aro o mordeu e começou a sorver o sangue do rapaz com uma avidez tremenda; era o frenesi alimentar entrando em ação. No entanto, antes de drenar quase todo o sangue do homem que ele ainda não sabia o nome, ele penou rapidamente em para quê serviria um novo vampiro. Assim, encontrou a determinação para parar.

                Um grito lancinante cortou o ar mais uma vez quando um berro de pura agonia escapou da boca do rapaz que se contorcia no chão.

                Aro ainda sentia o gosto do sangue do desconhecido em sua boca. Tivera muita sorte de estar mais do que satisfeito quando o mordeu — nem um pensamento tão agradável quanto seu objetivo serviria para pará-lo quando sentia o gosto do sangue humano.

                Excluindo-se as tentativas fracassadas de morder alguém e deixa-lo vivo para que se transformasse — havia pouco ele esmagara a cabeça de uma jovem tentando fazê-la parar de se debater em seus braços —, a experiência não havia sido tão ruim. Alguns se debatiam tanto durante o processo e acabavam batendo a cabeça com tamanha violência que o impacto era demais.

                Outro grito rasgou o ar, dessa vez acompanhado por um pedido de piedade.

                — Déjame morir, por favor. — pedia o garoto espanhol. Ele tinha um tom moreno incrível na pele, mas não duraria muito tempo; o tom escuro já estava se esvaindo de suas células que eram queimadas e refeitas pelas chamas terrivelmente abrasadoras do fogo.

                Os olhos de um castanho esverdeado incrivelmente límpidos, tão límpido que seria possível ver-lhe a alma se alguém os fixasse com atenção, rolavam nas orbitas de uma forma desordenada e um tanto caótica.

Ambos — alma e cor dos olhos — estavam condenados.

A alma lhe seria arrebatada pela transformação em monstro. Sim, esse era o preço de imortalidade, pelo menos era algo que Aro acreditava. E o castanho esverdeado límpido seria substituído por um tom cruel de encarnado depois que a transformação se completasse e a cor de seu próprio sangue — sem serventia alguma além de lhe dar força e loucura sobrenaturais — lhe toldasse os olhos.

Ao lado do garoto em transformação, Aro se encontrava completamente imóvel e submerso em suas deliberações e planos para o futuro. Era melhor que esse plano em particular desse algum resultado positivo; ele já estava cansado de tantas frustrações. Charmion não havia conseguido fazer muito progresso com o caso de seu irmão talentoso.

Sua atenção foi desviada quando outro berro irrompeu para fora da boca do garoto desconhecido.  O corpo do rapaz se contorcia de uma forma artificial e suas costas se arqueavam do chão, como se ele estivesse sendo puxado para cima, pelo coração.

Aro aspirou o ar para dentro de seus pulmões, em um exame para ver como andava a transformação. Não havia mais o cheiro dos fluídos humanos. Saliva, suor, urina, lágrimas, muco... Nada disso existia mais. Tudo havia sido queimado pelo veneno que continuava a dar formas definitivas a um novo imortal. Quando a cabeça do garoto foi de encontro ao chão, Aro percebeu que a pele fina que envolvia o crânio não mais cedia; agora era resistente como as pedras do torreão onde eles se encontravam. Ele encostou a mão na testa do garoto e viu que a pele já não lhe parecia tão quente — Agora tinha uma temperatura um pouco mais parecida com a dele, só alguns poucos graus mais quente.

Após alguns instantes — pelo menos para Aro (já haviam se passado dois dias) —, Aro percebeu que a transformação se aproximava do fim. O coração do garoto batia em um ritmo frenético e irregular; caminhava rumo às suas últimas batidas. O veneno agora se concentrava naquele único órgão ainda vivo. Logo todo o corpo do garoto seria tão indestrutível quanto uma enorme rocha de diamante bruto.

O ancião Volturi sentiu o cheiro do veneno se concentrar todo no coração. O órgão ainda humano bateu duas vezes, falhou e depois bateu mais uma vez, baixinho. Então ficou em silêncio. Não havia mais nem um som humano no recinto — a respiração superficial era tudo o que podia se detectada.

O novo vampiro abriu os olhos, procurando, com seus movimentos rápidos, por alguma referência de onde ele estaria naquele momento. Desnorteado, ele se levantou em um movimento que, a olhos humanos, pareceria não ter acontecido.

Ele inspirou profundamente e depois levou suas mãos à garganta que com certeza queimava, seca como a areia de um deserto às 15 horas da tarde. Depois de alguns instantes, Aro ficou impaciente e pigarreou para chamar a atenção do neófito — Era impossível que ele não tivesse visto Aro com sua visão periférica, mas com a concentração na sede, era bem provável.

O novo vampiro retesou os músculos das costas, sentindo uma presença que não havia detectado antes. Ele se agachou, em postura de ataque, e, com um movimento incrivelmente rápido — que só a esmagadora força extra de um recém-criado poderia produzir — virou-se para Aro — Era fácil entender o instinto de um recém-criado: Jamais das as costas a um desconhecido e atacar diretamente.

O rosnado irrompeu por entre os dentes do garoto desconhecido. Um som verdadeiramente ameaçador; alertava “cuidado”. Mas Aro, em um de seus movimentos negligentes — Ou poderia ser chamado de seguro, tendo em vista que ele sabia que nada aconteceria se o mantivesse calmo, se não investisse contra o neófito — alancou a mão com desdém e disse.

Cálmate, joven amigo. — Disse ele, no mesmo idioma do garoto. — Nadie le hará daño...

Era fácil tentar acalmar um recém-criado murmurando palavras para que se acalmasse e que ele estaria seguro. No entanto, acalmar de fato, era algo diferente. Nenhum deles teria a estabilidade natural e normal para que pudesse processar tais palavras. Aro se lembrava de que tudo parecia muito desconexo quando se era um recém-criado — principalmente um com apenas alguns minutos de idade — e sabia que tudo em que um neófito podia, conseguia e queria pensar era a sede.  As palavras de outros, em meio àquela loucura da garganta queimando, pareciam insetos chatos e insignificantes zumbindo em seus ouvidos.

Quando não viu sinal algum de ponderação nos olhos carmim vibrantes do mais jovem, Aro prendeu a respiração e estalou os dedos.

As enormes e pesadas portas de carvalho se abriram quase que imediatamente, revelando um membro da guarda com alguns humanos às suas costas, ainda vivos. Aro balançou a cabeça em um sinal positivo — um movimento que, a olhos menos sensíveis, seria imperceptível — e o vampiro recém-chegado deixou cair a seus pés os humanos desacordados no mesmo instante em que deixava apressado o recinto.

A primeira refeição do recém-criado estava arranjada.

Quando o vampiro sentiu o cheiro do sangue e o calor que emanava dos corpos, sua garganta ardeu em resposta. Uma dor tão real e tão esmagadora que, ele podia ter certeza — apesar de seus pensamentos entorpecidos pela sede — que, se não a mitigasse, ela esmagaria seus ossos como se fossem feitos de papel. Seus olhos instantaneamente perderam o foco e ele desligou seu cérebro que, durante um ano, não serviria para pensar em mais nada além de sangue e sede.

— Vá em frente — disse Aro, mais para ele do que para o vampiro enlouquecido. Sabia, é claro, que ele iria em frente mesmo que Aro não o encorajasse. Recém-criados são assim e Aro os conhecia bem.

Os dentes letais do vampiro novo foram certeiros em direção aos pescoços humanos que não serviam para muita coisa além de alimentar a quem sentisse sede.

Gemidos de pura satisfação e grunhidos animalescos de sede e loucura continuavam ecoando pelo torreão enquanto a sede de um recém-criado que fora concebido para os propósitos de Aro era mitigada e, ao mesmo tempo, voltava como se ele não tivesse recebido uma gota de sangue em sua garganta seca feito areia do deserto.


Atualmente...


                As palavras de Caius começaram, há algum tempo, a assentar-se na mente de Aro como se fossem partículas pesadas de sujeira suspensas em um recipiente com água agitada. Assentavam e depois de algum tempo se remexiam de volta, voltando, gradativamente, a assentar de novo, quando a água se acalmava.

                Assim estava a mente de Aro: Instável como a água do recipiente usado na comparação; agitava-se para tentar encontrar alguma reposta mais fácil — Não mais fácil, mas que pudesse descartar a hipótese que, nesse tempo todo, ele estivera errado sobre as crianças — àquelas questões importantes. E depois, pendendo o fio dos pensamentos, tendo ele se distraído com a ideia do que Caius lhe propusera, ele voltava a considerar seu plano mais fácil e, ao mesmo tempo, mais eficaz.

                Sim! Aquele plano não era o mais elaborado que ele poderia pensar. No entanto, ao contrário do que lhe era conveniente — e mais inteligente também —, ele não dispunha da tanto tempo para pensar em um plano com menos possibilidades de dar errado. Não que aquele estivesse fadado ao fracasso — longe disso —, mas um plano mais bem feito era sempre mias seguro do que qualquer um pensado às pressas.

                E então, era essa predisposição a planos bem elaborados e pouco falíveis que dava a Aro todos os méritos quando se tratava do sucesso de sua organização. Aro, agora, se sentia como se estivesse contrariando todos os seus instintos que lhe diziam para agir com cautela.

                No entanto, que outra opção ele tinha?

                As lembranças que ele extraíra e compartilhara da mente de Caius eram bem claras: Os dons dos dois gêmeos eram pronunciados demais para que passassem despercebidos até a olhos cegos e fracos de outros humanos. Humanos intolerantes, diga-se de passagem. Mas Aro não podia julgá-los. Os poderes dos irmãos eram realmente muitíssimo desenvolvidos para quem só tinha doze anos de idade... As coisas que eles podiam fazer... Por vezes, Aro havia se flagrado sonhando com o poder que eles poderiam proporcionar ao seio do império de deuses que ele controlava.

                As pessoas que viviam com eles realmente estavam começando a notar tudo o que havia de diferente neles. Muitos supunham — acertadamente — que eles faziam coisas acontecer às outras pessoas. A morte da garotinha havia sido o fósforo riscado para que a chama da dúvida e da desconfiança se acendesse dentro deles. Haviam ouvido a garota — Jane — vociferara e praticamente “predizer” a morte da outra.

                E esse era o empecilho não resolvido entre Caius e ele; Os irmãos não podiam ser transformados naquela idade... Iria contra sua própria lei. Jane, pelo que Caius havia visto, era um pouco menos discreta e comedida do que seu irmão. Enquanto Alec guardava o que pensava e o que sentia, Jane derramava tudo o que queria dizer. Talvez essa incapacidade de mantar a discrição atrapalhasse os planos de Aro se ele transformasse essas crianças agora.

                E havia um fator um pouco menor. Menor e, em comparação com os outros problemas, poderia parecer até meio patético. Pelo menos para imortais indestrutíveis. Aro não conseguia ignorar a vontade das crianças eu suas palavras que selavam o “destino” de quem elas quisessem. Seria ignorância de sua parta ignorar algo assim, já que, por relatos recentes, muitas pessoas haviam perecido por contas dos talentos dessas crianças. Aro duvidava que mesmo imortais estivessem livres da potência da vontade daquelas crianças.

                Outro fator que o fazia repensar sua estratégia. Na verdade, esse era o único fator que o fazia hesitar. Se seu plano saísse errado por causa disso? Se as crianças desejassem desfazer o que ele faria, então seu plano falharia do modo mais óbvio e ridículo possível. Pensar nisso já era o suficiente para que ele se sentisse constrangido consigo mesmo.

                Como Aro bem sabia — já estava farto da saber —, não tinha outra escolha.

                Com um suspiro resignado, ele estalou os dedos duas vezes — um som característico e único — e o guarda que ele esperava ver ali se materializou quase imediatamente à sua frente.

                Com um rosto composto e olhos de um rubro escuro — mesmo assim vibrante de quase vívido —, o guarda faz uma pequena reverência para Aro e aguardou as instruções em silêncio.

                A cor levemente azeitonada por baixo de sua completa palidez mostrava que aquele vampiro já fora, em sua encarnação humana, um homem com pele morena. Aro pensou na cor das íris do vampiro jovem e lembrou-se do castanho esverdeado que fora substituído pelo vermelho na transformação.

                — Mestre? — perguntou o vampiro com um forte sotaque espanhol impregnando sua voz.

                Aro remexeu-se, desconfortável — Não fisicamente, é claro — com a ideia de fazer o que estava prestes a mandar fazer. O plano parecia-lhe, de fato, muito precipitado.

                Seus instintos calaram a voz em sua cabeça, fazendo-lhe perceber que, se não fizesse algo rapidamente, se arriscaria perder os talentos que ele tanto queria. E essa era outra comprovação do que ele já sabia: Mesmo sendo indestrutíveis, era mais sensato manter-se longe da atenção humana. 

                Outro suspiro resignado. Aro perguntou a si mesmo: “Que outra opção eu tenho?”

                Aro sabia a resposta para essa pergunta mental e retórica muito bem: Nenhuma. Ele não tinha opções e, em outras palavras, suas mãos estavam atadas. As únicas maneiras de desfazer esses nós eram tão antagônicas que chegava a ser engraçado; tempo ou ação imediata. Uma coisa ou outra. Se ele esperasse, era provável que, mais tarde, não tivesse motivo algum para agir. Se agisse rápido, muita coisa poderia dar errado. Resolveu, então, optar pelo caminho que lhe daria mais chances de conseguir o que queria.

                Como seria conveniente se algum imortal tivesse a dádiva de prever o futuro! Seria tão mais fácil se Aro soubesse os resultados que suas escolhas lhe trariam...

                Mas não existia nada assim. Aro teria de agir da forma que ele mais odiava: contando com a sorte e confiando a outros o que ele próprio sequer confiaria a si mesmo.


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Notas finais do capítulo

Reviews???? Até o próximo capítulo. Bjs...
P.S: Posso demorar um pouco a postar o próximo. Obrigado pela paciência.



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